Pokémon Fantasy escrita por Lawliette


Capítulo 3
Capítulo 2: O pacote


Notas iniciais do capítulo

Finalmente, capítulo reformado ~



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/201410/chapter/3

Satoru estava assustado.

Larysse não o conhecia por tanto tempo quanto gostaria, mas até mesmo ela podia dizer que o garoto estava assustado, principalmente porque ele dava sinais claros daquilo. Olhava constantemente para os lados, como se temesse uma iminente perseguição, e quisesse ter certeza de que ela realmente não existia. Outra coisa que o denunciava era o fato de que não parecia saber o que fazer com suas mãos, que estavam balançando junto aos braços ao lado do corpo, ou então nos curtos cabelos castanhos na altura dos ombros ou dentro dos bolsos de sua calça, nunca no mesmo local por muito tempo, o que, definitivamente, não era normal.

Na verdade, nada daquilo lhe era normal, pelo contrário: era mais do que incomum para o garoto, e aquela provavelmente seria a primeira vez que Larysse o via assim. Franziu o cenho quanto àquela ação do garoto, ponderando sobre o porquê de ele estar assim, e se algo estava errado. Entretanto, todas as suas preocupações quanto a seus atos incomuns foram esquecidas quando viu o sorriso animado que ele lhe dirigiu, apagando todo e qualquer resquício do medo que parecia exibir antes, e foi com essa mesma facilidade que se viu tão animada quanto ele, assim como ansiosa para contar suas novidades.

— Oi Satoru! – Cumprimentou ela, falhando em conter a clara animação em sua voz. Em seguida, ergueu-se na ponta dos pés, na tentativa de enxergar por cima do garoto que, devido a idade, era consideravelmente mais alto que ela. — Onde o Persi?

— Ele não quis vir hoje. – Respondeu o garoto, sem cerimônia alguma para entrar na casa da menina, algo que, há muito tempo já havia se tornado comum entre eles. Larysse o seguiu, com um grande sorriso em seu rosto, o qual deixava claro sua grande animação por um motivo que, por enquanto, era desconhecido para o mais velho.

Seguiram para o quarto de Larysse, que, ao contrário do de Satoru, era consideravelmente mais arrumado, o que, para o garoto, era um pouco estranho vindo dela, visto que era tão bagunceira quanto ele. As paredes do cômodo eram brancas, com alguns poucos pôsteres de diversas bandas de rock que Satoru apresentara, algo um tanto incomum para crianças de sua idade. A cama estava cuidadosamente arrumada, com varias pelúcias de Pokémons espalhadas pela mesma, a maioria deles bastante conhecidos, como Bulbassaur, Squirtle, Charmander, Pikachu e Eevee. Ao lado da cama havia uma escrivaninha com um computador desligado, e ao lado deste, o armário. No canto esquerdo do quarto, havia uma protuberância grande na parede, onde estava um banco em uma janela. No espaço restante do quarto, numa parede praticamente desprovida de móveis, havia uma única escrivaninha com o que parecia ser um quadro em cima, grande e sem pintura alguma. Ao invés, tinha vários desenhos da mais nova, que, ao contrário das outras crianças, eram bons demais para terem sido feitos por alguém tão novo quanto ela, algo que sempre surpreenderia Satoru, não importasse quantas vezes observasse o estilo mangá dos desenhos.

Satoru se jogou na cama, sem se importar se acabaria por desarrumá-la ou não, e puxou uma pelúcia gordinha de Pikachu, utilizando-a como travesseiro enquanto abraçava uma de Eevee contra seu peito, suspirando longamente. Larysse, por sua vez, puxou uma cadeira para si, deixando de costas para o menino, mas sentou-se de frente para ele. Ela ainda exibia o sorriso de animação no rosto, mal podendo esperar para contar-lhe sua novidade.

— E então, como vai? – Perguntou ela, mais por educação do que por querer realmente saber. O garoto deu de ombros, o que a menina aceitou como sua resposta. — Quais as novidades?

Assim que ouviu essa pergunta, o rosto do garoto de cabelos castanhos se iluminou, a mesma animação que Larysse exibia tomando seu rosto rapidamente.

— Meu pai me deixou sair! – Respondeu o garoto quase que imediatamente. — Lembra daquele pacote que ele me pediu pra pegar por ele? Então, ele disse que é um pacote vindo de Kanto pra mim, e que tem um Pokémon pra eu poder sair em jornada!

— Whoa – Exclamou Larysse, um tanto surpresa com a notícia do garoto. — É a mesma novidade que eu tenho. Papai e mamãe me deixaram sair com você pra ser uma coordenadora!

