Mais uma vez eu não consegui dormir. Mais uma noite pensando em todas aquelas coisas horríveis que aconteceram. Por mais que me digam que o que aconteceu deve ser esquecido, eu não consigo me esquecer. Perder dois filhos não é tão fácil. Eu os amava, apesar de ainda não terem nascido. E amava o homem que causou a morte deles. Eu me sentia culpada e jamais iria esquecer ou me perdoar. Não tinha como voltar atrás. A tristeza mais uma vez crescia dentro de mim e em resposta a ela, meu olhos começaram a lacrimejar.

Um mês. Um mês de dor, reclusão e todo o tipo de sofrimento. Um mês passado inteiramente em casa, recebendo visitas e mensagens de lamentação sobre tudo que havia acontecido. E tudo só servia para me lembrar de tudo aquilo que aconteceu. Todos os dias. Eu não conseguia me esquecer. Estava abatida, triste, os olhos vermelhos de tanto chorar... Nem mesmo o meu melhor amigo, aquele que me deu força durante todo esse período conseguia me animar.

– Você precisa sair desta casa. – Dizia Obi-Wan. – Não pode ficar aqui pra sempre.

– Você não consegue entender. – Eu continuava chorando.

– Eu consigo sim. Ele não traiu só você. Traiu todos nós! Eu sei que é difícil, mas você precisa ser forte. Você não está sozinha. – Ele sorriu.

– Mesmo assim. Eu não consigo...

– Me diga o que eu preciso fazer para tirar você desse quarto, e eu farei. Não aguento mais vê-la chorar todos os dias!

– Você já faz tudo... Vem aqui todos os dias e não é sua obrigação. Não deveria fazer isso, não sou nada sua...

– Você está enganada, Padmé. – Ele acariciou meu rosto. – Pra mim, você é minha família. É a única coisa que eu tenho. Quero que se sinta bem, feliz. Chorar e ficar trancada nesse quarto não vai lhe ajudar em nada.

– Eu sei que você está certo, mas eu não tenho motivações para viver...

– Tem motivação maior do que superar tudo o que você passou? – Ele me encorajou. – Faça disso um objetivo. Pelo menos tente. Eu vou estar aqui para ajudar, já disse que você não está sozinha.

– Obrigada por tudo que você tem feito. – Eu o abracei. – Eu não quero... Nunca te perder.

– Você não vai. – Ele sorriu.

***

Eu me sentia triste e a vontade de chorar ainda não havia passado, mas eu me recusava a chorar depois de tudo que Obi-Wan havia feito por mim. Ele me visitava todos os dias, sem exceção e passava horas e horas conversando comigo, me dando conselhos, apenas me ouvindo chorar e lamentar por todos os erros que eu cometi.

– Você não cometeu nenhum erro – Ele tentou me convencer.

– Eu cometi vários erros. Eu podia ter evitado tudo isso se quisesse. Mas eu sou uma burra, cega, completamente sem noção... – Comecei a chorar novamente.

– Que mentira... Você sabe muito bem que não é nada disso. – Ele disse me abraçando. – E o que passou, passou. Não vale a pena ficar lembrando, sofrendo por causa do passado.

– Mas tem como esquecer? Não tem. – Eu ainda chorava. – Eu sei que você deve estar pensando que eu sou uma boba, mas eu não consigo não chorar, me desculpe.

Ele me abraçou mais forte.

– Não se desculpe, Pad. Eu sei que o que ele fez não tem perdão e eu também estou muito triste pelo que ele fez, mas estou ainda mais triste por vê-la assim. Porque eu sei que ele não merece suas lágrimas.

– Ele se virou contra todos nós. Inclusive você, que o tratava como um irmão. Como ele pode? – Minhas lágrimas aumentaram.

– Por favor, pare de chorar... Eu já disse que não vai adiantar nada e ele não merece.

– Mas ele nos traiu. Traiu você, traiu a mim... Matou crianças! Matou os meus bebês que ainda nem... Haviam nascido!

Eu não sei por quanto tempo fiquei ali chorando em seus braços. Com certeza foram horas e horas, até que eu pegasse no sono. Não havia outra pessoa com quem eu quisesse estar naquele momento, só ele...

No dia seguinte eu estava visivelmente melhor. Eu iria ser grata a ele pra sempre. E eu não tinha como retribuir tudo que ele estava fazendo por mim. Acho que se eu não o tivesse por perto eu poderia ter ficado maluca. Não existe no mundo um amigo melhor que ele, isso eu posso sem dúvida garantir.

Eu havia saído do quarto, e até tínhamos dado um pequeno passeio. Tinha que admitir, eu estava começando a ficar feliz.

- Gostou do dia? – Ele me perguntou.

- Muito. – Eu sorri. – Há muito tempo não me divertia tanto.

- Claro! Um mês inteiro dentro de casa! – Ele riu. – Tudo vai parecer maravilhoso.

- Mas não pareceu, foi. Obrigada mais uma vez por tudo que você tem feito. Mas agora eu acho que já chega. Você precisa retomar a sua vida.

- Você é minha vida. – Ele disse sorrindo.