Yakusoku escrita por teffy-chan, Shiroyuki


Capítulo 69
Capítulo 69 - Haruka


Notas iniciais do capítulo

Haruka - Scandal

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Amanhecera há pouco tempo, mas o clima estava frio e nublado, ameaçando chover a qualquer momento. Tsukasa suspirou, terminando de colocar a comida para Hotosaki, e então, sentando-se ao lado dele na varanda da casa. Embora preferisse gatos, tinha o dever de cuidar de Hotosaki, na ausência de Tadase. Tinha também que mantê-lo calado, afinal, se Mizue se incomodasse com ele e acabasse lembrando de que se tratava de um presente de Nagihiko, acabaria descontando tudo no inocente cãozinho, sem sombra de dúvidas.

Ele e Hotosaki eram os únicos que ainda não haviam surtado naquele lugar, embora o cachorro estivesse já tão deprimido pela falta do seu dono, que mal conseguia comer. Tsukasa coçou a orelha dele, tranquilamente, tentando se distrair daquele caos que imperava na residência dos Hotori há horas.

Mizue e Yui, juntamente com os pais de Nagihiko que estavam ali também, só sabiam andar de um lado para o outro, murmurando hipóteses que se tornavam a cada minuto mais trágicas e insanas, e olhando para o telefone, fervorosamente, como se isso pudesse fazê-lo tocar.

Desde a noite anterior, quando Mizue subiu ao quarto de Tadase e não o encontrou lá, ninguém havia dormido naquela casa. Ela ligara imediatamente para a Sra. Fujisaki, e ela confirmara as suspeitas que havia tido desde o início: Nagihiko também sumira. Mizue tinha certeza absoluta de que a culpa era toda daquele garoto, enquanto Kaoruko, intimamente, desejava que Tadase tivesse evaporado de uma vez e deixado seu filho em paz. Nenhuma das duas ousava explanar seus pontos de vista abertamente, é claro, mas a hostilidade entre elas ficava evidente em cada gesto exageradamente educado. Os pais dos garotos, no entanto, pareciam ainda estar absorvendo toda aquela sequencia de eventos, e não tinham nenhuma vontade de se colocar entre suas esposas nessa hora. Já haviam contatado a polícia, e então, só restava que seus filhos fossem encontrados. Não deveria demorar muito, pois a família Fujisaki tinha uma influência enorme em todos os aspectos da cidade. Claro que nada referente a esse caso escaparia para a mídia, Kaoruko tomaria as medidas necessárias pessoalmente, se fosse necessário, para que isso não ocorresse.

— E quando nós os encontrarmos… - a discussão agora era sobre o que era melhor para seus filhos, depois que fossem localizados. Em resumo, era encontrar uma maneira eficaz de deixa-los tão afastados quanto fosse possível. Na opinião deles, esse era o melhor a se fazer.

— Não se preocupe quanto a isso, Hotori-san – Kaoruku liderou a conversa, fitando a outra mulher com certa superioridade – Eu enviarei Nagihiko para estudar no exterior tão imediatamente quanto for possível. Já era meu desejo fazer isso há um bom tempo, então, eu tenho todos os preparativos necessários.

— O Nagihiko não estava querendo voltar para a Europa – Atsushi, pai dele, falou, mais para si mesmo, enquanto fitava a xícara de chá que havia acabado de receber – Agora sabemos o motivo… mas, isso não parece um pouco ruim, leva-lo para longe contra a sua vontade?

— Claro que não. Em algum lugar longe daqui, ele poderá pensar com clareza, e perceber a dimensão dos seus erros…

— Está certo… mas, será que mantê-los longe um do outro será o suficiente? – Yui entoou, preocupado.

— Claro que sim! – Mizue rebateu, convicta- Essa história toda… Não é como se eles pudessem estar… apaixonados – ela praticamente cuspiu a palavra – um pelo outro! Se estiverem afastados, sem nenhum contato um com o outro, é evidente que toda essa loucura será esquecida em dois tempos.

— Eles são crianças, afinal. – Kaoruko concordou – Isso não passa de uma brincadeira para esses inconsequentes. Uma brincadeira de muito, muito mau gosto, e já foi longe demais. Ela terá um fim, em breve.

— Sim, eu farei Tadase recobrar o juízo. Nem que para isso eu tenha que mantê-lo trancado em um quarto, ele voltará ao normal, eu tenho certeza! – Mizue falou rapidamente, nervosa.

