- Pai, eu estou indo pro Olimpo.

- Vai falar com seu tio Hefesto?

- Não. Vovô Zeus.

- Ele odeia que você o chame de avô. Ele diz que o faz mais velho.

Eu apenas pude rir.

- Mais velho essa é boa...

E transportei.

- MAS VOCÊ É SEMPRE ASSIM ZEUS! VOCÊ SEMPRE FAZ ESSE TIPO DE COISA, OLHA PRA QUALQUER UMA, DORME COM QUALQUER UMA. EU TE ODEIO VOCÊ OUVIU? EU TE ODEIO!

Acho que Hera estava um pouco brava com Zeus. Mas assim, só acho.

Entrei e fui direto ao escritório. Achei Hera no caminho, e abracei-a. Ela se encolheu, e começou a chorar.

- Nós vamos resolver isso Hera. Eu juro pra você. Nós vamos resolver isso, e não vai demorar muito, ok? Mas primeiro vamos à cozinha, eu vou fazer aquele brigadeiro que vocês provaram lá em Atlântis, pode ser?

- Po-pode. – Ela assentiu, tentando parar de chorar.

Eu conjurei um lenço para ela, e olhei para aquela deusa. Ela era uma mulher lindíssima, de verdade. Ruiva, com a pele bem branca, nariz fino, bem aristocrático. Os olhos dela, agora vermelhos, geralmente eram uma mescla de azul, verde e roxo. No cotidiano ela sempre usava um vestido longo azul, verde e roxo, que fazia você remeter aos pavões e aos olhos dela, se você a conhecesse.

Chegamos à cozinha, e eu apenas chamei a lata de leite condensado, o achocolatado e a manteiga. Derreti a manteiga e joguei um pouco de achocolatado e depois o leite condensado, e fiquei mexendo. Hera estava sentada, ainda enxugando suas lágrimas e tentando se controlar.

- Ana, Ana, Ana, Ana...

- Por que você está cantarolando isso Melanie?

- Oh, sinto muito. É que uma vizinha minha me ensinou que quando nós estamos fazendo uma comida e queremos que ela dê certo, temos que ficar repetindo um nome de alguém que nós conhecemos que é muito otimista. Eu sempre usei o de uma amiga, Ana, mas agora eu também posso usar o da Héstia.

- Ou o seu próprio. – Ela ainda estava meio chorosa, e eu apenas assenti sorrindo.

O brigadeiro estava pronto. Eu levei até a mesa, e peguei duas colheres.

- Vamos, coma. Melhora muito qualquer choro que uma mulher tenha, é cientificamente comprovado.

- Mas isso é anti-higiênico. Você põe a colher aqui, na boca e aqui novamente.

- Hera, não pense. Coma.

Finalmente ela começou a comer. Fiz um monte de perguntas para distraí-la, mas ainda sentia uma angústia muito grande.

- Chega de embolação. Vamos, eu, você e uma amiga nossa vai nos ajudar.

Tomei a direção dos quartos e segui para o primeiro.

- Afrodite, abra. Eu preciso de você agora.

- Só estou colocando a roupa Melanie. Já vou.

- Logo! Agora!

Ela abriu, e como sempre estava linda.

- Nós vamos resolver esse lance de Zeus e Hera agora. Eu preciso dos seus poderes.

Eu arrastei as duas para o escritório de Zeus. Senti uma raiva muito grande, muito grande mesmo, e coisas sendo quebradas.

- Eu devia me jogar no Tártaro. NO TÁRTARO, JUNTO COM CRONOS.

- Zeus, eu estou entrando. Esteja recomposto agora.

Entramos, e estava tudo destruído. Zeus estava curvado, atrás de sua escrivaninha, com as mãos em cima da mesma.

- Sentem-se. Eu vou concertar tudo. – Estalei os dedos, e os cacos se juntaram as flores voltaram aos seus lugares, a katana (presente de Ares) voltou ao seu lugar, as poltronas se concertaram. Não havia mais lugar para mim, então eu invoquei a minha poltrona do meu quarto daqui mesmo.

