POV – Dreah

Até que as aulas de hoje não foram tão ruins, e foi bom saber que agora além de Flávia eu terei mais dois amigos, Pedro e Suzana. Eles se mostraram muito gentis, e o principal, totalmente anti-Marcie e Derek.

- E ai amada, como foram as ultimas aulas? –Binha me perguntou assim que nos encontramos na saída.

- Legais, Suzana é bem simpática... eu quase não percebi a presença de Marcie e Derek e quando eu percebi, foi divertido irritá-la... – falei me lembrando das provocações e tiradas que eu e Suzana demos em Marcie.

- É amada, pode ter sido legal, mas acho que custou sua carona... – Binha falou e me mostrou o Lamborguini atrevessando o portão principal da escola.

- Eu imaginei que isso aconteceria – murmurei.

- Eu te levo na sua casa – ela me puxou pela mão na direção do seu carro.

- Nem pensar, eu moro na direção contrária à sua, então sem chance de fazer você dar a maior volta só pra me levar em casa.

- E o que você vai fazer então? – ela me olhou preocupada.

- Eu dou meu jeito – falei – Agora vai pra casa.

- Tem certeza que não quer que eu te leve?

- Tenho Flávia, eu dou meu jeito. – sorri e dei um abraço nela que entrou no New Beattle amarelo se saiu. Eu esperei ela se afastar o suficiente e me coloquei a caminho de casa, seria uma longa caminhada, por sorte eu tinha escolhido botas sem salto.

Cheguei em casa quando já passava das seis. Considerando que sai da escola às três, levei mais uns quarenta minutos me despedindo de Flávia... bom eu andei por quase três horas, meus pés estavam moídos e eu suspeitava que tinha ficado sem minha bota, uma vez que o solado dela nem deve existir mais.

- Dreah! Isso são horas de chegar? – Sasha apareceu na sala com uma cara não muito boa. – Derek disse que você não quis vir com ele porque tinha feito uns amigos novos...

- Ah foi isso que eles disseram... – murmurei enquanto passava por ela – me desculpe mãe, não vou me atrasar mais. Só que a história não é bem essa.

- Como assim? Quer dizer que eles mentiram pra mim? – se tinha uma coisa nessa vida que Sasha odiava era a mentira.

- Não eu não disse isso – falei – eu só disse o que aconteceu não foi exatamente o que eles disseram.

- Então o que aconteceu? – ela perguntou e quando eu abri a boca pra responder ela me interrompeu – Espera, vou chamar os dois aqui, isso tem que ser resolvido com todos os envolvidos presentes.

Depois de gritar Marcie e Derek e esperar a boa vontade dos dois em aparecer na sala, Sasha começou o julgamento.

- Derek, Dreah falou que não foi o que você me contou que aconteceu na saída da escola hoje.

- Como não foi? – ele me olhou – eu te chamei pra vir embora e você me disse que viria depois com os Pevensie...

- Conta outra, Derek – reclamei – você nem ao menos me esperou pra vir embora.

- Como não esperou? Dreah, nós ficamos meia hora no estacionamento esperando você e depois você apareceu com os irmãos Pevensie e disse que viria com eles. – Marcie falou substituindo o tom ‘falsa sedutora’, pelo ‘filhinha inocente e encantadora’.

- Olha só o aconteceu foi que vocês dois ficaram irritadinhos porque pela primeira vez na vida apareceu alguém que ignorou vocês e resolveu ser meu amigo e não seu seguidor. Ai depois de ficarem mordidos de raiva por isso você saíram da escola sem me avisar e sem me esperar me fazendo voltar pra casa a pé. – falei tudo de uma vez, os dois continuaram com cara de paisagem, enquanto eu estava vermelha de raiva.

- Nada do que você falou faz sentido, Dreah, porque nós faríamos isso? E outra, você só não tem os mesmos amigos que nós porque você não quer. – Marcie falou toda amorosa.

- Tá bom, se eu estou mentindo então, se eu não vim a pé e sim de carona com Pedro, porque eu estaria suada como eu estou? – essa era a minha ultima carta na manga, tudo o que eu podia fazer era rezar pra colar.

