A morte da bezerra escrita por BubblesChan


Capítulo 20
Possuída pela maldade


Notas iniciais do capítulo

Capitulo escrito por Edson Alca !
Edição: BublesChan !
Bom minha gente, último capitulo.
Sabe quando a criatividade se vai? Então!
Fiz o que pude, espero que esteja agradável.
Boa leitura !



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Não sei como começar. Não sei como fazer isso, mas preciso...

Querido diário! Eu lhe desenterrei, tirei da escuridão para lhe trazer sofrimento. Eu queria entender tudo que aconteceu, mas não consigo compreender nem a metade. Tudo é tão confuso, tudo tão violento que a minha mente tenta constantemente esquecer, mas não, eu prometi que contaria tudo a você. E aqui estou, tremendo de nervoso, quase chorando de tanto medo. Mas preciso ser forte, como ela foi.

Diretamente e com grande dor tenho que lhe contar que Estela morreu. Sim, ela morreu, mas vive em mim, e enquanto eu viver ela vai continuar existindo. Por que eu me liguei a ela de uma tal forma que não consigo deixa-la ir, e ela não vai. Só vou deixar de ama-la quando meu coração, quando ele parar de bater.

Agora vou satisfazer seu último desejo, contar como foram seus dois últimos dias. Tudo está armazenado em mim, cada grito, cada pedido de socorro. Consigo lembrar exatamente de tudo, o que faz parecer que estou lá, observando pela janela, vendo a água levar a vida, o sangue cair nas folhas secas, regenerar a natureza morta com morte.

Naquela tarde Estela estava radiante, assim como o sol. Assistíamos a um filme com seu pai, rindo a cada cena daquela comédia. E assim foi durante alguns preciosos minutos.

— O demônio reside nessa casa! — Uma voz gritante vinda da rua fez com que nós abríssemos a porta.

— É ela! — Gritou o padre apontando um crucifixo para Estela.

Havia uma multidão de pessoas ali. Todas com uma expressão revoltada. Enquanto o padre falava coisas ameaçadoras, seus seguidores liam a bíblia com convicção que algo deixaria o corpo daquela garota assustada.

— O que é tudo isso? — O pai de Estela segurava o portão para que eles não entrassem — Saiam da minha casa!

— Não tente proteger o demônio! Ele ousou entrar em nossa igreja, matou uma inocente mulher e destruiu nossa casa. — O padre estava cada vez mais fora de si.

— Não fale bobagens, ela era minha ex-mulher e morreu em um acidente nessa sua igreja.

— Não! — Gritou. — Essa menina a matou, e por pouco eu consegui sobreviver.

— Essa menina é minha filha, seu estúpido. Ela jamais mataria sua mãe!

De repente uma pedra vinda de longe acertou a cabeça do pai dela. Ele caiu. Corri rapidamente para ajudá-lo, mas ele já estava inconsciente. O padre arregalou os olhos e todas as pessoas ali ficaram em silêncio. Enquanto eu tentava levantar o homem caído, Estela começou a se mover. E quanto mais perto ela chegava de mim, e deles, mais eu temia o que ela poderia fazer.

— Vocês não ouviram o nosso pai falar? — Gaguejou. — Vocês não ouviram o meu pai falar? — Estela abriu o portão e saiu, caminhando em direção ao padre como se fosse atacá-lo — Por pouco você sobreviveu, não é, Padre?

— É você? — Perguntou ele.

— Sim, sou eu! — Sorriu. – Sou eu, Estela. Lembra-se de mim?

— É você? — Repetiu.

— Sim, sou eu!

— Deixe o corpo dela!

— Que absurdo padre, chego até mesmo a pensar que foi você que matou minha mãe.

— Deixe o corpo dela!

— Vai embora daqui! — Estela deu um grito devastador fazendo com que as pessoas começassem a correr. Logo, todos foram embora apavorados.

Naquele momento, mesmo com toda a tensão, eu consegui ver, sentir Estela brigar com ela mesma. Ela queria falar, mas algo nela também queria. Alguém que era seu oposto, alguém com o coração frio, sem bondade alguma. Imagino como devia ser doloroso manter duas almas diferentes no mesmo corpo, vontades, emoções distintas. É como tentar manter o sol e a lua ao mesmo tempo, impossível.

