Nameless escrita por Guardian


Capítulo 5
Sorte? Até que ponto?


Notas iniciais do capítulo

Este será narrado pelo Matt ~



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 Senti a moto parar abaixo de mim, depois de bom tempo que passou em movimento; tempo este, que apesar de não conseguir especificar, sei que foi longo. Perguntava-me se já poderia retirar aquela venda...

 Por que ele não tinha me matado? Aquele estranho homem não parecia ser do tipo que hesita... Pude ver com meus próprios olhos a forma rápida e eficiente que ele eliminou O’Hare, então por quê? Não sei, simplesmente não faço ideia.

 Logo após ele guardar, para minha enorme surpresa - para não dizer choque -, a arma dentro da roupa, arrancou um pedaço do tecido da camisa social daquele homem nojento, O’Hare, e o amarrou ao redor da ferida que ele mesmo havia feito em mim. Não sei como ele conseguiu fazer isso, mas naquele mesmo momento o sangue foi estancado. Em seguida ele mandou que eu o seguisse para fora da casa, e eu obedeci.

 Ele foi até uma moto preta, bonita, aparentemente cara, que estava escondida na rua de trás, e antes de me entregar o capacete do carona, tirou um pano preto de algum lugar que não consegui ver, e o colocou na frente dos meus olhos, amarrando-o na minha cabeça. Tudo o que consegui pensar foi que ele não queria que eu visse o caminho que iria fazer. Cauteloso.

 A moto parou, e eu ouvi ele dizer que eu já poderia tirar a venda. Era impressão minha ou a voz estava diferente de antes?

 Tirei o capacete, a venda, e olhei ao redor, com os olhos ligeiramente irritados pelo longo tempo sob o tecido. Parecia ser o amplo estacionamento de algum prédio residencial, fracamente iluminado e vazio no momento.

 - Vista isso – o homem tirou o longo casaco preto que usava e jogou para mim – Vai esconder o sangue.

 Realmente cauteloso.

 Mas foi então que eu pude ver, enfim, seu rosto pela primeira vez. Sem o capuz o cobrindo, sem aquela máscara estranha o escondendo.

 Ele era... Diferente. Não só por ser mais jovem do que eu imaginei que seria, mas por sua cicatriz - principalmente pela cicatriz - que cobria boa parte do lado esquerdo do rosto, seu cabelo loiro, repicado, relativamente comprido, na altura dos ombros, seus notáveis olhos azuis... Sem falar nas roupas, justas e de couro, que mostravam o quanto ele era magro mas ao mesmo tempo com músculos muito bem distribuídos. Não podia deixar de me perguntar o por que dele fazer o que faz.

 Devagar, ainda observando aquela figura tão curiosa, coloquei o casaco que me havia sido jogado, sentindo um incômodo no braço ao fazê-lo. Ainda estava quente.

 Novamente, o segui em silêncio. Subimos até o quinto andar, e ao me ver diante da porta aberta de um apartamento, na qual ele estava parado de lado, me esperando entrar, foi que percebi. Era a casa dele. Ele realmente tinha me trazido para a casa dele.

Cada vez mais curioso... Talvez ele não fosse tão cauteloso assim, se me trouxe direto pra sua residência, mas... Talvez eu que esteja errado.. Afinal, que chances eu teria de fugir, com ele armado e eu ferido? Não que eu fosse sequer tentar, mas enfim.

 Era um bonito apartamento, sem dúvida. Decorado sem exageros, mas ainda assim não conseguia esconder o bom gosto e a aparente boa condição financeira de seu morador. Havia apenas uma peça de roupa jogada em cima do sofá de tom escuro e três lugares, mas o alvo da bagunça parecia ser mesmo a mesa de centro logo em frente. Um copo vazio, certo número de embalagens laminadas de chocolate, e algumas outras coisas.

 - Você vai ficar aqui por enquanto – a voz dele, vinda do que eu supunha ser o banheiro, me tirou da minha análise inconsciente do lugar.

 Como assim? Ele me deixa viver e ainda diz que vou morar na casa dele? Isso está mesmo certo?

 - Por quê? – não consegui refrear a pergunta.

 Ele surgiu de volta na sala, carregando uma pequena caixa branca nos braços. Não conseguia ver direito o que era.

 - Eu já disse. Eu não tenho a menor obrigação de fazer o que você deseja. Você é uma testemunha, então não posso te deixar à solta. Eu sou Mello, e se abrir a boca para alguém, pode ter certeza de que vou fazer você começar a desejar morrer, entendeu?

 Entendi, entendi muito bem. Se seu tom deixasse alguma dúvida, pode ter certeza de que seus olhos a eliminavam imediatamente.

 Então seu nome era Mello? Diferente...

 ...

 Talvez a dúvida aqui seja “Como alguém que quase morreu, levou um tiro, viu seu ‘guardião’ ser morto na sua frente, e agora é praticamente um prisioneiro pode se manter tão calmo?”. E a resposta nem é tão difícil ou complexa como se espera. Dane-se. Esse era o meu pensamento dominante na maioria das situações. Um estranho mascarado chega para me matar? Só resta aceitar a realidade. Esse mesmo estranho te deixa viver e o leva junto à ele? Tudo bem, fazer o quê. Lutar contra esses picos inconstantes da vida é trabalhoso e difícil demais, e eu estou cansado de tentar. Simples assim.

 Agora, o que me intrigava era ele ter percebido... Ele não me matou porque eu não aparentava vontade alguma de viver? Ou porque eu parecia conformado demais em morrer? Espera... Não seria a mesma coisa?

 - Sente aqui – novamente foi a voz dele que me despertou da minha própria mente. 

 Mello estava sentado em uma das pontas do sofá, e esperava que eu me juntasse à ele. A tal caixa estava agora depositada em cima da mesa de centro, e assim eu pude perceber o que era. Caixa de primeiros socorros.

 Ahn?

 Fui até lá, sem entender o significado daquele gesto, e tirei o casaco dele, o deixando dobrado em cima do encosto do sofá. Era confortável. Tirei a blusa devagar, com uma careta, e estendi meu braço para ele.

 É impossível que ele estivesse se sentindo culpado pelo tiro, não é mesmo?

 Ele olhou em meus olhos, como se advinhasse o que eu estava pensando, antes de molhar um pedaço de algodão com um líquido incolor, e deu um sorriso irônico.

 - Sua recompensa por ser tão obediente.

 Ele... Ele Tinha acabado de me tratar como um cachorro ou era impressão minha?

 Nem pude pensar sobre isso, porque logo senti a ferida arder intensamente, cada vez mais, conforme ele a limpava.

 Nenhum de nós falou mais nada. Ele tratava do meu braço e eu apenas observava suas mãos trabalharem de forma experiente.

 Eu tinha sorte?

 ...

 Ou será que não?


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Notas finais do capítulo

So?