Sendo Aline escrita por Bruna Carreira


Capítulo 4
Capítulo 4




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Acordei com a minha mãe me chamando pra ajudá-la. Não há presente melhor do que a sua mãe te chamando pra ir ao mercado logo de manhã cedo num sábado.

Fui meio de má vontade, mas coloquei os fones pra me distrair. Na verdade, eu até gostava de ir ao mercado, mas eu preferia ir sozinha. Eu tinha a paz e a tranquilidade, fora a festa dentro de mim por causa da música.

Coloquei a primeira roupa que vi pela frente, chinelos e fui. Esperava não encontrar ninguém, já que não estava bonita.

Saí pela parte dos biscoitos e peguei pelo menos um dez pacotes que estavam por ali empilhados. Não peguei nenhum dos que minha mãe gostava só de raiva por ela ter me deixado de castigo. Eu não gostava de biscoito doce mesmo. Bobona.

Continuei com minha viagem pelo setor de laticínios, enquanto eu pegava o microfone e fazia um show dentro de mim. Enquanto eu fazia caras e bocas, reparei num garoto super fofo cruzando para pegar Coca-Cola e fazendo basicamente o mesmo. Não sei se era pior eu quase ter deixado cair alguma coisa de tão gato que ele era, ou se era pelo fato do balde em baixo de mim estar cheio de tanto eu estar babando.
– ALINE! - Minha mãe gritava no supermercado, para que todos ouvissem.

Fui andando na direção dela, fingindo não saber que era comigo - já que estava com os fones de ouvido e teria essa desculpa para dar, quando a alcançasse - para que o menino não reparasse e ela me mandou ir para a fila.

Após enfrentar uma fila gigantesca e mulheres irritantes me oferecendo táxi, saímos do mercado, chegamos em casa e arrumei as compras em seus devidos lugares. Depois disso, minha mandei uma mensagem para o Marcelo, pedindo pra que ele desse uma passadinha na minha casa, para amansar a minha mãe quando ao castigo.

Ele não respondeu. Ótimo.

Resolvi mergulhar no sofá e ver TV, já que nada me restava, e passei assim o final de semana inteiro, praticamente. Isso quando não parava pra jogar pôquer online. Só faltava arrumar cigarros e eu ficaria no cenário mórbido perfeito.

Segunda-feira, cheguei ao colégio mais cedo, para dar um esporro no Marcelo antes que nossas aulas começassem, e me deparei com ele conversando com outro menino atrás de uma das árvores, meio escondido de todos, praticamente. Não resolvi atrapalhar, já que parecia algo reservado, então fiquei sentada no banquinho, até que eles terminassem.

Pareciam estar discutindo, então fiquei brincando a partir dos gestos que cada um fazia. “Não acredito nisso!” um falou. “Mas você tem que entender!” o outro retrucava. “Impossível! Você não pode gostar de mulher!”, o outro dizia com veemência. Depois só parei porque tinha ficado muito gay.

Faltando cinco minutos para o sinal bater, vi os dois se abraçando para se despedir e Marcelo só faltou ter um ataque cardíaco a me ver ali tão cedo sentada. Cara, será que eu estava tão mal assim quanto ao colégio?
– Minha linda! - Ele me cumprimentou, depois do susto.
– Ficou assustado, foi? - Eu ri - Interrompi o seu xaveco?
– Engraçadinha - Ele ficou sério - Eu preciso conversar com você.
– Pode falar, sou toda ouvidos pela manhã quando estou à velocidade de 300k - Brinquei.
– Não é algo que eu possa falar em 20 minutos até virem encher nosso saco pra entrarmos pra aula, ou ficarmos na salinha de espera dos atrasados, fazendo dever - Ele tremeu - Urgh, até me arrepio.
– Quem morreu? - Perguntei, ainda brincando.
– Aline, eu estou falando sério - Ele segurou meu braço - Eu preciso realmente falar uma coisa importante pra você.
– Tudo bem, desculpe. A gente pode ir embora sozinho pra casa, se você quiser.
– Não é algo que eu possa contar em 15 minutos.
– Tudo bem, acho que você pode passar lá em casa, já que não vai ter ninguém - Pensei se de fato não iria ter -, só não pode dizer as dirty things que vão rolar, gato. RAWR. - Mostrei as minhas unhas que precisavam ser feitas.
– Tudo bem, você me espera aqui mesmo e nós vamos - Ele disse, por mim.

Me senti uma babaca completa por ter tentado brincar e ele nada. O dia até que passou bem rápido, apesar da minha preocupação para com o que ele tinha pra me dizer. Eu não sabia se ainda tinha uma quedinha por ele, apesar de dizer que não.

Quer dizer, ele é o genro que minha mãe havia pedido a Deus, e ele não era de tudo feio. Bruno era dez vezes mais bonito e sexy, mas não éramos tão amigos apesar dos 5 anos. Eu sentia que ele simplesmente não confiava em mim do jeito que o Marcelo faz, me contando tudo. Claro, ele não é meu melhor amigo nem nada, and GOD, I DON’T WANT BRUNO TO BE IN MY FRIEND ZONE, PLEASE!

