No dia seguinte, Poison acordou ouvindo pequenos soluços vindos de um canto. A Killjoy se levantou lentamente, esfregando os olhos para melhorar a visão. Quando conseguiu acordar um pouco mais, ela pôde visualizar um Show Pony encolhido contra a parede, ainda sem o capacete, com lágrimas nas bochechas e soluçando. Poison logo se levantou e se agachou ao lado do outro, visivelmente preocupada.

–Pony? Pony, o que houve?

Ele deu mais um soluço antes de olhar nos olhos da amiga.

–F-fazem dez anos, Poison... Dez anos desde q-que eu o matei...

Poison suspirou e abraçou-o fortemente.

–Eu sei... Não fica assim, calma...

–Tamb-bém faz dez anos desde que eu... Fiz o corte... – soluçou ele, tristemente. Poison lançou-lhe um olhar compreensivo – Dez anos desde que eu fiz a pior coisa que poderia ter feito... A-agora aqui estou eu, com o rosto completamente horrível...

–Não fala assim. – cortou Poison – Você não está horrível.

–Poison, é claro que estou. – replicou ele. Poison suspirou, levantou a mão tremulamente e passou a ponta dos dedos no rosto de Show Pony.

–Pony... Você é lindo... Você não percebe o quão bonito você é... – disse ela, beijando a face do outro em seguida. Pony soluçou mais uma vez e voltou a abraçar Poison – Shh, calma, ok? – ela acariciou os cabelos lisos do amigo levemente, tentando acalmá-lo.

–Poison... – chamou ele, roucamente, após um longo tempo.

–Sim?

–Eu te amo...

Ela congelou e Pony riu fracamente.

–Não como o Kobra. Como a Sunshine. Só que mais.

Poison voltou a relaxar e a fazer carinho em Show Pony.

–Eu... Eu sei disso. Eu... – ela começou a gaguejar.

–Eu entendi, Poison. Não precisa dizer em voz alta.

–Obrigada. – ela suspirou, aliviada – Já está melhor?

Acho que sim...

–Então vamos, você precisa nos ajudar a planejar o ataque contra a BLI. – ela beijou o topo da cabeça de Pony.

–Ok. Ahn, Poison... – chamou ele, enquanto colocava de volta o capacete.

–Oi?

–Obrigado por me ajudar. – ele sorriu, sem graça.

–Não precisa agradecer. – disse ela, sorrindo e abaixando o capacete do outro – Você é meu melhor amigo, é óbvio que eu te ajudaria.

–Mesmo assim, obrigado...

A menina sorriu mais ainda e puxou o colega pelo braço, até a sala de Dr. D.

–Bom dia. – disse ele, ao ver os dois entrarem na sala.

–Bom dia. – murmuraram eles.

–Os outros ainda não acordaram?

Poison deu de ombros, mas Pony se prontificou a ir chamá-los.

–Então... Por onde começaremos? – indagou Poison, se sentando na cadeira.

–Precisaríamos de uma planta do prédio da BLI.

–Eu ainda lembro de algumas partes do prédio. E tenho certeza de que eles também lembram.

–Ok. Bom, eu acho que a...

De repente, a porta se abriu, mostrando quatro Killjoys com cara de sono. Poison acenou para eles, enquanto Show Pony ria da cara deles.

–Não ri, idiota. – resmungou Jet. Logo atrás de Show Pony, surgiu Revolver, com cara de tédio.

–Bom dia pra vocês. – disse Dr. D, disfarçando uma risada. Todos os recém-chegados murmuraram um “bom dia” desanimado e se sentaram onde puderam – Então, espero que vocês se lembrem da estrutura da BLI, porque precisamos planejar o ataque. Qual de vocês desenha melhor?

Kobra, Fun e Jet apontaram para Party, que corou um pouco.

–Eu não desenho tão bem...

–Desenha sim, cala a boca. – cortou Kobra. Poison riu discretamente, pegou uma folha de papel e entregou a ele.

–X-

Poucas horas depois, os Killjoys tinham em mãos duas plantas da BLI, uma do primeiro andar e outra do segundo andar, com todas, ou quase todas, as salas.

–Então, já temos uma ideia de como é a BLI por dentro. – disse Poison – Agora... Como entraremos lá, e o mais importante, como chegaremos aqui... – ela apontou para um quadrado onde estava escrito “sala geral” – Que é onde fica o gerador.

Jet fez uma careta de preocupação.

–Bem no meio da BLI? Chegar lá vai ser foda.

–Vai mesmo. – concordou Revolver – Não vai ter jeito, vamos ter que andar pelos corredores mesmo. Porém, existem dois corredores próximos a esse lugar aqui que são menos movimentados, temos uma chance menor de sermos pegos.

–Tá, mas já pararam pra pensar na localização dessa merda? Fica pertíssimo da S/C/A/R/E/C/R/O/W, dos Draculoids e fica logo abaixo do quarto do Korse. Acham mesmo que vai ser tão fácil? – disse Fun, descrente.

