Sam POV

-Posso descer essas caixas aqui mocinha? – um dos caras enormes perguntou.

-Claro... Claro! – falei desatenta olhando ela janela e mexendo em meu cordão cheio de pingentes. Cada um dado por uma pessoa importante da minha vida.

Eu me levantei antes mesmo do sol nascer. Estava agitada. Não tinha dormido direito. Tive pesadelos, a maioria eu não lembro. Todos da casa ainda dormiam tranqüilos quando sai para ir até o apartamento. Não fui de ônibus, não peguei taxis nem de skate, fui andando. Tinha colocado os tênis apropriados para isso, uma calça confortável, já que sabia que faria algum esforço na mudança. Minhas mãos estavam geladas no bolso do blusão que eu usava (Look). Andei bastante até chegar ao meu antigo apartamento. Quando a porta da minha antiga sala se abriu, uma lufada de ar com cheiro de baunilha me puxou para dentro.

A sala, praticamente vazia, não exibia orgulhosamente os quadros de Valle nas paredes, meus livros não estavam mais na estante, agora desmontada, em um dos cantos da sala. Caixas se amontoavam por todos os lados. Andei pelo corredor passando a mão pelas paredes. Olhei para dentro do quarto que era da Valle... Totalmente vazio. Ela é rápida! Sorri. Não perde tempo! Fui até meu quarto e acendi a luz... Praticamente vazio. Com exceção de mais caixas, minha escrivaninha branca de madeira antiga, com varia gavetinhas onde eu escondia todo o tipo de coisa, estava tristonha e vazia em um canto. Minha cama estava desmontada. A única coisa que ainda dava alguma vida aquele quarto era o cheiro doce da baunilha e minhas fotos nas paredes. E quantas fotos... 

Tirei uma a uma, parando para olhá-las conforme as memórias vinham na minha cabeça. A campainha soou. Não ouvir Babão choramingar para que eu abrisse a porta, coisa que me irritava, me deixou ainda mais melancólica. Homens grandes como armários subiam e desciam as escadas com os moveis que um dia foram meus, iriam levá-los para doação. Decidimos que era melhor assim. Estava na varanda, tão perdida em pensamentos que quase me atirei na rua quando alguém tocou em meu ombro. 

-Sam! Estou te chamando há uns dois minutos! – Valle falou com energia demais pra mim – Esses caras trabalham rápido não acha?! – ela sorriu.

-Hum... – respondi. Entrei novamente na sala, agora somente com as caixas que levaríamos de carro para a casa dos meninos. Ver Niall, Louis e Zayn entrando logo em seguida do ultimo cara musculoso sair fez meu coração se sentir um pouco melhor – Não deveriam estar dormindo?

-Sim! – Zayn falou na mesma hora – Mas achamos que iriam precisar de ajuda... Pelo visto não vai ser preciso! Podemos ir agora? Temos um show hoje à noite, quero descansar um pouco antes de irmos pra lá.

-Tem razão! Quero dormir mais um pouco também! Não quero perder o show porque vou estar cansada demais! – Valle riu.

-E quem disse que você vai?! – Niall falou em deboche.

-É claro que vou! Quem vai me impedir? Você? – Valle desafiou. 

Rolei os olhos enquanto eles saiam pela porta discutindo com as ultimas caixas que faltavam. Me sentei no meio da sala com as mão novamente no bolso do blusão. Zayn me olhou estranho e se sentou do meu lado dando um sorriso fofo. Retribui o sorriso, porem sem animo. Lá em baixo, Valle berrava: 

-Vamo gente!!! Não vou ter muito tempo pra dormir assim!!! 

Lou me olhou perguntando “Quer alguma coisa? Ou melhor, precisa de alguma coisa?!“Apenas sacudi negativamente a cabeça. Ele deu um sorriso torto e foi até a porta. 

-Vocês vem? – ele perguntou.-Vou ficar... Um pouco mais – disse distante.

-Vou ficar também, voltamos de taxi – Zayn falou. 

Lou não fez a melhor cara do mundo, olhou primeiro pra Zayn com um cara meio neutra e depois olhou pra mim, como se estivesse com dó. Não gosto que me olhem com pena. Odeio isso!  Ele desapareceu pela porta, que ficou aberta como um falso convite para que alguém entrasse. 

-Você não ta bem – Zayn falo abraçando as pernas de um jeito despojado.

-Por acaso isso foi uma pergunta? Porque não pareceu uma.

-Não foi – ele deu uma pausa – Quer conversar sobre isso? 

Antes que eu pudesse falar, Jean bateu na porta, mesmo estando aberta. 