- Estão todos confortáveis? Hera está tudo bem? – Ela assentiu. – Zeus, você se cortou com algum caco?

- Não. Estou bem.

- Claro que está. Agora, você contou o que eu fiz com você, Hades e meu pai não contou?

- Contei Melanie.

- Certo, Zeus, Hera, vocês querem que eu faça daquele jeito ou do jeito mais simples?

- Tanto faz. Só nos salve pirralha insolente.

Com muito prazer vovô!

­- Me respondam o que tem de errado com o casamento de vocês?

- Zeus me trai. Comigo, só esse é o problema.

- Zeus?

- Nenhum. Eu amo Hera.

- Então, eu vou fazer uma tática de choque com vocês. Vocês vão ficar uma semana longe um do outro. Vocês estão proibidos de se comunicar de qualquer maneira, de se verem propositalmente. A única maneira de vocês se verem será casualmente, mas casualmente de verdade. Você, Zeus, vai sair do Olimpo durante essa semana. Faça qualquer coisa, fique no Mundo Inferior, será bem vindo em Atlântis, não tenha dúvidas, ou vá para outro lugar. O Tártaro não conta, ok? Eu preciso de você inteiro e consciente para semana que vem. Hera poderá ficar aqui, ou em qualquer outro lugar. Durante essa semana, eu e Palas cuidaremos daqui, nada de ruim acontecerá. De acordo?

- Claro. Eu posso ficar em Atlântis pirralha?

- Pode. Hera, tudo certo?

- Sim, claro. Vou ficar no Mundo Inferior, Perséfone e Deméter serão ótimas companhias.

- Tenho certeza que serão. Semana que vem, traga Deméter, por favor. Tenho que conversar com ela. Zeus, você ainda vai ficar. Afrodite pode acompanhar Hera?

- Posso.

Esperei as duas saírem.

- Zeus, eu realmente quero te bater, sabia? Droga velho, você tinha que trair ela novamente? Você dificulta, e muito, o meu trabalho. Eu vou te levar para Atlântis, e é bom você pensar bem na falta que Hera vai te fazer. Ela é uma mulher esplêndida, e eu espero que você entenda isso.

Ele apenas ficou em silêncio, de cabeça baixa.

- Venha, vamos arrumar suas malas.

Eu saí do escritório com Zeus ao meu encalço. Entramos no quarto que ele e Hera dividiam, e eu abri o guarda roupa. O lado de Hera estava vazio, Afrodite foi bem rápida. Peguei uma mala que estava em cima do guarda roupas, abri-a, acenei com a mão e todas as roupas estavam na mala.

- Eu, Melanie, filha do Rei Poseidon e da Rainha Palas Athena, Princesa de Atlântis, autorizo Zeus a entrar e sair de Atlântis até sua autorização ser revogada.

Ele pegou a mala.

- Estou pronto.

- Zeus, saia desse estado catatônico. Eu vou resolver ok? Eu sempre resolvo! Essa é a minha benção, reconciliação. Eu vou reconciliá-los, pela primeira e última vez.

- Que assim seja Mel. Que assim seja.

E ele se transportou. Transportei-me também.

~*~

- Eu achei que Zeus viria apenas amanhã.

- Tive que tomar medidas de emergência papai. Quando eu cheguei por lá, eles estavam brigando, Hera falou que o odiava.

- Hera nunca disse isso. Nunca mesmo.

Mamãe tinha acabado de entrar na cozinha. Eu e Poseidon estávamos cozinhando para nós, era noite de folga dos empregados do palácio.

- Pois dessa vez ela disse. E bem alto, para todos ouvirem. Eu ouvi do lado de fora, quando tinha acabado de me transportar.

- Agora que eu cheguei vocês podem continuar falando de mim e de minha esposa a vontade.

- Fico muito mais contente que agora eu tenha sua aprovação, vovô.

