Prisma Uma Versão do Ponto de Vista escrita por daghda


Capítulo 2
Capítulo 1 - Speak to me – Fale Comigo


Notas iniciais do capítulo

É a primeira faixa do álbum. Instrumental. Maravilhosa. Vale a pena ser ouvido. Principalmente enquanto estiver lendo esse capítulo, afinal, foi assim que o escrevi. Os trechos abaixo são citações existentes no meio do turbilhão de efeitos sonoros. A tradução não está exatamente literal, mas está bem fiel. Fiz uma espécie de crossover dessa música com uma belíssima composição de Nelson Motta e Lulu Santos: A canção “Certas Coisas”.



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Do meio do nada algo precisava ser criado. Criar algo partindo do nada era um tanto estranho. Por isso a primeira coisa criada foi o silêncio. E foi fácil constatar que o silêncio era bom. Quem o criou teve prazer em contemplar sua primeira criação. Viu que seria capaz de criar muitas outras coisas, mesmo antes de criar o quando e o onde.

 

Ele criou o silêncio e isso foi o início da vida, acima daquilo que chamamos vida. E isso fez com que surgisse naquele que o havia criado um coração, e esse coração disparou de alegria, entusiasmo e expectativa. Desde então passou a pulsar incessantemente.  E ele riu pela primeira vez. Sorriu primeiro, depois gargalhou orgulhoso. Percebeu que tinha feito a coisa certa ao criar o silêncio, e enquanto ria, e percebia o pulsar de seu novo coração, ele percebeu que o silêncio que ele criara tinha sido rompido, por sua segunda criação: O som. E então pela primeira vez percebeu que poderia usar as coisas que já havia criado como matéria prima para suas próximas criações, e assim, mesclando o silêncio e o som, criou a primeira música.

 

Ele percebeu que criou o silêncio pela total deliberação. Raciocinou, planejou essa primeira criação, traçou como seria e assim o fez. Percebeu também que sua segunda criação surgiu pelo insight. Não a planejou, mas a gerou espontaneamente, por causa de suas emoções, por causa do coração que surgira em seu peito em decorrência de ter criado o silêncio.

 

Não existiria som
Se não houvesse o silêncio

 

Assim percebeu que todas as coisas precisariam estar entrelaçadas pela razão e pela insanidade. Por isso decidiu ser o mais louco e o mais racional enquanto estivesse criando.

 

Por isso todas as coisas já surgiram carregadas de loucuras e explicações, mescladas. E assim foi, é e será. Porque essa é uma verdade imutável, ou apenas uma fração imutável da verdade.

 

E Ele amou aquilo que tinha acabado de criar. Silêncio e som combinados, gerando a música. E quando ele sentiu isso inúmeros sóis explodiram para a existência, irradiando luz e calor para todos os confins. Ele olhava maravilhado o que seu sentimento gerava. Inúmeras esferas gigantescas espalhadas por todos os ermos invadindo com por raios incrivelmente distantes sua luminosidade, tingindo o escuro com seus raios aquecedores. Não pensou duas vezes e deu de presente aos sóis, que foram gerados por seu amor, outras esferas menores, que os cortejariam girando em uma dança lenta e constante ao seu redor.

Não haveria luz
Se não fosse a escuridão

E então ele observou. E enquanto observava viu que algo novo ocorria. Algo transcorria enquanto ele observava. Duas coisas aconteciam. As esferas se movimentavam e algo transcorria. Ela se movimentava no espaço gerando o ‘onde’ e o tempo passava gerando o ‘quando’. O tempo e o movimento foram assim criados também. E enquanto o tempo transcorria e o movimento se desenrolava, ele viu que as esferas não eram banhadas por toda a extensão de suas faces por aquela luz que os sóis irradiavam. Enquanto uma face se voltava para o sol, a outra lhe dava as costas. Assim ele percebeu que criara para cada esfera que lançou ao redor dos sóis duas condições distintas: O dia e a noite.

 

A vida é mesmo assim
Dia e noite não e sim


Então resolveu experimentar a mesma coisa em suas criações anteriores: o silêncio e o som, e os coloriu de claro e escuro. Ora dando brilho ao som, ora o tornando mais opaco, mais escuro. E percebeu que criara outra música, diferente, ainda mais rica e mais emocionante. Foi quando percebeu que dentro de si fora gerada uma voz. E ele abriu pela primeira vez a boca e emitiu sua voz recém surgida. E foi então que cantou. Pela primeira vez ele cantou e viu que essa era a maior manifestação de amor que já tivera por sua criação. Mas quando calou viu que o amor em si e por si não se calou com o som que produzia ao usar sua voz cantando. Ele continuou cantando através do silêncio que mais uma vez se produziu.