Satoru ergueu as sobrancelhas, surpreso, mas logo, sua surpresa transformou-se em uma grande felicidade que tomou conta do mais velho, fazendo com que abrisse um sorriso para que pudesse exibi-la. Aquele era o sonho de ambos desde muito tempo, e agora, de uma forma tão fácil, finalmente conseguiram o que queriam, e ainda mais juntos, algo que haviam combinado pouco depois de se tornarem amigos. Agora, tinham a chance de fazê-lo, como sempre planejaram.

Pouco depois, seu sorriso se desfez, com uma lembrança um tanto quanto indesejada cruzando sua mente. Franziu o cenho, e, diante da expressão confusa da amiga, perguntou:

— Eles já te contaram sobre a Clair?

— Quem...? – Ao ouvir aquilo, franziu o cenho, o que já deixava claro que não conhecia aquele nome.

— Clair. Meu pai disse que é uma treinadora mais velha que vai acompanhar a gente. – Explicou ele, um tanto confuso por ela não saber. — Achei que seus pais tivessem te contado.

— Uma treinadora mais velha...? – A confusão em sua voz era clara, mas também havia certa curiosidade, e talvez alguma esperança, pois a possibilidade de viajar com um treinador mais velho significaria alguém que provavelmente já tivera suas próprias aventuras, e que muito provavelmente os ensinariam coisas que lhes seriam muito úteis no futuro.

— Mais ou menos... É mais uma treinadora mais velha que vai junto com a gente, vai ter a primeira jornada dela.

— Porque ela não fez isso quando mais nova?

Mais uma vez, Satoru deu de ombros, mostrando que, assim como ela, não fazia ideia do porque, quanto mais a razão de Clair ter de viajar com eles. Achava estranha aquela atitude de seu pai, que, aparentemente, fora quem pedira para que a mais velha os acompanhasse, e estranhava ainda mais o fato de que uma garota mais velha não pudera sair em jornada antes, e agora concordara em sair juntamente a eles. Era bastante raro encontrar uma pessoa mais velha que não tivera a oportunidade para fazê-lo, e, se encontrava, tal pessoa era considerada um tanto estranha e geralmente excluída por aqueles que já tiveram ou estavam tendo sua própria jornada na idade certa, pelo menos em Twinleaf.

Satoru não usava daqueles estereótipos com pessoas assim, quanto mais Larysse, mas, ainda assim, somente a ideia de ter de viajar com alguém como ela e que não conhecia já o deixava preocupado quanto a possibilidade de não terem a liberdade que sempre possuíam, mas também um pouco esperançoso. Talvez essa tal de Clair pudesse saber de algo que fosse útil a eles, poderia ajudá-los em sua jornada mesmo não tendo Pokémons ou experiência de jornada. É claro que, se fosse uma treinadora mais velha e experiente, teria muito mais a ensiná-los, fora os Pokémons fortes e que, com alguma sorte, ajudariam seus futuros em algo.

— Satoru, ela sabe que...? – Começou Larysse, interrompendo o fluxo de pensamentos do mais novo por um momento, mas não terminou a frase. O garoto a encarou, piscando longamente sem nenhum motivo em especial, e no momento em que identificou o receio em seus olhos, soube do que estava falando, mas não respondeu imediatamente. — Acha que devíamos contar quando a conhecermos...?

— Sim. – Respondeu ele, assentindo brevemente enquanto brincava com a pelúcia de Eevee em seus braços. — Seria bem estranho nós falando com Pokémons e respondendo-os como sempre fazemos... Ela nos acharia uns completos retardados. Se vamos viajar juntos, então ela tem que saber.

Larysse concordou, anuindo brevemente quanto à sugestão de Satoru, e, por um breve momento, sorriu com a ideia de estar conversando com um Pokémon perto de alguém que não fosse Satoru e esta pessoa não entender e os julgar loucos. Esses pensamentos logo foram substituídos por outros bem mais importantes, os mesmos que trouxeram a animação de antes para a mais nova, e traziam agora mais uma vez.

— Ah, quase me esqueci! Eu já ganhei o meu Pokémon!

— Já!? – Satoru arregalou os olhos, surpreso. – Que Pokémon é?

— Espera aí, vou buscá-la.

