Os dias que se seguiram foram os mais tensos da vida de todos da Base 8. Party, Fun, Jet e Kobra treinavam mais do que nunca, saindo da arena várias horas depois, esgotados física e mentalmente. Ao contrário do que pensavam, esse treino puxado não lhes tirou a conversa com Dr. D. da cabeça. Muito pelo contrário, enquanto treinavam por horas a fio, as palavras do estranho homem lhes ecoavam na cabeça e, às vezes, os Killjoys notavam que repetiam as mesmas palavras diversas vezes, como se fosse um mantra.

Poison também não estava no melhor dos humores. A chefe passou os dias inteiros remoendo as palavras do amigo sobre o que aconteceria se ela não entrasse em uma missão com os outros quatro Killjoys. Ela não queria isso. Mas também não queria ver o fim da Base.

Enquanto ela se autoflagelava com esses pensamentos, todos os outros chefes, principalmente Adrenaline Danger Heart, pensavam no que estava acontecendo com as zonas. Dia após dia, todas estavam ficando cada vez mais vazias e mais perigosas ao mesmo tempo. A S/C/A/R/E/C/R/O/W estava cada vez mais vigilante e passava por uma área maior do que antes, passando perigosamente perto da Base 8. Diamond e Danger Bomb pensavam em mil e uma maneiras de dester um ataque da BL/Ind. Até os alunos da Base notaram que havia algo estranho no ar.

Quanto a Sunshine, ela não aguentava mais esse sentimento de pressão. Ela sentia que tudo terminava “nela”, a culpa era sempre “dela”. Sunshine resolveu fugir, mesmo apesar de todas as palavras de Dr. D.

–Sunshine! – disse Poison, batendo na porta do quarto da pequena – Vamos, está na hora de levantar! – vendo que a menor não respondia, Poison mexeu na maçaneta, descobrindo que a porta estava aberta – Sunshine, es... – a chefe não encontrou a menina dentro do quarto – Ah meu deus, Sunshine! – ela saiu correndo e soou o alarme antes de correr para o quartel-general. Poucos minutos depois, os chefes apareceram.

–O que foi dessa vez? – indagou Detonator, esbaforido.

–Sunshine sumiu.

Ele arregalou os olhos. Supermassive bufou, Danger fechou os olhos, Diamond soltou um gritinho e Adrenaline murmurou um xingamento.

–Temos que começar uma busca imediatamente! – exclamou Diamond.

–Eu... – Poison sentiu o comunicador vibrar. Apontou-o para a parede e viu o holograma de Dr. D. Sua expressão era indecifrável.

–Você soube, não é? Sobre a fuga de Sunshine.

Dr. Death assentiu.

–Juro que vamos começar a procurá-la agora e...

–Não será necessário. Eu sei onde ela está. – seu tom era frio.

–Jura? Onde? – Poison se animou, mas a expressão do outro continuou inflexível.

–Na base central da BL/Ind. – sua voz era a coisa mais gélida do mundo. Poison sentiu sua face murchar, enquanto um silêncio pesado se instalava no quartel-general, até que Dr. D. disse:

–Talvez já tenha entendido qual é a sua missão... Ou uma delas. Espero que tenha decidido seu caminho, Poison Heart. Seu passado não nos interessa agora, não é problema meu. Mas você precisa decidir o que fazer. – dito isso, o holograma mudou e deu lugar a uma imagem de câmera de segurança que mostrava Sunshine, com uma expressão triste. A menina brincava com uma bola e parecia extremamente entediada. Ao seu lado, encontrava-se uma mulher oriental vestida toda de azul, com sapatos pretos e batom vermelho sangue. Sunshine olhou para cima, em direção à tal mulher, e abriu um sorriso. A mulher devolveu-lhe o sorriso com um forçado e irônico e voltou a olhar séria para as telas na sua frente. A imagem mudou novamente de volta para Dr. D.

–É isso que você vai enfrentar. Só lhe digo isso: escolha bem. Até mais ver. – o holograma tremeu e desapareceu. Poison suspirou fundo e resolveu que já sabia o que fazer.

–Acho que isso resolve o que faremos...

–Resolve? – indagou Supermassive.

–Sim, resolve. Estão dispensados.

Poison saiu do quartel. Foi até o quarto de Jet, Kobra, Fun e Party, com passos decididos. Bateu na porta e foi atendida por Jet.

–Precisamos conversar.

–Eu... Er... Claro, entre.

A menina entrou e se sentou delicadamente em uma das camas. Suspirou fundo e disse:

–Acho que... Terei que mandar vocês na tal missão, apesar de meu desagrado. – sua voz era bem desagradável, mas ela já parecia ter aceitado o fato.

Os quatro arregalaram os olhos.

–M-mas... Por que?

–Simples, Jet Star: eu quero proteger a Base. Não pretendo ir com vocês, contudo. Terão de se virar sozinhos.

–Mas o Dr. Death disse...

–Esqueça o que ele disse. – Poison cortou Kobra – Eu... Tenho meus motivos para não ir, ok? Então... A missão consiste em ir até a base principal da BL/Ind., em Battery Citty, pegar Sunshine e voltar para cá.

–Ficou doida, Poison?! – exclamou Party Poison – Nunca que nós vamos conseguir fazer isso!

–Escutem. Vocês acharam seu caminho até a Base por um motivo: não são pessoas qualquer. Vocês têm um propósito nesse mundo. Desde que a BL/Ind. nos “salvou” do incêndio, as pessoas ficaram alienadas! Mais do que já eram antes! A BL/Ind. TOMOU CONTA de nossas mentes e tomou o controle do governo à força! E essa seria uma chance ótima de tomarmos o controle de volta.

–Poison, não apele para o nosso “propósito na Base”. – cortou Fun Ghoul – Isso não tem nada a ver. O que estamos dizendo é que essa missão seria o mesmo do que dizer “vou me jogar em um vulcão, até mais”. É suicídio!

–Fun, você quer ser mais um americano idiota? Em uma nação controlada pela mídia?

Ele bufou.

–Não.

–Então vocês farão isso. Pelo bem da Base 8.

Eles se entreolharam e acabaram concordando. Poison sorriu, satisfeita.

–Serão mandados na missão daqui a poucos dias. Avisar-lhes-ei a data exata, quando eu souber. Enquanto isso, tentem não fazer nenhuma merda, sim?

Poison fez menção ir embora, mas deu um passo para trás ao se lembrar de algo.

–Ah, e antes que eu me esqueça... Não falhem na missão. Não morram.

Dito isso, a chefe virou e desapareceu no corredor, deixando os quatro Killjoys perplexos e confusos.

–Ela quer que a gente não morra porque ela se importa com a gente ou ela quer que a gente não falhe para a Base não acabar? – indagou Fun Ghoul, mais confuso do que todos.

–E eu sei lá?! – exclamou Kobra – Essa mulher é louca, eu estou te dizendo!

–Concordo. – resumungou Party – Mas nós daremos o melhor de nós nessa missão. É a nossa chance de provar que podemos fazer alguma coisa boa no mundo. Certo?

Todos murmuraram um sim. Party Poison sorriu e disse:

–Então é melhor irmos dormir. Temos um dia cheio amanhã.

Os Killjoys foram se deitar para dormir, inconscientes do que estaria acontecendo na BL/Ind., naquele exato momento.