A minha cabeça doía. Puta merda da ressaca. Ainda por cima era dia de escola. Fui para a playlist do meu Ipad e coloquei o Take It Off dos Kiss. Obá, sei que me doia a cabeça, mas o que é melhor pa curar a ressaca do que ouvir uma das melhores músicas no mundo?

Olhei para as patricinhas com seus peitos basicamente pra fora e reparei que as calcinhas de todas elas eram rosa! Ahahahahahah! Vieram a combinar. Abanei a cabeça e fui ter com o meu grupinho de emos e goth-scenes adoráveis que devem de estar tão ressacados como eu!

Okay. Eles não estavam no lugar do costume. Cocei a cabeça pensando (POR QUE SIM, EU PENSO!!) onde é que eles se enfiaram! Deu o sinal de entrada e a manada de gente “normal” entrou para dentro da escola.

- Quem se quer baldar às aulas? Euuu! – sussurrei para mim mesma. Coloquei os phones e fui caminhando por aí.

Agora ia ficar deprimida. Eu sem os meus amigos não sou nada. Sou um simples cadáver andante, um zombie com pele branca e sem rugas. Shit! Já começou! Vá Ally, tens que ultrapassar estas merdas! Não vamos ser uma emo depressiva, siiiiim?

Fui para o parque da cidade e sentei-me no banco virado para a fonte. Depois de me ter sentado comecei a deixar-me escapar, e isso não podia ser. Tinha que ficar aqui. Levantei-me e segui para o cemitério.

Alí estava ela. A campa do meu irmão mais velho que se suicidou à uns anos atrás pelas mesmas razões pelas quais eu tentei nas férias.

- Hey, Joe. – sentei-me na grama e olhei para o anjo que foi esculpido com a cara dele – Desculpa não ter vindo falar contigo à mais tempo, mas… bem… sabes como são o pai e a mãe, e como é a loucura de sempre, e a maneira como nós encaramos a vida que é blasfémia para eles… tive um pequeno acidente. Um descuido. Não foi nada de mais. Só fiquei uma semana em coma, outra vez. Acho que já ultrapassei as minhas vidas de gato, não achas? Já é a sétima vez!

“Tu és loca, Ally. Quantas vezes te disse isso? Não podes seguir os meus passos! Sabes que me arrependo de o ter feito, não sabes?”

- Sim, eu sei. Mas agora já está. Mas bem… as coisas estão piores desde que tu… bem, que tu te mataste, sabes? Agora dizem-me que eu deveria fazer o mesmo, que eu sou uma vergonha para a nossa familia, que eles têm vergonha de mim. De nós!

“Tu já sabias que ia ser assim. Tenho pena de não estar aí contigo para te proteger, irmanzinha, mas eu ainda posso fazer uma coisa ou outra!”

- Eu acho… só acho que não aguento mais, sabes? E agora… bem, eu estou a pensar fugir. Não quero morrer tão cedo.

“Era o que eu deveria ter feito. Fugir. Mas agora estou preso aqui. Nesta campa e na tua cabeça!”

- Eu sei. Mas eu preciso de escapar, sabes?

“Eu sei. Mas vai. Foge. Eu vou estar sempre contigo!"

- Obrigado.

“Vai em paz!”

Saí de lá mais calma, com um plano. Iria embora ainda hoje. Eu precisava de sair daquele manicómio! Onde é que… depois iria pensar nisso. Bem, eu lembro-me de um primo afastado… um que até era meio punk. Onde é que ele morava mesmo? Eu sei o nome, eu sei o nome! Hollywood! Era isso! Eu disse que sabia o nome da porra da cidade.

Eu sei onde ele mora, decorei as ruas e a casa. Não o nome ou os números, mas acho que me consigo desenrascar assim. Priminho, aqui vou eu!