Levantou-se rapidamente, virando a cadeira para o lugar correto, e então se dirigiu até a segunda escrivaninha que havia em seu quarto, e de lá, pegou uma Pokeball com tamanho reduzido, tão fora de lugar que o menino não havia notado até que Larysse estivesse com a esfera branca e vermelha em mãos. Esta agora estava mais ou menos do tamanho de uma bolinha de gude, e com um bem visível Seal em forma de raio, provavelmente desativado no momento. Ela apertou o botão central da esfera uma única vez, o que fez com ela aumentasse consideravelmente de tamanho ajustando-se a sua mão. Apertou mais uma vez, dessa vez fazendo com que a esfera se abrisse e enchesse o quarto com um forte brilho branco, obrigando as duas crianças a proteger os olhos nos momentos em que ela permaneceu ali.

O brilho branco direcionou-se ao chão, e permaneceu por alguns poucos segundos antes de finalmente se esvair, deixando apenas o Pokémon que antes estivera em seu interior. A Pichu era extremamente pequena, não muito maior que um rato normal, mas ainda assim, era menor que os outros de sua espécie, demonstrando que era apenas um filhote. O Pokémon rato era na cor amarela, apenas com poucos lugares de seu corpo na cor negra, estes sendo a curta cauda, a ponta dos dedos, a franja, a ponta de suas orelhas e o colar de pêlos negros que cobria seu pescoço. Possuía um curto focinho com as bochechas vermelhas, as quais armazenavam grande quantidade da eletricidade que havia em seu corpo. Os olhos eram castanhos, que, apesar de parecerem assustados, exibiam uma clara curiosidade quanto ao garoto e ao local que se encontrava.

— Ah, Larysse. – Disse a Pokémon, levando a patinha ao peito quando suspirou, aparentemente de alivio. Sua voz era fina, semelhante a uma criança pequena. — Quase achei que tinham me dado pra outra criança. Quem é ele? Ele pode me entender também?

Satoru permaneceu calado por um momento, estudando-a ao invés de dizer algo. Parecia um tanto tímido demais para apresentar-se, por isso, preferiu observá-la, curioso com a espécie da Pokémon que, até então, nunca havia visto, pelo menos não pessoalmente. O fato de estar vendo um Pokémon que pertencia a Larysse era como estar vivendo seu sonho de uma forma quase surreal, dando-lhe a preocupação de que a qualquer momento poderia acordar e descobrir que nada daquilo era verdade. Quase não podia acreditar que realmente havia recebido a permissão de seu pai para sair com Larysse, mesmo que fosse acompanhado por uma treinadora mais velha. Parecia inacreditável que um deles já tivesse conseguido um Pokémon, uma prova de que, de fato, sairiam em jornada, por isso, não teve duvidas de que aquilo tudo era verdade.

O garoto engoliu em seco, sentindo-se tímido com a presença da Pokémon, e desviou o olhar, com medo de acabar passando algum tipo de impressão errada que a levasse a não gostar dele. Como não disse nada, Larysse tratou de apresentá-lo, mostrando-o com um movimento da mão:

— Esse é o Satoru, meu amigo que vai viajar com a gente, e que também entende os Pokémons, que nem eu. Diz oi, Sato-chan~

— O-oi... – Ele deu um sorriso energonhado, e fez um pequeno aceno com uma das mãos. Satoru definitivamente não era bom em fazer novos amigos.

A Pichu assentiu, dando-lhe um breve sorriso em cumprimento para o garoto, não parecendo tão nervosa assim em começar uma conversa quanto ele.

— Eu sou a Khurtnney! – Disse a Pokémon para o garoto, que, em resposta, sorriu, assim como Larysse, ainda animada com a Pokémon agora estar ali e pela novidade que ambos possuíam.

Assim, os três passaram a conversar, imaginando que tipo de Pokémon Satoru poderia receber no pacote de seu pai, e quando ele chegaria. Devido a grande curiosidade que os três adquiriram quanto a esse assunto em particular, Khurtnney e Larysse decidiram fazer companhia ao garoto quando ele fosse esperar pelo carteiro com sua encomenda, o que não demorou muito para que fosse feito. Os três sentaram-se na calçada, conversando para passar o tempo e distrair-se até que o carteiro finalmente chegasse para entregar-lhes o tão esperado pacote. Desse modo, Larysse acabou por esquecer completamente do estranho modo que Satoru vinha agindo quando chegara e a falta de Persi a seu lado, então nem ao menos perguntou depois de contar-lhe sua novidade.

Satoru, ao contrário da amiga e de sua Pokémon, começou a ficar extremamente nervoso à medida que o dia passava, ansioso pela hora em que o carteiro chegaria e ele finalmente teria a oportunidade de descobrir quem seria seu primeiríssimo Pokémon, o inicial que o acompanharia desde o começo de sua jornada. Talvez aquela espera fosse ainda melhor do que ter a oportunidade de escolher o Pokémon, mas certamente que o nervosismo constante que sentia juntamente com a expectativa de o carteiro chegar era torturante, e acabava por se sentir um tanto desanimado todas as vezes em que olhava em direção a esquina e não encontrava o carteiro. Seu nervosismo apenas aumentou quando o garoto notou que o tempo passava cada vez mais e nada acontecia, e foi com um tanto de tristeza que observou o céu da tarde começava a escurecer, o que, logo, os impediria de continuar ali.

