H - Ponto Zero escrita por Siadk


Capítulo 30
030 - Telefonema


Notas iniciais do capítulo

[Alexandre]

Todos os personagens dessa história pertencem à mim. Por Favor não usar sem minha permissão!



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Nos últimos capítulos: Alexandre, em um diálogo com seu filho Guilherme, acaba deixando claro que seus interesses estão focados inteiramente em sua “experiência”.

 

030 – Telefonema

[Alexandre]

 

Olhava para a folha de caderno em cima da mesa enquanto esperava alguém atender ao telefone. Para uma pessoa sem conhecimento, não passava de papel rabiscado por uma garota de treze anos com problemas mentais e um punhado de canetas coloridas. Mas eu não sou uma pessoa sem conhecimento, eu sei que todas as setas, palavras e números perfeitamente desenhados nesse insignificante pedaço de papel têm um significado. Só não sei qual é esse significado, ninguém sabe. Ninguém além dela, é claro.

A própria garotinha de treze anos que havia desenhado naquele papel e estava sentada em frente a minha mesa. Acompanhada por dois homens armados e preparados para qualquer coisa que ela tentasse fazer. “Não que ela vá fazer algo” Pensei enquanto acendia um dos meus charutos prediletos. Ela não é do tipo de super-humana que poderia fugir à força. Na verdade, não parecia sequer pensar em fugir. Olhava para o carpete azul no chão. Era, com toda a certeza do mundo, o meu melhor investimento. Nunca falava desnecessariamente, nunca desobedecia a ordens e acima de tudo, não saía de perto de mim por uma simples e idiota vingança. Infelizmente nem todos os investimentos são tão bons quanto ela e esse é o motivo por eu estar esperando ali, na minha sala, com o telefone encostado no rosto.

Alguém finalmente atendeu a ligação.

– Olá Srta. Beatriz. – Eu comecei, antes que a garota pudesse falar qualquer coisa. A única chance de aquela garota não ser a tal Beatriz seria um erro na folha de caderno rabiscada e isso simplesmente seria irritante. Mas eu acredito que minha pequena amiguinha de treze anos tenha feito tudo cautelosamente. – Sei que você deve estar assustada, mas esse não é o ponto no momento. Se não se importar, poderia passar o telefone para o Sr. Daniel?! Aposto que ele adoraria ouvir minha voz.

Esperei mais um pouco enquanto escutava Beatriz dizer “Daniel? É para você” com um tom assustado. E enquanto esperava esses mínimos segundos, me perguntava se meu filho estava fazendo algo estúpido em seu laboratório. Realmente esperava que não, não seria saudável para nossa pequena família.

– Quem... Quem fala? – Disse a voz exausta do garoto que tinha se tornado minha maior fascinação nos últimos meses.

– Olá Daniel, parece que faz semanas desde a ultima vez que conversamos, não acha?!

– Alexandre? É você?! Como conseguiu me achar? – Mesmo com o interrogatório ele parecia animado, o que significava que ainda não tinha entrado em contato com Guilherme nessa ultima hora.

– Como consegui te achar? Eu coloquei um rastreador em você enquanto você dormia.

A linha ficou em silêncio por alguns segundos antes que eu continuasse.

– Foi uma brincadeira, Dan.

– O Sr. Alexandre fazendo brincadeiras? Isso é mais assustador do que o rastreador. – Respondeu ele rindo, aliviado.

Soltei uma risada que me tornava menos antipático e ao mesmo tempo encerrava o assunto. Precisava chegar logo ao ponto principal de nossa conversa. Mas antes que eu pudesse preparar o melhor caminho para começar o assunto ele o cortou usando um atalho que não era bom sinal para meus planos.

– Desculpa Alexandre. Eu acho que sei por que você me ligou, mas de que adianta? O grupo acabou não tem muitas coisas que eu e o Guilherme possamos fazer sozinhos, além do mais eu estou no meio de uma... coisa maior aqui em North Gare e...

– Vamos lá Daniel. – A conversa já não estava seguindo o caminho que eu queria. – Só mais um trabalho, uma ultima missão. Nem é tão difícil assim, aposto que você faz em pouco tempo.

Ele ficou quieto, estava pensando. Bom, muito bom.