-Ãhm... Posso entrar?  - ele perguntou. Apenas fiz sinal com a cabeça para que ele entrasse – Vim trazer uns papeis pra você assinar – ele falou se abaixando a minha frente – Esse era um trabalho da Vanessa, mas ela disse que esta com um pouco de ... vergonha de falar com você.

-Como se ela pudesse ter feito algo... – murmurei enquanto fazia um coque e pegava a caneta de suas mãos para assinar os papeis – Mas tudo bem.

-Te conheço de algum lugar – Jean falou para Zayn. Levantei um pouco os olhos dos papeis para ver aquela cena.

-Zayn Mailk! – disse estendendo a mão.

-Jean Benedict Corine – Jean respondeu apertando a mão de Zayn – Você... é um dos carinhas do One Direction, não é?

-Uhum – Zayn concordou com a cabeça.  Nessa hora comecei a fingir que aqueles papeis que eu assinava estavam divertidamente interessantes.

-Nunca me disse que os conhecia – Jean falou juntando as sobrancelhas e olhando pra mim.

-Devo ter me esquecido – menti. Não intencionalmente, mas não sabia como Jean reagiria a isso. Não, eu não esperava, muito menos queria, uma crise de ciúmes a essa altura. Não era a minha intenção, na verdade era a ultima coisa que eu queria, ou pretendia – São só esses?

-São! – ele falou pegando os papeis da minha mão. Ele se ajoelhou na minha frente e me olhou nos olhos – Desculpe não ter contado pra você sobre a Califórnia... Não sabia como você iria reagir. Tive medo que ficasse brava! – eu abri a boca pra falar, mas Jean não deixou – Sinto muito ter que deixar você agora! – ele me olhou com olhos doces - Tenho que ir... – suspirou - meu vôo sai agora à tarde. Vou sentir sua falta – falou pegando minha mão e sorrindo.

-Também vou! – sorri de volta.

Jean me deu um beijo na testa e se levantou, se despediu de Zayn com um aceno de cabeça e se dirigiu até a porta.

-Ah! Antes que eu me esqueça, deixei uma coisa pra você lá em baixo. Espero que goste! – ele sorriu uma ultima vez e fechou a porta. 

Zayn assoviou. 

-Valle tinha razão, ele é um deus grego! – ele falou em tom impressionado. Não pude deixar de rir – Até eu ficaria com um cara desses! – cai na gargalhada - É estranho saber que mesmo com você rindo assim sei que você não esta bem? – Zayn me falou sério.

-Não é tão estranho assim. Valle provavelmente percebeu... Ou estava com sono demais pra notar – falei olhando pro nada.

 -Vai me falar o que é? – quis saber – Tem haver com aquele cara?

-Sim – suspirei respondendo a primeira pergunta – É uma das coisas na verdade – disse cruzando as pernas.

-Pode começar então...

-Não queria sair daqui, de verdade! Não vai ser ruim ficar com você, mas... tenho uma ligação forte com  esse lugar, foi a MINHA primeira casa. Não era dos meus pais ou da minha avó, mas minha e da Valle – suspirei – E como se não bastasse isso. Um dos meus melhores amigos, barra, ex-namorado, vai embora de Londres por tempo indeterminado.

-Hum... –Zayn finalmente falou – É isso então – concordei com a cabeça – Bom, não vou ser piegas e dizer que ‘vai ficar tudo bem’ ou ‘vocês vão ficar bem morando com a gente’ quem sabe até ‘se você vender teu corpo você compre esse prédio todo!’ – não deixei de rir dessa ultima – Mas não vai adiantar, vai?! Mesmo que seja verdade que você VÃO ficar bem morando com a gente. Não ajuda, ajuda?

-Quase nada. Mas é um começo! – ri meio sem animo enquanto me distraia com os cadarços do meu tênis.

-Pois é... – ele fez silencio por um minuto – Sabe o que ajuda?! – Zayn falou com animo.

-Hum...

-UM ABRAÇO!!! – ele berrou me agarrando num abraço apertado que me fez tombar de costas no chão.  Eu tinha uma crise de risos toda vez que ele me apertava mais – Te fez sentir melhor? – falou ainda me abraçando, mas dessa vez mais fraco.

-Não muito, mas ajudou! – ri – Obrigado Zayn! – sorri.

-Vinte libras! – ele falou estendendo a mão pra mim.

-Tudo isso por um abraço?!

-TÁ! – falou fingindo raiva – Pra você fica de graça mesmo, mas saiba que algumas garotas se matariam pra estar no seu lugar! – disse tocando a ponta do meu nariz com o dedo, me fazendo ficar vesga por um tempo, o que fez com que ele risse.  

