- Vai, vai, vai, vira! – Nick gritava com Warrick, que virava uma garrafa de cerveja de uma vez só, derramando o líquido pelo carpete do quarto. Mas ambos estavam tão bêbados que aquilo seria algo com o que se preocupariam apenas pela manhã. Talvez nem se preocupassem, afinal aqueles eram Nick e Warrick, que dividiam um quarto perto do campus da Universidade de Nevada, Las Vegas, conhecida como UNLV.

- Só mais três goles, vamos cara, não me decepcione! – Nicholas Stokes batia palmas, e Warrick Brown continuava bebendo a cerveja, sem nem parar para respirar. Glub, glub, glub. Por alguns segundos aquele foi o único barulho que os dois ouviram, antes de Warrick jogar a garrafa vazia do outro lado do quarto, onde se espatifou contra a parede.

- Hey, consegui! – Ele gritou e pulou em cima de Nick, que se desequilibrou e caiu em cima da mesinha do computador que estava no quarto de Warrick, derrubando tudo. Ambos riam desesperadamente, quando ouviram batidas na porta. Merda. Nick olhou para Warrick, que olhou para a porta do quarto e de volta para Nick, que franziu o cenho. Era como se discutissem por telepatia. ‘ Cara, da última vez eu atendi a porta e era aquela velha mal-comida do andar de baixo, xingando que havíamos assustado seus setenta e dois gatos. Agora é a sua vez.’ Ao que outro parecia responder. ‘Certo, mas você me deve uma rodada de cervejas no ROCKHOUSE, sem falta.’  ‘Combinado.’ E lá ia um dos garotos, caminhando temerosamente até a porta, dava uma espiadela pelo olho mágico e a abria. Geralmente era a vizinha idosa de baixo, uma velhinha de oitenta anos que sempre andava por aí com pelo menos um gato no colo. Reuniões do condomínio? Ela levava seu gato listrado em diversos tons de um marrom claro cor-de-água-suja. Compras no barzinho da esquina? Ela arrastava um gato todo branco junto, apertando o com força para que ele não escapulisse entre seus braços toda vez que passava um carro barulhento. Ou seja, o tempo inteiro. Aquele prédio estava localizado na parte sul de Las Vegas, perto da Boulevard. Um inferno á qualquer hora do dia, embora aqueles dois universitários não se incomodavam com aquilo, afinal, ou estavam bêbados, ou fora de casa.

- Você poderia parar de fazer barulho? Não sei as suas prioridades na vida, mas eu estou tentando estudar nessa droga! – Uma morena apareceu na frente de Nick. Seu olhar rapidamente foi atraído para os peitos da garota, que embora estivessem bem escondidos por baixo de uma camiseta larga, davam o contorno principal ao seu corpo. Ele pensava tê-la visto alguma vez na universidade, mas não tinha certeza. Era uma garota com quem já tinha dormido? Não, não, também não.

- Qual é o seu nome? – Ele perguntou, sorrindo com charme.

- Não é da sua conta. Apenas vim aqui para perguntar se você está fazendo uma competição para ver quem faz mais barulho, a Stripp ou você. – A garota ergueu as sobrancelhas com um olhar de desdém.

- É a velha carcomida de novo? – Warrick havia saído do quarto, com a voz engrolada por causa da bebida. Ele tropeçou em um tênis perdido no meio do caminho, e se largou nos ombros de Nick.

- Cara, você é gay? – O garoto se virou para o companheiro de apartamento, se desvencilhando dele e dando um tapa em seu rosto. – Vai tomar um banho, você tá bêbado que nem um gambá,  e isso não tem a mínima graça se eu não estiver bêbado também. Além do mais, temos problemas, não é a velha carcomida, deve ser a neta dela.

- Oh merda. Ela é gostosa? – Warrick perguntou, como se a garota não estivesse ali e ele não a estivesse olhando.

- Você são muito idiotas. Vou reclamar com a portaria do prédio, e você vão se ferrar total, eu mesmo vou fazer de tudo para que essa sua existência lamentável não continue desgraçando mais vidas ao seu redor. – Nesse instante apareceu uma garota loira, vindo da direção oposta da morena e olhou para os três como se fossem seres de outro planeta.

- Então é daqui que está vindo esse barulho infernal, caralho, não agüento mais. Vocês por acaso sabiam que tem gente que quer estudar? – Ela passou a mão pelos cabelos e revirou os olhos. Os dois garotos olhavam embasbacados para ela, afinal, estava vestindo uma camisola vermelha de renda.

- É o que eu estava tentando falar! Tenho prova de teorias físicas amanhã e esses idiotas fingem que estão no Circe Du soleil. – A morena reclamou.

- Mas o Circe Du soleil não é barulhento. – A loira retrucou, fazendo os dois garotos sorrirem.

- Briga de mulher! Briga de mulher! Briga de Mulher! – Warrick e Nick faziam torcida em coro. Devia ser muito legal ver duas gatas se pegando.

- Merda, é daqui que vem esse barulho dos infernos? – Um outro garoto apareceu no meio da confusão. Era o mais alto de todos, mas ganhava de Nick por apenas cinco centímetros. Tinha cabelos castanhos com tons loiros espetados para todos os lados como se tivesse acabado de acordar de um terrível pesadelo. Ou como se ele tivesse tocado um globo eletrizado, que levantava os cabelos da mesma forma.

- Cara, têm cinco pessoas aqui! Que tal se a gente saísse para beber? – Nick sugeriu.

- Você deve estar louco, estamos tentando estudar e você vem com esse papo de beber. Não que merda você tem na cabeça, mas por favor, não compartilhe comigo. A propósito, o bafo de bebida desse aí atrás de você está me matando. – A morena entortou o nariz e deu de costas aos outros. Decidira que iria dormir, aquela prova nem era tão importante assim, valia menos de cinco pontos e sua média do semestre ia muito bem, obrigado. Pelas suas costas ainda podia ouvir os dois garotos cochichando. ‘Eu pegava se ela tivesse um pouco mais de bunda e de coxa. O resto já tá bom.’ Ela não pode deixar de bufar. Eles que se fodessem, não estava aí pra nenhum deles.

A loira observou aquilo tudo incrédula. Odiava quando os garotos faziam aquilo. Era tão... babaca. Tão idiota, infantil. Tão coisa de garoto. Era por isso que ela estava solteira. Simplesmente deu as costas para os três garotos que restavam ali e antes de ir, se virou para eles e sussurrou em voz maldosa. – Se vocês mencionarem qualquer coisa sobre minha aparência, dou um chute no saco de cada um de vocês.

Depois que ela se foi, os três se entreolharam. O garoto do cabelo espetado olhou para os outros dois garotos e perguntou. – Então, aquele papo de sair pra beber era sério?