Tal coisa não demorou muito para acontecer, pois logo, a porta da casa de Larysse se abriu, revelando uma mulher de longos cabelos castanhos assim como os dela, revelando-se ser a mãe da menina, Melissa, uma mulher elegante e bastante gentil com Satoru.

Ela abriu-lhes um sorriso amigável e, após dar um breve aceno de cabeça para o garoto, voltou-se para a filha e a Pokémon.

— Larysse, já está tarde. Pegue a sua Pichu e vamos entrar.

— Tá – Respondeu ela, bufando em aborrecimento. Se pudesse, a garota ficaria lá um pouco mais, fazendo companhia a seu amigo.

Com certa tristeza, o menino assistiu a amiga e sua Pokémon caminharem até a mulher, Larysse exibindo uma expressão um tanto aborrecida com sua ordem, e Khurtnney parecendo um tanto triste de deixar seu mais novo amigo que, assim como sua treinadora, também podia entendê-lo. Satoru, por sua vez, levantou-se também, e, logo após despedir-se das garotas e de Melissa, voltou até sua casa, um tanto decepcionado. Gostaria de ficar mais um pouco ali, mesmo que fosse sozinho, e só não o faria por que seu pai não gostava de deixar a casa sozinha, e ele teria de estar lá para esperá-lo chegar do trabalho, além do que provavelmente teria de preparar algo para quando ele chegasse. Porém, mais por impulso do que realmente sua própria vontade, o menino permaneceu ali por mais alguns segundos, esperando que algo acontecesse, e, como nada aconteceu, andou desanimadamente de volta para sua casa, decepcionado.

Um tanto aliviado, notou que, ao chegar em casa, estava tudo como havia deixado. Ligou o rádio e aumentou-o para que pudesse ouvir da cozinha, e com as musicas distraindo-o, foi para a cozinha, tentando assoviar ao ritmo da música. Satoru, desde muito pequeno, já ajudava fazer o almoço ou qualquer coisa do tipo, e, devido a isso, acabou por tomar um certo gosto pela culinária, principalmente porque, depois que sua mãe morrera, a tarefa de deixar o almoço ou o jantar pronto para quando seu pai chegasse sobrara para ele, além do que o garoto tinha de fazer sua própria comida. Isso não lhe era um incômodo, na verdade, realmente gostava de fazê-lo para si e para seu pai, pois, além de distraí-lo, ajudava-o a pensar, algo que, naquele momento, precisava um pouco.

Enquanto realizava as poucas tarefas necessárias para cozinhar, imaginou como seria a tal garota que os acompanharia em sua viagem, e se ela seria legal ou não, e se teria um Pokémon, e qual este seria. Deixou que os pensamentos vagassem em diversas possibilidades e ideias que provavelmente não eram tão importantes assim, e foi desse modo que acabou encontrando um assunto que certamente o deixava preocupado. Algo que, há pouco tempo atrás, Larysse perguntara, mas o menino não dera muita atenção devido a Pichu que fora mostrada e então a saída dos dois para esperar a chegada do carteiro. Entretanto, o fato de que teriam de contar a Clair que ambos podiam entender os Pokémons era meio que um problema para os dois, visto que não possuíam nenhuma garantia de que a garota realmente iria acreditar caso contassem. E se acreditasse ou não, será que contaria aos seus pais? Se contasse, o problema ficaria ainda maior, e haveria a grande possibilidade de não poderem mais sair.

O menino balançou a cabeça, repreendendo a si mesmo. Não havia porque ela contar algo assim para seu pai, já que, afinal, provavelmente não acreditaria. O máximo que poderia fazer era chamá-los de loucos e ignorá-los quando falassem com os Pokémons. Não era...?

O som da porta se abrindo foi o que interrompeu o fluxo de pensamentos do garoto, assim como a música que vinha do rádio silenciar-se. Um tanto agradecido por terem feito isso, o menino deixou as folhas de alface que lavava enquanto deixava o arroz no fogo, virando-se na direção do som. Provavelmente era seu pai chegando, talvez com Clair, já que ela iria aparecer logo. Estremeceu com a ideia de a garota mais velha vê-lo pela primeira vez, ainda mais cozinhando, mas acabou por esquecer-se disso rapidamente.