-Certo seu metido! Vamos tomar café vai! – falei dando um tapa em sua perna.

-Você tem que para de ficar perto do Niall! Já falei pra ele que isso não faz bem! – disse me ajudando a levantar.

-Desculpa!!! – fiz voz dramática – É mais forte do que eu!!!

Zayn riu saindo pela porta. Dei mais uma olhada em volta. Bom, é isso! Suspirei. Sai fechando a porta atrás de mim.

-O que é isso?! – Zayn perguntou ao pé da escada. Ele estava parado na frente de uma caixa preta com formato engraça... Não! Pera! Eu sei o que é aquilo!

-Não acredito que ele me devolveu! – desci pulando dois degraus de cada vez.

-E... o que É isso?!

A caixa era dura, preta e pesada. Abri os trincos e levantei a tampa. Lá estava ele... meu violão! Preso nas cordas do braço, estava um bilhete.

-“Sam...” – li em voz alta – “Não sei ao certo quanto tempo isso ficou comigo. Muito eu imagino! Por isso quero que ele volte pra você. Eu sei que nele estão marcados muitos momentos, momentos seus, momentos e alegrias que não me pertencem... “ – tomei fôlego – “Eu sei que esta triste. Muita coisa aconteceu em pouco tempo. Estou te devolvendo seu violão para que você erga a cabeça, e não se esqueça... Você é capaz de tudo! Como você mesma já provou ser! Com muito carinho... Jean Benedict Corine”.

Ao terminar de ler, passei minhas mãos pela madeira pintada de preto fosco. Realmente, aquele violão me trazia muito coisa de volta. Eu ganhei ele dos meus pais no meu aniversario de dez anos (um ano antes de se separarem). Mesmo sempre ter amado teatro e musicais, eu nunca tive muito ‘feeling’ musical... quer dizer... eu era um desastre! Tentei fazer aulas de violão e tudo mais, mas eu não pegava o jeito da coisa. Depois que meus pais se separaram, eu estava arrasada. Aquele violão tinha se tornado o símbolo da separação deles. Tinha vontade de jogar ele fora, quebrar ele, queimá-lo! Mas... alguma coisa me impedia.

Um dia, depois de vários meses, eu olhei para o violão, dentro da caixa de transporte. Andei até ele e abri a caixa. Naquele dia, eu descobri que nunca tinha precisado de aulas de violão, eu só precisava de um sentimento! Fui ficando cada vez melhor. Até ele se tornar a válvula de escape dos meus sentimentos, assim como a dança. Depois de um tempo, apenas tocar as musicas não expressavam tudo que eu sentia. Foi assim que aprendi a cantar.

-Ãhm... Sam?! – Zayn falou preocupado.

Fechei a caixa sorrido. Peguei a alça e me levantei.

-Já chamou o taxi Malik? Pensei que queria voltar logo pra casa para descansar – sorri.

~

-NÃO ACREDITO QUE ELE TE DEVOLVEU!!! –Valle berrou abismada olhando para o violçao em cima da cama.

E lá estava eu... No meu quarto na casa dos meninos do One Direction, com minha melhor amiga/irmã/companheira de quarto.

Zayn e eu voltamos logo para casa. Não falamos NADA no taxi. Quando chegamos, nenhum dos meninos notou que eu carregava a caixa de transporte de um violão. Valle dormia em nosso quarto. Arrumei varias coisas antes dela acordar. Quando mostrei o violão seu queixo caiu.

-É... eu sei – disse apoiada com o ombro na parede e os braços cruzados enquanto olhava para o violão – Estranho não acha...

-Não! Na verdade não! Ele é seu não é! Nada mais que justo o Jean ter devolvido se ele vai se mudar.

-Pois é... – torci o lábio.

-E agora? – Valle perguntou.

-Como assim ‘e agora’? – quis saber – Tocar a vida ué! Uma musica de cada vez! – sorri.

Olhei mais uma vez para o violão, lembrei da ultima musica que toquei nele, foi na ultima vez que fui até a casa do Jean (ou melhor, super apartamento decorado por ele mesmo), quando decidimos que era melhor sermos amigos. “Quero guardar uma coisa sua...” ele disse “ ... uma coisa alem de lembranças boas!”.

Bocejei.

-Os meninos tem show hoje, não tem? – perguntei. Valle acentiu – Certo... então, o que acha de dormir um pouco mais? – sorri.

-Essa foi a melhor ideia que eu ouvi hoje! – Valle riu.

Tirei os tenis, o blusão e a calça de moletom. Como é bom dormir em uma cama enorme só com uma regata soltinha!

