–Hermione! – Rony gritou, assim que a megera desapareceu, então correndo ao meu encontro, me sentou, já que eu não conseguia fazer isso sozinha.

–Minha perna... – Eu gemi, agoniada, lembrando da dor que sentia.

–Ah, espere... – Ele sussurrou um feitiço de levitação, tirando-a de cima de mim.

Não quero nem comentar como estava a aparência da minha perna. Madame Pomfrey surgiu do meio da multidão, segurando um pequeno frasco, de aparência gosmenta e roxa.

–Ah, por Merlin! Beba isso querida! – Ela disse, me entregando. – Isso, beba tudo!

Aquilo tinha um gosto de uma mistura de banana estragada com roupa suja. Não preciso dizer que quase vomitei.

–Ah, essa sempre funciona! Se sente melhor querida? – ela disse, me estendendo a mão para me levantar. Óbvio que achei que não ia consegur. Minha calça jeans ainda estava ensopada de sangue, assim como meu ombro, mas ambos pareciam tão melhores, que consegui até andar.

Sem mais nem menos, corri em direção às pedras, onde Lúcio Malfoy se encontrava minutos antes. Não me preocupei em reparar aonde ele estava, eu queria apenas salvar Draco. Quem sabe aquela última chama de esperança que ele tivesse sobrevivido prevalecesse.

Eu jogava todas as pedras para o lado, freneticamente. Rony veio várias vezes tentar me fazer parar, antes que eu agravasse meu estado, mas na maioria das vezes, eu apenas o empurrei para o lado e continuei.

Quando meu ombro já estava quase caindo de meu tronco, consegui avistar o corpo de Draco. Deitei minha cabeça em seu peito e um sentimento de alegria preencheu todo meu rosto, que agora se enxarcava de lágrimas de felicidade. Seu coração ainda batia.

–Draco! Draco! – Repeti seu nome enquanto ainda estava com a cabeça em seu peito. Todos me olhavam pasmos, talvez pensando que eu estivesse feliz por ele ter morrido.

–Hermione, o que – Rony começou, mas eu o interrompi quando pulei em seus braços, quase saltitando de alegria.

–Ele está vivo! Está vivo! Ah meu Merlin! Ele está vivo! – repeti, freneticamente.

–Ora, e você vai ficar aí comemorando menina? – Madame Pomfrey me repreendeu. – O garoto está quase morrendo e ao invés de ajudá-lo você vai ficar aí aos pulinhos? Ora, vamos! – Ela foi para perto do corpo dele, e o examinou. –Hum. Nenhum ferimento tão grave. Está desmaiado. – Ela observou.

–Acorde-o então! – Eu gritei, sorrindo entusiástica.

Ela levantou a varinha, e murmurou algum feitiço, que o fez abrir os olhos. Nem sequer dei tempo para ele respirar, gritando repetidamente, enquanto o abraçava.

–Draco! Eu pensei que eu tinha te perdido! Ah, meu Merlin!

–Espere... - Ele murmurou. – Quem... Quem são vocês?

Eu me separei de seus braços, confusa.

–O quê? Como assim?

–Quem são vocês? O que... Que aconteceu?

–Draco... Mas que conversa é essa? – perguntei rindo. Ele provavelmente estaria brincando. Mas então percebi. Toda a cor tinha se esvaído do rosto de Madame Pomfrey.

-O-oh não. – Ela murmurou.

–O que aconteceu? – Peruntei, já começando a ficar nervosa. Todos me olhavam com pena, mas eu não entendia muito bem o que estava acontecendo? – O que houve com ele? Porquê ele não se lembra de mim?

–Hermione – Rony se pronunciou. – Acho que ele perdeu a memória.

...

–O quê? –Perguntei me levantando. – Ele não se lembra mais de mim? C-como? – Meu rosto começou a esquentar, e eu sabia que já estava chorando.

Ninguém me respondeu. O silêncio piorava ainda mais as coisas. Além da condição de Draco nos observando curiosamente.

–Isso...Isso t-tem cura não é? – Eu perguntei ainda soluçando. – Não tem Madame Pomfrey?

–Tem. – Ela respondeu. Mas antes que eu começasse a comemorar, ela completou. – Mas não é possível. A poção é praticamente impossível de se fazer. Eu sinto muito garota.

–Não! Não, Não! – eu começava a gritar, com raiva. – Tem que haver outro jeito!

–Bem, há. – Ela murmurou. – Se fizer algo que o faça se lembrar de tudo, alguma coisa que você já tenha feito, talvez ele tenha um dejá vu e se lembre. Mas... É quase impossível.

Eu ri. Histericamente. Nós éramos bruxos, os mais bem treinados de todas as gerações, estávamos enfrentando o Lorde das Trevas, mas não conseguíamos curar uma simples amnésia.

Todos me encararam como se eu fosse louca, mas acho que conseguiam perceber que eu não estava bem. Rony tentou me abraçar, mas eu me afastei.