— Satoru, você está em casa? – Ouviu a voz de seu pai perguntar, assim como a porta se fechando atrás dele pouco tempo depois.

— Sim, pai. – Respondeu o menino rapidamente, balançando suas mãos para tirar delas o excesso de água. — Estou aqui na cozinha.

Ouviu o som das pesadas botas do pai, assim como o som de um segundo par de botas, o que fez o menino franzir o cenho, um tanto confuso. Decidindo ir logo matar sua curiosidade, foi encontrar-se com o homem, que estava com a mesma aparência de sempre: as roupas do trabalho cuidadosamente arrumadas, ao contrário de seus cabelos, que sempre estavam bagunçados, com diversas mechas fora do lugar e a franja caindo sobre a testa, assim como a do filho. Ao lado do homem, estava o Persian, que havia acompanhado-o para o trabalho, a razão do porque ele não estivera com Satoru mais cedo. O gato fez um rápido aceno para o menino, que sorriu brevemente, mas seu sorriso se desfez logo ao notar que eles não eram os únicos ali.

Caminhando calmamente, uma garota aparentando ter dezesseis anos se postou ao lado de Thomas, que parecia um tanto estranha para Satoru, a começar pelos longos cabelos vermelho vivo, que caiam sobre seus ombros, lisos e brilhantes. Seus olhos eram castanho claro, além de grandes e de possuírem longos cílios que ajudavam a dar a seus olhos a impressão de ser tão grandes quanto pareciam. A garota usava um vestido preto simples, com uma jaqueta de couro por cima, calças leggin e tênis igualmente pretos, o que lhe dava um visual um tanto estranho para ela, mas que não deixava de ser bonito.

Lentamente, o olhar da estranha de cabelos ruivos voltou-se para o menino, e ela piscou, tão curiosa com o mais novo quanto ele estava com ela. Diante disso, o menino desviou o olhar, preferindo voltar-se para seu pai, que assumiu uma expressão séria diante de tal atitude.

— Essa garota aqui é a Clair – Disse ele, mostrando-a com um breve aceno de sua mão. — Aquela que eu disse que o acompanharia. Ela vai ficar no quarto de hóspedes por enquanto, mostre pra ela onde fica.

Thomas acabou por dar de ombros logo após dizê-lo, e tão fácil quanto fez parecer, virou-se para a porta, abrindo-a novamente apenas para sair novamente, o Persian o acompanhando.

— Pai, espera! – Chamou o menino, indignado com sua estranha ação. O homem parou, e então olhou para o filho, um tanto aborrecido com a interrupção. Diante disso, Satoru hesitou alguns segundos para continuar, incerto se realmente deveria fazer a pergunta ou não. — Ah... Aonde o senhor vai?

— Na casa da Melissa. – Respondeu simplesmente, sem dar detalhes do que faria lá e porque estava indo sem nem ao menos jantar.

— Eu... posso ir?

— Não. Você vai ficar aqui, e vai mostrar onde fica o quarto para a Clair.

Com isso, o homem e o Persian deixaram um Satoru indignado e um tanto assustado para trás, junto a uma estranha que provavelmente achara aquela cena estranha, senão engraçada. Por um curto momento, o garoto mirou a porta fechada, mas depois suspirou, lembrando-se da comida que deixara no fogo, e então voltou para a cozinha, passando direto pela ruiva, mas não sem antes perguntar:

— Quer jantar?

A garota deu de ombros, murmurando um “tanto faz”, e então o seguiu, sentando-se na mesa enquanto o garoto terminava a comida e tirava as panelas do fogo, deixando-as na mesa ao invés, para que, desse modo, ficasse mais fácil para que ambos comessem. Em seguida, procurou um prato para si e para a ruiva, assim como os talheres, e, finalmente, terminou com a salada que deixara antes, sentando-se na mesa para comer, de frente para Clair. Possuía diversas perguntas presas na garganta, as quais preferiu não fazer, com medo de que a mais velha fosse achá-lo indelicado por isso. Também não disse mais nada, um tanto envergonhado de fazê-lo, pois, afinal, era raro que alguém os visitasse, quanto mais alguém que não fosse conhecido. Por isso, não soube exatamente o que dizer para a garota, se deveria ficar ali ou ir para a sala ou seu quarto, o que dizer para começar uma conversa. Além disso, estava nervoso demais para fazê-lo.

Sentiu o olhar de Clair sobre si, mas não disse nada e nem ao menos ousou encará-la de volta. Optou por apenas comer, envolto em um silêncio que já se tornara um tanto desconfortável para ele, mas que não ousava quebrá-lo.

