Yakusoku escrita por teffy-chan, Shiroyuki


Capítulo 68
Capítulo 68 - Stand by me


Notas iniciais do capítulo

Stand by me - Tsuchiya Anna

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O céu estava brilhando naquela tarde, com nuvens branquinhas e fofas correndo rapidamente pelo fundo azul, escondendo o sol de vez em quando. O jardim da mansão Fujisaki continuava tão belo como sempre, e com a recente chegada da primavera, parecia ainda mais vivo e suntuoso. As flores desabrochavam preguiçosamente, despontando nos canteiros, e as carpas dançavam tranquilamente na água do lago, que ficava exatamente na frente do quarto de Nagihiko. Ele suspirou, fechando os olhos e escorando a cabeça nos braços, no peitoril da janela. Aquele era o único vislumbre que ele teve do lado de fora, durante os três dias que se passaram.

Da maneira mais repentina e desastrosa, os pais de ambos, Tadase e Nagihiko, haviam descoberto tudo sobre o namoro deles. Ele ainda não conseguia digerir aquela informação da forma devida. Toda aquela confusão, os gritos, as palavras de desprezo, as lágrimas… nada daquilo parecia ter acontecido para o garoto. A qualquer momento, ele iria acordar daquele sonho ruim, e então veria o sorriso de Tadase, e o mundo voltaria a fazer sentido. Era nisso que ele gostaria de acreditar…

Durante aqueles dias, Nagihiko havia sido proibido de colocar os pés para fora do seu quarto. Era vigiado constantemente, e se sequer ousasse chegar perto do telefone, não conseguia nem imaginar o que fariam com ele. Estava impedido de contatar qualquer um dos seus amigos, de qualquer maneira possível. Também não ia mais à aula, e como era a última semana até a formatura, sua mãe não via por que motivo deveria mandá-lo ir de qualquer forma. Provavelmente, ele também não iria à sua formatura, inclusive.

Os únicos momentos em que era permitido sair do quarto era para ir ao banheiro, ou para as refeições, ocasiões nas quais sua mãe fazia questão de deixar bem claro que ignorava a sua presença. Não que ele estivesse tentando se impor, mas ela não dirigia nem mesmo um olhar na sua direção, e era como se estivesse invisível. Seu pai havia feito algumas tentativas, falhas, de estabelecer diálogo, mas foi tão malsucedido que desistiu na primeira oportunidade.

O assunto “Tadase” havia sido banido de vez, e ninguém ousava citar esse tópico, nem mesmo para discutir. Era como se nada tivesse acontecido, e Kaoruko estava decidida a deixar esse assunto de lado por tanto tempo quanto pudesse, esperando que talvez tudo evaporasse, ou se resolvesse sozinho. E isso incluía fingir que Nagihiko não existia.

O garoto não aguentava ficar mais de 10 minutos nesse ambiente sufocante. Pior do que os gritos ou as acusações da sua mãe era aquele desprezo palpável, aquela decepção evidente que transbordava dos olhos dela cada vez que por acaso ousava fitá-lo. Ele sabia muito bem qual eram os planos dela. Mandá-lo de volta para a Europa, certamente, deixá-lo tão longe de Tadase quanto fosse possível, para que não voltasse a procurá-lo nunca mais. Isso só causava dor à Nagihiko, pois ele sabia o quanto essa decisão acabaria com as suas chances de colocar tudo novamente em ordem.

Desistindo de olhar para a paisagem do lado de fora, Nagihiko deslizou até o canto da sua cama, sentando no chão mesmo, e abraçou os joelhos. Seu peito doía tanto que ele nem reparava mais. Não tinha forças para se levantar, sua cabeça pesava de forma que parecia prestes a explodir, e ele não conseguia arrumar vontade para levantar dali. Se respirar não fosse algo automático, ele também teria desistido disso.

