011 – Jogada de Risco

[Eric]

Uma bola de fogo cor de ruby passou a centímetros de meu rosto. Me decepcionei. Pensei que teria um oponente à altura, mas o garotinho encolhido na minha frente apenas tremia e soltava mais perigosos projéteis em chamas em direções completamente aleatórias. Sua falta de técnica, possuindo um poder tão destruidor, me irritava. Percebi que não tinha motivos para arrastar aquele momento por mais tempo do que o necessário e usei a armadura de metal. Novamente o metal derretido que cobriu minha pele me deu a sensação de proteção maternal, o que apenas transformou minha leve irritação em raiva. Criei a armadura na hora certa. Logo depois da ‘pele’ prateada se formar, uma bola de fogo acertou meu peito, queimando minha camisa e refletindo o vermelho quente no meu corpo. Não senti absolutamente nada, nem sequer calor. “Essa armadura foi um achado e tanto.” Pensei sorrindo. Meus olhos mostrando o prazer que eu sentia.

Ao ver esse prazer em minha expressão, o garoto se virou para fugir. Percebendo que ele não teria chance contra o oponente em pé à sua frente. E quando ele começou a correr eu pensei que talvez eu tivesse, finalmente, um pouco de dificuldade. Mesmo que fosse bem pouco, já me satisfaria. Eu estava enganado.

Ele correu uns cinco metros, tentando incansavelmente gritar, mas nenhum som saiu de sua boca. O lugar todo estava em absoluto silencio. Nada tinha a possibilidade de emitir qualquer barulho que fosse na proximidade daquele corredor frio. Eu me preparei para ir atrás dele, com um salto de teleporte, mas não cheguei a precisar disso. O moleque, sem aviso, foi jogado brutalmente para cima, por uma força invisível. Bateu violentamente com a cabeça frágil no teto. Pude ouvir o familiar barulho de um osso se quebrando. Então, depois de continuar por um curto período no ar, caiu no chão. Morto.

Olhei para trás e vi Suzanna a me encarar com seu mais gracioso sorriso. A armadura sólida se tornou novamente liquida, com apenas um comando mental, e logo depois sumiu. O mesmo comando foi dado para que o som voltasse ao local em que estávamos. E o primeiro barulho que alcançou meus ouvidos foi o batimento acelerado do coração de Suzanna. Ela se aproximou de mim, mas havia algo em seu olhar, algo novo.

– Eric?

Eu a fitei, tentando desvendar o que era tão diferente. Quando percebi que ela estava esperando um sinal para continuar eu apenas acenei com a cabeça. Percebi qual era a novidade em seu rosto antes que ela começasse a falar. Timidez.

– Eu... – Pausa. Ela respirou profundamente antes de continuar. – Eu quero tentar.

Minha reação seguinte a isso a surpreendeu. Por mais desconfiado que eu tenha ficado assim que ela terminou de fazer seu pedido, agora eu sorria. Fiz outro gesto com a cabeça, dessa vez para que ela se deliciasse, e a observei caminhando com uma leveza incrivelmente sensual em direção ao corpo do garoto. Então, de modo ainda mais sensual, ela mordeu seu pescoço. Vi um filete brilhante de sangue lhe escorrendo pelo queixo.

Sim, é verdade que eu estava tentado a receber os poderes flamejantes. Mas algo me atiçava ainda mais a minha curiosidade. Eu queria... Não! Eu necessitava degustar um sangue com mais de um poder. Passei a língua pelos lábios.

E esperei ela terminar de sugar até a ultima gota vermelho vivo do defunto.

-   -   -