– Só tragédias me atingem. Não fique perto de mim se não quiser sofrer algo terrível por minha culpa. – Eu disse, fria. Ele me encarou com compaixão, e mesmo eu tentando me afastar novamente, me abraçou. E mais uma vez eu estava chorando.

–Vai ficar tudo bem, Hermione. – Ele murmurou, no meu ouvido, fazendo-me arrepiar. – Vamos pra sala precisa.

–o-ok. –gaguejei, enquanto andávamos. Eu tremia a cada passo, fazendo com que Rony fosse obrigado a me carregar.

–O que você vai fazer agora? – Ele me perguntou, suavemente, apesar de ao nosso lado, passar correndo um cara gritando enquanto pegava fogo. Ok, foi até engraçado, mas eu não estava no clima para rir. – Você sabe que as chances de ele ter um dejá vu são mínimas.

–Eu... n-não sei.

–Ok. Não precisa responder nada agora.

–Rony... Eu nem agradeci por você ter salvo a minha vida. Aposto como foi você que chamou todos os outros. – Ele sacudiu a cabeça em sinal de sim, sorrindo. – Você tem cuidado muito bem de mim durante todo esse tempo. E eu venho lhe tratando como lixo.

Não sei exatamente o porquê, mas todas as vezes que eu ficava triste, eu começava a relembrar ainda mais momentos para me sentir um lixo. Sei lá. É psicológico.

–Me desculpe. – sussurrei.

–Tudo bem. Somos Weasley’s. Estamos acostumados a sermos tratados como lixo. – Ele riu.

–Não, é sério. Me desculpe. – Eu aproximei meu rosto do seu, e lhe dei um pequeno beijo de amiga, na bochecha. Ele corou levemente e me beijou, mas desta vez, na boca. Ele nunca sabe diferenciar isso: amiga, ou amada. Pus uma das mãos em seu rosto e o afastei.

–Rony, não. – eu disse, ainda de olhos fechados. – somos só – Ele me interrompeu novamente com outro beijo, só que desta vez, foi mais apaixonado. Nossas línguas se entrelaçaram, enquanto uma de suas mãos mexia levemente em meu cabelo. Aquilo estava tão bom que eu já não tinha coragem de parar.

Mas então voltava a pensar em Draco. Já era a segunda vez que isso acontecia. Pensar nele enquanto beijava Ron. Mas o que raios estava acontecendo comigo?

–Rony... –Murmurei durante o beijo. –Por favor...

Ele não me respondia. Na verdade, nem eu responderia se estivesse na situação dele. Aquilo estava tão bom... O calor dos braços dele a me envolver contra o frio, a respiração dele batendo de leve em minha bochecha...

Já que eu vi que ele não me respondia, e em breve, nem eu mesma responderia, resolvi apelar.

–Minha perna... Rony...

Ele parou o beijo quase que imediatamente, meio preocupado.

–Está doendo ainda?

–Ah, um pouco... – Fiz cara de dor, e ele me segurou mais forte em seus braços. Logo chegamos à sala precisa, que agora parecia um quartel.

...

–Ronald, onde estão os outros? – Alguma voz perguntou, atrás de mim.

–Não vieram ainda. Estão trazendo o Malfoy.

Rony me deitou no chão, enquanto tirava sua jaqueta, pra improvisar um pequeno travesseiro.

–Ah, obrigada. – murmurei, com voz de dor.

–Melhore ok? – Ele riu um pouco, e então me deu um pequeno beijo. Depois se levantando. – Hey, Gina, pode cuidar dela aqui?

–Ah, claro! – Ela se aproximou de mim e se sentou ao meu lado. –Ei, o que tá acontecendo entre você e o Rony? E o Malfoy?– Ela sorriu, maliciosamente, enquanto eu estava em clima de enterro. –O que... aconteceu Hermione?

Eu lhe contei tudo, e então o clima ficou mais tenso. Agora nós duas estávamos com cara de enterro.

–Mione, eu sinto muito. – Ela disse, com compaixão. – Mas você precisa fazer algo que já fez com ele não é?

–Sim, mas as chances são mínimas. -Respondi, seca.

–Hum. Já tentou beijá-lo? – Ela perguntou, indiscreta.

–Não. Acha que vai funcionar?

–Talvez. Ele vem aí. Tente. – Ela se levantou e saiu. Instantes depois, apareceu na porta a figura loura e pálida que eu tanto conhecia, que parecia espiar o local, de tanto que virava a cabeça para os lados, curioso. Então dirigiu o olhar para mim, e veio correndo se sentar ao meu lado. Parecia uma criança pequena.

–Oi. – Lhe dirigi um sorriso pequeno.

–Oi. Hermione, não é? – Ele perguntou, franzindo a testa. Sacudi a cabeça, afirmativa. – Olhe, eu queria falar com você. Eu sei que algo aconteceu entre nós dois. Eu me lembro um pouco. Mas... o que foi? Exatamente?

Só de pensar que ele poderia nunca mais lembrar de todos os momentos bons que havíamos passado, lágrimas começaram a cair. Ele me olhou confuso, mas eu apenas depositei uma das minhas mãos em seu rosto, e o beijei.