Seus charas não haviam saído do ovo naquela manhã. Não que ele estivesse com muito ânimo para conversar, mas era um pouco reconfortador ouvir as vozinhas de Rhythm e Temari tentando dar energia a ele. Isso quem sabe se devesse ao fato de seu coração estar tão deprimido… de alguma forma, talvez isso os deixasse mais fracos. Nagihiko não queria que seus kokoro no tamago se transformassem em batsu-tamas! Não agora, que Temari finalmente voltara para o seu lado! Ela havia passado tanto tempo presa, na época que Nagihiko não podia dizer seus sentimentos… e agora, quando havia perdido Tadase mais uma vez, ela corria o risco de sumir de novo! Isso só provava algo que Nagihiko já sabia… Que sua felicidade dependia diretamente de Hotori Tadase, e de ninguém mais. Apenas com ele ao seu lado, ele podia ser completo. Se ao menos houvesse uma maneira de explicar isso para todo mundo…

Nagihiko também se perguntava se ninguém da escola viria até sua casa, depois de três dias sumido. No início desse período, ele imaginava que Yaya fosse aparecer a qualquer momento, gritando, fazendo escândalo, e discursando sobre o que ela via de belo no amor deles dois. Ela era ótima nisso! Talvez, junto com Utau, ou Rima... até mesmo Amu! Mas então, lembrou que Tadase provavelmente não estaria aparecendo também, e com sua mente fantasticamente fértil, Yaya certamente pensaria que os dois estariam juntos, fazendo qualquer coisa que ela imaginasse que eles faziam quando sozinhos, e acabaria convencendo as outras disso. Sim, ela chegaria a essa conclusão, ele pensou, e sentiu um espasmo estranho na garganta, como se tivesse vontade de rir diante desse pensamento, mas nenhum som saiu.

Porém, depois de três dias, Nagihiko não conseguia ter nenhum pensamento minimamente engraçado como esse. Tudo o que ele conseguia pensar era em como Tadase estava, o que ele estava fazendo, como a mãe dele reagira ao descobrir… Ele ouvira sua mãe ao telefone, falando com Mizue. As palavras que ela usou, com o seu tom de voz coberto por nojo e vergonha, faziam apertar o coração de Nagihiko. Desejava nunca ter nascido, para não ter que ouvir sua própria mãe falando daquela maneira sobre ele, e sobre seus sentimentos.

Ele queria dizer que ela estava errada em seu julgamento. Que ele amava Tadase mais do que tudo, que não era apenas uma brincadeira, uma fase imatura… havia simulado conversas com ela, em sua mente, incontáveis vezes. Formulou um milhão de argumentos coerentes, pensou em muitas razões e exemplos… ensaiou as exatas palavras que precisava dizer para convencê-la de que o amor que nutria por Tadase era genuíno e verdadeiro. Mas essas palavras não conseguiram deixar seus lábios, nenhuma vez. Por que ele sabia exatamente qual seria a resposta dela para cada argumento seu, e estava derrotado antes mesmo de começar a discussão.

Mais do que nunca, ele se sentia sozinho. Inconsolável. Era irônico. Quando mais precisava do sorriso de Tadase para iluminá-lo, e para lhe dar coragem, era o único momento em que não podia obter isso. Colocando a mão sobre o peito, ele sentiu a medalhinha que ganhou de Tadase pesar. Abriu-a, encolhido, temendo que sua mãe tirasse dele seu último tesouro, afinal ela já havia confiscado todas as fotos e pertences de Tadase que estavam em seu quarto, e restara apenas a medalha, que estava bem escondida debaixo das suas roupas. Ele olhou para a imagem sorridente de Tadase, na sua versão infantil, e na mais recente. Ele não havia mudado nada, desde aquele tempo… seu sorriso, o brilho dos seus olhos, a forma como ele inclinava a cabeça para o lado quando estava tímido, e como segurava a manga da camisa de Nagihiko para mantê-lo ao seu lado… tudo continuava exatamente igual a quando eles eram crianças. Se ao menos pudesse ser tão simples quanto era naquela época.

Por que tudo isso tinha que acontecer logo agora, quando ele estava mais feliz, quando tudo parecia estar dando certo… Era algum tipo de castigo divino ou qualquer coisa assim, por ele ter se apaixonado por outro garoto? Se fosse isso, deveria ter alguma forma de direcionar a punição apenas para ele, e deixar Tadase fora disso. Ele aguentaria qualquer coisa, se pudesse mantê-lo longe de todo esse sofrimento. Tadase era a pessoa mais altruísta, generosa e gentil que Nagihiko conhecia… e o último que deveria passar por algo desse tipo.