- Existem outras maneiras de suar que não exigem correr... –Marcie falou – Sei lá, você e Pedro sozinhos num carro até essa hora?

- Espera ai...- interrompi ela – Você está insinuando que eu e Pedro... – olhei pra Sasha em busca de socorro, mas pela expressão no rosto dela, ela estava começando a acreditar na mentira deslavada dos dois – ah não mãe, você não está acreditando, está?

- Dreah, sobe vai tomar um banho e nós duas vamos conversar depois, de mulher pra mulher... – Sasha falou séria, ela tinha acreditado. Mas que burra eu sou também, achar que algum dia eu ia vencer os irmãos Hunter...

Subi as escadas a passos firmes, eu queria sumir no mundo.

- Achou que ia colocar a minha mãe contra mim? – Marcie falou me parando na porta do meu quarto. – Em que mundo você acha que está, enjeitada? Aqui é meu território, meu e do Derek, você não tem vez aqui, nós dois somos os filhos legítimos. Você acha mesmo que algo aqui vai ficar pra você? Você acha mesmo que vai ter qualquer coisa disso aqui – ela fez um gesto que abrangia a casa toda – algum dia? Você é a bastarda, Dreah, a única coisa que vai sobrar pra você sempre é a sarjeta.

Aquelas palavras feriram mais que eu podia suportar, eu me senti fraca, tão fraca que não consegui revidar, não saía uma única palavra da minha boca que pudesse me defender. O que me restou foi passar por ela e me trancar no meu quarto.

Joguei minhas coisas no sofá que ficava no canto tirei minhas roupas e as joguei em um lugar qualquer. Tudo o que eu precisava agora era um bom banho quente.

Fiquei horas debaixo do chuveiro e acho que só sai de lá porque Sasha começou a bater na minha porta pedindo pra entrar. Me enrolei no roupão e abri a porta pra ela.

- Nós temos que conversar, filha. – por mais que eu amasse Sasha e Harry eu sentia hoje que não dava certo, não encaixava ela me chamar de filha. Eu não pertencia a isso aqui.

Mais uma hora de conversa, de lenga-lenga sobre falar com ela a respeito de tudo, que ela estava aberta a todos os assuntos, principalmente sobre sexo. Ela disse que não importava o que eu e Pedro tínhamos feito no carro, ela só não queria que eu me atrasasse mais e que nunca mais mentisse tendo colocá-la contra Marcie e Derek. Resultado da conversa, me senti ainda mais um patinho feio nessa casa.

Sasha saiu entendendo que eu não queria descer pra jantar, eu precisava pensar sobre o que eu tinha feito e analisar se era certo agir daquela forma. Traduzindo, eu estava de castigo. Fiquei no meu quarto quieta até perceber que eles estavam todos jantando, então eu podia conversar sem medo de Derek ou Marcie estarem ouvindo minha conversa por trás da porta.

Peguei meu celular e disquei o numero de Flávia.

- Oi amada – ela falou ao atender no segundo toque – estava pensando em você agora, eu estou com Pedro e Suzana, nós vamos tomar um sorvete e estávamos indo ai te convidar.

- Não vai dar Binha – falei – estou de castigo.

- Castigo? Por que?

- Eu cheguei tarde em casa meus amados irmãos inventaram pra Sasha que eu não quis vir com eles porque ia vir de carona com Pedro.

- E claro, sua mãe acreditou neles – ela completou.

- Tem alguma duvida? E pra piorar, depois que eu usei minha ultima chance de ferrar os dois, depois que eu mostrei que estava toda suada porque tinha voltado pra casa andando, Marcie insinuou que eu Pedro tínhamos... você sabe?

- What? – Binha gritou – Que vaca! Eu vou ai, flor, eu vou desmentir pra sua mãe a história da vadia da filha dela. E eu vou levar o Pedro também. Você vai né Pedro – ela perguntou a ele que provavelmente estava ao lado dela – Ele disse que vai, nós vamos tirar você desse castigo e colocar aqueles dois imundos no lugar dele. Onde já se viu fazer uma maldade dessa!

