014 – Amigo

[Daniel]

 A fogueira que queimava lentamente na minha frente não era grande, mas pelo menos espantava o frio. Estávamos em uma clareira da floresta que acompanha a estrada. O estranho que me levou até aquele lugar jogou mais lenha para alimentar o fogo faminto pela impotência. O vira-latas sempre o seguindo.

– E então, qual o seu nome? – Perguntou ele, sem esconder a curiosidade.

– Sabe, para perguntar o nome de alguém você deve dizer o seu primeiro.

A curiosidade foi substituída por uma pequena desconfiança. Mas durou pouco e ele disse.

– Me chamo Rafael... E esse é Rufus. – Disse, apontando para o cachorro sarnento que parecia muito um lobo.

O cachorro latiu, como se quisesse confirmar que aquele era mesmo seu nome.

– Meu nome é Daniel. Desculpa se estou sendo um incomodo, mas eu realmente estou cansado de andar e...

Fui interrompido. Rafael estendeu o dedo em um gesto de silencio e em seguida começou a fazer algo um estranho. Parecia que ele tentava sentir o cheiro de algo no ar. Por fim ele exclamou, com um sorriso triunfante no rosto:

– É isso! É por isso que te achei estranho quando te vi. Você não tem o mesmo cheiro das outras pessoas.

 Ergui uma sobrancelha. Do que exatamente ele estava falando?

– Ah, nem vem. – Disse ele ao perceber meu rosto. – Você aparece sem mais nem menos atrás de mim como se fosse a coisa mais normal do mundo e quando eu falo de cheiro você me olha com essa cara? Como se você não fosse tão estranho quanto eu.

Comecei a rir. Ele estava certo, eu vivia rodeado por esse tipo de coisa, já deveria ter me acostumado. Percebi que ele também ria. Naquele momento, parecíamos dois amigos de infância que não se viam a muito tempo.

– Bom... – Disse ele quando conseguimos finalmente parar de rir. – O que o faz viajar por ai armado com uma espada?

Não sei exatamente o porque, mas eu sentia que podia confiar nele. Por isso eu decidi contar sobre o que tinha me motivado a essa minha viagem. Contei tudo, falei sobre o grupo que tinha formado com meus amigos, contei sobre Ed, sobre Gui, sobre Alice... Sobe Suzanna. Por fim, contei sobre o ataque de Eric e o assassinato de Ed. Quando finalmente terminei, ele me encarava sombriamente. Era como se soubesse exatamente pelo que eu tinha passado.

– Você disse que o nome dele é Eric? – Foi a única coisa que ele perguntou desde que eu comecei o assunto.

Eu concordei com a cabeça. Ficamos em silencio por um tempo.

Rufus, que estava deitado perto da fogueira até então, saltou e começou a rosnar para a escuridão da floresta. Rafael olhou preocupado para a mesma direção.

– Droga! Eles me acharam.

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