Peguei um facão e comecei a cortar a salada.

- Como você é engraçada pirralha. Você fica fofocando de todos os seus enlaces para qualquer um? De todos os segredos que as pessoas te contam?

Ele disse aquilo num tom tão irônico e irritante que eu fiquei muito brava. Até porque, odeio que desconfiem da minha capacidade de guardar segredos. Saí de perto da pia, ainda segurando o facão, e fui até a mesa.

- Eu não sou as Musas do Olimpo vovô, aquelas que você come quando está brigado com Hera. Então não me trate como uma delas, porque se não eu lhe darei o tratamento que você merece. – E finquei o facão na mesa de madeira da cozinha, dei de costas, peguei outro facão e continuei trabalhando.

- Isso foi realmente desnecessário Melanie.

Virei-me para Palas e Zeus.

- Não, não foi mamãe. Zeus tem que entender que ele pode ser o fodão de todos os deuses, mas qualquer um de nós merece respeito e um voto de confiança. Eu sou a neta legítima dele, não qualquer uma.

Eu disse isso olhando diretamente nos olhos dele, que estavam em um azul arroxeado, como durante uma tempestade.

- Desculpe. – Ele sussurrou quase impossível de escutar.

- Sinto muito, o barulho do meu trabalho me impediu de te ouvir.

- Desculpe. – Repetiu, num tom normal.

- Nossa acho que não limpei os ouvidos hoje. Repita?

- DESCULPE! EU NÃO QUERIA DIZER AQUILO, EU SÓ ESTOU BRAVO E ARREPENDIDO POR TER TRAÍDO HERA!

- Você está desculpado. Que bom que você admitiu seu arrependimento. Que você nunca mais me ofenda dessa maneira Zeus, ou você nunca mais conseguirá voltar a falar com alguém, começando comigo, passando por Hera e terminando com Palas. – E indiquei minha mãe com a cabeça. Minha mãe seria a última a abandonar Zeus, eles são muito ligados um ao outro, mesmo com Palas se casando com Poseidon.

Ele me encarou firmemente, e eu encarei de volta. Não me intimidaria com um bode velho que tem um raiozinho. Ok, ele não é um bode velho e aquilo não é apenas um raiozinho, mas eu não me intimidaria de qualquer maneira!

- Você é uma pirralha muito chata, sabia? – E ele sorriu. Eu corri e o abracei.

- Velho teimoso. Pense antes de falar! Se Palas saiu daí de dentro, quer dizer que pode ter alguma coisa boa por aí.

Poseidon gargalhou, e Palas não sabia se brigava comigo ou se ria também.

Voltei a trabalhar, terminando minha salada. Eu estava fazendo algumas comidas típicas brasileiras, que eu adoro comer, como arroz, feijão com lingüiça, farofa e salada.

- Dê uma olhada aqui Mel, veja se já está bom. Você quem manda, eu estou apenas de aprendiz.

- Está tudo bom papai. Pode tirar do fogão. Não se esqueça de pegar a farinha.

- Essa daqui?

- Não, isso não é farinha pra se colocar na comida. Farinha de trigo não, farinha de mandioca.

Ele pegou a farinha (correta) e colocou tudo na mesa.

- Está pronto. Bom apetite.

Comemos em silêncio, acompanhados de suco de laranja. Nenhum deles fez cara feia, pelo menos.

- Vocês comem isso todos os dias?

- Depende Zeus. Se você for de classe média, você come isso a maioria dos dias. Classe alta quase ninguém come, já a classe baixa come quase todos os dias. Minha família mortal pertence à classe média. Mas alguns anos nós ficamos na classe baixa. Nós comíamos arroz, feijão e ovo a maioria dos dias.

- Você fala como se os mortais ainda fossem sua família.

- Eles são Zeus. Eu sou uma pessoa muito sortuda, sabe? Eu tenho duas famílias. Tem muita gente por ai que não tem nem uma.