Nagihiko fechou os olhos, segurando forte o pingente de metal, que estava quente de tanto ficar apertado nas mãos dele. As lágrimas, suas companheiras inseparáveis nos últimos dias, voltaram a rolar livremente pelo seu rosto pálido. Quando cerrava os olhos daquela forma, podia lembrar com precisão dolorosa da exata sensação de ter o corpo diminuto de Tadase bem perto do seu, de ter o calor dele espalhando-se pela sua pele, dos lábios doces dele tocando os seus… podia enxergar o exato tom de dourado que os cabelos dele tinham quando refletiam o por do sol… a cor vermelha, que o rosto dele sempre ficava quando Nagihiko fazia alguma coisa para perturbá-lo. Da voz dele, tão gentil e calorosa, falando em seu ouvido… “Eu te amo, Fujisaki-kun, muito, muito mesmo…”.

Essas palavras, que traziam tanta alegria à Nagihiko, agora faziam seu coração comprimir-se em uma dor pungente. Se ele tivesse nascido como Nadeshiko de verdade, nada disso estaria acontecendo? Se ele apenas fosse uma pessoa diferente… será que ele não causaria tanta dor à pessoa que amava? Ele sabia que Tadase estava sofrendo tanto quanto ele… talvez até mais. Tadase era tão sensível, tão delicado… Nagihiko sabia que não suportaria receber o mesmo tipo de tratamento que ele estava ganhando de sua mãe.

Pensar dessa forma só fazia Nagihiko ter mais vontade de ver ele, nesse exato momento. Nagihiko desejava poder estar lá, para protegê-lo. Nem que fosse somente para enxugar suas lágrimas, ele queria poder abraça-lo bem forte, dizer que tudo acabaria bem. Segurar sua mão e nunca, nunca mais soltá-la…

— Eu sinto tanto a sua falta… Eu quero te ver agora… - ele sussurrou para o vazio. Um passarinho cantou do lado de fora, perto da sua janela, uma melodia triste e lenta. Talvez estivesse apenas refletindo o estado de espírito do garoto. Apoiando a cabeça no colchão, Nagihiko encolheu-se ao máximo. Queria poder encolher, até sumir, se isso fizesse parar de doer o seu coração. – Eu te amo Hotori… Tadase… - o nome escapou dos seus lábios, quase como um gemido de dor, ou uma prece. Tudo o que queria era poder escapar desse tormento, e tomar Tadase em seus braços. Escapar de todos, levando-o consigo… Escapar para longe… Fugir, fugir para longe… fugir… Fugir?! – É isso! – Nagihiko ergueu-se de repente, secando as lágrimas que desciam até seu queixo com as costas da mão. O sangue voltou a correr por todo o seu corpo, fazendo disparar seu coração com a esperança recém-acesa em seu coração, e a perspectiva de uma solução para sua aflição – Rhythm!! Temari!! – ele não se importou com o volume de sua voz, agarrando os dois ovos de uma só vez, movido unicamente pelo impulso – Acordem! Eu preciso de vocês agora!

~

No escuro do seu silencioso quarto, Tadase se comprimiu ainda mais na sua cama, parecendo uma bolinha enrolada nos cobertores e lençóis daquela forma. Ao seu lado, Kiseki dormia dentro do seu ovo. Ele não havia o deixado nem mesmo um minuto desacompanhado nesses últimos três dias, embora estivesse realmente exausto com tudo o que acontecia. Tadase estava muito grato por tê-lo por perto, ou do contrário, não aguentaria ter que passar por tudo aquilo sozinho.

A bandeja com comida que seu tio trouxera continuava intocada na mesa de escrivaninha, e provavelmente era assim que permaneceria até o fim da noite. Tadase não sentia necessidade nenhuma de se alimentar, e mesmo quando Tsukasa insistia e o forçava a comer, ele sentia como se fosse colocar tudo para fora no mesmo instante. Não conseguia calcular quando tempo fazia desde a última refeição, pois não deixava o quarto em quase momento nenhum, e com as janelas permanentemente fechadas, não sabia nem mesmo se já havia anoitecido ou não.

Um estampido de algo se quebrando sobressaltou o loiro, mas ele não se moveu da posição em que se encontrava. Mais uma vez, como andava acontecendo com muita frequência ultimamente, ouviu os gritos que vinham do andar de baixo, e encolheu-se, fechando os olhos com força, como se com isso pudesse sair daquele lugar de alguma forma.

— … eu disse, Nee-chan, deixe que eu termino de lavar a louça para você. Não está em condições de fazer qualquer coisa que seja, e vai acabar destruindo toda a cozinha nesse ritmo… - a voz pausada e calma de Tsukasa vinha quase como um sussurro até ali, mas Tadase ainda era capaz de ouvir.