Do lado de fora, Tsukasa suspirou mais uma vez. Hotosaki, que ouvia a tudo com as orelhas em pé, olhou para ele, como se perguntasse o que raios estava acontecendo ali. Parecia estar pronto pra partir ao ataque a qualquer minuto, como havia feito quando os pais de Nagihiko chegaram à casa, e ele atacou Kaoruko. Talvez pressentisse que ela havia feito mal ao seu dono… ou apenas, não tivesse ido com a cara dela. Ao ouvir sua voz, agora, ele rosnava baixinho.

— Esses adultos… - Tsukasa murmurou, afagando o cachorro e tentando fazê-lo se acalmar – Acham realmente que podem resolver tudo dessa forma. Eles conseguem agir mais crianças do que seus próprios filhos, iludindo-se dessa forma, e pensando que fazem tudo certo… São crianças teimosas e egoístas, não são, Hotosaki-chan?






Quanto aos dois garotos, causadores de toda essa comoção, não haviam sido encontrados ainda, é claro. Durante a noite anterior, depois de saltar pela janela, atravessar o pátio sem chamar atenção e pular o muro, eles avançaram pela rua na bicicleta de Nagihiko.

Enviando Rhythm e Kiseki na frente, para chamar alguém que pudesse ajudá-los, Nagihiko e Tadase, com Temari, seguiram sem um rumo definido pela noite, apenas indo o mais rápido possível para longe dali. Era uma ideia idiota sair por aí sem plano nenhum, mas Tadase tinha, pela primeira vez desde que foram descobertos, a sensação no fundo do seu peito, de que tudo ficaria bem, desde que Nagihiko continuasse por perto.

O valete persistia em pedalar com toda a força que possuía, sentindo o ar noturno cortando seu rosto, e o calor gentil de Tadase nas suas costas. Ele respirava lentamente, abraçando seu dorso, e Nagihiko sabia que ele deveria estar morrendo de sono. Estava justamente pensando se deveria parar em algum lugar para descansar, quando um veículo em alta velocidade cortou seu caminho, obrigando-o a frear subitamente, e Tadase cairia se não estivesse segurando-o com força. Um terrível sentimento de medo fez Nagihiko congelar. Será que eram seus pais? Eles haviam notado sua ausência, e vieram atrás dele? Sua vontade era a de dar meia volta e fugir dali o mais rápido que pudesse, mas suas pernas não o obedeciam. Tadase o abraçou com força, enterrando os dedos no tecido do seu casaco.

— Ah, aí estão vocês, pirralhos. – Uma voz ecoou no escuro, e a porta do motorista se abriu – Me fizeram sair da cama há essa hora… Se precisavam de ajuda, podiam ao menos ter ficado em um lugar fácil de achar, hein? – A pessoa que reclamava era ninguém menos do que Ikuto, com cara de poucos amigos, e usando pijamas ainda, acompanhado por Ryhthm e Kiseki. Do outro lado, saiu Utau, que correu ao encontro deles, com o semblante preocupado.

— Vocês estão bem? – ela ajudou Tadase a desmontar da bicicleta, e o abraçou com força – O que foi que aconteceu? Rhythm me contou que os pais de vocês descobriram tudo, eu não podia imaginar que todos esses dias, vocês estavam presos…

— Vamos logo, antes que alguém nos encontre! – Ikuto abriu a porta de trás, e se apressou em colocar a bicicleta de Nagihiko no porta-malas.

— V-você tem carteira de motorista, Onii-san?

— Não é hora de pensar nisso! – ele mudou de assunto, ignorando a pergunta – Rápido, entrem no carro de uma vez!

Nagihiko conduziu Tadase até a porta de trás, e eles entraram no veículo, que muito provavelmente pertencia à mãe de Ikuto. Será que ela sabia sobre isso…? Era melhor nem saber… Poucos minutos da direção descuidada e potencialmente perigosa de Ikuto depois, finalmente conseguiram chegar vivos até o prédio onde Utau morava, que era perto da sua nova gravadora.

A cantora os levou para dentro, e então, trancou a porta. O apartamento não era muito grande, e tinha apenas um cômodo maior, que comportava a sala e a cozinha sem divisórias, com um corredor à esquerda que provavelmente levava aos quartos e banheiros. Havia um enorme pôster de Utau na parede logo em frente, álbuns dela decorando todos os lados, e muitos pacotes de comida pronta espalhados pela mesa. Ao lado da TV, um console de vídeo game antigo. E um cobertor ainda estava na poltrona. Utau respirou fundo, tomando a frente e sentando em um dos cantos do sofá maior, parecendo mais nervosa que os próprios garotos.