Palas e Poseidon estavam quietos. Zeus não sabia o que falar.

- Sinto muito, isso ainda é um assunto delicado Zeus. Vocês, deuses, são muito desacreditados, com exceção de Héstia. Vocês acham que eu não posso amar as minhas duas famílias igualmente, mas eu posso! Assim como eu vou amar cada irmão semideus que vocês me derem, assim como eu amo Tritão, e continuo amando a Lia. Héstia me deu o dom de amar a família acima de tudo, você mesmo me disse isso Zeus. Eu consigo.

- Eu... Eu acredito em você pirralha.

Isso custou muito de Zeus, eu sabia.

- Obrigada. Vocês já terminaram?

Todos concordaram então eu comecei a tirar a mesa.

- Sinto muito louça, mas eu não vou te lavar e estragar minhas unhas.

Estalei os dedos e a louça estava limpa. Mais uma estalada e estava tudo guardado.

- Nós poderíamos ir ao salão de jogos, o que vocês acham?

~*~

Você não vai conseguir menina. Alceu nunca vai concordar e você nunca vai conseguir acertar as coisas com Zeus e Hera, Afrodite logo voltará para os braços de Ares. Os Três Grandes vão voltar a brigar, e você estará destruída, deusa da reconciliação. Pivetinha arrogante vai deixar de existir, como uma mortal qualquer... Isso acontecerá ainda hoje.

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

Porta escancarada. Cinza, verde, azul. Choro. Convulsão. Desconsolo. Inconsciência abençoada.

~*~

- Bom dia, Vossa Alteza. Finalmente acordou, princesa.

- Bom dia Zeus. Não é necessário me chamar de Vossa Alteza, nem utilizar meu título de princesa. Para você eu sou apenas a pirralha.

Dor de cabeça do Tártaro. Parecia que as três fúrias de Hades tinham dançado tango em cima da minha cabeça.

- Conjure um pouco de néctar para mim Zeus. Não tenho forças nem para conjurar um lenço. Pode me contar o que aconteceu ontem?

- Aqui está o néctar pirralha. Bom, durante a madrugada, eu ouvi alguém gritando. Ou melhor, ouvi você gritando. Seus pais também ouviram. Todos nós corremos para o seu quarto, e nós encontramos você chorando e no meio de uma convulsão. Sua mãe imobilizou seu pescoço, mas você continuava chorando e resmungando, então eu te desmaiei. Seu pai estava investigando sua mente para tentar descobrir alguma coisa.

Já tinha tomado meu néctar, e estava muito melhor agora. Minha dor de cabeça havia melhorado, agora parecia que tinha apenas uma fúria em cima dela.

- Como assim, meu pai estava investigando minha mente?

- Ora, você tem uma ligação com todos nós. Nós somos deuses, você também. Nós podemos bloquear nossas mentes para que nenhum outro deus possa ler nossas mentes, mas quando um incidente acontece, nossas defesas ficam mais baixas, e qualquer um pode ver nossos pensamentos. Seu pai não apenas estava vendo, mas estava revirando suas lembranças.

Fiquei em silêncio, enquanto absorvia todas as informações. Comecei a me lembrar do sonho, se é que eu posso chamar aquilo dessa maneira. Eu não enxergava nada, apenas ouvia. Parecia que eu estava presa, imobilizada da cabeça aos pés.

- Bom dia papai, bom dia Mel. Você está melhor?

- Bom dia mãe. Estou melhor. Sua benção.

- Eu te abençôo. Devo chamar Apollo?

- Não é necessário. Caso algo aconteça, eu vou ao Olimpo, sem problemas.

Conjurei mais néctar, mas ainda estava muito fraca. Queria saber o que havia acontecido de quem era aquela voz. Não era a voz de Ares, quem eu havia pensado primeiro assim que Zeus me explicou o acontecido. Era uma voz maior, um poder maior.

- Não. Melanie está tudo bem. Deve ter sido apenas a discussão entre mim e você que causou isso, nada mais.