— Cala a boca, Tsukasa! Você não sabe de nada! Eu já disse para parar de se meter nas minhas coisas! – os gritos de Mizue feriam os ouvidos do loiro, que mordeu os lábios, e cobriu a cabeça com o cobertor, numa tentativa de se isolar – É tudo culpa sua! Você não devia estar aqui!!! Ficou influenciando o garoto, dizendo que ele podia fazer o que quisesse… Sempre o mimou, e deu tudo o que ele te pedia!! E foi você que colocou aquele degenerado como colega dele, eu sei disso!!! Foi você que apresentou aquele moleque Fujisaki para o meu filho!!! É TUDO CULPA SUA, TSUKASA!!! – outro barulho de algo de vidro quebrando, dessa vez mais alto, e Tadase tinha certeza que o alvo havia sido seu tio.

— Calma, Mizue! – o pai de Tadase interviu – Não é culpa de ninguém, o que está acontecendo, você sabe disso. São… fatalidades… Não há com evitarmos esse tipo de coisa.

— Você também, Yui! – ela acusou, completamente descontrolada – Se tivesse passado mais tempo com menino, fazendo coisas de homem, isso não teria acontecido! Por que nunca levou ele num jogo de baseball?! Por que não comprou revistas indecentes para ele??? E ao invés disso, ele ficava brincando de rei, e tomando chá naquele lugar cheio de flores, com esse imbecil depravado do meu irmão!!!! É por isso que acabou desse jeito!!!

— Mizue! Mantenha a calma, por favor – Yui retorquiu, com a voz falhando – Ninguém tem culpa nisso… Apenas, temos que conversar com o Tadase, e orientá-lo. Esse é o nosso papel como pais. Juntos, nós podemos resolver esse problema dele, encontrar uma solução… e fazê-lo voltar ao normal, certo?

Tadase não queria saber de mais nada. “O problema dele?” “Fazer voltar ao normal…?”. Ouvir aquilo doía. Tapou os ouvidos com força, e abraçou o seu travesseiro, sem conseguir conter as lágrimas que voltaram a cair com intensidade, escorrendo pelo seu rosto e molhando a fronha. Então era assim que seus pais o viam agora? Tadase era uma anormalidade, alguém que necessitava de ajuda, de tratamento? Ele tinha alguma doença?

Não!! Isso estava errado! O amor que Tadase sentia por Nagihiko não era uma aberração na natureza, um tumor a ser retirado. Tadase nunca prejudicou ninguém! Nunca fez nada de errado! Tudo o que ele queria era ficar ao lado de Nagihiko, passar sua vida junto com ele, amando-o e protegendo-o… não era diferente do amor que ele podia por acaso sentir por alguma garota! Se ao menos houvesse alguma forma de explicar isso claramente para as pessoas…

Mais do que nunca, Tadase desejava fortemente a presença tranquilizante de Nagihiko, para acalmá-lo, e para dizer a ele palavras gentis e de conforto. Não precisava de muito, apenas as mãos cálidas do seu amado, acariciando de leve os seus cabelos, como ele fazia sempre que Tadase estava preocupado com algo. O sorriso compreensivo que ele reservava somente para aqueles momentos, os seus braços protetores, o porto-seguro de Tadase, onde ele nunca sentia medo… Com a lembrança desse ato, que surgiu com nitidez em sua mente, Tadase soluçou, deixando que mais uma enxurrada de lágrimas descesse, infindamente.

Ele não queria, de maneira alguma, continuar separado de Nagihiko. Aquilo era a maior das torturas! Ele não precisava da aprovação de ninguém, e enfrentaria com a cabeça erguida todos os comentários maldosos, os olhares tortos, tudo o que quisessem jogar nele, se pudesse estar perto de Nagihiko nesse momento. Estar distante dele era mais do que ele podia aguentar. A falta que Nagihiko fazia causava dor física, como se alguém enfiasse a mão em seu peito e arrancasse seu coração brutalmente a cada segundo. Até respirar se tornou um ato doloroso.