— Você já tem um Pokémon? – Foi a pergunta que Clair fez, tirando-lhe sua atenção da comida para que pudesse olhar para ela, piscando para que fosse capaz de assimilar a pergunta.

— Não... – Respondeu, a voz soando um tanto baixa. Quase não podia acreditar que ela havia feito uma pergunta, e escolhido aquele assunto, de tantos para começar uma pergunta. — Você já?

— Vou ganhar um quando chegar em Sandgem, com aquele professor, o Rowan. – A ruiva disse aquilo com o que pareceu ser um tanto de animação, o que fez o mais novo erguer uma sobrancelha, curioso. — Ele vai me dar um dos iniciais.

— E qual você vai escolher?

Clair deu de ombros, parecendo incerta.

— Não sei ainda. Já me imaginei com todos, mas não consigo me decidir entre qual deles. - Apesar da incerteza em sua voz quanto a essa decisão, parecia animada em imaginar as três escolhas que tinha para um inicial. — E quanto ao seu Pokémon? Thomas me disse que vai chegar num pacote, né?

— É sim. Mas não chegou ainda... – Disse aquilo com um tanto de tristeza na voz, mas, naquele momento, sentia-se um tanto feliz por Clair ter começado uma conversa. Assim, ele se sentia um tanto mais confortável para fazer muitas de suas perguntas que desejava ter resposta. — Como você conheceu meu pai?

— Ele conhece minha mãe. Ele praticamente me viu nascer, na verdade.

O menino ergueu as sobrancelhas, surpreso. Aquela era a primeira vez que via Clair, assim como a primeira que ouvia sobre aquilo de seu pai conhecer sua mãe e ter visto-a nascer. Ele não deveria conhecê-la, se este fosse o caso? Provavelmente não. Seu pai preferia manter a maioria das coisas para si mesmo, e fazia um bom tempo desde que ele e o filho não conversavam, então era mais do que natural de que não soubesse de Clair. Queria perguntar sobre isso também, mas havia outra questão que o incomodava e que também parecia um pouco mais importante do que aquela.

— Meu pai disse que você só está começando sua jornada agora – começou ele, um tanto envergonhado de fazer aquela pergunta. — Normalmente, as pessoas saem na minha idade... Por que você não saiu?

Ela o encarou, parecendo aborrecida com a pergunta, mas não disse nada. E foi dessa forma que ambos voltaram ao mesmo silêncio desconfortável de antes, o que era um claro sinal de que Clair não gostaria de falar sobre aquele assunto, o que apenas deixou Satoru ainda mais curioso com as suas razões para não fazê-lo. Todavia, decidiu não incomodá-la com isso, e voltou para sua comida, sentido o olhar pesado de Clair sobre si, como se ela suspeitasse de que ainda fosse dizer algo.

Essa mesma cena continuou até que ambos tivessem terminado o jantar, e então deixado os pratos na pia para que, mais tarde, o menino fosse lavá-los. Em seguida, o menino guiou a ruiva até seu quarto, que ficava no segundo andar, no fim do corredor, para ser mais exato, e então abriu a porta para ela, mostrando-o.

Este quarto, em comparação aos outros da casa, era consideravelmente mais simples, possuindo pouquíssimas coisas, entre elas um papel de parede de rosas, uma janela num canto com cortina branca, ocasionalmente erguendo-se devido ao vento. As únicas peças de mobília que haviam ali eram uma grande cama de casal, um armário a direita deste e um criado mudo ao lado da cama. Fora isso, o quarto era completamente desprovido de objetos, o que o fazia parecer ainda mais vazio do que realmente estava.

Clair deixou suas malas perto do armário, e após agradecer o menino, ele saiu, deixando-a sozinha. Foi direto para seu próprio quarto, e, ao olhar para ele, xingou alto, repreendendo a si mesmo por ter feito uma bagunça tão grande assim. Não soube se estava se referindo ao quarto ou a sua própria mente quando pegou um gibi do chão, colocando-o no lugar em seguida. Apenas suspirou ao invés, passando boa parte de seu tempo organizando a bagunça na espera que, daquela forma, pudesse entender exatamente o que estava acontecendo, e dar uma resposta as diversas perguntas que havia em sua mente. Ou, pelo menos, esquecer delas.

Assim que se sentiu satisfeito com a organização, se deitou na cama, e puxou um travesseiro para si, mirando a frente sem realmente vê-la. Estava feliz por finalmente poder sair em jornada, mas também um tanto triste por ainda não ter recebido o pacote vindo de Kanto. Sua mente também possuía diversos pensamentos sobre a garota ruiva e sobre sua mãe. Suspirou, um tanto triste, e abraçou o travesseiro em seus braços mais forte.