- Binha, calma – pedi e ela se calou – Não vem não.

- Como não vem? Flor, nós podemos te salvar!

- Mas e se eles arranjarem um jeito de dar a volta por cima? Isso vai acabar ferrando vocês.

- Não stressa não flor, quem vai se ferrar são eles dois. Estou a duas quadras da sua casa, finge que ta dormindo, faz de conta que nós não tivemos essa conversa, apaga o registro dessa ligação do celular, eu vou apagar do meu também.

- Obrigada, Binha. – falei antes de desligar o telefone. Apaguei a chamada como ela tinha falado, coloquei o celular dentro da minha bolsa e me ajeitei na cama pra fingir que estava dormindo.

Menos de dez minutos depois Marcie apareceu na porta do meu quarto.

- Esquisita, mamãe está te chamando, parece que você tem visitas. – me levantei fingindo que não sabia de nada e desci as escadas, encontrando Binha, Pedro e Suzana sentados no sofá.

- Oi amada! – Binha sorriu cúmplice pra mim – Eu vim te chamar pra tomar um sorvete, mas sua mãe falou que você esta de castigo...

- É estou – confirmei – Oi – falei me virando para Pedro e Suzana.

- Esse é o Pedro mãe -  Marcie falou com a voz de santa de novo.

- Ah olá – Sasha cumprimentou Pedro – então foi você quem trouxe minha filha pra casa hoje.

- Me desculpe senhora Hunter, mas eu não trouxe nenhuma das suas filhas pra casa. – Pedro falou naturalmente.

- Mas, Marcie e Derek me disseram que você que trouxe Dreah pra casa...

- Pra ser sincero, Srª Hunter, eu nem vi Dreah depois do intervalo...

- Não mãe, eu e Marcie dissemos que Dreah nos falou que viria de carona com Pedro. – Derek veio em sua defesa – mas talvez ela tenha mentido pra nós dois...

- Me desculpe interromper, mas eu estava com Dreah na hora da saída, e eu vi vocês dois indo embora sem esperá-la. – Binha falou.

- Bom nós viemos embora porque ela já tinha nos avisado que viria depois com Pedro. – Derek falou mais uma vez.

- O que está acontecendo aqui? – Harry perguntou entrando na sala onde estávamos todos reunidos.

- Dreah chegou tarde da escola hoje, Derek e Marcie  disseram que ela os avisou que viria com um colega, no caso o Pedro aqui – Sasha explicou – mas ao que parece ela não veio com Pedro, o que me faz questioná-la com quem ela veio?

- Sozinha, andando – falei com a voz trincada, eu sabia que ia perder essa batalha aqui também, mesmo que agora eu tivesse mais soldados ao meu lado.

- Talvez ela tenha enganado tomo mundo... vai ver ela nos falou que viria com Pedro e falou com os amigos dela que viria comigo e com Derek, mas na verdade veio com outra pessoa... – Marcie destilou um pouco mais do seu veneno.

- Com quem você veio, Dreah – Harry perguntou – E não minta!

- Eu não to mentindo – falei já sentindo as primeiras lágrimas caírem – eu vim sozinha, andando!

- E você tem alguma testemunha? – Marcie me lançou um olhar de ‘venci mais essa’.

- Não. – sussurrei.

- Eu acho que Dreah não vai sair hoje, meninos. – Sasha falou para Binha, Pedro e Suzana.

- Posso levá-los até o carro? – pedi baixo sem levantar os olhos pros meus pais.

- Depois direto pro seu quarto. – Harry falou e saiu da sala. Eu caminhei com meus amigos até o New Bettle de Binha.

- Ai amada, eu queria ter te ajudado mais, mas aqueles dois parecem que tem um pacto com o capeta, tudo dá certo pra eles....

- Eu não agüento mais eles dois, Binha. – falei me jogando nos braços da minha amiga – É uma tortura viver com eles dois aqui.

- Ah, Dreah, eu queria poder fazer qualquer coisa por você, mas meus pais são tão amigos dos seus...

