Gerard e Bert pararam ao ouvir o pedido. A voz era familiar e vinha do segundo andar da casa. Ela repetiu.

- Não beba escondido de mim, lembra do que você prometeu ontem?

- Desculpa, querida, foi só um momento de fraqueza, não vai se repetir... – disse Bert voltando para o sofá onde estava

- Acho bom, Bert.

Gerard estava pálido. Não tinha certeza se a dona da voz era realmente quem estava pensando, mas estava com muito medo de descobrir. Tinha que falar com Poison, mas não o encontrou em lugar algum. Estava confuso, com medo e perdido em uma realidade na qual não pertencia.

Sentou-se no sofá ao lado de Bert, sem saber o que fazer. Resolveu ficar ali mesmo, até encontrar Poison de novo. Enquanto isso iria só observar...

Bert era o mesmo cara de quem Gerard se recordava, só estava um pouco mais abatido, com olheiras mais profundas, que lhe davam um ar misterioso. Estava lendo numa revista de música algo sobre a sua banda. Ficava xingando os jornalistas enquanto lia. Tinha até razão, as matérias falavam coisas extremamente maldosas sobre ele.

- Ah, claro, a gente não pode fazer um som um pouquinho diferente do último álbum que as pessoas já começam a nos chamar de vendidos! Desgraçados, aposto que nem pararam para ouvir o cd ainda... Mas eles vão ver! Pelo menos nossos fãs ainda estão conosco.

- Você disse alguma coisa, querido? – a bendita voz familiar disse de novo

- Não, só estava lendo uma critica aqui e ei, você deveria ler isso. Eles também falam sobre o Mindless Self Indulgence.

- NÃO! TOMARA QUE NÃO SEJA O QUE EU ESTOU PENSANDO! – gritava Gerard, mesmo sabendo que era imperceptível

- Calma, eu vou descer para ler isso ai. Aposto que é fofoquinha sobre o nosso casamento...

- CASAMENTO!? – Gerard se contorcia no sofá

Nisso, Lindsey Ballato veio descendo pelas escadas da casa, para confirmar todas as suspeitas de Gerard. E ela estava linda! Usava um vestido preto e de saia rendadinha até os joelhos com um all star de cano alto. Não usava os cabelos presos como costumava e sim soltos, com as pontas caídas sobre os ombros. Tinha o mesmo sorriso e lábios com gloss que a Lindsey que Gerard conhecia de sua realidade. Ficou boquiaberto!

- Qual é a crítica dessa vez, Bert?

- Aqui, leia você mesma! – disse entregando-lhe a revista

Ela se sentou ao lado de Bert e abraçou-a passando a mão por seus ombros. A pontinha de ciúmes que Gerard sentiu antes agora tinha crescido e se tornado uma montanha. Uma montanha de ciúmes. Lindsey lia a reportagem em voz alta e a cada palavra que ela dizia era como uma pedra que caía de um penhasco maior e se encaixava na montanha de Gerard. Algumas lágrimas escorriam pelo seu rosto, mas logo as secou. Não gostava de chorar na frente de ninguém, mesmo que estivesse invisível, no caso. Quando não deu mais para segurar, levantou-se e foi para o jardim.

- Droga de realidade alternativa! Droga, droga, droga!

- O que houve, garoto?

- O que? Poison?! O que você tá fazendo ai e onde você estava?

- Ué, tava aqui. Já falei que amo esse jardim, não já? É realmente um lugar lindo.

- Quem era no telefone?

- Ah, nada de mais, os Killjoys estavam precisando de uma ajudinha com uns problemas lá. Fui ajudar e voltei logo. E você, por que choras?

- Chorando, pff... Eu não estou chorando.

- Você viu a Lindsey, não viu?

- VI SIM! AH, FOI HORRÍVEL!

- É, eu sei como é, por isso não entrei logo. Eu não aguentaria ver aquela cena...

- Você não aguentaria? Por que?

- É... porque... porque seria horrível ver sua reação, eu sou uma pessoa sensível, é, por isso...

Nisso ficaram em silêncio por longos minutos. Gerard estava recuperando o fôlego e criando coragem para entrar na casa de novo. Poison fazia o mesmo. Olharam um para o outro e decidiram que era hora de encarar aquilo de frente. Voltaram para a casa.

Lá no sofá estavam ainda Lindsey e Bert. Esperaram alguns segundos até que ela foi se dirigindo ao segundo andar da casa. Gerard e Poison a seguiram.

- Poison, e se ela realmente estiver mais feliz sem mim?

- Não tente adivinhar o futuro, deixe que as coisas aconteçam, garoto.

Lindsey ia entrar em seu quarto quando Bert a chamou.

- Será que a senhora Lindsey McCracken poderia me trazer um copo de café? – a palavra McCracken seguida do nome de Lindsey soou como um rangido aos ouvidos de Gerard.

- Já vou buscar, querido.

- Com biscoitos.

- Ok, eu sei, só um minuto.

Lindsey abriu a porta do quarto, mas não entrou. Foi buscar o que o Bert pediu. Gerard e Poison entraram.

Era um cômodo grande, como o resto da casa. Tinha ar condicionado e uma escrivaninha no canto. A cama estava bem ao centro, perto de um aparelho de som. Observavam tudo bem cautelosamente.

Lindsey voltou e trancou a porta. Respirou fundo e seguiu para a escrivaninha. Pegou um papel e lápis qualquer e começou a escrever um texto.

- Se eu fosse você ia lá ler o que ela está escrevendo, hm. Sua existência depende disso!

- Okay – respirou fundo - eu vou.

E Lindsey começou.

“Querido Bert, você têm sido uma pessoa muito especial para mim nesses últimos anos de casados...”

- Droga, ela ama ele...

“mas nesses últimos dias, eu tenho me sentido incompleta...”

- Ah, talvez ela me ame!

 “Não sei explicar direito, mas é como se o que eu realmente procurasse estivesse muito perto de você...”

- Não, merda, ponto pra ele...

“mas não é você.”

- Opa, ponto pra mim.

“Eu gosto muito de você e fiquei ao seu lado esse tempo todo tentando te ajudar. Você prometeu várias vezes que ia parar com seus vícios, mas você nunca cumpre...”

- Ih, acho que agora foi ponto para...

- Cala a boca, Gerard! Deixa ela continuar e presta atenção!

- Ok, desculpa...

“Antes eu fazia isso por amor a você, mas ultimamente eu tenho sentido nisso uma obrigação. Acho que não é assim que as coisas deveriam funcionar... Desculpa, do fundo do meu coração. Eu não te amo mais como eu te amava ontem, como se deve amar um marido. Você é só um amigo no meu coração. E é por isso que estou te deixando essa noite. Vou para algum outro lugar, procurar a felicidade. Sinto muito que ela não esteja aqui. Não se sinta culpado. A maior culpada disso tudo sou eu. Até algum dia, Lindsey.”

Terminou a carta. Ia colocando ela em cima da cama quando Bert bateu na porta.

- Querida, você está ai? Você tem que ler essa crítica sobre a sua banda!

Lindsey pulou de susto.