Carta Vermelha escrita por Eduardo Sales


Capítulo 8
Insetos




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Na tarde seguinte, depois da aula, eu me sentei em minha cama e me virei para o criado-mudo que havia ao lado. Abri a gaveta onde eu escondia as três cartas que eu havia recebido. Eu re li a segunda carta e pensei em como poderia decifrar aquilo. Eu não queria pedir ajuda a ninguém. Eles sabiam apenas de uma das cartas e o caderno que eu havia roubado daquela bolsa roxa quando o mascarado me atacara pela primeira vez.

Também pensei na ligação que haviam me feito apenas para me fazer ouvir alguém respirando. Pensei em todas as pessoas para quem eu havia dado o número de meu telefone desde que entrei em Stanford.

- Emily. – Murmurei para mim mesmo.

Ela era a única em Stanford pra quem eu havia dado o meu telefone desde que chegara. Mas pensei por que motivo uma ruiva com cabelos cacheados, alegre, bonita e nova que nada tinha haver com uma assassina teria feito tantos crimes em um pouco mais de uma semana.

Mas duas pessoas haviam escrito cartas. Talvez três, mas isso ainda é improvável já que uma delas veio em manchas de sangue á dedo. A primeira tinha vindo com uma letra um pouco elegante e não era letra cursiva. Já a terceira estava com a mesma caligrafia que havia no caderno de capa rosa que eu havia roubado. Uma caligrafia linda, elegante e cursiva.

Nada era claro, nada era óbvio. Havia um monstro que queria matar muitas pessoas de modo sanguinário em Stanford. Eu iria ser uma vítima. Mas quantos ainda haviam planejado antes de mim?

O diretor estava pensando em fechar a escola. Stanford já tinha tido muito prejuízo por casa do serial killer. As famílias das pessoas cruelmente mortas iam pra escola mas quando mandavam ir buscar o corpo ele não estava mais lá... Ia para o porão.

Eu era o grande problema dali. Por alguma razão ainda desconhecida por mim, eu era o alvo principal do mascarado. Eu tinha que sair de Stanford. Eu baixei minha cabeça ainda sentado na cama, coloquei minhas mãos em minha testa e afastei o cabelo para trás e me pus a chorar.

Vanessa abriu a porta do quarto bem na hora e me viu naquela situação. Ela não disse nada. Apenas chegou perto de mim, me abraçou e começou a chorar também.

De noite, a droga do mesmo pesadelo. Aquilo estava realmente me atormentando. Minha vida estava um completo terror. E eu..não conseguia fazer nada. Isso não era bom de maneira nenhuma. O máximo que eu poderia fazer era me distanciar da escola por um tempo para ver se a coisa saía dali e parava de matar.

Quando acordei, o dia estava muito nublado. Era como se fosse de noite. Mas nenhum sinal de chuva. Era confuso.

Naquele dia, na hora do almoço eu me sentei com Vanessa, John, Will e Sue. E nós começamos a ouvir gritos. Meus olhos logo se arregalaram imaginando ser outro homicídio violento.

Dessa vez, todos na escola foram ver o que era...e todos se arrependeram.

Era uma infestação de insetos com veneno mortal. Deduzi isso, pois quando o inseto picava, a pessoa picada caía no chão. Se estava morta, eu não sei. Mas parecia que sim. Todos correram de volta á escola se trancando em seus respectivos quartos. E os funcionários trancaram todas as portas e janelas da escola. O jeito era esperar que todos os insetos fossem embora.

Achei essa solução fácil demais e imaginei que quem havia causado aquela infestação sabia que isso era muito óbvio.

E, como eu havia previsto: alguns muitos insetos tinham invadido a escola.

- Peguem todo o veneno que está no almoxarifado. – Gritei.

Minha ideia era explodir todos os vidros de veneno que havia. Trouxeram todos os tipos de veneno que tinha. Era suficiente apenas para os insetos que tinha entrado na universidade. Tudo bem. Faria aquilo e depois pensaria em qualquer outra coisa.

Will e John me ajudaram a fazer com que jorrasse veneno e coisas malcheirosas que todo o corpo estudantil e funcionários de Stanford tinham trago.

Os insetos eram diferentes de todos os que eu vi em toda minha vida. Chegavam a me dar náuseas. Não podiam ser apenas insetos comuns. Se fossem comuns, esses insetos provavelmente não tinha sido trago por alguém desse país. Eu, John e Will, conseguimos nos livrar de todos os insetos que havia dentro da universidade. Nos que estavam de fora eu pensei em alguma coisa que provocasse um fogo grande, porém inofensivo para quem estivesse dentro da escola.

- Adam. – Ouvi Vanessa gritar. – Você pode usar carbureto, garrafa pet e palitos de fósforo. Tem os três itens no laboratório de biologia. Procure por lá. Carbureto é uma grande pedra branca com preto e cinza, dura e fedida. – ela deu uma leve respirada e continuou - Utilize itens que proteja o seu corpo enquanto você vai lá fora colocar a explosão em ação. Coloque um pouco de carbureto numa garrafa e jogue um palito de fósforo dentro. Você pode colocar a uns 5 metros de distância, pois vai ser o suficiente enquanto você corre e coloca um pouco mais em outro local. Isso causa uma pequena explosão com fogo.

- Muito obrigado, meu amor. – Dei um beijo nela. – Eu vou fazer isso.