— Certo agora, vocês vão me contar tudo! – ela anunciou, colocando os dois sentados no seu sofá, enquanto preparava para eles alguns chocolates quentes e biscoitos.

Ikuto sentou na poltrona à frente, parecendo mais motivado a dormir do que a ouvir a história, e sendo assim, Nagihiko teve que contar tudo o que aconteceu, desde o dia em que sua mãe voltou de viagem de repente. Tadase apenas reforçava alguns pontos da história, mas parecia estar à beira das lágrimas cada vez que tentava falar, de modo que Nagihiko se absteve de detalhar os momentos mais intensos. Por fim, Utau assentiu, dizendo que já havia entendido. Ikuto dormira no meio da narração.

—… e agora… bem, nós não sabemos para onde ir… - Nagihiko baixou os olhos, abraçando com ainda mais força Tadase, que já estava aninhado no seu peito, quase adormecendo também. O menor estava verdadeiramente exausto, e do lado de fora, a madrugada já ia alta. Provavelmente amanheceria dentro de algumas horas.

— Acho que por enquanto, vocês podem dormir aqui… Amanhã é sábado, sabe, então não tem aulas, e a Yaya e as outras garotas vão querer vir aqui, assim que eu mandar uma mensagem dizendo que nós achamos vocês. Elas estavam muito preocupadas, vocês devem imaginar! Então, durmam bem… e nós vamos pensar em uma solução para tudo isso, está certo? Tem um quarto de hóspedes, no fim do corredor, vocês podem usar o banheiro de lá também.

— Obrigado, Utau-chan… - Nagihiko sorriu, sinceramente grato. Conseguiu erguer Tadase, que apenas murmurou alguma coisa, caindo de sono – Se não fosse por você, eu realmente não sei que nós faríamos. Muito obrigado!

— Deixe para agradecer quando todo esse problema estiver resolvido! – Utau desconversou, corando ligeiramente. – Vão dormir, vão… - Apontou para o corredor, fingindo estar ocupada recolhendo as xícaras sujas, quando na verdade, já estava com os olhos marejando, antes mesmo de Nagihiko sumir pelo corredor indicado. Todo o nervosismo que sentira durante aquelas horas em que procuraram por eles, agora escapava sem a sua permissão. – Eu espero que tudo acabe bem…


Nagihiko levou o loiro até o quarto, e o acomodou na cama, cobrindo-o cuidadosamente com o edredom. Sua mente estava tão cheia de coisas para pensar que ele não conseguia se concentrar em apenas um problema. Tudo o que precisava, era repor o sono perdido em tantos dias, tinha certeza disso, e então, conseguiria enxergar uma solução.

Só havia uma cama de casal no quarto, mas ele nem se tocou desse detalhe, e estava tão cansado que apenas deitou ao lado de Tadase. Sentiu quando ele se virou e aconchegou-se em seu peito. Depois de abraçá-lo, dormiu instantaneamente.


Não sabia dizer quantas horas se passaram desde que deitara para dormir, mas o sol já iluminava o quarto, quando os gritos estridentes e familiares de alguém ecoaram pelo espaço. Abriu os olhos, lentamente, e a primeira visão que teve foram os olhos enormes e especulativos de Yuiki Yaya, bem em cima do seu rosto. Ao seu lado, Tadase também despertava, esfregando os olhos com as costas da mão.

— Ah, nyaaan!!! A Yaya ficou tão preocupada com essa história toda, e vocês aqui dormindo juntos e fofos!!! – estridente, ela ergueu os braços, pulando pelo quarto – Sabia que os policiais foram revistar a casa da Yaya procurando por vocês??? Aaaaahh, não preocupem tanto assim a Yaya, seus bakas, a Yaya é só um bebê, não sabe lidar com policiais!!! – ela gritava, descontroladamente, causando uma imediata dor de cabeça em Nagihiko.

— Pare de falar alto Yaya, eles acabaram de acordar! – Amu ralhou com ela, de braços cruzados na entrada da porta. Parecia um tanto incomodada com o fato de Tadase e Nagihiko estarem dormindo na mesma cama, e por isso não olhava para eles.

— Hm… certo… - Nagihiko bocejou, e passou os dedos pelos fios embaraçados, despertando lentamente. – Que horas são?

— Nove e meia da manhã. – Amu respondeu, andando em frente junto com Yaya - A Utau acabou de fazer café, é melhor vocês virem logo...

