Julia’s POV.

Era uma tarde chuvosa. Eu estava no meu último dia de férias e tentando tirar um cochilo, como sempre. Tirando que meu irmão não parava de me infernizar com os brinquedinhos dele. Estava no meu quarto, deitada na cama com meus fones de ouvido. Percebi alguém abrindo a porta e entrando, me virei e vi que era minha mãe. Mas será de novo ela mandando eu arrumar meu quarto? “Espero que dessa vez não”, pensei.

– Ju, quero falar um pouco com você, tá ocupada? - ela disse, já sentando na minha cama.

– Não mãe, pode falar - tirei os fones de ouvido e me virei para ela.

– Primeiro de tudo, ainda não agradeci a você por ter entendido que eu tive que me mudar pra Inglaterra. Todos seus amigos estavam lá no Brasil, mas eu vim a trabalho, você já sabe, né. Enfim, só queria agradecer mesmo, filhota.

– Ok mãe, tudo bem. E a outra coisa?

– Suas aulas começam amanhã. Tá preparada para o primeiro dia? - ela riu.

– Ah, mãe, só porque você sabe que eu odeio essa coisa de “primeiros dias” - fiz uma careta para ela - E não, nunca estou preparada e nunca estarei.

– Mas Julia, é tão divertido! Você vai ver como é bom. Queria estar na sua pele só para ter esta sensação de novo.

– É, mas agora você é neuro-cirurgiã, certo? Não pode voltar no tempo mais.

– Eu sei disso.

Depois da nossa conversa, fui até a cozinha fazer um lanche para mim. Peguei um pouco de suco também.

Como já tinha tomado banho antes da chuva, estava limpa e alimentada, agora era só arrumar minhas coisas para o dia seguinte. Nossa. Como eu odeio primeiros dias de aula. Principalmente agora que é um país diferente, costumes diferentes, pessoas diferentes, tudo diferente.

Não tinha feito nada a tarde inteira, mas também não tinha dormido, por isso adormeci facilmente.

No dia seguinte minha mãe me acordou tranquila, dando beijinhos aqui e ali. Eu amava acordar assim, fazia me lembrar dos velhos tempos, quando meu pai ainda era vivo. Agora não é nada desse jeito, ainda tenho que aturar o idiota do Nick. Minha mãe não estava com ele nem há um ano e ele mudou conosco pra Inglaterra e agora vivo debaixo do mesmo teto que ele. Uhul. Bom, dei bom dia para a minha mãe, fui tomar café. Depois disso fui me aprontar: coloquei uma roupa legal que minha mãe tinha escolhido, escovei os dentes, o cabelo, peguei minhas coisas e fui. Minha mãe me deixou lá antes de levar Ed na escola dele e depois ir para o Hospital.

Vi a escola de longe, tipo uns dois quarteirões. Ela era grande. E alta. Conforme fui chegando, subi as escadas, abri a porta e fui andando pelos corredores. Me sentia uma estranha. Pensava comigo: “eu odeio isso, odeio isso, odeio isso. Ok, vou imaginar todo mundo com roupa debaixo. Mas não vai dar certo, nunca dá” e ri comigo mesma. Um menino que estava do meu lado viu eu rindo sozinha e do nada e riu junto. Ele era lindo. E aquele cabelo enrolado? Sou apaixonada por meninos com cabelo enrolado. E aqueles olhos verdes? Oh, meu Deus.

Enfim, não podia me distrair, tinha que ir para a aula. E sim, o sinal já tinha tocado e eu estava parada feito uma idiota no meio do corredor.

Quando entrei na sala, todos me olharam, inclusive o professor que estava dizendo alguma coisa que não pude ouvir. Olhei em volta e vi o mesmo menino que riu de mim no corredor. Ele estava conversando com quatro meninos que estavam em volta dele e, quando me viu, sorriu. Eu desviei o olhar automaticamente e pedi desculpas ao professor pelo atraso. Me sentei numa cadeira que estava vazia ao lado de uma menina com cabelos longos e castanho claro e um rosto muito amigável. Sorri para ela enquanto me acomodava. Percebi que, desde quando aquele garoto sorrira para mim e eu desviara o olhar, uma garota loira com cara de antipática que estava ao lado dele e de seus quatro amigos olhava para mim e saíam tipo uns poderzinhos dos olhos dela. Me deu até calafrios.

Voltei a olhar para o professor. Ele estava perguntando o nome de todos e de onde éramos. Tinham bastante pessoas novas e de vários lugares lá, fiquei surpresa.

– Agora a srta. atrasada, por favor, se apresente.

– Ahn, ham… Me chamo Julia e estou aqui por causa do trabalho da minha mãe. Somos do Bra-brasil - dei uma gaguejada no final porque foi quando ele me olhou, eu olhei pra ele e ele sorriu de novo. Um sorriso doce, mas malicioso. “HM, GOSTEI DISSO. JUJU GOSTA” pensei comigo mesma e estava rindo sozinha quando voltei ao mundo real.