Fiquei quieta, não iria brigar com Zeus por causa disso.

- Com licença, eu gostaria de tomar um banho e me trocar.

- Você vai tomar café Mel?

- Vou. Daqui a pouco eu desço mãe.

Ambos deram as costas para mim e saíram. Fui tomar meu banho, para depois tomar café. Hoje seria um péssimo dia.

~*~

- Nós estamos sob ataque! Melanie, acorde. O reino está sob ataque!

Ao Tártaro esses monstros. Conjurei néctar e ambrosia. Terminei de comer e beber, e coloquei a farda. Conjurei meu arco, flechas, tridente, espada e faca. Estava pronta.

- Mãe? Pai?

- Seu pai já está lá embaixo, com o EM. Estava te esperando.

- Minha Rainha. – E bati continência.

- Descansar Capitão. É hora de lutar.

~*~

Caos. Era o que descrevia o nosso reino, o meu reino. Eu podia ser a deusa da reconciliação, mas também sou abençoada por Ares. Achei o EM e me juntei a eles.

- Meu Rei.

E bati continência, que me foi retribuída.

- Onde está Zeus? Ele foi embora, o que aconteceu?

- Zeus está a caminho. Ele foi buscar Hades, apenas. Eles querem me ajudar a salvar o reino.

Suspirei aliviada. Com Zeus, Hades, Poseidon, Palas, Tritão e eu, nós estávamos feitos. Monstro nenhum teria chance.

- Qual o plano, meu Rei?

- Atacar com tudo que temos. Não há outro plano. Oceano conseguiu se soltar e se fortalecer, não se sabe como.

Ok, fodeu. Uma coisa é derrotar um monstro forte, outra coisa é derrotar um titã.

- Onde estão nossos súditos?

- Eu preparei uma rota de evacuação, eles devem estar do outro lado dos EUA.

- Pelo menos isso você sabe fazer. Imagine só, deixar seu reino ser invadido pela segunda vez em menos de dez anos.

Era Hades falando. Ele e Zeus voltaram prontos para a batalha. Hades estava com seu elmo do terror e Zeus portava seu raio-mestre.

- Cale-se Hades. Você é só o irmão do meio. Os ciclopes já estão enfrentando os monstros, mas minhas ordens foram para deixarem Oceano destruir tudo que ele quisesse.

- Vamos pai. Nós já demoramos demais.

- Tritão, eu e seu pai vamos usar de nossos poderes aquáticos. Você, Hades e Zeus: aproveitem que Oceano não pode enfrentar diretamente seus poderes.

Nós fomos direto ao titã. Dei as mãos com meu pai e minha mãe, e olhei carinhosamente para Tritão. Estava confiante, somos seis deuses, cinco de nós olimpianos, contra um titã e alguns monstros.

Já pronta para a batalha, peguei duas flechas-bombas e atirei em Oceano. Elas explodiram, e levaram junto o braço esquerdo do titã. Zeus atirou um raio bem no peito dele. Hades mandou uma onda de energia negra que apodreceu as pernas do titã. Ele mandou a morte para o titã, e o titã apenas ficou com as pernas necrosadas. Que voltaram ao seu estado normal.

- Onde está seu escudo, sobrinha?

- Bem aqui, Hades. – E apertei o diamante em meu anel, fazendo com que meu escudo surgisse imediatamente.

Do nada, uma explosão dourada envolveu meu pai, e eu, pela primeira vez, vi a forma real de um deus, já que eu não havia usado nem a minha ainda.

Poseidon estava gigante, mas conservava o mesmo rosto e corpo. Seus olhos não tinham mais pupila era verde puro e intenso, e ele exalava uma energia tão forte e ancestral que me impressionou muito mesmo. E ele estava em seus trajes de batalha gregos.

- Tio Hades, como eu faço isso?

- Sinta seu coração bater e force seu Icor a fluir e expandir.

