- Aconteceu algo? – Ele me olhou nos olhos, o que me fez ficar mais preocupada ainda, pois seus olhos castanhos demonstravam tristeza.

- Sabe, é que... – Ele levantou e aproximou-se de mim, e segurou minha mão. – Eu estou gostando de você.

 Olhei nos olhos dele antes de responder qualquer coisa, mas isso só me deixou mais confusa. Acredita quando um olhar fala mais que mil palavras? Foi isso, seus olhos mostravam que ele estava sincero ao falar que gostava de mim, mas no fundo ele escondia algo. Tinha algo que não queria me dizer e sua confissão parecia mais que estava tirando um peso dos ombros.

- Porque você está me dizendo isso assim? – Me afastei dele, mas ainda assim ele não soltou minha mão – Você não parece contente com isso.

- Não é fácil explicar, mas desde que te conheci as coisas mudaram.

 Ele dizendo essas coisas para mim, não fazia sentido mesmo. Simplesmente não fazia, o que eu poderia dizer? Sentia-me bastante atraída por ele, mas não sabia se era o suficiente para corresponder seus sentimentos. Alem de que boa parte de mim achava isso tudo repentino.

- Eu... Eu... Não... – As palavras não queriam sair da minha boca, o que eu conseguia dizer era apenas poucas palavras sem sentido. Uma ação dele que antes eu poderia ter me irritado, agora foi minha salvação para aquilo tudo. Ele puxou e abraçou-me, me abraçou forte como nunca antes eu tinha abraçado alguém, e não me deixou terminar de falar. Sua respiração quente batia no meu pescoço, o que me fazia arrepiar e ficar ainda mais perdida. Minha cabeça estava a mil, meu coração parecia que ia sair pela boca tinha medo que ele estivesse sentindo pela nossa proximidade. Ele apenas chegou perto do meu ouvido e sussurrou:

- Não tenha pressa para responder! – Ainda assim não me soltou, ficamos abraçados por mais um tempo, até quando ele se afastou e sorriu como se nada tivesse acontecido, o mesmo sorriso que ele me dava todos os dias no colégio, o que me arrancava suspiros e deixava-me aturdida. – Engraçado como às vezes você é fofa, e outras é brava comigo.

- Ahm? – Não entendi de primeira o comentário dele, só então ele beijou minha testa e sorriu novamente encostando seus dedos em meus lábios.

- Por mais que você me ache irritante, no fundo você gosta de mim e não admite, mas irei fazer você dizer exatamente essas palavras: “Lee Shin, eu gosto de você!” – Ele afinou um pouco a voz para poder me imitar, o que saiu totalmente ridículo me fazendo rir.

- Você não sabe o quanto isso foi ridículo.

- Só espere e verá. – Disse após sentar na cadeira em frente à mesa e puxando uma para eu sentar-me.

- Achei que não íamos mais estudar.

- Também achei, mas as coisas não saíram como planejado. – Fez uma cara de triste para que eu ficasse com pena, mas só me fez ter mais certeza ainda sobre o que ele tinha “planejado”. Apenas ignorei-o.

- Vamos começar estudando o que?

~ Mais tarde ~

 Já estava de noite, e tinha adiantado boa parte das matérias a ele, que parecia não ter dificuldade em nenhum assunto. Não sei por que precisava de minha ajuda, só lendo os resumos seria suficiente para ele aprender. Minha mãe não demorou muito a chegar, e para minha sorte que já estava faminta ela trouxe pizza, assim que chegou em casa ficou surpresa por encontrar um amigo em casa, ainda mais um garoto, mas ela não me disse nada. Apenas o apresentei e ela fez um monte de perguntas típicas sobre o porque dele ter se mudado para cá, o que seu pai fazia, algumas coisas até que eu mesma desconhecia sobre ele, além de comentar que ele era o primeiro amigo que eu tinha. Totalmente desnecessário. Ele ficou para comer pizza e logo se despediu.

- Que horas você acorda?

- 6:00h por que?

- Nada. Até amanhã. – Me deu um beijo na bochecha e foi embora.

 Ao entrar em casa minha mãe estava no sofá roendo as unhas, com certeza estava com um milhão de perguntas prontas para fazer a mim e que não pode fazer na frente dele. Senti que essa noite seria bastante longa. Joguei-me no sofá sem motivação nenhuma para responder as perguntas, mas minha mãe não pensava o mesmo e logo ela já veio com a primeira pergunta.

- Ele é seu namorado?

 Passei um bom tempo explicando para ela que ele não era meu namorado e que éramos só amigos. E logo em seguida um interrogatório sobre a vida dele, que nem eu mesma sabia muita coisa, ela sossegou, mas logo me disse que tinha gostado da idéia dele ser meu namorado. OK! Agora tem minha mãe para ficar torcendo que sua filha arrume um namorado, principalmente se for o Lee Shin que na visão dela era um carinha maravilhoso.