O professor já tinha passado para a próxima aluna quando me sentei.

A aula foi super interessante. Era História. Embora eu não gostasse tanto, me interessei. E no final dessa aula sabia que o nome daquele garoto que me encarava tanto era Harry. Não era comum para mim, antes disso, só conhecia o Harry Potter mesmo. Também sabia o nome da menina do meu lado, a Thay, e da que soltava poderzinho pelos olhos, a Catherine. Ah, e sabia o da sala toda também. Uma coisa que sou boa é com nomes. E telefones.

Quando deu o intervalo, Thay foi diretamente a mim. Pelo o que ouvi falar na aula ela era alemã e muito bonita por sinal.

– Oi Julia! É isso mesmo, né? Se não for, me perdoe, não sou boa com nomes - ela riu.

– Oi Thay. É isso sim - eu sorri - e eu, na verdade, sou muito boa nisso. - meu sorriso se transformou numa breve risada.

– Então, ouvi dizer que o clima do Brasil é bem diferente do daqui, você deve estar estranhando.

– Ah, nem tanto, a minha cidade de lá fazia bastante frio também. Não como o daqui, mas eu vou me acostumando.

– Você tá aqui faz quanto tempo?

– Deve fazer um mês e pouquinho. E você?

– Estou aqui há mais de dois anos. Eu e meus pais nos mudamos da Alemanha pra cá por causa do trabalho deles também. Mudando de assunto, reparei em como Harry estava te olhando no meio da aula…

– Harry? Que isso! Quem é esse? - dei uma de desentendida só pra não dar muito na cara.

– Vamos, você sabe de quem estou falando. Até flagrei você sorrindo pra ele também. Pintou um cli…

– CLIMA? QUE CLIMA? Você está louca? - eu ria e ria e ria e ria. De vez em quando me dava um ataque de pelancas e eu ficava assim mesmo.

Ela riu junto comigo.

– Você é muito palhaça, sabia Julia?

– É, meu pai costumava me dizer isso - franzi a testa e parei de rir.

– Costumava? Por que costumava?

– Ele sofreu um acidente e mor…

– Não diga mais nada. Me perdoe por ter sido indiscreta. E eu sinto muito.

– Tá tudo bem. Então, vamos comer? Minha barriga tá roncando meio alto, não quero passar vergonha - eu ri - Você já tem companhia?

– Não, na verdade ia convidar você pra comermos agorinha - ela sorriu docilmente.

Harry’s POV.

Quando eu vi ela entrando no refeitório com a garota alemã, Thay, olhei para Louis e ele captou na hora. Não demorou muito para Liam e Zayn olharem também, mas Niall nem respirava direito por causa de tanta comida que ele tinha pegado.

Queria tanto ir falar com ela, queria saber como ela é, do que gosta, porquê me olha tanto…

– Vai falar com ela. Agora.

– Só se você prometer ir falar com a Thay. Cara, já faz um ano, UM ANO! - Falei para Liam enquanto estava com a boca cheia.

– É complicado… Você quer falar com ela desde que a aula começou, não acha que tá na hora de falar pelo menos um oi?

– É, acho, mas não agora. E O QUE É COMPLICADO? - Fingi ter me revoltado.

Ele fingiu que não ouviu.

Continuei comendo o lanche e disfarçando pra ver se ela olhava também. E não olhava. Acabei desistindo e comecei a introsar na conversa com eles até que…

– Harry, Harry, querido! - Ouvi uma voz fina e logo reconheci que era a Catherine.

– Oi Cath.

– Posso sentar aqui do seu lado ou tem alguém? Não tem ninguém né? Já falei que não suporto o tanto que o Niall come? Pra onde toda aquela comida vai, Jesus?

Eu não respondi, só continuei a comer na minha. Louis lançou um olhar que era mais um código nosso. Era código pra vazar.

Cinco minutos antes do sinal tocar, eu e Liam levantamos da mesa. Louis estava logo atrás com Zayn e Niall demorou um pouco pra acabar com o que estava na bandeja.

Quando levantei, Catherine foi atrás e me puxou pelo ombro. Infeliz! Ela interrompeu enquanto eu olhava para onde Julia estava indo.

– O que você vai fazer hoje, gatinho?

– Não te inter…

– Ele vai pra minha casa. Vamos planejar a festa do fim de semana hoje. E amanhã. E depois. - Liam me salvou. Naquela hora quis gritar um “CARA, EU TE AMO!” no meio do refeitório, mas não rolava.

– Ah, mas…

– Desculpa Cath. - Saí andando enquanto agradecia Liam bem baixo.