Zayn POV

Como exolicar a ‘devolução’ do violão da Samantha em uma palavra? Fácil! LINDO! Quer dizer, foi praticamente uma declaração de amor! E olha que ela apenas leu o bilhete e olhou com carinho para o instrumento.

Quando chegamos em casa, Sam correu para seu quarto.

-Ela ta bem?! – Louis perguntou olhando enquanto ela subia as escadas com a caixa – O que é aquilo nas mão dela?

-Agora ela ta bem! – disse me sentando no sofá – Aquilo? Ah, é um violão!

-Não sabia que ela tocava... que bonitinha! – sorriu Louis.

Ele me olhou e fez uma carete quando percebeu que eu o obcervava com uma sobrancelha erguida. Decidi ignorar o fato de Louis ter acabado de chamar Samantha de ‘bonitinha’... Na verdade eu estava preocupado com ela, com aquela cara triste no apatamento.

-Lou... Você gostou das fotos da Sam? – perguntei.

-Sim...muito... Porque?

-O que acha... de termos uma fotogafa oficial?!

-Porque vocês tem ideias ótimas e eu não?!... Eu adorei! É excelente! Eu pecebi que ela não estava bem lá no apartamento, e a hora que saimos com o carro vimos um cara... como o Niall disse? “Lindo” Entrando no prédio... Valle disse que era o Jean...

-Bom, era ele mesmo. Ele foi levar alguns papéis para Sam assinar e devolveu o violão dela... mas a ideia é boa não é! Vamos esperar os meninos acodarem e falamos com eles!

Depois de esperar por MUITO tempo o senhor ‘caichinhos adormecidos (vulgo Harold!) acordar, contamos nosso (na verdade MEU!) plano.

 -Eu adorei! – Niall berrou – Zayn, isso foi genial!

-Muito bom mesmo... – Harry elogiou - ...digno de um plano meu! – falou estufando o peito.

-Menos Harry! – falamos em coro.

-Desculpa se as ‘boas idéias’ de vocês são raras e as minhas não! – Harry se defendeu – Mas e a Valle? Ela não vai fazer nada?

-O que você quer? Que tenhamos duas ‘babás’ em tempo integral? – Louis riu.

Então, eu tive a segunda idéia genial do dia.

-Lou... Isso é brilhante! – falei.

-Obrigado! – ele sorriu – Mas... o que é, EXATAMENTE, brilhante? – perguntou.

-Sua idéia! – Liam disse – Eu captei o que você quer Zayn! Precisamos de alguém que cuide de nós... ou melhor, de vocês! Eu apoio a idéia de ter Sam e Valle como babás de vocês!

-Eu também! Com a Sam cuidando da gente quer dizer que ela vai cozinha pra gente! E eu adoro a comida dela! – Niall disse animado, praticamente em êxtase.

-Vai ser legal... – Lou observou - ... a Valle eu não sei, mas a Sam tem juízo o suficiente pra cuidar de nós. Eu topo!

-Ficaram doidos?! – Harry protestou – Vocês viram elas bêbadas! Juízo... Ninguém dessa casa, tirando o Liam, tem isso!

-Mesmo assim... Elas podem nos ajudar com nossa agenda e tudo mais! – falei – Não pode ser tão ruim!

Porque eu tinha que dizer isso? Cinco palavras não poderiam ser TÃO mal utilizadas.

Sam entrou na cozinha parecendo um zumbi! Ela usava apenas uma regata branca leve com uma espécie de ‘calcinha box’ com desenhos de lassinhos. Acompanhamos com os olhos enquanto ela andava mexendo desleixadamente nos cabelos, os olhos estavam praticamente fechados.

Ela foi até a geladeira, abriu a porta examinando rapidamente o conteúdo e se abaixou para pegar uma garrafa de água no compartimento inferior.

Nenhum de nós conseguiu resistir de seguir sua descida com o olhar e o queixo meio caído. Sam fechou a geladeira e veio até o balcão onde estávamos.

-Quantas horas até o show? – perguntou um pouco rouca.

-Cinco horas... – Liam, que parecia ser o único com a cabeça no lugar, disse.

-Vou acordar a Valle... – Sam pegou uma maçã na fruteira e saiu.

Só falamos quando ouvimos o barulho da porta batendo no segundo andar.

-Retiro o que disse... – Harry falou olhando ainda em choque para o portal da cozinha – Topo o negocio de ter uma babá!

-Vocês são pervertidos! – Liam resmungou. Olhamos para ele com aquela cara de “E você não né?!?” – O que?!?! Parem de me olhar assim! ... Me deixem em paz! – ele berrou vermelho.