- Eu sei, você já faz muito sendo minha amiga. – me soltei dela e limpei o rosto – mas eu não vou ficar mas aqui.

- Como assim?

- Eu vou fugir – falei contando pra ela uma idéia que acabava de ter – eu não faço idéia pra onde eu vou, mas eu vou sair dessa casa. Harry e Sasha fizeram muito por mim, mas não dá pra aturar a Marcie mais.

- Vem pra nossa casa – Pedro falou baixo e eu o olhei assustada – Eu e Suzana moramos sozinhos, então ninguém vai se importar de você estar lá.

- Eu não sei – falei – não quero levar problemas pra vocês...

- Que problemas, amada – Binha falou com um sorriso travesso no rosto – semana que vem você faz 18... vai ser maior de idade e pode ir pra onde quiser! Nem vai ser preciso fugir, só resistir mais um pouco...

- Vocês tem certeza? – perguntei, Suzana não estava com uma cara muito boa – O que você acha Suzana?

- Eu acho que seus irmãos são uns malas, mas eu não sei se essa seria a melhor idéia, sei lá talvez encontrar uma forma de desmascará-los...

- Não tem como, Suzana – Binha falou – esses dois ai devem ter mergulhado no rio Estige*, tem o corpo mais fechado que tudo.

- Su – Pedro falou com a irmã – Você sabe o que é estar num lugar onde sentimos que não é nossa casa. – aquelas palavras pareceram fazer Suzana mudar de idéia, a expressão no rosto dela mudou completamente.

- Tudo bem, eu apoio vocês...

- Dreah, está na hora de entrar! – Marcie gritou da porta.

- Posso quebrar os dentes dela? –Binha perguntou.

- Depois – falei e me despedi deles.

Entrei e casa um pouco melhor, eu podia não ter irmãos legais, ou pais que acreditam em mim, mas eu tinha amigos maravilhosos. Estava tão melhor que nem liguei pra Marcie e Derek que riam de mim da sala de jogos.

Subi pro meu quarto e me deitei, dormindo logo em seguida.

POV – Pedro

Tudo bem que o que eu tinha falado era meio louco, mas desde que vi Dreah pela primeira vez algo se agito dentro de mim, como se eu precisasse estar perto dela e protegê-la. Não era paixão nem atração, uma vez que nesse sentido, Flávia, melhor amiga de Dreah, me chamou muito mais atenção.

- Você é meio doido – Suzana falou entrando no meu quarto – Onde já se viu, chamar a menina pra morar aqui assim do nada?

- Eu não sei o que me deu, Su eu só sei que eu sinto como se tivesse que proteger ela. – falei.

- Eu achei que você tivesse se apaixonado pela amiga dela, a Flávia...

- E foi – respondi sorrindo – Flávia é incrível, é doce, é carinhosa, linda, engraçada... mas com Dreah é diferente, com ela é mais ou menos o mesmo que eu sinto por você e pela Lucia.

- Sabe eu senti algo diferente quando a vi também. – Suzana falou – como se eu a conhecesse. Não que o rosto dela me fosse familiar, é mais como se eu já tivesse estado com ela em outra vida, sei lá...

- Depois eu que sou o doido – fiz graça e ela jogou uma almofada em mim.

- Como devem estar a Lucia e o Edmundo? – Suzana perguntou agora séria.

- Eu não sei – falei – mas eles devem estar dando conta de tudo lá, caso contrário, eles já teriam nos chamado.

- Você tem razão – ela suspirou – eu sinto falta de Nárnia.

- Você quer dizer que sente falta do Caspian – brinquei.

- Caspian não me vê assim, Pedro. – ela falou triste – Ele me vê como uma irmã...

- Porque ele é um idiota. – puxei Suzana pra mais perto de mim – Você é linda Su, e cedo ou tarde ele vai perceber isso.

- Isso não importa agora, - ela se levantou – nós temos que nos concentrar na nossa missão. Temos que encontrar a princesa perdida. Ela é a salvação pra Narnia.

- Você tem razão. É melhor dormimos, amanhã é um longo dia. – Suzana me deu um beijo no rosto e saiu para o quarto dela.

CONTINUA....