- Eu fui lá, para mesmo que eu passasse dias e dias chorando eu ia falar pra ele, que entre nós dois não teria nem mais um beijo, nem mais um oi, porque eu estava cansada de ser usada, ele estava sozinho, acho que estava falando com você no telefone, eu ouvi a conversa, e ele no final disse: “eu te amo”, você não imagina o quanto aquilo me doeu, eu carregava comigo a dor de não ter por inteiro quem eu amava, carregava a dor de ter que ser tudo escondido, carregava a dor de ele me usar, me tratar com indiferença por saber que eu sempre voltaria, mesmo que ele me mandasse embora, e ainda agüentava a dor de ver a pessoa que eu amava dizendo que amava outra. Então, eu fingi que não tinha escutado, a porta estava aberta, ele na sala, por isso que eu ouvi, então entrei, sem avisar, ele ficou surpreso, mas nem ligou pelo fato de talvez eu ter ouvido a conversa de vocês. Ficamos conversando, se é que aquilo era uma conversa, a gente só se olhava, era mais ou menos isso, subimos, fomos para o quarto dele, e foi a minha primeira vez. Ai, Ciara, perdão. Isso me dói mais do que lembrar de tudo que aconteceu.

            Cailyn respirou fundo e olhou para o teto, como se estivesse tentando não chorar mais, e sua voz estava trêmula como se estivesse com um nó na garganta, mas sem resultado, chorou mais ainda, e ao ver que eu chorava e estava com um olhar perdido, ao ver que eu não olhava nos olhos dela, ela chorava. Eu estava apoiando o cotovelo na perna, e uma mão na boca, secando as lágrimas. Ela continuou;

- Aconteceu, fui embora. Durante a transa foi perfeito, foi o meu maior momento de ilusão ele agia como se gostasse de mim, pelo menos eu tentava imaginar daquele jeito, mas na verdade era só prazer, só isso. Passaram 1 mês, e minha menstruação tinha atrasado, fiz o teste, e apareceram as duas linhas, aquelas duas simples linhas que significavam que eu não estava sozinha, ou melhor estava sozinha sem ninguém, eu estaria ali por alguém, mas ninguém estava ali comigo, se é que me entende. Eu não te peço que me entenda, e eu entendo que você esteja querendo me socar, e eu entendo, de verdade, e eu vim aqui já sabendo a sua reação, pode me xingar, eu vou entender, e vou ficar quieta. Mas o triste é que no final, eu continuo aqui procurando um jeito de buscar forças, e ele está aí feliz e contente, sem ligar para nada.

            Ciara em nenhum momento a olhou nos olhos. O chão era seu maior foco naquele momento, Cailyn continuou;

- No mesmo dia que fiz o teste, eu fui na casa dele correndo, e ah! Que idiota eu fui, ainda estava na esperança de que ele iria me ajudar, mas o que ele fez foi dizer: “Isso não é culpa minha, você não tomou remédio porque não quis.”, e foi no quarto dele, demorou um pouco, desceu e me entregou dinheiro. Dinheiro o suficiente pra eu dar um jeito de tirar “isso” de mim, e “isso” foi como ele chamou.Três dias depois ele foi lá em casa, pra saber o que eu tinha feito, minha família já sabia, eu contei um dia depois que fui na casa do Liam. Ele bateu na porta, meu pai quem abriu, não deixou ele entrar, o levou pro jardim, e perguntou o que ele ia fazer agora, ele disse: “qual é a sua? É responsabilidade dela agora, o dinheiro eu já dei.” E meu pai não sabia do dinheiro. Eu comprei um remédio com aquele dinheiro para poder descer naturalmente, e desceria apenas sangue, tinha 1 mês e 1 semana apenas. E eu contei isso quando vi que eles estavam conversando, porque assim que Liam contou do dinheiro meu pai olhou para as escadas e sabia que eu desceria, ele me viu na janela, olhando. Contei. Meu pai imediatamente deu um soco no Liam, que deu outro no meu pai, e assim ficou, eu me meti no deles, e pararam, até para não acontecer nada a mais.

            Cailyn soluçava enquanto contava, e Ciara continuava a olhar para o chão, desnorteada, sem saber o que pensar, o que dizer.

- Ciara, por isso ele te ligou, e inventou a briga, ele estava de olho roxo, e pra evitar ter que mentir mais uma vez, preferiu mentir indiretamente, inventou a briga, assim você não saberia do olho roxo naquele dia. Depois de tudo que aconteceu, eu não podia fazer mais nada, além de sair daqui, sair de tudo que estava acontecendo, fui para Santa Bárbara, minha tia mora lá. E foi isso. Desculpa, Ciara. Desculpa não... Perdão.