Tadase se ergueu, espreguiçando-se como um filhote de cachorrinho. Os passos lentos, e depois de uma visita ao banheiro, os dois se apresentaram finalmente na cozinha. Um verdadeiro conselho de guerra estava montado no local, onde Utau servia o café da manhã. Yaya e Amu estavam reunidas com Kukai, Rima e Ikuto, e todos pareciam estar cientes da situação atual, e traziam expressões verdadeiramente apreensivas nos rostos. Tadase e Nagihiko não podiam deixar de se sentirem agradecidos por ter amigos tão dedicados em horas como esta.

— Vocês já estão sendo procurados pela polícia, sabiam? – Kukai informou, balançando um pedaço de pão no ar, com um tom de voz que ficava entre alarmado, e empolgado com os fatos. Lá no fundo, essa história emocionante de perseguição fazia ele se sentir em um filme – Eles passaram na casa de todos nós, perguntando sobre a última vez que vimos vocês. Claro que ninguém sabia de nada, naquela hora…

— E-então… podem acabar vindo aqui também? – Tadase assustou-se. Nagihiko, que nesse momento servia para ele o chá, sentiu-se regelar por dentro. As consequências do ato impulsivo dele haviam sido tão grandes a ponto de envolver a polícia? Agora não havia mais volta para eles…

— Ninguém sabe sobre esse lugar – Utau os tranquilizou – Na verdade, já passaram na minha casa e do Ikuto, que fica em outro bairro. Esse apartamento pertence à gravadora, não tem como encontrarem vocês aqui.

— Mas vocês já sabem o que fazer daqui para frente? – Rima foi direta como sempre, tomando um gole de chá logo em seguida.

— Bom, já que foram tão longe assim, deveriam seguir em frente logo de uma vez! – surpreendentemente, fora Amu quem falara – Vocês deveriam ir logo para algum lugar onde… onde possam… ficar juntos de verdade… P-por que, por mais que eu não tenha sido tão simpática com a ideia de vocês serem um casal, desde o início… não acho que seja certo as mães de vocês prenderem vocês em casa, nem nada disso! Ninguém pode controlar a vida de ninguém! E nem escolher quem se ama… e-então… - ela fungou, com os olhos vermelhos por segurar as lágrimas – Tudo o que eu quero é que vocês sejam felizes! – ela abraçou Nagihiko com força, soluçando e começando a chorar – V-você ainda é minha melhor amiga, sabe? Eu quero que seja feliz… você e o Hotori-kun…

— Obrigado, Amu-chan… - Nagihiko afagou os cabelos da garota, tentando acalmá-la – Eu vou fazer o possível… Eu fico tão feliz, por ter uma amiga como você! Mesmo depois de tudo, você ainda foi capaz de torcer por nós… eu também quero que você… vocês todos, minna-san, sejam muito felizes! Eu só tenho a agradecer, por todo o apoio que sempre nos deram! – Amu se afastou, enxugando as lágrimas, e Nagihiko se voltou para todos os presentes, emocionado. Tadase, sentado ao seu lado, segurou sua mão – Yaya-chan… mesmo quando eu não via nenhuma possibilidade de ser feliz com o Hotori-kun, você me encorajou… de um jeito torto, é verdade – ele riu melancolicamente, e Yaya mordeu os lábios, com as lágrimas já jorrando pelo seu rosto – mas você nunca desistiu de nos juntar, não é? Obrigado, e a você, Utau, também, por sempre ter planos incríveis e audaciosos, para que eu e o Hotori-kun enfim ficássemos juntos! Vocês foram tão teimosas… eu só posso dizer que vocês foram as fadas madrinhas que tornaram tudo possível!

— Awn, Nagi-kun… - Utau também já chorava, abraçada em Yaya.

— Rima-chan… você foi a primeira que disse diretamente para que eu me declarasse para o Hotori-kun, lembra? Eu nunca me esqueci disso… E você, Kukai, mesmo que não entendesse muito bem a minha situação, me encorajou, e as suas palavras de incentivo me motivaram, mesmo quando eu não sabia o que fazer com tudo aquilo! Ikuto, você… ahn… - Nagihiko se perdeu por um momento – Você realmente tinha… bons conselhos para dar… eu acho… e você é o onii-chan do Hotori-kun… Enfim! Eu tenho tanto a agradecer à todos vocês!

— N-nós dois temos! – Tadase se ergueu, ainda segurando a mão de Nagihiko – Nós não vamos desistir de ficarmos juntos, e com o incentivo de todos vocês, certamente conseguiremos ir em frente… Arigatou, minna! Eu não podia ter amigos mais maravilhosos que vocês! – Tadase se curvou longamente, e Nagihiko fez o mesmo.