Depois de toda a confusão voltamos para dentro, o pai de Estela foi para o quarto e nós ficamos na sala, sentados um do lado do outro. Seus olhos estavam fixos na parede a sua frente, mas sua mão estava inquieta, apertando minha roupa.

— Estela? Você vai ficar bem, eu estou aqui!

— Até quando? — Virou a cabeça e me encarou.

— Sempre vou estar aqui!

— Eles também!

— Eles quem? — Perguntei.

— O infiel, o anjo e a cria.

— Esqueça deles.

— Eles não me esquecem, são obcecados por mim.

— Eu vou te proteger!

— Estou cansada de ouvir isso. — Estela suspirou — Quero que você me prometa duas coisas, Matheus. A primeira é que vai desenterrar meu diário que está no centro da floresta, perto do poço. Vai escrever tudo que viu e ouviu, tudo que conseguiu sentir. A segunda coisa é essencial: Prometa que não vai interferir em nada, absolutamente nada do que eu fizer.

— Eu confio em você.

E com essa afirmação de confiança ela se levantou, e quando pude perceber já estávamos na rua, caminhando em direção ao seu objetivo misterioso. E a cada rua que passávamos me vinha o estranho pensamento que Erica era nosso destino final. E era.

Daqui pra frente diário, tudo é triste, um raio de escuridão que levou a felicidade. Eu queria tentar resgatar qualquer benevolência, qualquer vestígio de luz naquele ser, mas Estela estava dominada pelo seu “outro eu”. Tudo de bom nela estava sendo sugado e transformado em ódio. E a única coisa que eu podia fazer era ver a minha Estela morrer aos poucos.

— Erica!

— O que você quer?

— Quero conversar!

— Eu não!

— Está sozinha em casa?

— Sim, mas não quero falar com você!

Estela sem esperar entrou no pátio. Aproximou-se e segurou bem no cabelo dela, a puxando para dentro da casa. Pela janela eu vi claramente Estela espancá-la, chutes, socos, o sangue escorria pela testa da garota. Erica com o pouco de força que tinha, derrubou Estela no chão e se trancou no banheiro com esperança que estaria salva ali. Pobre alma perturbada, não sabia com quem estava lidando. A Estela que ela conhece não tem metade da maldade que essa tem.

— Deixe-me entrar!

— Sai da minha casa sua louca. O quê você quer, me matar? — Erica soluçava de tanto desespero.

— Te matar parece bom, mas antes eu quero quebrar essas suas asas, tirar pena por pena para que você sinta a constante dor que eu senti.

— Que asas? Você se drogou com aquele marginal? Era de se esperar mesmo, a toda certinha, melhores notas, um exemplo vivo da inteligência não passava de uma máscara.

— Você não sabe nada sobre mim.

— Eu sei tudo sobre você. Sabe que animal você seria? Uma bezerra, fraca, inocente, um ser que mal consegue ficar em pé. Uma bezerra também precisa de sua mãe, uma que você não tem. Resumindo você não tem nada, não é nada. Alguém assim não vive por muito tempo.

Erica com essas palavras entregou sua vida. A porta foi arrombada, Estela estava enfurecida. Pegou novamente nos cabelos da garota, segurando-os enquanto abria a torneira da banheira.

— O que você pretende? Me dar um banho?

— Você sabe que não é isso... — Estela sorriu.

— Você não teria coragem!

— Diga-me você, não sabe tudo sobre mim?

— Vai ter que viver com isso para sempre! Eu sei que não faria isso, você não é assim.

— Eu sou inocente, pessoas inocentes fazem coisas com a mais pura inocência.

— Pare de brincar!

— Não me diga o que eu tenho que fazer! — Estela enrolou os cabelos em sua mão e puxou para cima para que Erica se levantasse. — Já estou sendo muito gentil, pouparei a pobre coitada daquela sua cria...

— Ai, por favor... Você vai ser presa, o que vai ganhar com a minha morte?

— Felicidade! – Sorriu.

— Como alguém fica feliz com a morte de uma pessoa?

— Não fale como não se não tivesse tentado me matar, agora cala a boca e entra na banheira.

— Não faça isso...