Ficou daquele jeito até seu pai chegar novamente, e então o chamar para o laboratório.

***

Satoru surpreendeu-se quando, na manhã seguinte, acordou um tanto mais tarde do que de costume. Lá fora, o sol já estava brilhando, quente, algo que ele certamente não gostava, principalmente porque aquilo era sinal de que o mesmo já se levantara há muito tempo. Sentou-se na cama, e esfregou os olhos por um momento, na tentativa de espantar os resquícios de sono que se recusavam a deixá-lo. No dia anterior, havia ficado acordado até tarde, junto a seu pai em seu laboratório, e não fazia a mínima ideia de que horas tinha saído de lá. A única coisa que realmente se lembrava era que estava com muito, muito sono, então, talvez, esse poderia ser o motivo de ter acordado assim tão tarde.

Resmungou algo, afastando as lembranças do dia anterior. Definitivamente não queria se lembrar da voz autoritária de seu pai dando-lhe diversas ordens e repreendendo-o sempre que fazia algo errado. Aquele dia era pra ser bom, e lembrar-se daquilo apenas estragaria sua grande felicidade com as novidades. Optou por levantar-se e então se arrumar, para que, depois disso, descesse para fazer o café, não sem antes chamar Clair. Com um bocejo, dirigiu-se até seu quarto, e bateu em sua porta levemente, e então esperou.

Não houve resposta. Franziu o cenho, e, dessa vez, bateu mais forte:

— Clair? Estou indo fazer o café... – Chamou o menino. — Ou o almoço. Se quiser, vai lá embaixo depois.

Novamente não houve resposta, o que fez o menino ponderar sobre a possibilidade de ela estar dormindo. Deu de ombros, e virou-se para dirigir-se até a cozinha. Porém, antes mesmo que pudesse fazê-lo, ouviu o som da porta se abrindo atrás de si, para revelar uma Clair já arrumada e olhando-o com certa curiosidade.

— Satoru? – Chamou ela, e o menino virou-se para observá-la. — Eu já fiz o café enquanto você dormia.

— Oh – Sentiu o rosto ruborizar de vergonha. — Tudo bem, então.

O menino preparou-se para deixá-la, mas, mais uma vez, foi interrompido.

— Ah, sim – Disse Clair, como se tivesse acabado de se lembrar de algo importante. — O seu pacote acabou de chegar. Deixei ele ali, na cama.

E abriu espaço para que o garoto passasse. Satoru precisou de alguns segundos para assimilar suas palavras, e então sorrir, caminhando rapidamente para dentro do quarto que agora pertencia a ruiva. Quase não podia acreditar que, finamente, o pacote que tanto desejara havia chegado, fazendo com que todo e qualquer resquício de sono ou desanimo que possuía antes desaparecesse, como se nunca tivesse existido. Agora, tudo o que havia era a grande felicidade que sentiu ao ver que, de fato, uma grande caixa de papelão repousava na cama arrumada de Clair apenas esperando para que ele fosse abri-la.

Não hesitou mais nenhum momento: sentou-se na cama, pegando a grande caixa em suas mãos, pouco se importando com o endereço do remetente e o próprio endereço. Tirou as fitas adesivas que impediam que ela se abrisse devido a algum imprevisto. As fitas foram tiradas com um som irritante, e, finalmente, o garoto abriu a caixa, os olhos arregalando-se de um misto de surpresa e felicidade.

Dentro da caixa, havia o que parecia ser um cinto preto, próprio para prender Pokéballs, e ele só soube disso porque nele estavam presas diversas Pokéballs, entre elas algumas na cor azul e vermelho onde deveria estar o usual vermelho, e outras na cor preto e amarelo nesse mesmo local, o que sinalizava que eram Great’s a Ultraballs, versões melhores e mais avançadas da convencional Pokéball vermelha e branca. Estas duas, ao contrário da normal, proporcionavam uma melhor captura, com menos chances de o Pokémon que seria capturado de quebrá-la, além de serem muito mais resistentes e confortáveis para os Pokémons. Havia também uma Pokedex, um dispositivo usado para ver informações sobre os Pokémons e que era essencial para qualquer treinador.

Havia também o que parecia ser um pacotinho cheio de Seals, adesivos que, quando afixados e ativados na Pokéball, liberavam o Pokémon dentro dela com um efeito a mais do que o usual brilho branco que sempre liberava. Além disso, havia também o que parecia ser um pequeno livro de bolso sobre Berries, e outro falando sobre cuidados com Pokémons, além de uma pequena caixinha preta que o menino julgou servir para guardar suas futuras insígnias.