Corri para casa, chegando lá a arfar. Eu tenho que mudar de marca do tabaco. Abri a porta e subi a correr as escadas para o meu quarto. Tirei um malote debaixo da cama e comecei a enche-lo de roupa. Camisetas de banda primeiro. As rasgadas depois. Okay. Calças! Abri as gavetas da cômoda e tirei todas as calcinhas e sutiãns que tinha. Camisolas, eu preciso de camisolas por que ainda está frio. Peguei em cinco e enfiei-as lá para dentro e vesti o meu casaco de cabedal favorito. Mais alguma coisa? Pensa pensa pensa… de roupa… OS SAPATOS!!! Enfiei cinco dos meus pares favoritos de All Stars e as minhas Vans pretas e roxas. Já está tudo! Peguei numa mala da escola e coloquei lá o meu laptot, o respetivo carregador, o do telemóvel e alguns cabos de dados. Peguei no livro que estava a ler para ir lendo durante a viagem e enfiei para lá também os meus cadernos com músicas, poemas e ameças de morte. Xô, devem de achar que não tenho poucas!

Estava para sair do quarto quando me lembrei! Acessórios, maquilhagem e dinheiro! Como o malote estava quase a explodir enfiei os meu poucos acessorios e a maquilhagem na mala e o dinheiro na bolsinha pequena que está na frente da mala.

Okay. Já posso ir! Os meus pais só iriam chegar na hora do almoço, por isso ainda tinha quatro horas e tal pa me despachar. Como sou um ser muito popadinho, fui buscar dinheiro à minha mãe, o dinheiro que o meu irmão tinha escondido debaixo de uma tábua solta do chão do quarto dele, e fui para a cozinha fazer uma sandwish pa levar. Não posso gastar o dinheiro todo logo no primeiro dia.

Arrumei a sandes num saquinho e pu-la na mala. Okay, isto vai tudo explodir! Peguei numa maçã verde, disse adeus à casa e fui para a estação de autocarros.

XXX

Tinham-se passado três horas desde que me sentei no banco desconfortável do autocarro. Peço desculpa se o meu cu é muito sensível!

Recebeu uma nova mensagem

Abri a mensagem. Era da Marie.

Ally, onde é que estás? Tá toda a gente preocupada contigo!

Imagino a preocupação.

Estou por aí. Diz pra eles não se preocuparem que está tudo bem!

Está bem. kiss.

Cabra de merda. Eu é que tinha o trabalho que é para apresentar hoje. Ainda bem que ontem à noite o dei ao Gee. Por isso é que ela estava preocupada.

CHEGUEI! FINALMENTE POSSO SAIR DAQUI!!!

As portas abriram e eu saí a correr. Fui pegar as minhas coisas e tentei situar-me. A casa dele é ao pé de um clube de stripp. Como é que aquilo se chamava? Sei lá! Okay. Três ruas para a direita e sete casas depois devo de ter chegado. Vamos ao menos tentar!

As pessoas olhavam para mim com cara de “Olha só mais uma!”. Xô, devem de pensar! Só me apetecia mostrar o meu dedo do meio para todo o mundo, mas não ia fazer isso. Sou demasiado bem educada para isso. Quando dei de caras com o clube de stripp comecei a fazer uma dança da vitória meio estúpida, mas fazer o quê?

Agora, qual é a casa mesmo? Comecei a ouvir música e fui seguindo o som. Estava a ouvir Marilyn Manson, por isso essa casa devia de ser a do meu primo. Bem, como é que ele se chama? Batí à porta à espera de levar um tiro de uma caçadeira (vai-se a ver e são todos loucos nesta família! E eu sei lá do que o garoto é capaz! A última vez que o vi foi à três anos!)

- Quem é? – perguntou uma voz de garoto.

- É a Ally.

- Ally? Eu sei lá quem é a Ally! – ele abriu a porta. Okay. Aquele não era o meu primo.

- Arg… acho que me enganei na casa. – ele chamava-se Jake. Era isso. Jake!

- A tua cara não me é estranha. Andas à procura de quem?

- Do… acho que ele se chama Jake.

- Ja?… Ó JAKE! TÁ AQUI UMA GAROTA À TUA PROCURA! – gritou ele virando-se para dentro da casa.

- Quem é? – um gajo apareceu de boxers e eu tapei os olhos. EU NÃO OS CONHECIA DE LADO NENHUM, E AQUELA MERDA TAVA APERTADA!

- Ahahahahahahahahahah! A Ally viu-te e assustou-se! És mesmo lindo!

- Cala-te, Jinxx. Andas à procura de quem? – tirei as mãos da cara. Vá, até que o garoto era bonito, por isso nem era tortura olhar pra ele.