Ele nunca mais veria Nagihiko? Considerando que sua mãe não o deixara colocar o nariz para fora do quarto nesse período, era óbvio que encontrar-se com Nagihiko, em qualquer lugar que fosse, era mais do que impossível. Mas… como ele sobreviveria a isso? Não, ele não ia suportar. Sua vida estava acabada, se ele não conseguisse nunca mais ver Nagihiko novamente. Parecia um pouco exagerado, se visto de outro ângulo, mas… qual seria o sentido da sua vida, para que ele ia querer acordar todos os dias, se o motivo pela qual o seu coração batia não estivesse o esperando, como sempre? O seu mundo perderia todas as suas cores, toda a sua importância, e a sua razão de existir, se Nagihiko não permanecesse nele.

Desde quando havia se tornado tão dependente dele, Tadase não sabia dizer. No entanto, Nagihiko sempre fora uma existência tão real e presente em sua vida, que ele não conseguia mensurar como seria existir privado dessa certeza. Mesmo o período em que ele passou na Europa, antes mesmo de ter noção de todos esses sentimentos em seu coração, o Rei sofreu por ver seu amigo longe. Eles trocavam e-mails com frequência, e Tadase sabia onde ele estava, mas… não era a mesma coisa, nunca fora. Aquele Royal Garden, a escola, toda a sua vida… parecia um pouco mais vazia sem Fujisaki ao seu redor. E agora, que Nagihiko era o personagem principal de todo o seu mundo, a pessoa que ele amava mais do que tudo… simplesmente, era insuportável a ideia de não tê-lo ao alcance das suas mãos. Privá-lo disso era o mesmo que arrancar dele um dos seus braços, uma das suas pernas. Era o mesmo que arrancar dele o seu coração. Tadase não sobreviveria a isso, era um fato.

Um ruído ritmado e fraco ecoou no quarto. Sua mãe havia quebrado outra coisa no andar de baixo? Não… o barulho vinha de dentro do quarto. Vinha da janela. Com o coração martelando, dolorosamente alto em seu ouvido, Tadase ergueu-se da cama. A sensação de já ter presenciado algo parecido o fez pular para o chão, e o movimento rápido o deixou com tonturas. Talvez a falta de alimento em seu corpo também fosse parte do motivo pelo qual ele se sentia tão fraco e zonzo. No entanto, mesmo assim, ele andou até sua janela. Lembrava-se quando, em outra ocasião, Nagihiko havia aparecido ali, pronto para levá-lo para longe, para um lugar seguro onde podiam ficar juntos sem ninguém que dissesse que isso era errado.

A esperança se fez presente, e desejando ardentemente estar certo, Tadase abriu a janela. Seus olhos vacilaram, quando ele procurou no escuro pela figura familiar. E lá estava. Iluminado pela luz da lua, com os cabelos amarrados em um rabo de cavalo frouxo flutuando com o vento. De joelhos sobre as telhas da varanda, ele encarava Tadase. Seus olhos estavam sérios, mas possuía um fulgor fraco, alegria por poder finalmente saciar a vontade do seu coração e ver novamente o seu amado.

Tadase soltou um gemido abafado, que ficava entre o soluço e a dor, e sem pensar duas vezes, jogou os braços na direção de Nagihiko, que não se demorou em corresponder, jogando-se para o loiro e o agarrando com força, com apenas o parapeito da janela como obstáculo entre eles. A sensação de ter o calor dos braços um do outro novamente era indescritível. Não conseguiam dizer nada, e apenas choravam mais uma vez, entendendo a dor um do outro, e apreciando o tão ansiado reencontro, que parecia não ser real, depois de tudo.

Por alguns minutos, não precisaram de mais nada. Nagihiko pulou para dentro do quarto, silenciosamente, e reclamou os lábios de Tadase para si com urgência. Aprofundou o beijo desesperadamente, como se pudesse apenas com isso confirmar a sua união com Tadase, e matar aquela saudade que ainda rasgava seu peito. O menor jogou os braços ao redor do pescoço dele, ficando na ponta dos pés para estreitar a distância e manter seus corpos tão próximos quanto fosse possível. Depois de algum tempo assim, Nagihiko finalmente o soltou, ofegante, e abraçou Tadase mais uma vez, apoiando o rosto nos cabelos dele, afagando-os vagarosamente.

— Eu te amo, Hotori-kun. Eu te amo, eu te amo, eu te amo, mais do que tudo. Eu queria tanto dizer isso, tanto… você sabe, não sabe? Eu jamais te abandonaria… eu não queria te deixar sozinho agora, não queria… - ele sussurrou, apertando Tadase em seus braços.

