Não tive reação alguma. Meu corpo paralisou a si mesmo de culpa. Eu havia matado alguém que era inocente (em parte). E era minha própria sogra.

Eu sei que muitos sonham com isso e tudo mais, mas é óbvio que isso não vai melhorar meu relacionamento com Draco, afinal eu matei sua própria mãe. Estranho.

–AAAAAAAAAAAAAAH sua sangue-ruim imunda! Olhe o que fez! VADIA, VADIA! – Bellatriz gritava, lançando feitiços às cegas. Em um momento caiu ajoelhada no chão, a varinha ainda tentante me acertar, e agora com lágrimas nos olhos. - Ciça... 

Minha única certeza: Draco segurando levemente em meu ombro, se foi. Ele provavelmente deve ter chegado mais perto do corpo de sua mãe. Isso me partiu ainda mais meu coração. Ele nunca iria me perdoar.

Certo, eu não tinha afeição alguma por Narcisa, na verdade, até antipatia. Mas o momento em que todos os comensais abaixaram as cabeças, ouvindo o choro de Draco e de Lúcio, me abalou tanto que desabei no chão.

Bellatriz escutou o barulho quase que silencioso dos galhos se partindo, ao encontrar o peso de meus joelhos, e assim que ia lançar-me um feitiço, alguém me puxou pelo ombro, rapidamente. Ótimo, naquele estado, eu nunca teria conseguido sequer erguer a varinha para me defender.

–Vamos. – Ele disse, com uma voz rouca, por causa do choro, quase que me arrastando graças ao meu estado de choque.

Assim que alcançamos a orla da floresta, eu desembrulhei em desculpas.

–Draco, por favor... Eu não queria... Me desculpe...Eu juro que...Ah não!

– Vamos ao castelo. Precisam de nós. – Ele disse, apenas.

Corremos e adentramos à grande construção com aspecto antigo.

...

–E então, mataram muitos comensais? – Alguma voz atrás de nós falou, enquanto andávamos pelos corredores. Me virei e deparei-me com o garoto de cabelos cor-de-fogo que eu tanto conhecia.

Nós dois ficamos quietos. Se respondêssemos quem matamos, Rony ia falar algo do tipo “Ah, que máximo, aquela... Ei, espera aí.. ah.” E isso não ia ser legal.

De repente Draco o olhou com sua pior cara de repugnância, como sempre fazia com Rony, e saiu andando na frente, quase correndo.

–Hey, Draco! – Chamei. – Espere! Onde vai?

–Para qualquer lugar bem longe de vocês. Daqui. –Ele respondeu sem me olhar nos olhos.

–Você sabe que eu não quis – Eu comecei novamente, mas ele me cortou.

–Não importa. – E continuou a andar.

Quando estava à uns 5 metros de distância de mim murmurei algo que o fez se virar.

–Covarde.

–O quê? – Ele aumentou o tom de voz.

–Covarde!

Ele se aproximou mais de mim. Eu estava até com medo do que ele fosse fazer.

–Como ousa...

–Pois sim! Vai nos abandonar, depois de tanto trabalho só por causa de uma morte? É melhor você ir logo então!

–Ela era a minha mãe! E foi você quem a matou!

Rony arquejou um pouco, mas pude ver em seus olhos que estava feliz em nos ver brigando. Aquele insensível.

–Você sabe que – Percebi que ele ia me interromper de novo, então aumentei o tom de voz. – VOCÊ SABE QUE EU NÃO QUIS FAZER AQUILO! E você Weasley, saia daqui, isso não é da sua conta!

–Ora, mas que absurdo! Esse castelo é um lugar público e....

–FORA!

E ele saiu resmungando.

Assim, que ele virou o corredor, não agüentei e desabei em lágrimas.

–Há, essa é boa. Fui eu quem perdi a mãe, e você quem chora! – Ele caçoou tristemente.

–Você não sabe o que eu estou passando!

–O quê? – Ele se aproximou mais de mim, a ponto de eu começar a sentir sua respiração em meu pescoço, com uma expressão de ódio.

–Imagine eu relembrar todas as vezes que você fez algo contra mim, todas as vezes que me fez chorar, em todos esses anos, e eu começar a esfregar isso na sua cara, motivos para os quais eu devo te abandonar! Imagine eu com quatro pedras na mão, pronta para tacá-las em você! Imagine alguém que você ama, que agora está com tanto ódio de você que não consegue nem sequer ficar na sua presença. E por algo que você nem teve intenção. – Nesse momento, meu rosto já estava encharcado.

Ele ficou quieto por alguns momentos, apenas olhando em minha face, inexpressivo. Acho que agora ele sabia o que eu estava passando.

–Eu...Me desculpe. – Ele disse apenas.

Então eu o abracei, tentando consolá-lo. Minha cabeça colada em seu peito, sentindo seu coração.

Até que o próprio começou a bater mais rápido, e mais rápido. Tudo pareceu estar em câmera lenta, quando uma das paredes do castelo desabou sobre nós.