O homem preso na cela indicada por Fun levantou o rosto, e Party pôde ver aqueles olhos verdes tão parecidos com os seus próprios, e as feições tão semelhantes às de Kobra Kid. Party sorriu, com uma alegria incontida. Seu irmão também sorriu, deixando escapar algumas lágrimas sem querer. Fun Ghoul sorriu discretamente e se afastou um pouco, sentindo que aquele era um momento de família e que ele não deveria se intrometer.

-Pai... Sou eu... Gerard... – disse Party, visivelmente emocionado. Os olhos verdes e opacos do homem brilharam levemente.

-G-Gerard? Meu... Filho? – disse o homem, com a voz rouca e falha. Party assentiu e foi aí que o homem notou a presença do mais novo – Ah... Michael?

-Oi, pai. – disse ele, sorrindo abertamente. O homem se levantou e aproximou-se dos dois, apoiando-se nas barras de ferro. Tanto Kobra quanto Party sorriram e tocaram levemente as mãos do mais velho.

-M-meus filhos... O q-que vieram fazer aqui? – perguntou o pai dos dois, ainda incrédulo.

-Tirar você daqui, é claro. – sussurrou Party, enquanto assistia o irmão tirar a raygun do cinto mais uma vez e derreter as barras, murmurando algo sobre a “segurança ridícula do prédio da BLI”. Com um estalido, as barras caíram e o pai dos garotos se viu livre. Sua primeira reação foi correr até os dois e abraçá-los fortemente, chorando de forma silenciosa. Após vários minutos, os três se recompuseram e correram para fora do corredor. Antes que pudessem dar mais um passo, Party parou subitamente.

-Espera. Cadê o Fun?

-Fun? – indagou o mais velho dos três, com uma expressão confusa.

-Longa história. – murmurou Kobra – E-eu não sei... Ele entrou com a gente, não?

-Sim! – Party, que já estava praticamente uma pilha de nervos, começou a tremer – Fun? – chamou ele, baixinho. Não obteve resposta. Gritou o nome mais alto. Ainda nada.

-Party, calma, ele está bem.... – assegurou o irmão, tocando levemente no ombro do mais velho, que sentia o desespero começando a envolvê-lo.

-Party? Mas... Como...

-Longa história. – repetiu Kobra, delicadamente. O pai entendeu e foi para perto do filho mais velho, que tinha a mente trabalhando à mil. De repente, antes que qualquer um pudesse dizer algo, uma voz forte e conhecida resoou nos corredores da BLI.

-One down. – disse a voz, em um tom sombrio. Uma luz se acendeu na cabeça de Party, o que fez o ruivo sair correndo. Kobra e o pai se entreolharam, sem entender, mas seguiram Party.

-Droga, droga, droga... – murmurava o ruivo, com ódio brilhando nos olhos. Eles os guiou até um corredor particularmente iluminado, mas sombrio ao mesmo tempo. Estavam passando ao lado do quarto de Akira quando trombaram com duas pessoas.

-Poison! Pony! – exclamou Kobra, sorrindo. Poison se levantou, cambaleante, e sorriu forçadamente, o que logo fez Kobra se preocupar – Poison? O que houve?

-N-nada. – mentiu ela, olhando para o lado, constrangida.

Kobra abriu a boca para responder, mas Party interrompeu o irmão.

-Tá, tá, mas precisamos ir! – disse ele, exasperado – Poison, Pony, esse é o meu pai, Donald Way.

O pai de Party sorriu levemente, e Pony acenou de forma tímida. Poison Heart acenou também, mas virou o rosto na direção dos dois irmãos, visivelmente chateada.

-Tinha dito para vocês não irem atrás dele! – rosnou ela.

-Eu sei, mas tente ver pelo nosso lado. É o nosso pai. – justificou Kobra, cruzando os braços.

-Eu não..

-Pra que a pressa? – perguntou Pony, interrompendo a discussão dos dois, e murmurando um “a DR tá foda” para si mesmo.

-Fun sumiu.

Poison e Pony trocaram rápidos olhares preocupados antes de dizerem “vamos com vocês”.

O pequeno grupo foi avançando, apenas seguindo Party, que parecia saber para onde estava indo.

-Party, como sabe onde o Fun está? – perguntou Kobra, com uma voz curiosa.

-Como sabia que Poison não estava bem? E que estava no meio de problemas?  - grunhiu o ruivo. Kobra abriu e fechou a boca diversas vezes, mas sem dizer uma palavra – Pois é, é assim que eu sei.

O loiro não proferiu mais nenhuma palavra durante o percurso.

Os quatro viraram em uma curva e deram de cara com o quarto mais sombrio e estranho que já viram na vida. Ao abrirem a porta, ficaram chocados com a escuridão do local, isso sem contar com os incontáveis objetos de tortura e modelos de rayguns espalhados pelo recinto.

-Cadê... Cadê aquele desgraçado? – rosnou Party, com um brilho sanguinário nos olhos.

-Party, acalme-se. – avisou Poison Heart.

-Não, eu não vou ter calma, Poison. Aquele filho da puta pegou o Funny! Eu vou matar ele...

-Esse era o plano desde o princípio. – disse Poison, sorrindo – Nós vamos achá-lo, não se preocupe, Party.

Dito isso, os quatro saíram do quarto, indo para o andar debaixo. De repente, o comunicador de Kobra apitou, mostrando a imagem de um Jet Star muito estressado.

-ONDE VOCÊS ESTÃO?! SEUS... SEUS... ARGH!

-Whoah, o que houve?

-O KORSE ACABOU DE PASSAR AQUI COM O FUN!

-E VOCÊS NÃO FORAM ATRÁS DELE?!

-O QUE ACHAM QUE ESTAMOS FAZENDO?!

-Caralho, para de gritar... – reclamou uma voz feminina atrás de Jet.

-Desculpe, Revolver.

-É, obedece a sua namoradinha. – disse Kobra, em um tom irônico. Jet lançou-lhe um olhar de poucos amigos, mas não respondeu – Mas ele estava com o Fun mesmo?

-Foi o que eu disse, não? – murmurou Jet, limpando o suor da testa. Revolver apareceu na imagem, acenou rapidamente e disse:

-Estejam perto da sala da S/C/A/R/E/C/R/O/W novamente, se não, o Fun morre. E não vai ser por nossa escolha.

O comunicador de Kobra desligou. Party, completamente aflito, soltou um suspiro trêmulo.

-Precisamos achar o Funny... O meu Funny... – disse ele, já quase chorando. Poison passou um braço em volta dele, com um pouco de insegurança.

-Nós vamos trazê-lo de volta. Prometo. – sussurrou ela. Party virou os olhos cheios d’água, com um olhar doce.

-Poison... Você é um anjo... Obrigado...

Ela riu baixinho.

Um anjo negro, só se for.

A Killjoy se aproximou e beijou o rosto do ruivo levemente.

-Vamos, vamos procurar o seu Funny. – ela sorriu de forma divertida. Party sorriu de volta e avançou, juntamente com o resto do pequeno grupo.

-X-

Em uma sala afastada, Fun Ghoul estava amarrado a uma cadeira, com os olhos brilhando de ódio, enquanto encarava Korse, que ria abertamente.

-Boa sorte para sair daí, princesinha! – Korse deu mais uma gargalhada e fechou a porta com um estrondo, deixando Fun amarrado, amordaçado e com uma bomba presa na parede atrás dele.