- Quem é você?- meu pai disse para Trevor, com a sua voz grave que ele usa quando está bravo.

- Trevor Carter, senhor. - Trevor disse estendendo a mão para meu pai educadamente.

Meu pai ignorou sua mão e ficou encarando ele ruidosamente, depois olhando para mim e para Beth tentando imaginar o que se passava na nossa cabeça.

- Quem vai me explicar?- ele disse.

Eu suspirei.

- Vamos descer, eu te faço alguma coisa, você precisa comer. - eu disse tentando agir normalmente.

Ele assentiu e desceu as escadas, pisando forte nos degraus.

- Vá por sua roupa. - sussurrei para Trevor e o segui, com Beth e Abbie atrás de mim.

Meu pai estava sentado na cadeira do canto, de modo que quando nos sentamos, estávamos em volta dele.

- Bem, Trevor é um... amigo de Beth e ontem, ele estava aqui em casa quando você chegou e... - comecei, mas fui interrompida por ele.

- Como eu não vi ele ontem?- ele disse sarcásticamente - Amigo de Beth hein? Sei muito bem que tipo de amizade ele tem com você.

- Não é isso, eu não ficaria com um garoto como o Trevor. - Beth disse parecendo ofendida.

Meu pai não acreditou nisso, todos naquela casa sabiam que ele fazia muito bem o tipo que Beth mais gostava.

- Enfim, a gente escondeu ele no quarto, porque sabíamos que você ficaria muito bravo se visse ele. - eu disse evitando olhar nos olhos dele.

Levantei da mesa, para não estar olhando para ele na hora da bronca. Fui até a geladeira e peguei alguns ovos, fritando-os depois no fogão. Meus ovos eram muito bons, aposto que meu pai iria ser bem mais legal dando uma bronca enquanto os comia.

- O que vocês estavam pensando quando deixaram um garoto dormir no quarto de vocês?- ele começou - Eu nem quero saber com qual de vocês ele dormiu, já que só existem duas camas naquele quarto.

Ninguém disse nada e por um momento todo o barulho na cozinha era do ovo fritando.

- E se ele tivesse abuzado uma de vocês? E se... - ele começou de novo, mas o meu celular tocou no meu bolso.

Finalmente. Coloquei os ovos num prato e deixei a louça para lavar.

- Temos que ir para escola. Beijo. - Beth disse jogando um beijo para papai e levantando da mesa com pressa. Abbie a seguiu e pegou sua bolsa que estava em cima da mesa.

Coloquei o prato na frente dele e dei um beijo em sua boxexa.

- Desculpe. Te vejo mais tarde. - disse enquanto me afastava.

Trevor desceu das escadas, com Beth e nossas mochilas. Eu nem ousei olhar para meu pai para ver aquele olhar mortal que ele com certeza estava lançando na direção de Trevor.

Saímos de casa e Trevor entrou em um carro que estava estacionado do outro lado da rua. Beth o seguiu, assim como Abbie que parecia recuperada do acontecido e estava estranhamente feliz. Não tive outra escolha a não ser entrar no carro também, eu não ia para escola a pé sozinha.

O caminho foi praticamente quieto, exceto pelo som que tocava no carro- terrivelmente horrível- e os reclamões de Beth sobre como o carro estava fedendo a perfume.

Na escola, eu praticamente corri para sala de Espanhol, já que o sinal já havia tocado e eu não esperava que a professora estivesse atrasado.

O que era impossível, já que a Sr. Perez nunca se atrasava. A sala estava fechada quando eu cheguei, e confesso que tive vontade de matar aquela aula, mas mesmo morrendo de vergonha, bati na porta.

Entrei na sala de cabeça baixa e murmurei um "Bom dia" para professora, fechando a porta assim que entrei. Sentei na minha cadeira normal e capturei os olhos da professora em mim.

Ela suspirou e continuou fazendo a chamada. Nada de um bom dia de volta. Era por isso que todos odiavam ela. Isso e porque ela passava metade da aula falando de sua vida e dando lições, e porque ela nunca dava um dez para ninguém que não fosse o filho peste dela.

Peguei meu livro e só tirei a cabeça dele para falar "presente" quando ela chamou meu nome.

A aula passou devagar, eu queria dormir e não acordar mais. Quando o sinal tocou, eu corri para o banheiro e lavei meu rosto, isso melhorou um pouco o sono que eu sentia. Meu corpo não estava dolorido mais, só estava enferrujado mesmo.

Respirei fundo e saí do banheiro, agora era a aula de biologia, a prova. Fui até meu armário e peguei meu livro de biologia. No caminho até a sala 26, topei com Abbie, que andava correndo pelos corredores como louca e nem me percebeu.

O professor não estava na sala quando cheguei, então eu sentei na minha cadeira na frente da sala de sempre e esperei de cabeça baixa a aula começar. O que demorou tanto que me deu sono de novo. O professor entrou e fechou a porta atráz dele, entregando as provas em seguida e passando uma lista de chamada.

Nem falou bom dia para gente, um grosso! Fiz minha prova quase dormindo, aquilo estava realmente fácil, nem sei porque estudei pra essa coisa. Entreguei a prova e o professor me mandou para fora da sala, como era o de costume.

Fui até o pátio e sentei na arquibancada, vendo uma sala que eu não sei qual era jogando vôlei. Não estava nesse mundo, estava pensando no que eu ia fazer depois quando alguém tocou no meu ombro.