 Demorei a pegar no sono. Não me ajudou nada ter dormido á tarde, alem do mais quando o motivo de toda aquela insônia era só um “Lee Shin”. Que confusão esse garoto estava fazendo na minha vida, mas acho que gosto de tudo isso. Engraçado como minha primeira impressão dele foi de um garoto lindo e misterioso e agora que conheço melhor, vejo que ele é fofo e irritante, mas por mais que eu conheça essa parte dele, outra ainda é um mistério completo.

~ Outro dia ~

 Fiz minha rotina de todos os dias e me arrumei para o colégio. Não tinha dormido bem e estava bastante sonolenta, ao sair de casa, coloquei meus fones de ouvido e escolhi a minha playlist com musicas mais calmas e fui caminhando até o ponto de ônibus. Perto da esquina uma bicicleta breca perto de mim, o que me assustou, já que eu estava bastante distraída, com todo meu sono e minha música calma.

- Oi. Que horas você acha que é? – Ele arfava bastante, falou ainda um pouco sem fôlego. Parecia que tinha corrido bastante, no caso pedalado. Parado com sua bicicleta branca, [lê-se cavalo branco] parecia mais um príncipe, pois até aquele uniforme da escola ridículo ficava bonito nele.

- 6:40. Ei, você ta bem? – Falei logo depois de olhar ao relógio. – Nossa, por que você está assim?

- Eu...me... atrasei... Desculpa – Disse em longas pausas, me deixando preocupada.

- Atrasou para que?

- Te levar para escola.

- De bicicleta? – Fiquei surpresa, nunca tinha o visto ir de bicicleta para escola.

- Sim! Acabei perdendo o horário.

- Nossa, que surpresa.

- Acabei esquecendo. Por falar nisso, Bom Dia! – Se aproximou sem graça e beijou minha testa. – Quer uma carona?

- Bom dia, mas não, obrigada. Não gosto de andar de bicicleta. – Falei já seguindo em direção ao ponto, quando o ônibus passou. Senti uma risadinha vindo dele, mas ainda assim não parei de andar, mesmo sabendo que aquele era o ultimo ônibus que passava naquele horário e o próximo só chegaria 7h, o que me faria chegar bastante atrasada na escola. Ele foi me seguindo o caminho o tempo todo, com certeza querendo que eu mudasse de idéia e fosse com ele.

- Tem certeza? – Disse parando a bicicleta na minha frente. Não respondi, estava brava por perder o ônibus, então apenas me sentei atrás. – Júlia, é melhor você se segurar.

 Não entendi, estava me segurando na garupa e não queria ter que abraçá-lo até a escola, mas ainda assim ele virou e segurou minhas mãos, fazendo uma volta em sua cintura. Sorriu e piscou para mim como se tivesse satisfeito por toda aquela situação e pedalou.

 Chegamos bem em cima do horário, já na porta do colégio Lee Shin colocou as bicicletas junto com as outras, agradeci por não ter muita gente parada lá principalmente pessoas da minha sala, mas ainda assim as pessoas que tinha e viram a gente fizeram comentários e tenho certeza que não eram positivos. Mesmo a Ashley não estando ali, sinto que logo chegaria no ouvido dela isso. Mas era bom que chegasse mesmo, seria bom esfregar na cara dela que eu tinha o Lee Shin e ela não.

 Fomos caminhando até a sala, durante isso o sinal tocou, apressamos o passo, muita gente nos olhou quando chegamos na sala, vários nem deram bola, outros fizeram alguns comentários com os amigos, mas a Ashley nos encarou, para falar a verdade ela me fuzilou com o olhar, o sorriso que ela tinha ao conversar com as amigas sumiu imediatamente. A vi falando algo com as amigas enquanto íamos sentar nos nossos lugares, que dessa vez era nas ultimas cadeiras sobrando. Sorte que era bem longe dela. Logo ela se levantou e veio em nossa direção, mas na metade do caminho o professor chegou na sala e dando bom dia e pedindo para todos sentarem nos seus lugares. Seu ultimo olhar me deixou tensa, foi algo como “você teve sorte dessa vez”.

 As primeiras aulas do dia foram de geografia seguida por uma de filosofia, só aula sono. Tinha tido uma noite tão ruim que com pouco tempo que a aula começou adormeci, nem notei quando começou a aula de filosofia. Só senti alguém me cutucando com um lápis, levantei a cabeça do caderno ainda um pouco sonolenta. E olhei para a pessoa que me cutucava, “Lee Shin’’.

