Era incrível como cidades do interior não mudavam quase nada com o decorrer do tempo. Enquanto o carro percorria a curta estrada que dava até o coração da pequena Brave Springs era como se tivesse me colocado em um túnel do tempo. Estava tudo lá exatamente como antes: O grande moinho vermelho e desbotado, as tortuosas trilhas de caminhada, o pequeno lago mais a frente e até mesmo as longas fileiras de arbustos de morangos continuavam intactas, a única mudança aparente de que não estávamos mais nos anos 60 eram os irrigadores de alta tecnologia que espirravam água para todos os lados formando um brilhante arco-íris sobre os arbustos. Ate pareciam mágicos.

Depois de dobrar a esquina 71 (era ate humilhante, pensei, depois de ganhar tantas corridas nessa curva cruza-la em apenas 45 km/h) parei o carro e apoiei a cabeça no encosto do carro. Essa viajem deveria me fazer bem certo? Fiz uma careta e suspirei. Desde o início eu soube que isso não iria me fazer bem, mas eu tinha que fazer essa viajem. Era uma necessidade arrumar as coisas, se bem que mesmo depois de tantos anos Cindy nunca me perdoaria.

Cindy. Um sorriso se formou em meus lábios. A linda garota de cabelos escuros e olhos azuis abobados que me conquistou, a única que conseguiu me domar e a única que me importei de ter magoado. Se ao menos não tivesse sido tão idiota. Fechei os olhos e balancei a cabeça tentando afastar as imagens em consequência ao sorriso de Cindy que se formaram em minha mente porque isso também levava as imagens de suas lágrimas, aquelas lagrimas que matam até hoje.

Sai do carro e sentei no capo tirando um cigarro do bolso e tragando com um folego curto. Uma risada irônica saltou dos meus lábios. Quantas vezes eu já não havia feito isso, sentado no capo do velho carro fumando em plena esquina 71. As imagens vieram a minha mente sem conseguir serem impedidas.

Era tudo tão real que quase pude ouvir o barulho dos carros e das risadas femininas tentando se aproxima de mim e no meio delas a de Cindy, uma risada doce e um tanto escandalosa que era incrivelmente atraente para mim.

Com os olhos fechados eu conseguia imagina-la, suas roupas a destacava na multidão de garotas, seu sorriso inseguro... Balancei a cabeça e encarei a estrada, ela parecia não acabar, as árvores e montanhas escondiam o final e por algum motivo isso causava um aperto no meu peito.

Eu estava longe e não é um maldito cigarro que vai fazer-me voltar para perto do meu lar, o máximo que ele pode fazer é trazer Cindy aos meus pensamentos, ele também pode fazer meus lábios formigarem da mesma forma que os lábios de dela fazia.

Eu estava ficando louco, não havia como negar. Sentado no capo do carro na esquina 71, um cigarro entre os dedos e Cindy na cabeça, o passado parece castigar-me agora e eu não tenho a menor intenção de afastá-lo como antes.

Tomei a cabeça para trás e dei um forte tragada no cigarro, abri os olhos rapidamente e tossi com força, meus pulmões não eram mais os mesmo, na verdade, eu não era mais o mesmo.

Desci do capo do carro e abri a porta do motorista com força, joguei-me no banco duro e dei mais uma tragada curta, liguei o rádio em uma emissora qualquer, ao soprar calmamente a fumaça reconheci a música, era a música favorita de Cindy, Na Affair to Remenber (Our Love Affair).

Fechei os olhos sentindo as falsas lágrimas chegarem junto com as lembranças que pareciam loucas para me torturarem.