Saí em disparada para o laboratório de biologia. Vi algumas pessoas que tinham sido picadas e estavam a caminho da enfermaria. Os rostos dessas pessoas estavam incrivelmente inchados e vermelhos. Alguns ainda estavam desmaiados e estavam sendo levados á enfermaria por amigos, professores ou funcionários.  E, para minha surpresa, Emily era uma das que estavam indo para a enfermaria. Ela estava com o rosto inchado e algumas manchas vermelhas na pele.

- Adam. – Ela chamou.

- Emily, desculpa, mas eu não posso conversar agora. Eu tenho que causar algumas explosões lá fora para expulsar esses insetos daqui. – eu respondi.

- Ah, tudo bem então, Adam. Espero que consiga. – Disse ela, desapontada.

- Só uma pergunta. Onde você estava desde alguns dias?

- Eu? Eu viajei. Voltei para casa em Nova York por um tempo, pois tinha uns problemas pessoais em minha família por causa de Hayley, minha irmã que morreu e eu tive que sair. E, pelo visto eu voltei em ótima hora. Hora para ser picada por um inseto que deixou minha cara incrivelmente inchada.

- Ah, tudo bem, então. Agora eu tenho mesmo que ir. Desculpe. – eu disse desconfiando muito de cada palavra que dissera.

- Até mais, Adam. – Disse ela.

Quando eu cheguei no laboratório, John e Will estavam lá com tudo separado e Will olhou pra mim num sorriso torto.

- Você não achou que iria nessa sozinho, não é?

- Não tenha vergonha de pedir, cara. Nós vamos te ajudar se você precisar. – Falou John num tom calmo.

Eles já tinham colocado aquela pedra esquisita chamada carbureto em cima das bancadas que ficavam os telescópios e havia várias garrafas pets e caixas de fósforo.

Na saída, havia três equipamentos de proteção individual: aquelas roupas brancas que usavam quando iam retirar o mel produzido pelas abelhas, algo assim. Dei um sorriso esperançoso que aquilo ia dar certo. Will e John retribuíram o sorriso.

Chegou outro garoto que eu nunca tinha visto e se apresentou.

- Meu nome é Carter Evans. Eu gostaria de participar disso. Eu já arrumei meu próprio equipamento. Acho que vão precisar de mim para cada um ir em um dos quatro cantos do colégio. Aceitam minha ajuda? – Perguntou ele com um sorriso e uma expressão de indiferença.

- Tudo bem então, Carter. Pode ir. – Disse Will com um sorriso no rosto retribuindo o de Carter.

- Obrigado. Eu fico com o lado da direita, Will o da esquerda. John fica com a frente e você, Adam, fica com a parte de trás. Pode ser? E não se esqueçam de voltar urgentemente pra cá quando terminarem de acender todas as garrafas.

- Pra mim parece uma boa. – Concordou John.

Eu também aceitei a ideia e nós colocamos os materiais bem divididos em quatro sacolas plásticas, uma pra cada, e vestimos aquela roupa de proteção que particularmente eu achava esquisita. Saí pela porta dos fundos no espaço mais minúsculo possível para não abrir demais a porta impedindo que muitos insetos passassem. Mas, com o efeito do veneno que ainda estava ali, os poucos que entraram, morreram.

Comecei a espalhar garrafas com carbureto dentro com o espaço de aproximadamente cinco metros de diferença pra cada uma.

Após espalhar em torno de vinte garrafas (porque o terreno de Stanford tinha que ser tão grande?), coloquei a caixa de fósforos em minhas mãos com luvas. Estava complicado manter o equilíbrio do palito de fósforo em minhas mãos para acender.

Depois de muito esforço para acender todos os fósforos e sair correndo para colocar em todas as garrafas, eu pude ouvir várias pequenas explosões se espalhando pelos quatro cantos de Stanford.

Quando eu corri de volta para dentro da universidade, os outros três que tinham saído já estavam lá. Vanessa correu para onde eu estava, me parabenizou e me deu um beijo. Da janela, pude ver a manada de insetos voando para longe, para nunca mais voltar. As pessoas que estavam nos seus dormitórios, saíam alegremente comemorando. E as que estavam dentro da universidade, saíram também comemorando.

Quando achei que tudo estava bem, ouvi gritos vindos da enfermaria. Só eu, Vanessa, John, Will, Sue e Carter, que estávamos na escola, ouvimos. Quando fui ver todos entramos em choque. Só havia Emily e um corpo queimado e deformado no chão.

Emily chegou para mim chorando e disse:

- Houve um acidente de trabalho. Ela estava tratando dos feridos e caiu sobre a lareira que nos deixava aquecido.

Só o que eu conseguia fazer era olhar para aquele corpo queimado horrível. Não sabia o que poderia fazer sobre isso.

Depois de sair daquela enfermaria com um corpo queimado e com apenas uma pessoa lá dentro, eu só podia pensar em como Emily era uma assassina, mentirosa e filha da puta.

Eu iria ter de sair de Stanford. Eu não gostava nada da ideia porque isso iria me atrapalhar muito mesmo nos meus estudos. Quando voltasse, o conteúdo já estaria todo atrasado e eu teria de trabalhar o triplo para acompanhar. Eu odiava a ideia, na verdade.


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Notas finais do capítulo

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