— Chega de tanto choro!! – Utau se recuperou à força, e bateu palmas, fazendo todos saírem do estado de lágrimas e despedida – Nós precisamos arrumar um jeito de tirar vocês dois daqui! Sem falar que ainda temos que arranjar um lugar para vocês ficarem… ah, é muita coisa pra pensar…


Depois do café da manhã, Nagihiko e Tadase tomaram banho – um de cada vez, é claro, apesar dos protestos de Yaya, e depois de estarem renovados e limpos novamente, reuniram-se com todos na sala de estar. Surpreendentemente, Ikuto foi o primeiro a tomar a palavra.

— Vocês já saíram de casa, certo? E não pretendem voltar, pelo que eu percebi… mesmo sem lugar para ficar. Por isso, eu pensei em uma coisa… - ele estendeu um pequeno papel amassado, com um endereço escrito. – Na época em que eu trabalhava para a Easter, estava sempre tentando escapar. E muitas vezes, me escondi nesse hotel. Ele é bem pequeno, é verdade, um pouco sujo até, mas fica na divisa do distrito, e é um lugar longe o suficiente para que não procurem por vocês… Sem falar no preço, muito barato.

— Mas ainda tem muitos problemas nisso! – Amu se interpôs – Eles podem até conseguir chegar até lá, mas como vão se manter? Eles nem entraram no ginásio! Não tem como trabalhar nem nada assim… acho que esse plano de fugir não é tão brilhante assim no fim das contas… - ela se desanimou.

— Bem, a falta de renda é um problema sim… e provavelmente dois garotos dessa idade seriam facilmente notados, mas um problema mais urgente que esse é: como vamos tirar eles daqui? Quero dizer, com a polícia ainda procurando, andar na rua é pedir para ser pego…

— A Yaya já pensou nisso!! – Yaya ergueu os braços, animada demais para a situação. Erguendo no ar uma enorme sacola que havia trazido consigo, ela abriu seu conteúdo. Algum mar de babados, tule, fitas de cetim e tecido cor-de-rosa se derramou pelo tapete.

— O que é esse monte de coisa? – Kukai intrigou-se.

— Roupas! Nagi e Tadase podem se disfarçar, e não serão reconhecidos por ninguém! –ela bradou, exultante com seu plano perfeito.

— Yaya, não é hora para…

— Não, ela pode ter razão… - Ikuto interveio – Bem, estão procurando por dois garotos, afinal… Não desconfiariam se duas damas andassem por aí, pegassem um trem e fosse até um hotel, não é?

— Ah, e nós podemos ainda fazê-los parecerem mais velhas! Assim ninguém ia perceber mesmo… - Utau sugeriu.

— Mas isso não acaba com o fato de que eles são duas crianças que não vão conseguir sobreviver ao mundo lá fora – Rima comentou, acertadamente, e ninguém tinha argumento contra isso.

— Gente… - Tadase levantou um pouco a voz, e todos prestaram atenção nele. Durante toda a discussão, ele permanecera com a mão unida à de Nagihiko, e era assim que estava agora, segurando-o com força como se para garantir que ele não fosse evaporar do seu lado a qualquer instante. – Eu realmente aprecio todo o esforço em bolar um plano de fuga, mas… eu sinto, pessoalmente, que fugir não é a melhor solução… - ele olhou para Nagihiko, e seus olhos pareciam prestes a transbordar mais uma vez – Fujisaki-kun… se nós não os enfrentarmos agora… talvez nunca tenhamos a chance de ficarmos juntos de verdade… Eu estou disposto a abandonar tudo para ficar com você, sem hesitar. Mas não quero resolver esse problema apenas fugindo. Isso parece covardia para mim… e eu não vejo nenhum motivo para nos esconder. Nós não cometemos nenhum erro. Então, não temos nenhuma culpa, nenhuma vergonha, para encobrir.

— Tem razão, Hotori-kun – Nagi respirou fundo. Na verdade, ele também se sentia incomodado com a ideia de fuga desde o início, mas a vontade de estar perto de Tadase era tanta que ele só percebia a extensão dos seus atos agora. – Nós não devemos fugir dessa forma, como se quiséssemos nos esconder… Sim, nós temos que ir até lá e enfrentá-los, de forma direta.

— Sim!!! – Yaya cortou o momento emocionante, no qual Tadase e Nagihiko haviam esquecido a plateia, com um grito – É assim que a Realeza faz!!!