- Júlia, o professor está passando uma atividade valendo 3 pontos, acho melhor você...  – Ele parou repentinamente, e ficou me encarando, logo em seguida começou a rir. Fiquei sem entender, a sala estava em silêncio, e as risadas dele acabou fazendo com que boa parte da sala olhasse para nós, e todos tiveram a mesma reação que ele. Já preocupada com o que estava acontecendo, peguei um espelho no bolso e olhei meu rosto. Vi o motivo daquilo, metade dele estava bastante vermelho pelo tempo que tinha ficado deitada com a cara no caderno, e uma boa parte também estava com as marquinhas das argolas [anel] do caderno. Morri de vergonha. Sem saber onde enfiar a cara, abaixei a cabeça como estivesse dormindo de novo até as risadas pararem, e fiquei assim até o final da aula, ignorando totalmente os cutuques do Lee Shin.

 Quando o sinal tocou avisando o final da aula e o intervalo, boa parte dos alunos tinha saído da sala para comprar lanche. Peguei o espelho de novo, e percebi que meu rosto tinha melhorado, só estava um pouco vermelho. Peguei meus fones de ouvido, mas não levantei para ficar no corredor vendo o movimento, dessa vez queria ficar na sala relaxando.

- BU! – Lee Shin falou perto do meu ouvido, me assustando e fazendo-me derrubar minhas coisas no chão. Olhei para ele em tom de reprovação, estava brava ainda por ter sido motivo de tantas risadinhas na aula, mas não consegui ficar assim por muito tempo quando olhei para o rosto dele de culpa de como tivesse entendido meu olhar.

- Desculpa, por mais cedo.

- Ta. Sem problema.

- Eu fiz sua atividade. Espero que o professor não perceba a minha letra.

- Hum... Obrigada!

- Você não vai lanchar?

- Não gosto dos lanches da escola, não tem coisas saudáveis. – Aos poucos foram saindo todos da sala até ficarmos apenas nós dois. O que o Lee Shin adorava, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele disse que ia ao banheiro. Fiquei surpresa, isso não era típico dele, mas ele estava bem diferente do usual hoje.

 Logo em seguida a Ashley entrou na sala, assim que me viu, sua expressão no rosto mudou, ignorei-a, mas ela estava vindo na minha direção. Tentei levantar para sair da sala e evitá-la, mas ela foi mais rápida e me empurrou fazendo-me cair no chão. Antes que eu pudesse me levantar, ela jogou o refrigerante que tinha em sua mão em mim. As amigas dela que vinham logo atrás me seguraram, impedindo-me de fazer qualquer coisa. Algumas pessoas que estavam voltando para sala ficaram surpresas, mas nada fizeram, alguns ignoraram, outros fizeram uma roda onde começou a gritaria.

 De repente senti meu rosto ficar quente, a Ashley tinha me dado um tapa na cara e agora ria junto com as amigas. Achava-se o máximo, mas grande glória, cinco contra uma!

- Sua nojenta, pare de ser covarde! – Na mesma hora ela parou de rir, e se preparava para me bater de novo.

- Eu te avisei. – No momento seguinte, Lee Shin que estava parado na porta da sala com 2 copos de saladas de fruta na mão os largou no chão, e veio abrindo caminho na roda de pessoas. Segurou a mão da Ashley em um segundo e mandou as meninas que me seguravam se afastarem, ele falou tão alto que todas me soltaram na mesma hora.

 Eu não me sentia bem, meus joelhos fraquejavam, estava tremendo, antes que eu desabasse no chão, Lee Shin me segurou. Abraçou-me tão forte como da outra vez, aos poucos as lagrimas foram fluindo, mais e mais. Nos dois estávamos no chão abraçados Não queria que ninguém visse minhas lagrimas e parece que ele entendeu, pois não se importou que eu enterrasse mais a cabeça no seu peito para me esconder, me esconder de tudo. Segurei sua camisa com força. Já não me importando com as pessoas, nem em nada em minha volta. Sentia-me ridícula por tudo, odiava chorar na frente de alguém. Mas me sentia frágil, e a culpa era da mesma pessoa que estava me confortando agora.

- Ei, para de chorar. Não quero te ver assim – Me afastou carinhosamente, enxugou minhas lagrimas e acariciou o local onde Ashley tinha me batido.

- Desculpa por tudo isso... – Me afastei gentilmente dele, e segui direto para o banheiro ainda chorando. As lagrimas ardiam quando, caiam pelo lugar onde a Ashley tinha me dado um tapa.

 Estava uma confusão enorme na minha cabeça, a raiva pelo que a Ashley tinha me feito, o jeito como o Lee Shin tinha sido comigo. Cada vez me convencia mais de que ele estava certo. Cada vez mais me convencia que a Ashley era bem mais do que uma colega de classe. E por mais que quisesse, não conseguia parar de chorar, aquilo estava sendo de mais para mim.