A confusão em minha mente parecia insolúvel. Eu pensava em mil coisas ao mesmo tempo. Problemas sem solução, arrependimento, angústia, dor, medo... E até amor.

Nenhum de nós sabia se Palpatine havia morrido, o que tinha acontecido com os Sith e como a paz na galáxia estava reinando novamente. Parecia tudo absolutamente normal. Até Obi-Wan estava convencido de que estávamos em paz. Todos estavam, menos eu.

Era impossível de compreender como o Coselho Jedi conseguiu vencer. A traição veio de dentro, executaram uma ordem que jamais poderia ser executada e nem se quer sabíamos de sua existência. E depois disso, Palpatine simplesmente desapareceu. Não se soube mais dele.

Eu fiquei realmente indignada. Me perguntava todos os dias como podiam trair tão facilmente as pessoas que sempre confiaram e acreditaram neles? Por mais que eu tentasse esquecer, por mais que houvesse alguns momentos de alegria, não seria assim tão fácil superar tudo.

Obi-Wan me diz todos os dias para não me preocupar, que eu estou pensando negativamente por causa dos acontecimentos do passado. E mais uma vez, ele deve estar certo.

Pela primeira vez depois de tudo que aconteceu, ele não apareceu à tarde. Esperei até às seis horas, mas havia acordado tão cedo, que o sono começou a invadir minha mente. Andei em direção ao quarto, os olhos já pesando.

Deitei-me e me cobri. Fiquei pensando naquilo tudo que ouvi em Mustafar antes de desmaiar. Tentei me lembrar com detalhes, mas meus olhos já estavam fechados e minha mente completamente inundada pelo sono. Em poucos minutos, já estava sonhando...

- Você é uma boa pessoa, não faça isso!

- Eu não vou perder você como perdi minha mãe. Estou me tornando mais poderoso do que qualquer Jedi jamais imaginou ser. E faço isso por você. Para protegê-la.

- Venha e fuja comigo. – Eu tentei convencê-lo. – Me ajude a criar nosso filho. Enquanto ainda podemos, vamos deixar tudo pra trás!

- Você não percebe? Não temos mais que fugir, meu amor. Eu trouxe a paz para a República. Eu sou mais poderoso do que o Chanceler, e eu posso superá-lo também. E juntos eu e você podemos governar a galáxia para fazer tudo da nossa maneira.

- Não acredito no que estou ouvindo! – Meus olhos lacrimejavam. – Obi-Wan estava certo. Você mudou!

- Eu não quero ouvir mais nada sobre Obi-Wan! Os Jedi se voltaram contra mim. Não faça isso você também.

- Eu não te reconheço mais! – Comecei a chorar. – Anakin... Está partindo meu coração! Está escolhendo um caminho por onde eu não posso ir!

- Por causa do Obi-Wan?! – Ele perguntou com raiva.

- Por causa do que você fez! O que você planeja fazer! Pare, pare agora... Volte pra mim! Eu te amo!

- Mentirosa! – Ele gritou olhando para minha nave.

Vi Obi-Wan descendo a rampa. Meu coração disparou.

- Não! – Gritei recuando de Anakin.

- Você estava com ele! – Disse Anakin caminhando até mim. – Você o trouxe aqui para me matar!

Ele começou a me sufocar. Eu já tinha minha vista embaçada. A dor no meu pescoço, o medo por meu bebê e Obi-Wan tomaram conta de mim.

- Não... – Coloquei as mãos sobre meu pescoço.

- Solta ela, Anakin! – Gritou Obi-Wan.

- Não posso... – Eu disse quase desmaiando.

- Solta. Ela. Agora! – Ouvi Obi-Wan falar mais firmemente.

O aperto no pescoço ficou ainda mais forte. Depois não senti mais nada. Havia caído. Eu sabia que estava consciente, mas não podia levantar. Nunca tinha me sentido tão fraca...

- Você a fez ficar contra mim!  - Ouvi Anakin gritar para Obi-Wan.

- Foi você mesmo que fez.

- Você não vai tirá-la de mim! – Anakin gritou ainda mais alto.