–A S/C/A/R/E/C/R/O/W é desatenta quando se fala de segurança interna. Na externa, ela é a melhor, mas dentro do prédio... – ela fez um barulho de escárnio.

–Então é um problema a menos. – disse Party, riscando a S/C/A/R/E/C/R/O/W da lista que fizeram – Mas ainda temos o problema do Korse e dos Draculoids.

–Os Draculoids não tem como fugir. – confessou Revolver.

–Não acho que o Korse vá ser acordado enquanto estivermos no gerador. – disse Poison – Ele vai ser acordado bem antes disso.

–Ela tem razão. – disse Fun, mordendo o lábio inferior – É capaz dele já estar acordado quando chegarmos.

–Não. Tanto ele quanto Akira estão na cama quando dá duas horas da manhã. Alguns Draculoids ficam acordados, mas só os da S/C/A/R/E/C/R/O/W, e alguns para ficarem rondando pelo prédio. Mas Draculoids são mais burros do que portas, não vamos precisar nos preocupar com eles, eu acho.

Party riscou Korse da lista e mordeu a borracha do lápis.

–Ainda temos o problema dos Draculoids.

–Simplesmente teremos que enfrentá-los. – disse Revolver, suspirando tristemente – Se não fizermos muito barulho, não vamos precisar nos preocupar com eles.

–Duvido que não façamos muito barulho. – disse Pony, rindo sarcasticamente.

–É, eu sei o quanto vocês são barulhentos. – disse Dr. D, distraído. Poison fechou a cara, mas nada disse.

–Ok, então nós entramos pela porta de trás e vamos até o gerador, sem fazer barulho. Parece simples. – concluiu Jet.

–Primeiro, lembre-se de que a BLI é enorme, esse desenho é só uma representação. É óbvio que vai demorar bem mais para chegarmos lá. Segundo, isso pode parecer simples, mas é o que vem depois que é mais complicado. – disse Poison.

–O que faremos depois? – indagou Revolver.

–Nós vamos matar o Korse e a Akira. – disse Poison, com um tom descontraído. Party quase caiu da cadeira, Fun REALMENTE caiu da cadeira, Kobra escorregou levemente, Revolver e Jet gritaram “O quê?!”. Os únicos que permaneceram calmos foram Poison, Dr. D e Pony. – Acharam que nós iríamos fazer o quê? Brincar em um parque de diversões? – retrucou Poison, arqueando as sobrancelhas.

–Porra, mas... Mas isso vai ser impossível! – disse Jet, arregalando os olhos.

–Não com Exterminators ao nosso lado. – ela sorriu de lado – Partimos meia noite. Estejam lá fora. Sem atrasos. – Poison se levantou e saiu da sala, deixando todos com caras de interrogação. A Killjoy foi atrás de Sunshine e encontrou-a sentada na varanda, observando o sol.

–Bom dia.

–Bom dia. – respondeu ela, sem desgrudar os olhos do horizonte. Poison se sentou ao lado de Sunshine.

–Hoje à noite, nós vamos... Vamos na BLI. Destruí-la.

–Oh. – disse Sunshine, fitando o chão como se fosse a coisa mais interessante do mundo – Que horas?

–Meia noite.

–Ok.

–E você não vai.

–Ok... Não, espera. – ela franziu a testa – Por que não?!

–Porque não é você que eles querem. É a mim. E eu não vou arriscar a vida da minha própria meia irmã por causa de um plano. – disse ela.

–Mas Poison... Eu quero ajudar!

–Você quer ajudar, huh? Então fique aqui, em segurança. Vai ser a maior ajuda que você poderia me dar.

–Poison, não. Eu vou com vocês. – definiu ela.

–Não, não vai. – insistiu a mais velha – Sunshine, por favor, eu não... Não quero ver você morrer...

–Eu sei me cuidar.

–Você tem 12 anos. É praticamente uma criança, não sabe se cuidar. Apesar de ser bastante inteligente, nenhuma criança saberia sobreviver em meio a uma guerra.

–M...

–Sunshine, não! Por favor... Não faz isso...

–Poison, eu posso ajudar. Eu não sou só um peso pra vocês carregarem.

–Eu sei que você pode ajudar, mas eu prefiro ficar sem a sua ajuda do que perder você para sempre.

Sunshine olhou-a com cara de cachorro perdido.

–Não faça esse olhar pra mim. – disse Poison, rindo e revirando os olhos, mas ela não parou – Ok, dê-me um BOM MOTIVO para você vir conosco.

–Eu quero ser igual a você... Uma Killjoy importante, corajosa e, acima de tudo, persistente.

Poison abriu e fechou a boca várias vezes antes de balançar a cabeça negativamente e se levantar. O rosto de Sunshine desmoronou quando viu a outra andando para fora da varanda, porém, Poison virou o rosto levemente e disse:

–Meia noite. Não se atrase. – dito isso, ela saiu, deixando uma Sunshine extremamente feliz.