No cantinho da caixa, praticamente escondido e afastado das outras coisas, havia uma pequena esfera preta, amarela e branca, a única que, ao contrário das outras presentes ali, possuía um Seal, provavelmente desativado, e que estava em cima do que parecia ser uma carta de envelope branco. A curiosidade o invadiu rapidamente, e o menino não hesitou em pegar aquela Ultraball e então apertar o botão central para que ela se ajustasse ao tamanho de sua mão, e passasse-lhe uma sensação quente, indicando que, provavelmente, havia um Pokémon naquela esfera preta e branca. Um sorriso cruzou-lhe o rosto, um tanto hesitante de fazê-lo, e ele respirou fundo, piscando diversas vezes. Esperava que tudo aquilo não passasse de um sonho, e que fosse acorda a qualquer momento.

Porém, ao constatar que aquilo não era um sonho, deixou que o sorriso tomasse conta de seu rosto, assim como a felicidade que enchia seu peito, e então pegou a carta, abrindo seu envelope rapidamente. Talvez ali dissesse que Pokémon havia na esfera, ou falasse algo de quem o mandara aqueles presentes tão incríveis.

Clair o observou enquanto ele o fazia, esticando o pescoço para ver melhor o conteúdo da caixa e, se tivesse sorte, da carta também. Isso não foi necessário, pois, logo, o menino leu em voz alta, um tanto atrapalhado de fazê-lo com alguém observando.

“Caro Satoru,

Espero que goste do Pokémon que escolhi pra você. Eu o capturei assim que seu pai havia me pedido para que mandasse um Pokémon que seria seu inicial. Teria lhe mandado um dos meus iniciais, mas, assim como em Sinnoh, Kanto também está em época de novos treinadores começarem sua jornada, e, considerando a segurança maior que temos aqui, são muitos que pediram os iniciais. Peço para que se lembre que um Pokémon é um ser vivo, que também pensa, sente e precisa não só de cuidados, mas de amor e carinho, e lembre-se também que ele não é apenas algo para levá-lo a fama. Trate-o bem e poderá encontrar uma amizade que nem mesmo os maiores cientistas de hoje em dia conseguem explicar.

Desejo-lhe sorte em sua jornada.

Professor Oak.”

— Professor Oak, hein? – A ruiva ergueu as sobrancelhas, impressionada. — Um dos maiores cientistas e um homem sábio, isso sim.

O menino piscou, e, ignorando uma pequena pergunta que surgiu em sua mente, julgando-a não ser tão importante quanto a Pokeball com o Seal de fogo fixado acima do botão central. De fato, Oak era um grande cientista, mas nem mesmo aquilo parecia ser relevante no momento. Tudo o que realmente queria saber agora era qual o Pokémon que ganhara. Dobrou a folha de papel mais uma vez, e então a colocou de volta no envelope, deixando-a dentro da caixa para que pudesse tornar a pegar a Ultraball. Ela ainda emanava o calor morno de antes, como se alguém estivesse segurando-a por mais tempo que o necessário.

— Que Pokémon acha que é? – Perguntou Clair, soando tão curiosa quanto ele.

Ele fez um sinal negativo com a cabeça, mostrando que não fazia a mínima ideia de qual poderia ser, preferindo isso a dizer algo. Não achava que era capaz disso no momento. Hesitou, nervoso com o que iria encontrar, mas não se preocupou com aquilo. Apenas apertou novamente o botão central da mesma, de forma que a Pokeball se abriu, fazendo com que uma luz branca tomasse o quarto, formando um raio que seguiu em direção ao chão.

Com uma felicidade que julgou ser impossível estar sentindo, o menino observou, maravilhado, a luz branca se extinguir e revelar um Pokémon.

A cor laranja avermelhado era a que cobria boa parte de seu corpo, e apenas em poucos lugares era possível ver a cor creme em seu copo, estes sendo o focinho e toda a extensão de seu queixo, a franja caída entre seus olhos, escondendo uma marca negra, além dos pêlos em seu peito, cobrindo este junto com a barriga, e, por fim, a cauda peluda que, no momento, descansava no chão. Várias listras negras estavam por seu corpo, listras com um padrão um tanto incomum para um Pokémon como ele, assim como os incomuns olhos na cor âmbar. A ultima coisa que ajudava-o a parecer diferente do outros de sua espécie era o tamanho, pois ele não era muito maior que um Pikachu, o que indicava que era um filhote.

Um filhote de Growlithe.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Quero saber a opinião de vocês.