— E-eu sei, eu sei… Fujisaki-kun, eu também. Eu também amo, sou completamente apaixonado por você… e nada, nem ninguém, vão conseguir mudar isso. – Tadase soluçou, agarrando-se à Nagihiko como se sua vida dependesse disso. Seus braços delicados tremiam, e suas pernas já não conseguiam mais sustentá-lo.

— Você parece estar tão fraco… - Nagihiko murmurou, preocupado, passando os dedos lentamente pela pele fria do menor, que estavam marcadas pelas lágrimas, e por espessas olheiras abaixo dos olhos vermelhos. Tadase parecia mais frágil e vulnerável do que nunca. Seu rosto pálido era quase doentio, naquela meia-luz azulada da noite. Ele sabia que não devia estar em melhor condição, também, mas tudo o que conseguia se preocupar era com o estado de Tadase nesse instante.

— Eu vou ficar bem, agora que você está aqui… - gemeu Tadase, com a voz fraca. Nagihiko sentou-se com ele sobre a cama, e continuou a acariciá-lo gentilmente. – Senti tanto a sua falta… nunca mais, não quero ter que ficar separado de você nunca mais! – ele abraçou Nagihiko com toda a força que possuía, enterrando o rosto no peito dele, sentindo seu cheiro e as batidas do seu coração ecoando em seu ouvido. Era disso que precisava, era tudo o que queria.

— Nós vamos dar um jeito nisso, Hotori-kun. Eu não vou deixar que nos separem dessa fora… - ele bradou, com mais confiança do que sentia realmente, e passando as mãos pelas costas de Tadase, murmurou preocupado – Você não anda se alimentando, não é? Eu posso sentir o quanto está fraco… - ele afastou ligeiramente o corpo do loiro, e pegou a bandeja de comida que estava logo ao lado, apoiando-a em seu colo – Aqui, é melhor você comer, Hotori-kun. Não quero que, depois de tudo isso, você acabe doente… - ele pegou uma colher de sopa, e colocou na boca de Tadase, sem nem esperar pela resposta dele.

— Hm… n-não precisa fazer isso, Fujisaki-kun… - outra colherada, entre uma frase e outra. Estava fria, mas ainda boa. – E-eu não…

— Não. Eu tenho que me certificar de que você está comendo tudo. Aposto como anda pulando as refeições e tudo mais, eu sei que você faz esse tipo de coisa quando está triste… mas, por favor, Hotori-kun, não se descuide dessa forma… - Nagihiko passou os dedos na mão de Tadase, carinhosamente, enquanto com a outra mão, colocava mais comida na boca dele – Você é o meu bem mais precioso… não consigo ficar tranquilo pensando que você está deitado nessa cama, passando fome, e sofrendo dessa forma… Então, cuide de você mesmo, está certo? Por mim…

— Está bem, Fujisaki-kun… - Tadase assentiu, aceitando outra colherada de sopa – Mas… e-eu posso… - ele tentou segurar a colher, e dizer que podia comer sozinho então.

— Não… - Nagihiko afastou a colher, e serviu mais uma vez, deixando a boca do menor cheia – Deixe-me cuidar de você, Hotori… - Ele pegou o guardanapo, e limpou o canto dos lábios de Tadase, delicadamente. Seus olhos brilhavam, com um sorriso calmo, de puro afeto e devoção. Tadase sorriu de volta, deixando que Nagihiko terminasse de dar a ele toda a tigela de sopa, sentindo toda aquela afeição transbordar do maior, e alcançar o seu coração. Tudo o que ele queria em sua vida era poder sentir isso, todos os dias… e retribuir, nem que fosse apenas uma fração, tudo aquilo que Nagihiko sempre oferecia a ele. Por que isso era tratado como um erro, um defeito, pelas outras pessoas?

  — Como você chegou até aqui? – assim que terminou de comer, e colocou a bandeja de lado, Tadase indagou curioso, sentando-se tão perto de Nagihiko quanto podia, e abraçando-o sem cerimônia. Depois de tanto tempo separados, ficar sem contato com ele era uma provação sem tamanho.

