O aeroporto estava cheio, mas poucas eram as pessoas que me acompanhavam. Meus pais e alguns amigos estavam lá. Meus olhos já estavam vermelhos de tanto chorar e a saudade já me atormentava. Olhei para trás e vi o rosto de cada um ali, pela última vez, antes de seguir para o avião.

"Nós vamos sentir saudades, Mary." - pude ouvir minha mãe gritando.

Me ajeitei na poltrona e dei uma última olhada pela janela. Seria minha última vez no Brasil durante um ano inteiro e aquilo era como um sonho para mim, ainda mais por lembrar que eu estava indo para Londres. Mas, de qualquer forma, ficar um ano sem a família e perder o contato com os amigos, me machucava.

Peguei meu iPod e coloquei o albúm "viagem" para tocar. Músicas calmas e lentas, perfeitas para relaxar e dormir. Em alguns segundos, já estava sonhando.

[...]

– Atenção, senhores passageiros, queremos informar que em dois minutos estaremos pousando. - ouvi a aeromoça falar, enquanto tirava os fones de ouvido.

Sentei direito e respirei fundo. Assim que pousamos, fui rapidamente em busca de minhas malas e logo chamei um táxi.

– Ei moço, será que pode parar aqui, só por alguns minutos? - pedi e ele parou.

Desci do carro, com o coração a mil e uma vontade imensa de chorar. Fiquei ali, parada, em pé, olhando para o Big Ben e sorrindo feito boba. Algumas lágrimas desceram pelo meu rosto, mas eu nem me importava. Aquilo era um sonho, o meu sonho e eu estava vivendo ele.

– Primeira vez em Londres? - perguntou e eu notei seu sotaque, claro. - É realmente mágico. - sorriu.

Cheguei ao apartamento em que ficaria e como já estava de noite e eu parecia estar sem comer por alguns muitos anos, resolvi apenas tomar um banho e ir jantar em algum lugar. Peguei um mapa e vi que tinha um restaurante conhecido e com fama de ser bom, perto de onde eu estava.

– Meu dia de sorte. - brinquei.

Andei alguns minutos até chegar lá. Fazia frio e ventava um pouco, por isso, meu cabelo não deveria estar em um bom estado. Olhei para a entrada de lá, Nando's, esse era o nome. O vento bateu forte, me fazendo "acordar" daquele pequeno transe, então entrei.

Pedi a opinião do garçom sobre o que comer, por aquela ser minha primeira vez ali, e confesso, adorei. Paguei a conta e prometi voltar outras vezes, para provar os outros pratos. Comecei então, minha caminhada de volta para a casa, enquanto o frio só aumentava. Eu tinha mania de andar olhando para o chão e segundos depois, percebi que precisava mudar aquilo.

– Ai! - gritei, quando alguém com pressa esbarrou em mim. - Olhar por onde anda seria bom. - falei, mas depois me lembrei de que eu também não estava olhando.

– Me desculpe, é que eu realmente preciso correr. Ser discreto, sabe. - falou.

No momento em que ouvi aquela voz, eu soube quem era. Eu mal podia acreditar. Meu coração disparou e um sorriso enorme se formou em meu rosto assim que levantei a cabeça e olhei para a pessoa, confirmando minha suspeita totalmente certa de quem seria. Naquela hora eu soube, aquele era meu dia de sorte.