010 – Dois Km

[Daniel]

As coisas definitivamente seriam mais fáceis se eu tivesse dinheiro para pegar um ônibus. Já estava escurecendo e a idéia de pegar carona não era a mais animadora na minha mente. Os carros que passavam também não pareciam gostar dessa idéia, afinal, que louco ajudaria um garoto que andava com uma espada nas costas. Por isso eu já tinha desistido de virar para os carros que passassem por mim, estendendo o dedo e esperando paciente um não. Estava apenas andando, pensativo. A estrada não estava muito movimentada. Um carro aqui e outro ali. Se eu usasse meu poder eu chegaria lá antes da próxima hora. Mas de que adiantaria, estaria cansado demais para qualquer outra coisa.

– Está precisando de carona, garoto?

Pulei de susto. Como estava perdido em meus pensamentos não percebi a mulher em uma moto que se aproximara de mim. Seu sorriso radiante fez com que eu me acalmasse logo.

– Suba. Também estou indo para North Gare.

Subi na moto, ainda meio pasmo. Estava mudo diante a incomum beleza que aquela mulher mostrava em conjunto com sua maquina. Porque a moto que ela pilotava não poderia ser chamada simplesmente de moto. Depois de um tempo calado, decidi dizer para onde eu ia... “Espera um segundo. Ela já sabe para onde eu vou. Mas como...”

– Não se preocupe Daniel. Eu te dou carona, você não faz perguntas e todo mundo sai ganhando. – Sua voz parecia levemente tensa, provavelmente ela percebera o erro que havia cometido.

Ela acelerou enquanto eu apenas me ocupava em tentar não ficar boquiaberto. Era obvio que isso só podia significar uma coisa, que ela também tinha poderes... Ela freou bruscamente, eu quase fui jogado para frente dela com o efeito da inércia. Ela se virou para mim, seu rosto não só demonstrava a tensão de sua voz, como também uma certa preocupação agora.

– O que você quer dizer com ‘também’?

Eu me soltei dela, levemente rubro por ter me segurado tão forte em sua cintura, e tentei responder. Ela era mais rápida. Pela forma como ela me olhava eu percebi que ela já tinha entendido tudo. Ou, pelo menos, muita coisa.

– Saia.

Eu continuei olhando para ela, sem entender direito o que ela havia dito.

– Eu pedi para você sair. – Explicou ela, ao perceber que eu não tinha entendido. – Não quero me envolver com você e seus problemas. Me desculpe.

E o que eu podia fazer? A moto era dela, ela decidia se me levava ou não. Desci da maquina e a encarei mais uma vez. Me arrependi por perder a companhia dela. Sei que parece idiotice, mas eu ia adorar viajar duzentos quilômetros abraçando-a.

Ela leu meus pensamentos mais uma vez e me presenteou com seu belo sorriso antes de acelerar e se distanciar na estrada já escura.

Pelo visto eu teria uma longa viagem pela frente.

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