— Eu consegui escapar de casa, de alguma forma. Minha mãe também não está me deixando sair… então, eu coloquei um travesseiro na cama e com a ajuda do Rhythm, escapei sem ser notado. – ele contou, enquanto trazia o edredon do pé da cama para cobrir o corpo de Tadase – Ela só vai reparar que eu saí amanhã de manhã, provavelmente, por que ninguém vai ao meu quarto… Agora, Rhythm está com a Temari, eles estão vigiando os seus pais, caso eles resolvam subir… Foi muito arriscado ter vindo aqui, eu sei, mas… eu precisava ver você de novo, Hotori-kun. E… eu pensei em outra coisa, algo que nós podemos fazer, juntos…

— O que? – ele ergueu os olhos, vendo o rosto sério de Nagihiko. Pelo seu tom de voz, era claro que ele aceitaria qualquer coisa que o maior propusesse, sem pestanejar.

— Vamos fugir.

— Ahn? – Tadase hesitou, tremendo por inteiro. Seu coração acelerou novamente, enquanto ele compreendia o sentido daquelas palavras – Você está dizendo… fugir daqui? Agora? Ir embora… p-para sempre?

— Isso é só uma ideia… - ele baixou o olhar, repentinamente inseguro – Eu pensei que, já que nossas mães parecem irredutíveis em querer nos separar, se nós demonstrássemos com uma ação efetiva, o quão longe estamos dispostos a ir pelo nosso amor… talvez… b-bem, e mesmo que isso não dê certo, nós vamos estar longe do alcance delas, em algum lugar onde não possam nos separar… E-eu sei que parece meio extremista, talvez exagerado, mas… eu só… não quero ter que me afastar de você, Hotori-kun… - abraçando Tadase novamente, as lágrimas que ele tanto lutou para segurar enfim derramaram-se. O menor o abraçou de volta, trêmulo e vacilante.

— Eu vou a qualquer lugar com você, Fujisaki-kun… - ele se ergueu nos joelhos, envolvendo o corpo do maior com seus braços diminutos, e apoiando o rosto no topo da cabeça dele. Deixou que Nagihiko chorasse em seu peito, enquanto ele mesmo não podia segurar as próprias lágrimas, que caiam sem que ele nem mesmo reparasse mais nelas – Eu te amo… E eu estou disposto a gritar isso para todo mundo ouvir, até que finalmente entendam que eu não posso deixa-lo ir para qualquer lugar longe de mim. Eu não vou deixar… - a voz dele falhou, em um soluço. Nagihiko ergueu a cabeça, segurando com as mãos a cintura de Tadase, e inclinou o rosto até encaixar os lábios com os dele. Sentiu o gosto salgado das suas lágrimas, sendo levadas pelo beijo apaixonado que eles trocavam. Lentamente, prolongaram aquele contato por tanto tempo quanto fosse possível, pois a insegurança de não saber até quando estariam juntos os deixavam sensíveis um ao outro. Enfim, Tadase separou-se infimamente, tentando puxar um pouco de ar. – Então… c-como vamos fazer? – ele balbuciou sem jeito, sem que Nagihiko permitisse que afastasse seus lábios dos dele.

— Eu trouxe algumas coisas de casa. – Nagihiko sentou na cama, e apontou para a mochila que estava debaixo da janela. Tadase, com toda a emoção de rever o namorado, não havia reparado nela antes – O dinheiro que ganhei trabalhando com a minha mãe antes, e alguma comida também… E-eu não sei bem para onde nós deveríamos ir, mas…

— Está tudo bem – Tadase se ergueu do colo de Nagihiko, e correu para o armário. Pegou uma mochila grande também, e começou a colocar algumas roupas. Pegou todo o dinheiro que tinha guardado no seu cofre, e mais alguns objetos pessoais. Kiseki continuava dormindo em seu ovo, por isso Tadase colocou-o no bolso sem acordá-lo, pois sabia que um longo discurso sobre a dignidade e a coragem de um Rei poderia atrapalhá-los. Por fim, pegou o cachorrinho de pelúcia, idêntico à Hotosaki, e fitou-o com carinho – Já que eu não posso levar o Hotosaki, então, pelo menos…

— Sim, tem razão… - Nagihiko baixou os olhos. Pela primeira vez, aquela ideia repentina demonstrava todo o peso da sua decisão. Deixar tudo para trás, para poder viver seu amor com Tadase. Teria realmente sido a melhor escolha?

