Sendo Aline escrita por Bruna Carreira


Capítulo 31
Capítulo 31




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- Você tem certeza que posso ficar? - Ele me perguntou e eu podia ver que ele se sentia um pouco desconfortável. E não era por estar ali, no lugar que ele tinha ido várias vezes durante todos os anos que vivemos juntos.

- Claro que pode, Marcelo - Minha mãe me interrompeu e falou por mim.

- Mas vou precisar ficar por muito tempo e nem sequer tenho um emprego ainda, pra poder ajudar. - Ele argumentou.

- Eu não vou te deixar, Marcelo - Eu falei, sem pensar.

            Diante de todos os olhares assustados na sala, com a firmeza na minha voz ao dizer as palavras que eu disse no momento errado, tentei me consertar.

- Eu quero dizer que não posso mais te ver daquele jeito, tendo que aguentar tudo isso sozinho. Eu precisava fazer alguma coisa. - Continuei.

- Mas está dando trabalho e mais um peso no bolso de seus pais. - Ele prosseguiu.

- Marcelo - Minha mãe dirigiu a palavra a ele, enquanto colocava a mão no ombro do mesmo -, eu conheço você e sua família a anos. Você é da família, já.

- Ainda assim não é como se eu estivesse ajudando em alguma coisa. - Ele continuava.

- Você pode ficar o tempo que precisar, querido. Não tem problema nenhum. - Minha mãe disse por fim, com um sorriso, e saiu do quarto para que conversássemos.

            Percebi que ele ainda estava um pouco sério e desajeitado, e não pude evitar dar risada. Ele sempre se sentia bem a vontade na minha casa, até porque a frequenta há muitos anos.

- Por que você tá rindo? - Ele perguntou.

- Você.

- O que tem eu?

- Está completamente sem graça.

- Claro que não estou!

- Está sim. Está sem saber o que fazer na casa que você frequenta há anos.

- Não estou coisa nenhuma, você que tá ficando louca!

            Ficamos nessa discussão por um tempo, até que concordamos em parar. É óbvio que ele não daria o braço a torcer, como sempre. Eu tinha chamado Débora pra ficar lá conosco e ela chegaria a qualquer momento, então o avisei disso, caso ele tivesse algo a dizer pra mim.

- Foi muito legal da sua parte ter feito isso por mim. - Ele disse, com a cabeça meio baixa, encolhido no canto do quarto em que estávamos sentados em cima do tapete.

- Eu não podia mais te ver daquele jeito.

- Aline.

- Sim?

- Eu não quero que as coisas fiquem estranhas entre nós desde que... Você sabe...

- NÃO! - Exclamei - Quer dizer, não. Eu nem tinha pensado nisso, na verdade. Eu só quero que você fique bem de novo.

- E vou ficar. Graças a você. - Ele sorriu.

- Vai começar a ficar meloso agora, é? - Eu disse, e ri.

            Ele me empurrou para o lado, fazendo birra por eu ter cortado o clima de gratidão. Fiz cócegas nele até que ele virasse pra mim de novo e me desse atenção. Nossos olhos se encontraram e pela primeira vez desde muito tempo, eu vi o meu melhor amigo desde sempre, feliz. Não completamente, mas havia uma mancha de felicidade correndo pela curva que os olhos dele fizeram ao me encontrar.

            Era como se aquilo me deixasse feliz ao mesmo tempo.

- Então. - Ele cortou meus pensamentos.

- Sim?

- Que porra de cordão é esse no seu pescoço ao invés do que eu te dei?

            Olhei para baixo no intuito de lembrar qual porra de cordão eu estava usando naquele momento, já que não tinha tirado nem colocado nenhum naquele dia. Aí me lembrei.

- Ah, esse cordão? Bom, é que... - Eu tentava me explicar, meio sem graça.

- Foi aquele cara que te deu?

- Que cara?

- Para com isso e me diz logo. - Ele disse, mais sério.

-É um amigo.

- Um amigo?

- É.

- Um amigo. - Ele repetia.

- É, caramba! - Exclamei.

- Tá bom, tá bom. - Ele continuou - Melhor amigo?

- Não! - Exclamei novamente - Ele é tipo mais que amigo. Quer dizer, não! Ele não é mais que amigo. Quer dizer, eu acho que não.

- Você quer que ele seja mais que amigo?

- Na verdade... - Eu parei e olhei para o nada, sem nada pra responder - Eu não sei.

- Como assim não sabe?

- Não sei o que eu sinto por ele.

- Mas você gosta dele?

- Eu gosto dele, mas não sei se dessa forma. - Continuei - Ele tem muito a ver comigo, na verdade. Mais do que qualquer um que eu já conheci. E é mais fácil por ele ser um primo distante e eu ter uma ponte por causa da parte da família que nunca vejo.

- Mas você não o ama?

- Eu não sei. E também tem... - Não sabia como dizer.

- O que?

- Seu primo.

- O que tem ele?

- Se você não tivesse me apresentado, eu provavelmente estaria com o Gabriel.

- Então é ele! - Ele exclamou, com um sorriso no rosto. Finalmente uma informação.

- MARCELO!

- Ah, vai. Nem um pouquinho de animação? - Ele deitou nas minhas pernas.

- Sério. - Pedi.

- Tudo bem, vai lá, fala. - Ele balançou a cabeça - Espera. Qual é o problema comigo? Eu quis que você e meu primo desencalhassem!

- Agora eu sou encalhada pra você, seu ridículo? - Exclamei de novo.

- Só estou falando a verdade. - Ele ironizou e caiu na gargalhada sozinho.

- MENTIRA! EU NÃO SOU ENCALHADA! - Resmunguei.
- Tudo bem... - Ele olhou pra cima e assobiou, ironizando.
- Marcelo.
- O que foi, Aline?
- Fico feliz que você está aqui comigo, e que não vai sofrer mais.
- Eu espero que não. - Ele mostrou um sorriso triste.


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