            Eu não sabia o que pensar direito, apenas a olhou nos olhos, enxugou as lágrimas, mas a cada palavra saiam mais lágrimas, e disse:

- Cailyn, eu te perdôo. Só porque você está passando por isso, e teve coragem de vir aqui e falar tudo isso, mesmo podendo deixar esse assunto quieto, eu nunca saberia. – Enxugou as lágrimas. – Eu não vou dizer que não estou com raiva de você agora, eu não tenho ódio de você, eu não desejo nada disso pra ninguém, e nunca desejaria pra você apesar de você ter feito o que fez comigo. – Lágrimas desciam e eu enxugava. – Eu não sei o que você um dia pensou de mim, mas como você sabe, percebe e vive, o mundo dá voltas, não é a toa que um dia você está com o meu namorado escondido de mim, e no outro dia você está chorando arrependida e pedindo perdão pra pessoa que você odiava. – Cailyn ia dizer alguma coisa, provavelmente que não me odiava. – Eu sei que se você me odiava não era porque eu era assim ou assado, e sim porque eu sou e sempre fui, a pessoa que você sempre quis ser, por todos os motivos, desde para ter o Liam até para não ser você agora. Eu não vou te julgar pra sempre por uma coisa que você já está pagando pelo o que fez, e quando digo isso não estou falando que esse filho é um castigo para você pagar por tudo o que fez, e sentir na pele o que eu estou sentindo agora, se sentindo vazia, sem chão, sem saber o que fazer, mas dizendo que você está pagando pelo o que fez, estou falando do sentimento que nunca foi recíproco e que você sempre desejou que fosse, mas mesmo que esse filho possa mudar sua vida completamente, se lembre de uma coisa, você está sofrendo agora, mas no futuro os sorrisos que você dará, serão provocados por esse filho, que vai ser sua prioridade pra sempre assim como Liam um dia foi ou é pra você... Eu vou terminar com o Liam, mas não é por você, por um sentimento que você teve ou tem, que é porque estou com pena de você, não, nada disso, eu vou terminar com ele, pela pessoa que merece algo melhor, por mim. Eu não tenho pena de você, não se preocupe e não se sinta uma coitada, você não é, você sabe as atitudes que toma, ainda mais agora, é isso. Eu não sei bem o que falar mais, só preciso ficar sozinha. – Eu disse como se fosse a coisa mais difícil que tive que enfrentar na vida. – Não durma preocupada que eu vou pensar isso ou aquilo de você, não vou, a vida é sua, não minha. Eu vou cuidar da minha, e você cuida da sua e da pessoa que você tem agora. Se você não se importa eu queria ficar aqui sozinha agora, tem mais alguma coisa? – Disse não friamente, e sim delicadamente, com a garganta enlaçada de tantos nós que tinha.

            Cailyn só chorava enquanto eu falava, e antes de ir, disse:

- Você não é o que eu pensava, você é melhor do que eu pensava. – E sorriu. – Eu vou embora, porque o que você menos precisa agora é de mim aqui. Perdão mais uma vez. E vou saindo.

- Ok, você sabe como chegar a saída.

- Sim, sei. Tchau. – Disse saindo, e passando a mão na minha cabeça como se quisesse dizer pra ficar bem, mas achando que eu poderia achar irônico, não iria, mas foi melhor que não dissesse nada.

Flashback off*

- Ah.Meu.Deus. Estou sem palavras... – Trisha estava pasma com tudo que tinha acabado de ouvir. – Cara, e você conseguiu não meter a porrada nela, palmas, que orgulho da minha amiga. Mas e você?

- Se deu vontade? O tempo todo. Mas a garota já está toda ferrada, e pensa comigo, se ela não me dissesse nada daquilo eu nunca que ia abrir os olhos... E eu estou muito bem, antes só do que mal acompanhada...

- Pura verdade. Cara, eu ainda estou meio assim... Eu ouvi tudo certo mesmo? Nossa, o Liam é mais estúpido do que eu pensava cara, agora entendi quando você disse que tinha nojo dele.

- Só de te contar, fico com mais ainda. Uma palavra quando me lembro dele... Repugnante. Mas grava uma coisa: O mundo dá voltas, e você percebeu isso, e um dia o Liam vai pensar completamente diferente.

- Como assim?

- Espere e verá amiga. Tempo. Tudo tem seu tempo.

- É, assim espero. Já está ficando de noite, vamos descer e chamar os meninos pra ir pra praia logo?

- Vamos.