— Fujisaki-kun… Nós não temos para onde ir, e nem como chegar a qualquer lugar muito longe… mesmo com a sua bicicleta – adicionou, adivinhando a maneira com que Nagi teria chegado até ali.  – Por isso, eu acho que não conseguiremos fazer nada sozinhos…

— Você está certo, Hotori-kun… - Nagihiko suspirou, e soltou um pequeno sorriso – Nós precisamos de reforços…

-

Mizue continuava andando de um lado para o outro no quarto, roendo as unhas nervosamente. Tsukasa havia sumido, e seu marido estava assistindo ao jornal na sala. Os dois evitavam tocar no assunto anterior, talvez desejando que Mizue se acalmasse e esquecesse isso por um tempo. Será que nenhum deles se importava com o que estava acontecendo ali? Era um desastre!!!

Mesmo a sua mãe, avó de Tadase, havia se abdicado de qualquer opinião, e recusava-se a sair do quarto, ou a dizer qualquer coisa sobre o que acontecera, ainda depois de ter descoberto. Todos naquela casa estavam completamente loucos, se queriam agir como se nada estivesse ocorrendo! Será que não percebiam que a Tadase havia sido completamente manipulado, coagido a agir daquela forma grotesca e errada, e agora, precisava de ajuda?

Tudo bem que ela havia se alterado um pouco, agido por impulso e acabou fazendo um grande escândalo, e até agindo de maneira violenta… Mas ela não podia descontar tudo em Tadase, certo? Ele não tinha culpa… Seu pequeno e amado filho, nunca pensaria em uma coisa como aquela por sua própria vontade! E também Yui, ele era um ótimo pai, ela não podia jogar a responsabilidade inteira nas costas dele. Nem mesmo Tsukasa tinha culpa, realmente. A culpa… a culpa era inteira e completamente… daquele garoto Fujisaki!!! Ah… se ao menos aquele pequeno degenerado nunca tivesse se aproximado do seu Tadase…

Respirando fundo, ela decidiu subir até o quarto de Tadase. Podia conversar com ele, e esclarecer o que de fato aquele garoto havia feito com seu filho, e então, pensar em uma maneira rápida de acabar de uma vez por todas com esse problema. Nem que para isso, tivesse que tomar medidas drásticas…

Sem bater na porta, ela a abriu devagar. Em choque, absorveu de uma só vez cenário que a esperava. De todas as coisas possíveis, aquilo era a pior das pressuposições que se concretizava.

Tadase não estava lá! A cama, desarrumada, se destacava no quarto escuro, iluminado apenas pela lua que chegava até lá através da janela aberta, com as cortinas esvoaçando com o vento frio da noite. Ela olhou ao redor, entrando em desespero. Entrou no quarto, e olhou no banheiro, embaixo da cama. Ele não estava em lugar nenhum. Abriu o guarda-roupa. Estava parcialmente vazio, e um pouco revirado.

— Não! – gritou, com a garganta seca, e os olhos esbugalhados. Não, ele não havia feito isso com ela! Não o seu Tadase…! O seu Tadase jamais a abandonaria daquela forma.

Não… aquilo era fruto de outra mente, uma mente deturpada, que queria levar seu inocente garotinho para a desgraça. Aquele garoto Fujisaki… ele sim era o verdadeiro culpado! Sem pensar duas vezes, desceu as escadas correndo. Reviraria aquela cidade, se fosse preciso, para encontrar Tadase. Mobilizaria mundos e fundos, para descobrir onde ele estava. Pegou o telefone, discando rapidamente. Antes de falar com seu marido, ou com qualquer outro, precisava contatar a única pessoa que partilharia sua opinião de que aquilo era um verdadeiro problema, e verificar para ver se sua hipótese estava correta. - … Alô, Fujisaki-san?


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Notas finais do capítulo

Yoo, minna-san, Shiroyuki desu!
Então, já estão totalmente deprimidas, enroladas em cobertores em posição fetal? Por que eu estou u-u aaah, tanta tristeza, tanto sofrimento ç-ç as vezes não acredito em como fui ter coragem de escrever tudo isso! Mas eu escrevi, e estou sofrendo junto com os dois TT-TT que mundo mais cruel, quero chorar...........
Enfiim~ eu tenho que informar a vocês que o próximo capítulo é comigo também... e é o último!!! Depois disso, teremos um pequeno especial spin-off com a Teffy-chan, e a fanfic se encerrará..... ou será que não? -v- Aguardem ansiosos!!! o/

Matta nee~~



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