Minha cabeça doía, tal como meu corpo. O que estava acontecendo?

Abri meus olhos com dificuldade, meu sono me atrapalhava a visão. Não vi mais o garoto que vi anteriormente, e tal como este desapareceu, o sangue que estava saindo do meu peito há algum tempo atrás também tinha desaparecido. Não havia sequer vestígios de sangue na minha roupa.

Olhei à mina volta: estava no antigo quarto dos meus pais. Sempre gostei deste quarto, tão branco e luzidío, mas evito entrar nele pois me lembra da separação dos meus pais. Pouco tempo depois de se separarem, minha mãe morreu com cancro no pulmão. Mas meu pai não se importou, nem sequer presenciou o funeral.

Uma lágrima escorregou do meu olho contra a minha vontade. Não bastava que os pensamentos ruins aparecessem na minha cabeça antes de eu dormir, me fazendo ter pesadelos. Não, agora tinha que ser sempre.

– Você está melhor? - ouvi uma voz vinda da porta do quarto. Olhei para lá, era meu suposto irmão.

– Quem é você? - a pergunta que não desaparecia da minha mente saíu pela minha boca como um sussurro, um sopro. Mas ele conseguiu ouvir.

– Você não sabe de nada? - ele me perguntou, parecendo surpreso. Não, de facto eu não sabia de nada. Não sabia o porquê de ele estar aqui, nem o facto de ele ser supostamente meu irmão. Também não compreendia de onde vinha aquele brilho que anteriormente emanara do meu corpo nem como meu peito começou a sangrar de um momento para o outro.

– Você está cansada? Com dores, talvês? - ele me perguntou, ignorando a pergunta que ele próprio fez anteriormente. Não o compreendi. Ele era demasiado rápido, não conseguia acompanhar o seu raciocínio.

Acenei timidamente com a cabeça. Não queria dar demasiada confiança a ele, alguém que eu acabara de conhecer. Iría apenas dizer, ou fazer, o necessário.

E do nada ele me beijou. Sim, beijou. O meu primeiro beijo.

Fechei os olhos e me afastei. Ele me olhou surpreso com essa atitude. Por acaso ele acha normal beijar alguém do nada, alguém que eu nem sequer conheço direito? Afinal, aquele era meu primeiro beijo, queria que fosse...

Queria que fosse... com...

Enquanto isso - ??? pov's

– Cho, vem cá. Preciso de um favor seu - ele me falou, novamente. Eu não pensava ceder a mais um dos seus pedidos, não agora que ele estava à procura dela. Não agora que ele iría ter mais uma espada que não eu.

– O que foi, Hiroshi-sama? - falei. Quería pelo menos saber o que ele ía falar, mesmo que não concordasse.

– Quero que você me traga uma garota. Seu nome é Aki e já foi sua amiga na infância. Você conhece, né?

Meu coração gelou, claro que eu conhecia. Foi a garota que me abandonou quando eu mais precisei, a garota que eu amei mas nunca me amou. Ou talvês tenha amado. Mas agora não importa, já tudo estava acabado mesmo antes de começar. Simplesmente porque ambas éramos garotas.

– Não, não conheço - uma mentira descarada. Eu própria falava muito nela quando era pequena. Sempre falei muito dela desde que fui encerrada nesta prisão em forma de palácio.

– Tá bom. Não vou te pressionar. Apenas quero te pedir um favor - ele falou, serenamente. Contudo eu sabia que ele estava ardendo por dentro, de raiva por eu não ter cedido. Já o conheço há tempo suficiente para saber isso. Aliás, já o conheço há onze anos.

– Eu quero que você a traga até mim. Sei que ela ainda não sabe de nada, mas já enviei uma pessoa para lá, que vai me ajudar a submetê-la a mim. Apenas preciso de você para a trazer para cá quando for a altura certa.

Meus joelhos não aguentaram meu peso e eu caí no chão. Um brilho alaranjado emanava do meu corpo, e minha perna sangrou, manchando meu vestido branco. Hiroshi se levantou, preocupado. Levantou meu queixo e me beijou, no mesmo instante a dor lacinante na minha perna desapareceu. Um brilho laranja cobriu meu corpo enquanto a energia vital dele entrava no meu corpo, fazendo minha força aumentar. Correntes de energia percorriam meu corpo inteiro. Então é isso a transmição de força vital de um humano para uma espada...

Swords - to be continued...