Era tarde da noite. Mesmo depois de ter me transformado em vampira, eu odiava a madrugada silenciosa e o som do vento quando batia na casa. Eu queria que alguém estivesse comigo em casa, mas nem minha mãe estava presente. A noite era escura e sem lua, o que me deixava mais assustada.
Liguei a televisão para haver algum barulho. Noites mal em claro sempre foram o meu fraco. A fome por sangue me atacou junto naquela madrugada. Eu não sairia para procurar um coelho para saciar a fome. Em vez disso abri a geladeira e comi um pedaço de pizza gelado para tapear o monstro dentro de meu estômago.
O vento continuava a fazer barulho lá fora e eu arrepiava a cada barulho. Foi então que o prato caiu de minha mão quando ouvi alguém batendo na porta da frente. Eu nem me atreveria a abrir, muito menos chegar perto para ver quem estava lá fora.
Mas as batidas continuavam cada vez mais fortes e era impossível ignorá-las.
- Vamos, abra a porta... Por favor!
O som da voz era abafado pelo vento e não pude reconhecer o dono. Não me movi do lugar que estava. O prato quebrado continuava no chão.
- Por favor, Caroline, abra a porta!
Criei coragem e perguntei:
- Quem está ai?
A pessoa lá fora demorou algum tempo para responder, o que parecia séculos para o meu coração que não acalmava.
- É o Stefan, vai abrir?
O que Stefan estaria fazendo na varanda de minha casa em plena madrugada? Elena não gostaria nada disso e muito menos Tyler se soubesse do nosso encontro na madrugada.
- O que está fazendo aqui? – perguntei, curiosa.
Agora eu estava parada mais perto da porta e por causa do vidro da porta podia vê-lo perfeitamente. Eu sabia que ele também podia me ver.
- Trouxe algo que vai adorar – respondeu ele. Levantando a mão, onde nela havia um coelho fresco que Stefan havia acabado de caçar. Meu estômago roncou em aprovação e deixei que ele entrasse em minha casa.
- Pensei que não me deixaria entrar – disse ele, parado no meio da sala. – Vi que perdeu o sono também – Stefan apontou para a televisão.
Confirmei com a cabeça ignorando o comentário anterior. Minha fome era grande para continuarmos com o blá blá blá.
Stefan exalava um cheiro distinto e perguntei-me onde ele havia ido pegar aquela caça. Mas o que realmente importava era quando nós iríamos reparti-la.
- Vamos comer, porque estou com fome – disse o rapaz.
- Pensei que era apenas eu que estava – sorri, brincando.
O coelho saciou a minha fome por algum tempo, mas eu sabia que pela manhã teria que buscar outro. Stefan faria o mesmo. Colocamos o coelho no lixo atrás da casa. Voltamos para dentro e sentamos no sofá com o estômago cheio.
- Eu vou indo – disse Stefan, depois de algum tempo.
Eu não queria ficar sozinha e agora que me alimentava demoraria mais algum tempo para dormir. A casa ficaria em silêncio novamente e o vento sussurraria por cada fresta de janela ou porta. Definitivamente, não queria ficar ali sozinha.
- Fique mais um pouco, por favor.
Ele sentou novamente no sofá ao meu lado. O silêncio preencheu a sala, mas me sentia mais segura com ele ali. Eu não tinha intenção de romper o silêncio e muito menos ele. Aquilo era esquisito, éramos amigos. Mas não seriamos mais dos que isso e quando não havia palavras para serem ditas o ambiente se tornava estranho.
O vampiro pegou o controle da televisão e trocou de canal até encontrar algo agradável para se ver e parou em um filme qualquer que prenderia mais atenção de ambos do que um telejornal noturno.
Lembranças vieram em minha mente, lembrei de quando havia me tornado vampira e Stefan havia me ajudado a como me lidar com isso que ainda não era comum para mim. Lágrimas escorreram de meu rosto, mas ele não percebera. Embora naquela noite, ele as enxugou e disse que nunca me deixaria ir sem ajuda.


Eu me lembro das lágrimas escorrendo pelo seu rosto
Quando eu disse que nunca deixaria você ir
Quando todas aquelas sombras quase mataram sua luz
Eu me lembro de você dizer não me deixe aqui sozinho
Mas tudo isso está morto e enterrado e hoje à noite passou

- O que foi? – perguntou Stefan, preocupado quando olhou par ao roto molhado.
- O filme é triste! Já assisti antes.
O filme era realmente muito triste, mas não era meu motivo por estar chorando. Eu queria mais que amizade, embora ele amasse a minha melhor amiga. Stefan riu quando respondi a pergunta e me abraçou, encostei a cabeça em seu peito e senti novamente o cheiro estranho de antes. Fechei os olhos tentando recordar do cheiro ou de algum lugar que já tinha ido, mas nada veio em minha cabeça.
O relógio da televisão marcava uma hora para o amanhecer e eu sabia que estaria segura quando o sol nascesse, não me sentiria uma tola com os barulhos da noite.


Apenas feche seus olhos,
O sol está se pondo.
Você vai ficar bem,
Ninguém pode feri-lo agora.
Venha luz da manhã,
Você e eu vamos estar são e salvos.

Não se atreva a olhar pela janela, Querido

Tudo lá fora era diferente, eu podia ser eu mesma quando estava com Stefan. Ou pelo menos eu pensava isso.
Fora de minha casa tudo era uma guerra e todos lutavam por Elena. E muitos saíam feridos. Mais lágrimas vieram à tona. Stefan percebeu, pois elas molhavam a sua roupa.
- O que está acontecendo? – perguntou meu amado.
Eu não queria responder. Fiquei quieta, tentando seguras as lágrimas. Mas foi tudo em vão. Pois agora ele olhava no fundo dos meus olhos, parecia que conseguia ler os meus pensamentos e eu o beijei, em um beijo suave e inocente.
O vampiro se assustou e se afastou.
- Desculpe... Não era a minha intenção.
Mas Stefan colocou o dedo indicador em cima dos meus lábios. A luta por Elena e a escuridão da noite brincava com os nossos sentimentos, pois agora ele me beijou em um beijo ardente.
Agora era eu quem me afastara, não achava nada certo o que estávamos fazendo. Os olhos dele ainda continuavam fechados pelo toque do beijo, mas logo os abriu e seus olhos foram de encontro aos meus.
Queria que o dia amanhecesse o mais rápido possível, pois assim a escuridão pararia de mexer com os nossos sentimentos.


Tudo está pegando fogo.
A guerra à nossa porta continua,
Segure-se a esta canção de ninar.
Mesmo quando a música se for,

Apenas feche seus olhos,
O sol está se pondo.
Você vai ficar bem,
Ninguém pode feri-lo agora.
Venha luz da manhã,
Você e eu vamos estar são e salvos.

- Devemos parar por aqui, Stefan. Não acho certo o que estamos fazendo e creio que você também concorda comigo. – disse, levantando-me do sofá.
O vampiro concordou com a cabeça e também se levantou. Percorreu o caminho para a porta da frente e saiu, deixando-a entreaberta. Fechei-a, olhando o vampiro, meu amado, indo embora. A luz da manhã veio imediatamente iluminando a casa e a cidade, agora eu estava são e salva.

Apenas feche seus olhos,
Você vai ficar bem.
Venha luz da manhã,
Você e eu vamos estar são e salvos.

FIM