Algumas semanas se passaram após ter o meu não desejado encontro com Brendon, desejei nunca mais vê-lo depois disso.

     Eu ainda não havia contado ao Mateus que gostava dele, ainda não tinha pensado em uma forma de fazer isso.

     O telefone tocou e eu fui atender.

     — Alô!? – falei ao atender ao telefone.

     — Rita? – perguntou uma voz desconhecida no telefone.

     — Não, é a Kate. Quem está falando?

     — É a Daniele, a vozes de vocês são idênticas por telefone.

     Sorri. 

     — Todos dizem isso. Mas ela não está, liga depois.

     — Tá ok. Tchau, obrigada.

     — Por nada, tchau.

      Quando desliguei o telefone pensei melhor no que Daniele disse. “As vozes de vocês são idênticas por telefone...”

     Então me surgiu uma ideia. Pensei em ligar para o Mateus fingindo ser a minha irmã Rita; assim ele poderia não ter uma reação muito grande ao receber a revelação de que eu gosto dele, sendo a “Rita” falando, não eu.

     Digitei o numero da casa de Samara e quem atendeu foi justamente com quem eu queria falar.

     — Alô!? – falou Mateus ao atender.

     — Oi Mateus, é a Rita. Tudo bem?

     — Ah, oi Rita, tudo e você?

     — Também. A Samara não está, você queria falar com ela “né”?

     — Não, é com você mesmo que eu quero falar. É sobre a Kate. – tentei demonstrar o máximo de segurança ao falar, eu estava bem tranquila, tinha que manter o controle.

     — O que tem a Kate?

     — Bem, você sabe que ela sofreu muito por causa do Brendon, “né”?

     — É, eu sei sim.

     — Então, ela achou você um grande amigo e começou a gostar de você de um outro jeito.

     — Como assim?

     — Ela está apaixonada por você.

     Ele ficou alguns minutos sem falar nada.

     — Mateus, você ta aí? – perguntei bastante segura e com firmeza na voz.

     — Tô, é que me surpreendi com o que você falou. Isso é sério mesmo Rita?

     — É, você nunca percebeu que ela te olha um pouco diferente? Com um brilho a mais no olhar?

     — É, pior que pensando bem agora... Mas sabe, ela é linda, legal, mas eu não quero magoá-la, vai que a gente fica e depois não dá certo? Aí onde eu vou enfiar a cara?

     — Entendo. Era só isso que eu tinha pra falar. Depois você conversa com ela. – disse logo tchau antes que pudesse demonstrar mudança na voz.

     — Tá, com certeza eu converso com ela, obrigada por me contar.

     — Por nada. Tchau.

     Desliguei o telefone e prometi a mim mesma que não iria chorar, mas não o cumpri. Minhas lágrimas desceram suavemente pelo meu rosto. Enxuguei as lágrimas rapidamente e falei a mim mesma: “o que é isso? Você prometeu a si mesma que não ficaria chorando por mais ninguém. Anda Kate enxugue essas lágrimas e se controle.”

     O resto do dia passou, tentei me controlar e não pensar em Mateus para não chorar. À noite haveria a Santa Ceia na igreja e eu fui junto com a minha irmã Rita. Como eu não era batizada eu não ceava ainda, então fiquei na casa de Samara com Rita e Mateus esperando a Santa Ceia terminar.

     Eu fiquei calada o tempo todo, observando Mateus e Rita conversarem. Minha irmã começou a brincar com a minha cara dizendo que eu era bem mais nova, por causa de meu tamanho e Mateus foi na sua “onda”.

     — Quantos anos você tem, Kate? – perguntou-me Mateus.

     — Tenho 13. – respondi seria.

     — Sério!? Achei que era 9.

     Fiquei com a cara fechada enquanto Mateus e Rita sorriam da minha cara.

     — O que foi? – perguntou-me Mateus.

     — Por que você resolveu me tratar como criança agora? – perguntei com muita raiva.

     — Porque você é criança. – respondeu Mateus.

     — Agora já deu pra mim!

     Sai com muita raiva de seu quarto e bati a porta da sala. Sentei no banco que tinha na área da igreja e derramei lágrimas até o fim da Santa Ceia. Quando Samara veio até mim agradeci por não estar mais tão vermelha.

     — O que foi? Por que você não está mais lá dentro? – perguntou-me Samara.

     — Fiquei sobrando lá dentro.

     — “Afe” amiga, isso é muito chato.

     Samara foi à janela do quarto de Mateus e olhou; eles estavam calados encarando um ao outro.

     Samara chamou Mateus e deu uma bronca nele por ele ter me ofendido. Quando eu estava indo embora ele me chamou e me pediu desculpas.

     — Kate, por favor, me perdoa, nunca mais eu faço isso.

     — Tá tudo bem.

     Ele me deu um abraço.

     — Mateus, não era a Rita no telefone, era eu.

     Ele me encarou. Eu me virei e fui embora.