– Alexandre... – Começou ele com a voz pesado, já não era mais uma boa ter dado tempo para ele pensar. – Faz muito tempo que trabalho pra você e tem sido ótimo, mas no momento eu preciso fazer uma coisa muito mais importante. Espero que o Senhor..

Acertei o punho na mesa de madeira, jogando folhas para todos os lados.

– O que diabos você pensa que vai fazer Daniel? – A garotinha e os dois seguranças olhavam para mim assustados. – Pretende encontrar com o monstro e se jogar na garganta dele? Você vai morrer pra esse cara, merda! Vai se matar. Droga garoto, dê tempo ao tempo. Depois eu te ajudo nessa vingança sem sentido, mas primeiro...

– Me desculpa, mas você vai ter que tomar conta dessa ultima missão de outra maneira. – Disse, antes de desligar.

Joguei o telefone na parede e o charuto no cinzeiro. “Merda! Porque não deu certo? Por quê?” Respirei fundo algumas vezes, contei até dez, antes de finalmente voltar ao assunto inacabado. Precisava impedi-lo, de uma maneira ou de outra.

– Senhorita Zero. Sabe me dizer por que ele não aceitou meu convite? Não é para isso que você esta aqui, para fazê-lo voltar pra ‘casa’?

– Eu tenho nome e não é Zero. – Respondeu ela, ainda olhando para o carpete da sala.

– Oh, eu sei que tem minha querida. Mas nem eu, nem você sabemos qual é seu nome, certo? E essa não é a resposta que eu quero, diga-me...

– Não é assim que as coisas funcionam, ok?! Eu consigo fazer com que esse Daniel vá para o beco onde está o telefone, eu sei quem é a outra pessoa que está com ele, eu sei o numero do telefone público. Também tive que fazer sua reunião de hoje ser cancelada para que conseguisse o tempo livre na hora certa. Eu sei de coisas, mudo o curso de outras, mas não mudo a essência das pessoas, quem elas são. – Algumas lágrimas escorriam de seus olhos enquanto ela dizia isso, não pareciam se encaixar com a cena.

– Então mude novamente o destino. Quero uma outra solução para esse meu problema.

Ela tirou outro pedaço de papel da bolsa que carregava, já estava rabiscado.

– Não preciso mudar muita coisa. – Disse enquanto usava uma canetinha amarela para fazer uma seta em ziguezague de um lado da folha ao outro. – Acho que você precisará do seu contato na NASA e de um satélite à disposição, alem de um celular e...

Ela se calou, tampando a boca com as mãos enquanto mais lágrimas escorriam de seu rosto.

– Não!

– O que? O que houve? – “Droga, o que era agora? O que estava no meu caminho dessa vez”.

– Você... – Começou ela, ainda chorando. – Você pretende matá-lo... Vai usar dois super-humanos para isso.

As coisas estavam começando a fazer sentido. Muito sentido. Peguei o telefone e disquei o ramal da minha secretária.

– Quero que ligue para o cara da NASA! E quero um celular com linha segura na minha mesa, sem demora!! – Olhei para Zero apenas para vê-la me encarando com horror. – Agora me diga quem são esses dois e o que eu tenho que fazer.

– Você realmente... Realmente pretende matá-lo?

Suspirei, crianças são uma mistura de ingenuidade e infantilidade, exatamente o que eu não suporto nas pessoas. Por isso odeio crianças. Gostaria que meu grande investimento tivesse alguns anos a mais.

– Eu não posso deixar ele se aproximar desse tal Eric. Tem noção do que aconteceria se ele recebesse os poderes de Daniel? Eu simplesmente...

Ela apenas fez um gesto para que eu não continuasse e voltou a rabiscar em seu papel. Talvez não fosse tão infantil quanto eu esperava.

– Sabe? – Disse ela depois de ter finalmente terminado de me contar sobre as mensagens de celular para um tal Diego. – Existe um jogo muito maior que os seus acontecendo. E esse jogo está pendendo para o lado errado.

Saiu acompanhada aos guardas. Eu não me importava com outros jogos. O único jogo que importa para mim é aquele em que eu possa ganhar. E parece que eu estava perto de ganhar esse novo jogo.

 

 

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Notas finais do capítulo

Notas do Sádico: Nossa, demorei muito mesmo dessa vez. Mil desculpas, a culpa foi toda e completamente minha. Mas está ai o penultimo capítulo dessa "temporada". Digamos que nesse capítulo se encontra a chave para muitas perguntas.