Erica não tinha mais escolhas, já estava morta desde o momento que pôs os olhos em Estela. Ela até tentou, debateu-se por alguns instantes até que todo o ar deixou seu corpo. Estela então tirou suas mãos do pescoço da garota, permitindo que o corpo deixasse o fundo da banheira e boiasse naquela água ensanguentada.

E agora, qual seria o limite para Estela. Ela matou uma pessoa, deixou rastro por todo o banheiro, provavelmente seria presa. Sua alma e seu corpo estavam condenados. Cabia a ela decidir o que fazer. E ela já sabia.

Fomos para casa, no caminho ela agia como se nada tivesse acontecido. Quando chegamos Estela foi direto para o quarto. Tirou suas roupas que estavam um pouco molhadas e deitou-se na cama, sorridente, realmente feliz. Deitei ao lado dela e ali ficamos até que eu cometi o maior erro de todos. Eu dormi.

Acordei no meio da noite e notei sua ausência. Procurei pela casa e nada dela. Desespero e angústia me preencheram. Eu não consegui pensar, mas sabia que ela estava em perigo. Na tentativa de achá-la eu sai correndo pela rua, não havia movimento algum, apenas aquele silêncio misturado com o impiedoso frio da noite. Continuei correndo e notei que as únicas luzes acesas eram as da casa de Pablo. Como pude ser tão burro, óbvio que ela tinha ido pra lá, matá-lo.

Entrei vorazmente na casa, tudo estava caído. Andei atento, pedindo para que não encontrasse Estela morta em algum quarto. E meu pedido foi atendido... Ouvi sua voz ecoar atrás da casa, abri a porta dos fundos e lá estavam os dois.

— Você não teria coragem! — Pablo estava encurralado, sendo ameaçado com um machado.

— Erica disse a mesma coisa!

— O que você fez com ela?

— Afoguei! — Sorriu.

— Não acredito em você!

— Não precisa acreditar, apenas diga alguma coisa antes de morrer, primo.

— Eu me arrependi de ter te traído, de ter brincado com você. Cheguei até mesmo a pensar que eu fosse o obscuro, mas pelo que vejo estava enganado, você é o obscuro.

— Tem razão Pablo, eu sou o obscuro. — Estela levantou o machado.

— Espera! Eu te amo!

— Tarde demais!

O machado foi cravado em seu peito. O sangue tinha um tom escuro, assim como a noite, como ódio que Estela sentia por aqueles que a fizera sofrer. Pablo estava morto no chão, o sangue transbordava de seu corpo. Estela ficou paralisada, caiu de joelhos perto dele, chorando, abismada com o que via.

— Por que eu fiz isso? — Gritava inconsolável enquanto tentava salvar seu primo.

— Não foi você! — Falei de longe.

— Ela sou eu, Matheus.— Ela levantou do chão e saiu dos fundos da casa, parecia sem rumo. Eu a segui para fora, temendo que ela pudesse fazer algo pior. — Tudo que ela faz é minha culpa também. — Murmurou.

— Não se culpe, você não pode controlá-la!

— Eu não, mas você pode. Por favor, acabe com o meu sofrimento. Não permita que ela mate mais ninguém. Eu imploro que me salve, só você pode terminar com isso. Mate-me!

— Não! Nunca faria isso.

Estela olhou sorridente para uma luz distante na estrada. Ao se aproximar de mim seu rosto perdeu a felicidade. — Vou sentir saudade do seu sorriso!

Hoje faz uma semana que ela se foi. Sinto que perdi parte de mim. Não tenho mais para quem sorrir, qualquer vontade de continuar vivendo desapareceu. Apenas permanecerei como estou, de luto eterno por ela. Por que sei que ela está comigo, e isso é a única coisa que me mantêm acordado. Tenho certeza que um dia se eu conseguir fechar meus olhos por um longo tempo, não será para dormir, e sim para encontrá-la.


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Notas finais do capítulo

Iai, o que acharam?
Sei que alguma coisa pode ter ficado sem explicação, mas... Quem disse que vai?
Essa fic merece ser recomendada? Digam ai o que acharam, façam suas críticas... #não sejam cruéis#
Kisses de Edson Alca & BubblesChan !
Edit: AMO CÊS TUDO! ♥ *emotiva*



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