Concentrei-me, e senti cada veia, cada artéria no meu corpo. Senti elas se expandindo cada vez mais, e minha pele e músculos se esticando para acompanhar. Senti poder. Um poder jovem, fresco, novo. Era como se os poderes utilizados até agora fossem apenas um esforço mínimo.

Olhei para os lados e vi Tritão, Palas, Zeus, Hades e meu pai em suas formas imortais. Papai já estava atacando novamente, então eu também ataquei.

Oceano não estava conseguindo se desviar de todos nós ao mesmo tempo. Tritão, papai e mamãe estavam encurralando-o. Hades já havia necrosado as pernas e o peito dele. Zeus estava eletrocutando-o. Eu tirei toda água de perto dele, tirando boa parte do poder dele. Cheguei bem perto, por trás dele. Quando ele me percebeu, já era tarde demais.

- Babaca. – E soquei a cara dele. Ele caiu, e eu brandi meu tridente. – Nunca mais ataque meu reino, nem mexa com meus súditos! – Enfiei meu tridente em seu rosto.

Ele começou a tremer e a ficar preto. Utilizando a benção de Hades, abri uma passagem para o Tártaro.

- E não volte nunca mais! – E chutei-o para o buraco.

Soltei meu tridente, e ajoelhei-me aos pés de meu pai. Mas antes que eu pudesse fazer qualquer outra coisa, ele me ergueu pelos ombros e me abraçou.

- Obrigada filha. Nós conseguimos derrotar esse idiota.

- Ele era apenas um bundão papai!

Soltei meu pai e abracei minha mãe, depois meu irmão, e então meus tios.

- Vocês dois foram incríveis. Sem vocês seria muito mais difícil!

- Pode falar, eu fui muito melhor que esse velho.

- Não sou eu que já sou vovô, Zeus.

Eu abracei os dois novamente, ao mesmo tempo.

- Seus velhos bobões.

- Pirralha! – Os dois disseram, ao mesmo tempo. E todos nós rimos, relaxados.

~*~

- Zeus, você foi ao Mundo Inferior chamar Hades, não foi?

- Não pirralha, fui ao Olimpo. Claro que eu tive de descer.

Nós estávamos na sala de tevê, que era um absurdo ter esse nome. Deveria ser chamada de cinema, porque era tão grande quando uma sala de cinema, porém com pufes no lugar de poltronas.

- Então você viu Hera? – Eu perguntei, arqueando uma sobrancelha, ficando realmente feliz, porém demonstrando seriedade.

- Não. Infelizmente ela, Perséfone e Deméter tinham ido a uma tarde de garotas.

- Zeus, você é um grande filho da puta, com o perdão de Réia.

- Claro que não!

- Claro que é! Você traiu Hera com a irmã dela. Não há coisa mais feia. Deméter também não é nenhuma santa. Hera foi muito bondosa em desculpar vocês dois, eu não teria desculpado.

- Claro que teria. Você é a deusa da reconciliação.

- Abençoada por Ares. Às vezes, o amor de Afrodite vira ódio de Ares, ou vice-versa, como aconteceu com meus pais. Já parou pra pensar que um dia o amor que Hera sente por você pode virar ódio?

- Sinceramente? Nunca pensei nessa possibilidade.

- Então pense. Caso isso aconteça, ela não vai perdoá-lo. Ela também não vai se separar de você, ou traí-lo, mas se tornará tão fria, tão fria, que você não vai mais reconhecer sua esposa.

- Eu não sei o que dizer.

- Então não diga. Ouça mais uma coisa Zeus: você traiu Hera com Deméter porque elas são quase gêmeas. A diferença é que Deméter ainda conserva a alegria que Hera tinha antes de você começar a traí-la. Preste atenção nas minhas próximas palavras: você destruiu as esperanças de sua esposa. Pense nisso vovô, e volte a fazê-la feliz. Você não merece, mas ela sim.

E eu saí da sala, deixando-o sozinho.