— Isso parece uma decisão mais madura… - Rima comentou distraidamente.

— A ideia do plano de fuga era mais emocionante… - Kukai resmungou consigo mesmo, pois já andava imaginando cenas de um filme de ação, com perseguições, tiroteios ao volante e disfarces incríveis.

— Nós vamos estar aqui para vocês, seja qual for a decisão que tomarem. – Utau assumiu, e Amu concordou veementemente com ela.

— Eu acho que ter uma conversa com seus pais é realmente a melhor forma… Talvez, eles acabem aceitando! – Amu concluiu, otimista – Quero dizer, se eu fui capaz de enxergar o quanto vocês dois se amam, eles também podem, afinal, são os seus pais!

— E vocês podem ficar aqui – Utau continuou, indicando o apartamento – até as coisas se acalmarem. E no caso dos seus pais não aceitarem tão bem, vocês sempre podem voltar para cá, também!

— Acho melhor ir amanhã, de qualquer forma… - Ikuto coçou a cabeça – Ia ser problemático aparecer assim de repente, depois de tudo. Talvez, ligar para o Tsukasa antes, Tadase, ele pode ajudar com isso…

— Ah, sim! Tsukasa-san com certeza poderá nos ajudar com isso! – Amu apoiou a ideia. Nagihiko não pode deixar de ficar feliz com o uso do plural na frase dela.

— Então está decidido! – Tadase sorriu para todos. Apertando a mão de Nagihiko, ele acenou com a cabeça. – Amanhã… nós vamos falar com nossos pais, diretamente!

Depois disso, Nagihiko ajudou Utau a fazer o almoço, e todos comeram juntos. Com uma decisão já tomada, o clima tenso se dissipou, e eles conseguiram até mesmo se divertir um pouco ali. Horas depois, Nagihiko e Tadase ainda precisavam descansar, depois de quase três dias sem dormir nem um pouco bem, e os outros voltaram para casa, dizendo que iriam retornar no dia seguinte, bem cedo, para apoiá-los naquele ponto decisivo. Utau deixou a chave com Nagihiko, e disse que precisava trabalhar, mas que voltava durante a noite com comida, e algumas notícias sobre o que estava acontecendo.

Assim que todos se retiraram, ainda barulhentos e agitados como sempre, Nagihiko e Tadase se deitaram de novo na cama do quarto de hóspedes, ambos exaustos. Agora, a casa parecia silenciosa e pacífica, sem os gritos de Yaya, as risadas de Kukai, os protestos de Amu, ou os comentários desnecessários de Rima. Mas ele não podia negar que adorava esse ambiente. Se de repente, acabasse mesmo fugindo com Tadase como pretendera, iria sentir uma falta imensa de tudo isso.

— Fujisaki-kun, está acordado? – Tadase se virou na cama, ficando com o rosto virado para Nagihiko. Ele enlaçou sua cintura, sorrindo um pouco, sem conseguir afastar o pensamento de que seria maravilhoso poder dormir e acordar todos os dias com Tadase assim tão perto.

— Está preocupado, meu amor… - Nagihiko notou a ruguinha de aflição se formando entre as sobrancelhas de Tadase, e passou o dedo pela região, deslizando logo depois pelo rosto do menor – O que está pensando?

Como vamos conversar com eles? – ele tremeu, encolhendo-se. Nagihiko o abraçou com mais força – Quero dizer, nós fugimos, eles devem estar furiosos! Pelo menos a minha mãe, eu sei que está… e a sua… eu não quero nem imaginar…

— Tem razão, as duas devem estar querendo nos matar. Mas talvez, a preocupação delas sirva para alguma coisa. Se elas perceberem o quanto nós somos importantes um para o outro, talvez, concordem que não é algo ruim ficarmos juntos, não é? – ele adicionou uma dose extra de otimismo no tom de voz, embora estivesse longe de acreditar totalmente naquelas palavras.

— Meu pai… acho que se eu falasse direitinho com ele… com ajuda do Tsukasa-san, certamente… ele entenderia… - Tadase sussurrou, permitindo-se ser um pouco esperançoso.