- O seu ódio e a sua ânsia de poder já fizeram isso. Você permitiu que esse Lorde Sombrio desvirtuasse sua mente. E agora, você se tornou justamente o que havia jurado destruir. – Disse Obi-Wan, a voz agora mais próxima de mim.

- Dispenso sermão, Obi-Wan. Eu descobri as mentiras dos Jedi. Eu não temo o lado sombrio como você!

Ouvi os passos mais próximos, quase chegando perto de mim. Depois senti meu rosto sendo acariciado de forma gentil. Não podia ser Anakin. Era...

- Eu trouxe a paz, liberdade, justiça e a segurança para meu novo império.

- Seu novo império?! – Perguntou Obi-Wan.

- Não me obrigue a matar você! – Disse Anakin com raiva.

- Anakin, meu compromisso é com a República, com a democracia!

- Se você não é meu aliado, então é meu inimigo.

- Só um Sith pensa de forma tão amoral...

Acordei assustada, chorando.

- Obi-Wan! – Eu gritei sentando-me na cama, os olhos cheios de lágrimas e as mão sobre o rosto. – Por favor...

- O que houve? – A voz familiar veio ao meu encontro, os braços me envolvendo como sempre.

Eu não respondi, apenas o abracei.

- O que aconteceu? – Ele perguntou enquanto acariciava meus cabelos.

- Não me deixe, Obi-Wan. – Eu olhei-o nos olhos. – Prometa que não vai me deixar...

- Teve um pesadelo?

- Eu me lembrei daquele dia horrível. Me desculpe, por favor! Eu devia ter lhe contado a verdade. Eu sinto muito, eu não queria...

- Quantas vezes eu vou precisar lhe dizer para não pensar nisso? Esqueça, passou. Não preciso perdoa-la. Você não fez nada...

- Espera, – Eu pus a mão sobre seu peito, me afastando. – Como veio parar aqui?

- Você não me esperou. – Ele respondeu sorrindo. – Sabe que eu não deixaria de vir.

- A culpa não é minha! – Brinquei. – Você se atrasou. Eu acordei cedo, tenho direito de ficar cansada.

- Então volte a dormir. – Ele disse beijando minha testa.

- Não consigo. Eu... Eu estou com medo. – Disse cabisbaixa.

- Medo? – Ele perguntou se aproximando de mim. – Medo de que?

- De tudo! Isso tudo é muito estranho. É suspeito demais, você não percebe? Toda essa calma... Todos bem, sem guerra. Afinal, onde está Palpatine? Não sabemos, nem temos noção!

- Será que você não para de se preocupar nem um segundo? – Ele perguntou rindo.

- Eu esperava que você entendesse. Depois de tudo que eu fiz de errado, eu tenho o dever de me preocupar.

- O que aconteceu pra você sentir toda essa culpa?

- Absolutamente tudo. Eu fui cega, completamente. Não quis ver o que era óbvio. Acho que você também não quis ver, mas eu fui muito tola e ingênua. Eu tinha que ter percebido. – Falei meio triste.

- Percebido?

- Sim. Os pequenos detalhes são os mais importantes... Anakin nunca foi uma pessoa exatamente gentil e correta. Ele era ambicioso demais. Acho que você mesmo já havia notado. Eu estava me lembrando hoje mesmo de algumas conversas que tivemos. Ele achava que era melhor que você. Que podia fazer mais. E quando fomos para Naboo... Ele e eu falamos sobre política. E eu devia ter prestado mais atenção em uma coisa que ele disse!

- Que coisa?

- Sobre mandar nas pessoas. Dizer a elas o que fazer. Me lembro de ter dito que parecia mais com uma ditadura. Foram tantos pequenos detalhes que eu podia ter notado. Que agora eu me lembro, agora estou dando atenção. Eu podia ter evitado tanta coisa, Obi-Wan! Como eu pude ser tão cega?!

- Padmé, olhe pra mim. – Ele disse segurando meu rosto. – Você precisa parar de se culpar! Por favor, pare de viver no passado! Sua vida está passando e você continua aí, parada, sem reagir. Por mais quantos dias eu vou entrar por aquela porta e ver você neste estado? Chorando, os olhos vermelhos, cheia de dor e culpa?

Não respondi. Sabia que ele estava certo, eu não tinha argumentos.