- Eu acho que o nome dele é Jake.

- É o teu namorado?

- Nãooo! É um primo qualquer afastado que mora perto do clube de stripp. Pelo menos à três anos atrás morava.

- Diz aí o teu sobrenome.

- Ally Pitts.

- Primaaaaaaa! – o tal Jake vei-o abraçar-me. Fechei os olhos. Bem, ao menos tinha casa! – O que te trás aqui?

- Arg, os meus pais mandaram-me de férias.

- Jezz, eu sei que são os teus pais e tal, mas não gosto nada deles.

- Junta-te ao clube!

- E o teu irmão? – perguntou ele sorrindo.

- Ele… bem, ele suicidou-se. – encolhi os ombros e pisquei os olhos para conter as lágrimas.

- Oh! Bem, entra! Não vais ficar na rua né?

- Só te vou avisar de uma coisa, Ally. Ele é louco!

- NÃO ACREDITES EM NADA DO QUE O JINXX TE DISSER! – gritou ele já dentro de casa.

- Bem, parece que a loucura é de família!

Entrei e… PUTA QUE PARIU! QUEM ERAM AQUELES?

Estavam dois garotos esparramados no sofá a assistir a um show de Kiss – como é que a música passou de Marilyn Manson para Kiss tão rápido? – com cervejas na mão e uma garrafa de licor de qualquer merda em cima da mesa.

- GENTE, ESTA É A ALLY! – gritou o Jake do que me pareceu ser a cozinha. Eles viviam os cinco aqui?

- Hi Ally! – disseram eles acenando com as mãos sem tirar os olhos da tv. Começou a tocar o Made For Loving You e eu deixei cair as malas no chão e comecei a cantar e a dançar ao mesmo tempo. Dude, era Kiss! Querem o quê? Um deles veio ter comigo e começamos os dois a cantar e a pular em cima do sofá (como eu fui parar ao sofá?) e os outros ficaram lá à nossa volta a fazer o mesmo.

- Hey hey hey!!!! O que é isto? – perguntou o Jake cortando a diversão.

- É… é um show dos Kiss! – disse o que estava em cima do sofá comigo. O Jake deu com a mão na testa.

- ANDY SAI DE CIMA DA PORRA DO MEU SOFÁ! – o Andy começou a correr e levou-me atrás. Ou seja, eu e o Andy a fugir do Jake que acho que pegou num cabo de uma vassoura. Comecei a correr mais rápido. NÃO QUERO LEVAR COM UM PAU NO CU, OKAY? Isto soou mesmo mal!

- Ahhhhhhh! RUUUUUUN! – gritou o Andy fazendo um screamo perfeito. Parei e virei-me para frente do Jake apontando o meu dedo indicador para ele.

- É que tu nem te atrevas. – ele parou. Sou assim tão má? Ou assusto assim tanto? O que interessa é que ele parou!

- Okay. Pessoal, tudo para a sala! – ficou tudo em pé a olhar para ele sem saber bem o que fazer. A porta abriu e uma garota entrou – Sandra, temos que falar. – ela colocou as mãos no ar com ar de inocente.

- Qualquer acusação contra mim é infundada e puramente mentira.

- A minha mãe vem hoje aqui.

- O quê? – perguntou Jinxx.

- COMO É QUE É? – gritou a Sandra.

- Isso mesmo. A minha mãe vem cá! Por isso toca a arrumar estas merdas todas!

- Quem é essa? – perguntou a Sandra.

- Ally, esta é a Sandra. Sandra, esta é a Ally a minha prima.

- Os meus pêsames. – falou ela. Como assim? ela deve ter notado na minha cara – Ser prima do Jake deve ser um suplicio!

- Menos conversa, mais limpeza!

- Podias ter dito que iamos seguir a tua profissão de sonho, que eu nem sequer tinha vindo! – reclamou a Sandra. Ahahahahah! Ela deve de ser uma personagem!

- Cala-te e limpa! – o Jake entregou um pano e um spray a cada um e disse-nos para onde deviamos ir.

Eu não acredito que mal cheguei já estão a tornar-me numa criada!

O QUE EU FIZ PARA MERECER ISTO?

- Welcome to the jungle! – sussurrou o Andy ao meu ouvido.