– Nos conhecemos ?- indaguei

–Acho que não . – disse com a voz baixa e suave .

–Acho que sim, ladra .- suspendi o seu rosto pelo queixo e nos fitamos .

Essa mulher era a ladra que havia invadido a casa dos Kuchiki e me causado sérios problemas .

Ela merecia ser punida, ela tinha que ser punida .Mas esse pensamento se foi assim que meus olhos encontraram os dela .

-Por favor, deixe-me ir. – assim que nossos olhos se encontraram , ela abaixou a cabeça como se estivesse com vergonha do que fez .Continuei segurando seu pulso e não desviei meu olhar .

-Você invade minha mansão, rouba meus pertences e ainda pede para deixa-la ir? –  estávamos mais ou menos na mesma altura ,pois eu estava abaixado e ela sentada no chão .A mulher permanecia com a cabeça baixa . Seu cabelo estava um pouco bagunçado devido ao que aconteceu minutos atrás .

-Desculpe, mas eu .. eu.. eu não sabia mais o que fazer. Estou morrendo de fome e frio e .. e.... minha irmã .. eu... eu mereço ser punida . Agradeço por  ter me salvado agora pouco, mas creio que não tenha valido a pena salvar uma vida tão miserável como a minha. Perdoe –me . – O chão começou a ser marcado por gotas que caiam dos olhos dela. A mulher de cabelos negros suspendeu a mão livre que estava apoiada no chão e tentou secar suas lagrimas , sem êxito .

Sua pele era fria e pálida. Estava um tanto magra para a sua altura e idade. Ela estava sofrendo .... e eu achando que tinha problemas.

Permaneci calado , ouvindo seu choro, suspiros e seus lamentos . Sussurrava coisas inalditiveis , coisas nas quais ela provavelmente se arrepende. E no final só ouvi alguns  lamentos  e um pedido . Um pedido que me deixou abismado e muito surpreso .

“Mate-me “ , foi o que ela sussurrou. E repediu o pedido varias e varias vezes . Seus soluços estavam mais altos e as lagrimas não paravam de marcar o chão .

Aproximei –me mais dela e  coloquei um dos meus braços em seu ombro .

-Não irei puni-la , muito menos mata-la . Não levanto minha mãe para mulheres. Elas devem ser protegidas e não violentadas . Peço que se acalme . – disse  com um timbre mais suave e acolhedor . – Vejo que está com fome e  bem  gelada. Venha , vamos tomar um bom chá quente . Tente se acalmar está bem? Nada mais vai acontecer a você.

Nossos olhares se encontraram novamente . Ela havia levantado a cabeça e me fitava tentando entender minha reação diante daquilo tudo. Com certeza estava confusa .

-Que tipo de homem ajudaria uma  ladra ? – indagou entre soluços .

-Posso ver no fundo dos teus olhos . Você não é uma  ladra, não costuma fazer isso e pelo que eu vi aquela noite é uma amadora . Provavelmente  foi a primeira vez que furtou alguma coisa. Estou certo? – indaguei

-Sim, foi a primeira vez. Mas eu não estava aguentando mais . Eu não estou aguentando mais essa vida miserável . Passo fome todos os dias e a noite  sinto um frio que parece que meu coração vai congelar . Não aguento mais esse sofrimento , não aguento mais essa vida . Por favor , Mate-me .- pediu novamente .

- Já disse que não rirei mata-la e muito menos levantar a mão contra você. Venha comigo  e tente se acalmar .- insisti de novo . Ela estava machucada  em algumas parte do corpo . Com dificuldade  a mulher levantou apoiando-se em mim.

Como tinha machucado seu  tornozelo durante a ação daqueles homens nojentos e sem escrúpulos  resolvi carrega-la até um lugar mais calma e distante .

Usando meu shunpo , fui me distanciando rapidamente daquelelugar   imundo e  cheio de miséria .

Por dentro daqueles olhos negros eu vi muito sofrimento , dor, tristeza .  Não sei por que ,mas aquilo me incomodava . A tristeza que rodeava aquela mulher  me deixava aflito .

Resolvi ,por fim , voltar a mansão dos Kuchiki. Era o melhor lugar para tradar os ferimentos dela , acalma-la com um  chá e aquece –la  com o ar ameno e os cobertores da mansão .

O percurso inteiro foi marcado pelo silencio de ambas as partes. Somente algumas trocas de olhares .Mas eram o suficiente para me intrigar ainda mais. Alguma coisa naquela mulher me chamava atenção .

Chegamos na mansão bem rápido e para minha sorte estava bem vazia. Ginrei-dono havia saído , os guardas estavam em seus postos e os criados reunidos em algum lugar da casa .

Fui direto para o meu quarto e fechei a porta.  Não queria que ninguém descobrisse que trouxe a ladra que quase havia manchado a honra dos Kuchiki para dentro da mansão . Eu com certeza na melhor das hipóteses seria expulso do cargo de líder  e do  clã.

Ainda com a mulher em meus braços caminhei até meu futon acomodando a nova “ hospede”  .

Depois de deita-la , levantei e fui até a porta. Iria pegar um chá e mais cobertores .

-Por que ? – ela falou pela primeira vez desde que saímos de Rukongai. Parei de andar mas não olhei para trás .- Por que está fazendo isso  por alguém como eu?

Não sabia o que responder. Na verdade nem eu mesmo sabia a resposta . fiquei literalmente se fala.

-Não sei. – falei.

-Obrigada . – Sua voz falhou e percebi que ela havia começado a chorar novamente . – Posso saber o seu nome?

-Byakuya. Kuchiki Byakuya . – respondi sem  me virar

- Me chamo Hisana e mais uma vez .... muito obrigada . – ela virou para o outro lado e acabou adormecendo .

Sai do quarto e fui providencias as coisas .

Hisana .... Hisana .... esse nome ficou ecoando em minha mente sem dar um momento de trégua .

Voltei para o quarto minutos depois com dois copos de chá bem quente e alguns cobertores.

Ela ainda dormia profundamente em meu futon . Fui chegando cada vez mais perto .

Ajoelhei-me e coloquei as coisas no chão . Confesso que fiquei admirando Hisana por um tempo . Como uma flor tão frágil e dócil estava vivendo em um lugar tão obscuro e violento como aquele?

Elas começou a se mexer e virou em minha direção .

-By..Byakuya-sama .. a. arigato ... – Murmurava . Seus olhos estavam fechados .

Até mesmo em seus mais profundos sonhos ou  mais  intensos delírios ela me agradecia , ela me chamava .

Senti uma coisa diferente dentro de mim ao ouvi-la pronunciar meu nome.

“É melhor acorda-la . O chá pode ficar frio” , pensei.

Hisana..... nunca um nome ficou tão fixo em minha mente. Nunca olhos tão negros cruzaram o meu caminho . Nunca  uma voz tão doce  passeou pelos meus ouvidos .