Cada voz que canta o amor
Não diz tudo que quer dizer
Tudo que cala fala
Mais alto ao coração

E foi quando calou, quando o eco das palavras primordiais que cantara com sua voz primeira invadiu sutilmente o silêncio que cantava o amor que nunca se cala, foi que ele olhou novamente para os sois e suas esferas dançando morosamente, entrelaçando umas em torno das outras e estas em torno dos sois que ele se apercebeu. Tudo o que fizera até então estava diretamente ligado ao pulsar primeiro de seu coração, e viu, que cada vez que seu coração pulsava, uma nova vida surgia latente sobre todas as coisas. Assim ele decidiu permitir que toda essa vida que surgia do pulsar de seu coração estivesse livre para se manifestar. E todos as esferas então se povoaram com essa vida, e a cada pulsação uma nova vida surgia em uma das esferas. E cada vida gerada pelo pulsar de seu coração passou por sua vez a ter também um coração que pulsava, cada qual com seu som e seu silêncio, com sua luz e sua escuridão, cada qual no seu devido lugar e em seu devido tempo, cada qual em seu andamento particular e singular, e cada qual gerando por sua vez, a cada pulsar, uma nova vida.

 

Silenciosamente
Eu te falo com paixão

E ele percebeu que amava apaixonadamente cada vida em particular, e todas, sem exceção. E que assim seria para sempre.

 

Eu te amo calado
Como quem ouve uma sinfonia
de silêncio e de luz

E ele viu que conhecia intimamente, em todos os detalhes, sob todos os ângulos, cada uma das vidas que gerou, e as que foram geradas por aquelas primeiras que ele gerou. E ele percebeu que nenhuma era igual a outra, nem próxima, nem distante, mas cada qual com sua nuance. Mas todas tinham algo em comum. Todas tinham emoções, cada qual sua própria emoção, mas todas sentiam. E entre as emoções que essas vidas sentiam, chamou-lhe a atenção uma em particular, que estava presente em todas, mas ele desconhecia: o medo. Precisou analisar bastante essa emoção que não havia em seu próprio peito. Mas percebeu que não queria, nem poderia jamais deixar de levá-la em conta. Foi então que decidiu se aproximar dessas vidas, e se apresentar sob um nome. Depois de muito pensar decidiu se apresentar com um nome fácil, que todos lembrassem, e se mostrou para cada um e para todos sem exceção, sob o inconfundível nome “DEUS”.

 

Nós somos medo e desejo

Somos feitos de silêncio e som
Tem certas coisas que eu não sei dizer

Entre todas essas esferas que fervilhavam agora de vidas, as mais variadas, uma em especial chamou a atenção daquele que se apresentava a todos os indivíduos com o nome “DEUS”. Era um planeta cujos habitantes herdaram a maior parte daquilo que fora denominado ‘Loucura’ no decorrer de toda a criação. A essa esfera ele decidiu naquele momento batizar de ‘Terra’, e chamou à vida manifesta sobre ela de “Homem”. Ele viu que o homem era um ser formado essencialmente de seus desejos e emoções. Que permeava tudo o que havia de espontâneo naquilo que criara, e que talvez por isso carregava dentro de si uma porção maior de medo do que outras formas de vida que ele tão bem conhecia.

 

Ele pode ver a terra e seus habitantes na mais completa integridade de sua existência e soube pela primeira vez que era onipotente, onisciente e onipresente. Ele viu o futuro, viu todas as coisas, e soube que o homem, que ele também passou a chamar de ser humano, seria, em toda a vastidão de sua criação, entre todas as formas de vida que surgiram do pulsar de seu coração, um ser, por excelência, louco.

 

“I've been mad for fucking years, absolutely years.

 I've been over the edge for yonks.

 I've been working me buns off, for Roger.”

“Fui para a porra louca há anos, absolutamente há anos.

 Fui ao longo da borda por muito tempo.

 Tenho feito pãezinhos para fora, por Roger.”

 

 E assim tem sido pelo decorrer do ‘quando’ que fora criado no início e que nunca deixará de transcorrer. O homem, um ser louco, percorrendo o ‘onde’ que aquele que é conhecido pelo nome “DEUS” destinou à esfera que ele batizou por “Terra”, até o dia em que o som da pulsação que o gerou pára de ecoar, e ele volta ao seio do coração que pulsou.

 

“I've always been mad, I know I've been mad,

like the most of us have.

Very hard to explain why you're mad,

even if you're not mad.”

“Eu sempre estive louco, eu sei que eu estive louco,

como a maioria de nós...

muito duro explicar por que você está louco,

até mesmo, se você não está louco...”

 


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Notas finais do capítulo

Eu pretendia ter escrito tudo antes de postar, mas não resisti. Quando ví essa primeira música transformada nesse texto maluco, resolvi postar. Em breve vêm as outras, como outros capítulos.
Aguardo sinceramente sua opinião.
Abração
Daghda



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