— O mesmo comigo. – Nagihiko fechou os olhos com força – Meu pai é muito mais compreensivo, e muito mais fácil de conversar. Se eu tivesse tido a chance de falar com ele durante esses dias, já teria o convencido de que o que sinto por você não é nenhuma brincadeira, nenhuma loucura adolescente ou seja lá o que for que minha mãe pensa…

— Agora é você quem está com ruguinhas… - Tadase segurou o rosto de Nagihiko com ambas as mãos, afagando-o levemente, e fazendo-o abrir os olhos surpreso. Roçou seus lábios ligeiramente com os dele, fechando os olhos dessa vez, e deixou-se ser abraçado fortemente pelos braços aconchegantes que tanto amava. – Não vamos mais pensar nisso. Eu não quero sonhar coisas ruins… - ele se afastou um pouco para fita-lo diretamente, e deitou a cabeça no travesseiro dele – Amanhã, vamos conversar com nossos pais, e tudo estará certo.

— Sim. E então, nós iremos nos formar finalmente… e em Abril estaremos indo para a nova escola. – Nagihiko sorriu, e acariciou os cabelos de Tadase, levando-os para trás, para sussurrar em seu ouvido – Você já pensou que talvez… quando as garotas forem se declarar para você, você poderá dizer que já tem namorado…

— Ah! – Tadase corou, mas não deixou de apreciar aquela perspectiva – E então, eu irei apontar para você, não é? Será que eu poderei contar para todos que é você o meu namorado? E-eu quero poder fazer isso…

— É… eu também quero. Principalmente, se isso for manter aquelas garotinhas escandalosas longe de você… - ele bufou, e Tadase riu, com a risada ecoando de maneira estranha. Depois de tantos dias sem rir em voz alta, aquele som parecia deslocado.

— Você fala como se não tivesse uma horda de garotas atrás de você…– Tadase revirou os olhos. – E de garotos também, eu suponho…

— Mas apenas você pode dizer, com toda a certeza, que eu pertenço só a Hotori-kun… - Nagihiko murmurou, e Tadase estremeceu nos seus braços. Ele sorriu, beijando-o levemente, e apreciando o toque cálido do corpo do menor – Ei… Hotori-kun…

— Hm?

— Não se esqueça, está bem? Da nossa promessa… - Nagihiko afastou-se, apenas para olhá-lo nos olhos – Se, por acaso, amanhã não der certo…

— D-do que está falando…? – Tadase repentinamente sentiu medo, e agarrou-se a Nagihiko com mais força. – É claro… que vai dar certo!

— Eu vou fazer o possível… e o impossível também, para manter a nossa promessa. Para sempre, eu nunca, nunca, irei deixar o seu lado. Nós vamos ficar juntos, haja o que houver. Não importa o que digam, ou o que façam… eu nunca vou deixar de te amar, Hotori Tadase. Nunca.

Dizendo isso, Nagihiko ergueu o rosto de Tadase, e selou seu compromisso com um beijo profundo, carregando todos os seus sentimentos naquele contato, e tentando de alguma forma estender aquele momento por tanto tempo quanto fosse possível. Precisavam provar a extensão do seu amor, e precisavam convencer as pessoas de que isso era real. Se apenas fosse tão fácil quanto era para eles mesmos aceitarem e acreditarem nisso…

Yubi kitta…– Tadase sussurrou, entre um beijo e outro, entrelaçando seu dedo mínimo ao de Nagihiko. Sentindo o calor e a presença um do outro, eles acabaram adormecendo rápido, ainda cansados pela sucessão de eventos que agitavam seus últimos dias.


Era noite, quando Nagihiko acordou. Sentia-se inteiramente desperto, e não sabia dizer quantas horas haviam se passado. Tadase ainda estava dormindo tranquilamente, ao seu lado. Depositando um singelo beijo na sua testa, Nagihiko levantou-se, indo para a cozinha buscar um pouco de água, e talvez alguma comida. Estava tudo escuro no caminho, e ele não fazia ideia de onde ficavam os interruptores de luz naquele lugar. Tateando a esmo, ele conseguiu atravessar o corredor de alguma forma. Chegou até a sala, onde a luz da lua, que ia alta pelo céu, iluminava um pouco melhor o ambiente.

Repentinamente, um ruído alto sobressaltou-o. Ele paralisou onde estava, com a mão a caminho de abrir a geladeira, quando viu o vulto pequeno de Tadase correr ao seu encontro. Ele choramingou, abraçando suas costas com força, escondendo o rosto.

— O que houve, Hotori-kun? – indagou, virando-se para abraça-lo de volta.

— E-eu tive um pesadelo. Foi horrível. – ele soluçou, tremendo sem parar. – E q-quando acordei, você não estava lá… - Nagihiko o afagou, tentando tranquiliza-lo.

— Calma, já passou, já passou… eu estou aqui, está bem? – ele sussurrou, calmamente, no ouvido de Tadase – Nada de ruim pode acontecer agora, enquanto estamos juntos.

