017 – Cercados

[Daniel]

– Vamos! Temos que sair daqui rápido.

Eu seguia Rafael apressado e sem entender exatamente o que estava acontecendo enquanto ele corria para o fim da clareira, com Rufus completamente atento ao seu lado. Já ia perguntar o que diabos estava acontecendo ali, quando um cara saiu de trás de uma das arvores. Rafael parou assim que o viu e eu segui seu exemplo. A tensão aumentou levemente assim como o animo de Rafael diminuiu gradualmente.

– Ora ora ora. Vejam só quem eu achei. Rafael em carne e osso. Parece que já fez um novo amigo. – Disse o cara, seu olhar e seu tom de voz eram perigosos demais.

Peguei a katana.

– Lucas, você não precisa fazer isso. – Rafael tentava manter um tom cauteloso, andando para o lado para tentar fugir por outro caminho.

– Você não entende não é mesmo, Rafa?! Eu quero fazer isso, você não tem nem idéia do quanto.

As folhas das arvores pareceram parar de cair perante o clima de preocupação que se encontrava na clareira. O barulho do vento, assim como o da fogueira, desapareceram. Quando Rafael deu mais um passo para o lado, outro cara apareceu. Também estava escondido atrás de uma arvore. E... E era completamente idêntico ao primeiro. “Droga, temos mesmo que encarar irmãos gêmeos?”

– Você sabe muito bem que está cercado, Rafa. Me faça um favor e fique parado ao invés de tentar fugir, ok?! – Falou o irmão gêmeo.

Percebi um movimento vindo de outros pontos da clareira antes de perceber que não se tratavam de gêmeos e sim trigêmeos. Ou melhor, quadrigêmeos... Na verdade, apareceram mais um quinto e um sexto... Dez. Doze. Definitivamente aquilo não estava certo.

– Ei, Daniel, use seu poder e da no pé daqui. – Disse Rafael, tão baixo que só eu pude ouvir.

– Sem chance. Não vou te deixar sozinho com eles... Digo, ele... Droga, nem sei que termo usar.

– Você precisa fugir. Se o Diego chegar aqui, nós estamos ferrados.

– Tarde demais Rafael. – Disse uma voz saída do meio da escuridão da floresta. – Eu já cheguei.

Primeiro eu não consegui ver direito o rosto, mas não demorou muito para perceber que era outro homem. E dessa vez, não tinha nenhuma semelhança com o multi-gêmeos. Ouvi Rafael murmurar um ‘Droga’ no mesmo instante em que a tensão alcançou um estado critico. Na verdade, ela parecia pesar na atmosfera. Segurei a katana com as duas mãos, pronto pra me defender assim que necessário. O tal Diego parou de andar assim que viu meu gesto e olhou para a arma.

– Hm... Uma katana de enfeite, certo? – Disse ele, apontando para ela.

Eu pensei em concordar, mesmo sendo uma pergunta retórica. Mas algo roubou minha atenção. Eu não sabia o que exatamente estava acontecendo, eu simplesmente não estava mais conseguindo carregar a katana. Ela estava pesada demais e a surpresa me fez solta-la. O baque surdo do metal batendo na terra e nas folhas secas foi o único barulho na clareira a produzir eco. Quando olhei novamente para o cara que me fez a pergunta, ele estava apontando para mim.

Percebi que o estranho com vários ‘irmãos’ estava sorrindo exageradamente. E dessa vez o que ficou pesado foi meu corpo. Não conseguia mais me manter em pé. Meus joelhos encostaram na terra. Todos os gêmeos estavam ao redor do Rafael. Me ignorando por completo.

Era como se tivesse algo me puxando com garras e dentes para o chão sujo. Cai sem poder lutar contra o peso estranho. E mesmo no chão eu ainda tinha a sensação de algo me esmagando.

Ouvi um uivo e percebi o sorriso de Diego sumindo.

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