Na mesa da Grifinória, Harry Potter estava mais confuso que todos. Ele não respondeu nenhuma das perguntas que lhe faziam, apenas olhou para seu prato ainda cheio de comida. 

- Harry, você... Você vai ficar bem, não é? - Hermione perguntou, hesitante. 

- Ah, claro. Não sem preocupem - Ele sorriu fraco. - Eu não estou com muita fome, então... Vou dar uma volta por aí, ok? - Rony e Hermione assentiram. 

Harry se levantou, atraindo olhares de todos. Ele saiu do Salão Principal rapidamente. Alguns minutos depois, Cassie se levantou também e saiu. Ela precisava conversar com seu irmão, conversar com ele sabendo quem ela é. Ele estava andando pelos corredores, deixando as lágrimas cairem livremente. Como era possível ter uma irmã gêmea? Nunca ninguém havia falado sobre isso. Ele era o garoto que sobreviveu. Nunca houve nenhuma garota na história! 

- Ei, espere! - Cassie disse, tentando alcançá-lo. Harry parou, limpando as lágrimas. 

Cassie parou de frente ao irmão, com um sorriso triste no rosto. 

- Você está bem? - Ela perguntou preocupada. Era vísivel saber que Harry estava chorando. Seus olhos verdes estavam inchados e seu nariz, avermelhado. 

- Eu? Estou bem, claro que estou. - Ele respirou fundo - Você sabia? Quero dizer, você sabia que tinha um irmão?

- Sim, na verdade, eu sempre soube. Eu só não podia fazer nada para lhe procurar, Harry. Você é protegido por aurores e feitiços toda hora, e eu sou uma simples garota das trevas. É praticamente impossível te encontrar em algum lugar. 

- Garota das trevas? Você está mexendo com arte das trevas, então? - Ele perguntou decepcionado. Não esperava ter uma irmã assim, do mal.

- Bom, eu não cresci com uma família trouxa do bem, Harry. Eu fui criada por Bellatrix Lestrange e pelo Lorde das Trevas. - Ela suspirou - Mas eu não pedi por isso. 

- Você é uma Comensal da Morte? - Harry perguntou aterrorizado. Ela podia ser sua irmã, mas foi criada por Voldemort e aquilo significava uma única coisa: Perigo. 

Cassie suspirou, desviando o olhar. Ela se questionou sobre onde havia parado sua máscara de frieza e indiferença? A máscara que ela tanto teve trabalho de conseguir usar, simplesmente sumira. E justo na frente da pessoa que ela mais precisava usar. Não queria que seu irmão sentisse pena dela, nem tentasse a ajudar. Por mais que Cassie odiasse sua vida na Mansão Malfoy, ela gostava do poder que tinha lá. Era a filha do Lorde das Trevas. Ok. Não literalmente, mas todos a consideravam assim. E isso significa poder. Significa que todos ali faziam de tudo para agradá-la, até sobre coisas mais impossíveis. Quando Cassidy tinha cinco anos, ela desejava ter um trouxa de estimação. Você não leu errado. Ela queria um trouxa de estimação. Lucius foi até o vilarejo trouxa mais próximo e trouxe uma mulher de aproximadamente vinte e dois anos. Apesar de se chamar Danielle, Cassidy a chamou de Julie. Uns meses depois, Julie morreu de desidratação. Desde então, a pequena garota começou à matar. Quando sentia muita raiva, ela conseguia torturar qualquer um que estivesse em sua frente e em casos mais extremos, ela conseguia matar. 

- Podemos ir ao jardim? - Cassie perguntou, retirando as lembranças da cabeça. 

Harry assentiu, andando. Cassidy andou ao seu lado, às vezes, lançando olhares curiosos ao irmão. Ela sabia que o garoto também estava a olhando, então tudo estava bem. Os dois chegaram ao jardim e o cheiro da noite a atingiu. Era um cheio fascinante para Cassie e ela sabia que Harry não podia sentir. Ela se sentou na grama e Harry ao seu lado.

- Pronto. Aqui estamos. Agora, estou esperando a sua resposta. - Harry disse de um modo ríspido, mas ao mesmo tempo ansiosa. 