Outra vez, o ruído alto de algo batendo ecoou no escuro. Tadase se encolheu ainda mais nos braços de Nagihiko, então obviamente não poderia ter sido ele o causador do barulho. Mais uma vez, ainda mais alto, e Nagihiko se alarmou. Colocou-se na frente de Tadase, protetoramente, no exato momento em que a porta se abriu com um estrondo.

A luz acendeu-se, e Nagihiko viu seu próprio pai, ao lado do pai de Tadase, acompanhado de mais dois oficiais da polícia. Os dois homens pareciam absolutamente aflitos, mas ao ver os dois garotos, soltaram exclamações de alívio ao mesmo tempo, correndo até eles.

Cada um correu até seu próprio filho, e segurando-os pelos braços, separaram-os de uma só vez. Em um ato instintivo, ao se ver longe de Tadase, Nagihiko se debateu. Tadase estendeu os braços na direção dele, chorando com ainda mais vontade do que antes.

Atsushi disse alguma coisa ao filho, enquanto o arrastava para longe da porta. As palavras ecoaram na mente do garoto, e ele sentiu-se como se estivesse saindo do próprio corpo por um instante. “Você não vai mais vê-lo. Aceite isso.”

Ele via a imagem de Tadase, do outro lado do cômodo, chorando dolorosamente enquanto estendia os braços na sua direção, como se pedisse por ajuda. Tentou estender a mão e alcançá-lo. Pegá-lo em seus braços e fugir dali, tão rápido quanto pudesse. Esperar até o dia seguinte? Conversar? Não havia mais tempo para isso! Ele tinha que pegar Tadase, e sair dali o mais depressa possível, para longe, para onde ninguém nunca mais os encontrasse.

Mas enquanto pensava em tudo isso, seu pai o carregava para longe, sem dizer mais nenhuma palavra, nem dar ouvidos aos seus protestos. Os policiais falavam alguma coisa também, mas ele não conseguia distinguir. O mundo estava silencioso para ele. E em sua visão, só havia o rosto de Tadase, marcado pelas lágrimas. Pedindo por ajuda. Chamando por ele. E ele era alguém impotente, que não podia fazer nada.

Aquela imagem ficou gravada na sua retina, por muitos anos. Ele jamais esqueceria a expressão no rosto de Tadase, de puro medo, de desespero, ao vê-lo sendo levado para longe de si.

Isso por que… aquela foi o momento em que Hotori Tadase e Fujisaki Nagihiko viram um ao outro pela última vez.









~

Itsu no hika kana erareru

Um dia, se tornará realidade

Ai wa kimi no soba ni aru

O amor estará ao seu lado

Kitto kanarazu mata de aeru

Com certeza, vamos nos encontrar novamente

Haruka hanarete itte mo

Mesmo que estivermos distantes







Owari desu.
















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Notas finais do capítulo

Konbawa, minna-san. Shiroyuki desu.
Sim, este é o final. Dói dizer, e eu estou absolutamente deprimida com isso... nem sei o que dizer. Relendo o capítulo para revisar e postar, eu senti isso tão profundamente, quase chorei mais uma vez... depois de tanto tempo, a gente se apega tanto aos personagens que chega a sentir as emoções deles até mesmo.

Bem, essa história de amor trágico chegou ao final... um final triste, revoltante, e nada satisfatório, eu sei. Mas só por que é o capítulo final, não significa que o THE END seja definitivo. Então aguardem notícias...

O capítulo 70 será um spin-off, para aliviar a tensão, e então vocês descobrirão mais sobre os nossos projetos... apenas aguardem, e confiem...

Espero pelas suas opiniões sinceras sobre esse capítulo, estou ansiosa pra saber o que cada uma de vocês está pensando... e quero agradecer imensamente a cada uma, pelo apoio, pela paciência... são muitos capítulos, eu sei que vocês precisam de muuuuita coragem para enfrentar isso!
Quero agradecer a quem está aqui desde o início, a quem chegou depois, com muita vontade, e alcançou os capítulos... a quem sempre deixa reviews lindos, que nos emocionam, e a quem nunca deixou review, mas acompanha sempre... a quem elogia, e a quem critica... Todas vocês são leitoras muito especiais para a gente, e isso aqui não teria ido tão longe sem vocês! Um grande, enorme e colorido, feito de marshmallow e coberto por chocolate, "MUITO OBRIGADA!" a todas vocês, minna-san! ♥



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