Mas enfim, o ponto é que Marcelo era ótimo e eu me sentia bem com ele, de uma forma que eu não me sentia com nenhuma outra pessoa. Mas não era como se eu quisesse beijá-lo propriamente. Não era como se tivéssemos 10 anos de novo e eu quisesse por uma língua naquele beijo. Ou pensando bem...
– Aline? - Débora me cutucou.
– O que foi? - Perguntei, saindo da minha viagem espacial para fora da via láctea.
– Você não vai arrumar suas coisas não? - Ela perguntou, estalando os dedinhos.
– Que horas são? - Perguntei, revirando meu estojo atrás do meu celular.
– Já é hora de ir pra casa - Ela disse, estendendo a mão com minha pasta - Já arrumei o que estava aqui embaixo enquanto você estava em marte.

Oh, Darling, eu estava muito mais longe que isso.
– Obrigada - Eu disse, enquanto enfiava tudo em todos os lugares da minha mochila - Eu tenho que sair correndo hoje, amanhã a gente conversa melhor, tudo bem?
– Tome cuidado pra não ser atropelada por um ônibus - Ela disse e riu. - Melhor nem usar os fones de ouvido. Nunca se sabe...
– Hahaha, engraçadinha - Fiz uma careta - Vou voltar com Marcelo, amanhã a gente conversa.
– Conte-me tudo amanhã - Ela piscou.
– Não vai acontecer nada...
– Eu sei - Ela piscou novamente.
– DÉBORA! - Gritei.
– Tudo bem, tudo bem - Ela disse - Até amanhã.

Saí correndo com medo dele já estar esperando há algum tempo lá. Não estava e tive tempo de respirar e fingir que estava estressada pela demora dele. Dali a alguns segundos o vi correndo esbaforido, e pedindo desculpas desde o primeiro portão, há alguns metros de mim.

Ele tomou algum ar e fomos em frente. Ele tentou me divertir no ônibus, sem tocar muito no assunto previsto, o que me deixava bem mais irritada e nervosa. Isso me fazia só responder com “aham” e “hm”.

Quando saltamos do ponto, acelerei o passo pra acabarmos com a palhaçada. Minha mente explodia imagens. Algo me indicava profundamente que ele diria que gostava de mim e tentaria algo comigo ali mesmo. Era improvável, mas ainda assim.

Ou não era tão improvável assim, porque normalmente ele não viria à minha casa sem meus pais aqui, já que ele adora a minha mãe e...

Não. Nada vai acontecer. Porque EU não quero. Eu acho, pelo menos.

Quase desacelerei o passo para me decidir, mas já estava em casa enquanto ele tagarelava atrás de mim, sem parar. Era agora ou nunca.

Entrei, joguei a mochila e as chaves em qualquer lugar, liguei o ventilador e sentei no sofá enquanto ele continuava a história irritante sobre qualquer coisa que eu não dava a mínima naquele momento específico.
– Marcelo, posso te cortar? - Falei, finalmente.
– Sim, claro - Ele disse.
– Desculpa, eu realmente preciso que você fale logo o que você tinha pra me dizer.
– Eu percebi que você estava calada demais, e provavelmente pensando um milhão de coisas - Ele sorriu com o cantinho da boca.
– Sim - Eu disse, séria -, por favor, diga.
– Tudo bem - Ele respirou. - Há quanto tempo nós nos conhecemos?

É agora.
– Há alguns anos.
– Sim, e nós somos melhores amigos faz algum tempo.
– Sim, exatamente.
– E você sabe que eu conto tudo pra você.
– Eu sei disso, e também conto tudo pra você.
– Sim, eu sei. Mas tem uma coisa que ainda não consegui contar pra praticamente ninguém.
– Você contou pra alguém antes de mim? - Me senti desrespeitada.
– Contei, mas você vai entender daqui a pouco.
– Claro, se é que eu te conheço - Bufei. - Porque agora até esconder coisas de mim você esconde.
– Não é isso, Aline. Eu... - O cortei.
– Se não é isso então o que é?
– É que é muito difícil de dizer...
– Ah, entendi - O cortei de novo. - Inclusive pra pessoa que você chama de melhor amiga, mas pra outra pessoa qualquer, tanto faz, você pode contar.
– Aline, você não está entendendo...
– Eu estou entendendo perfeitamente.
– Não está não.
– Estou sim! - Gritei - Você arrumou outro amigo e eu aqui, achando que você tinha vindo pra me dizer algo importante.
– E eu vim, mas você não me deixa dizer! - Ele se irritou.
– Ah, agora está irritado? - Comecei com o sarcasmo - Que tal contar pro seu novo amiguinho?
– Aline.
– O que é? - Bufei.
– Ele não é meu amigo. É meu namorado.


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