- Eu não sou uma Comensal da Morte tradicional, Harry. Sim, eu tenho a Marca - Cassie mostrou seu braço esquerdo - Mas como o Lorde das Trevas me considera uma filha, eu tenho alguns privilégios. Eu sei que não é isso que você gostaria de ouvir, mas seguimos caminhos diferentes, Harry. Essa sou eu e espero que você me aceite como eu sou, ou pelo menos, não me despreze. 

- Você é uma Comensal! - Harry esbravejou - Quem garante que não está conversando comigo só para se tornar minha amiga e então, me entregar à Voldemort? - Ele perguntou irritado. Cassie suspirou novamente.

- Não estou. - Ela respondeu dando de ombros - Você é meu irmão e por mais que eu seja uma Comensal, nunca lhe entregaria à Voldemort. Não espero que você acredite em mim tão facilmente, mas pense no que eu acabei de dizer. Você é importante para mim, Harry. Você é a unica família que restou para mim, a única verdadeira. Bellatrix, Voldemort... Eles não são minha verdadeira família. 

- Eu tenho que ir. - Harry respondeu se levantando rapidamente e saindo de lá. 

As palavras de Cassie ainda ecoavam em sua cabeça. O que a garota dizia era verdade? Ou apenas um fingimento? Pelo que ele sabia, Tom Riddle havia escondido as verdades muito facilmente e ele poderia ter ensinado isso à garota. Ele entrou em seu dormitório, encontrando-o vazio. Se jogou na cama e começou a chorar. Uma parte dele dizia que estava extremamente feliz por finalmente, ter encontrado alguém de sua família. Já outra, desejava que Cassidy nunca existisse. 

- Harry? Você está aí? - Rony perguntou, entrando no quarto. Harry fez um barulho com a boca e Rony se sentou ao seu lado. - Como foi? - Ele perguntou

Harry lhe contou como havia sido a conversa, inclusive o fato de Cassie ser uma comensal. Aquilo pegou Rony de surpresa. Ele acreditava no rostinho delicado da garota e nunca imaginaria que ela era perigosa e pior, filha de consideração do Lorde das Trevas. 

- Nós temos que contar isso à Hermione, você sabe não é? - Rony perguntou, se recuperando da surpresa. 

- É, eu sei. Amanhã eu conto. - Ele encerrou a conversa. 

No Jardim...

Cassidy ainda estava no jardim após Harry ter ido embora. Ela aproveitou aquele tempo sozinha para deixar as lágrimas caírem. Em sua cabeça, havia imaginado essa conversa milhares de vezes. E todas tinham um final feliz. Harry e Cassie se tornavam melhores amigos e esqueciam as diferenças. Mas a realidade a machucou muito. Ela percebeu que nunca poderia ser a melhor amiga de Harry, que ele nunca a perdoaria por ser uma Comensal. 

Enquanto chorava, ouviu passos em sua direção. Não fez menção de se virar, apesar que já sabia quem era. 

- Não é muito seguro uma moça bonita como você, permanecer aqui fora numa hora dessas... Está escuro, Cassidy e esfriando. 

- Eu sei, Professor. Já estou entrando, só precisava de um tempo. - Ela respirou fundo, limpando suas lágrimas. Viu que Dumbledore se sentou ao seu lado, com um pouco de esforço. 

- A conversa com Harry não foi muita boa, certo? 

- Como o senhor...? - Ele a interrompeu

- Apenas imaginei. 

- É, ele não reagiu muito bem. - Ela disse tristemente

- Não fique triste, pequena Cassie. Dê um tempo para Harry se acostumar com a idéia. Tenho certeza que vocês irão se acertar - Dumbledore sorriu

- Queria ter a mesma certeza que o senhor tem... Mas há outras coisas envolvidas nisso. O senhor sabe por quem eu fui criada e das coisas que eu fiz. Harry nunca iria aceitar. - Ela suspirou

- Nunca é uma palavra muito forte, Cassidy. Lembre-se disso - Dumbledore piscou - Está frio e eu irei entrar. Aconselho que faça o mesmo. Tenha uma boa noite. 

Dumbledore se levantou e entrou no castelo. Cassidy se levantou também, lançando um último olhar à brilhante lua cheia. Ela fechou os olhos, respirou fundo e pediu: "Que as coisas entre mim e Harry, melhorem."