Um vazio no peito? Não. Lágrimas prontas para serem derramadas? Não. Dor insuportável? Não. Depois daquilo, eu não sentia nada. Não podia mais. E isso fez com que as pessoas aos poucos se afastassem. Os poucos amigos que me restavam desapareceram. Sobrou apenas Helena.

Fazia meses. O tempo corria devagar, mas felizmente correu. E eu queria que passasse aquele dia.

Fechei os olhos com força antes de olhar para o céu negro da noite. Cada estrela brilhava em sua cor, mas a única com quem eu me importava era aquela pequena logo ao lado da grande e verde bola de fogo. Minha Sophie.

O barulho da grama sendo pisoteada denunciou sua chegada. Ela sentou-se ao meu lado e estendeu-me uma caneca de cerveja amanteigada. Não se precisava dizer nada. O leve calor que fazia era aconchegante. Como de costume, ela se aproximou e apoiou-se em meus braços.

Fechei os olhos mais uma vez.

- Feliz aniversário, Sophie. – murmurei e senti a mão quente da corvina pousar sobre a minha.

Ela me abraçou. Não sei quanto tempo podia suportar aquilo mais. O cheiro de lavanda que vinha de seus cabelos encheu meus pulmões quando respirei fundo e apertei ainda mais o abraço.

- Sinto falta dela. – disse.

Sua respiração batendo contra meu pescoço me causava arrepios. Me afastei levemente para ter a chance de limpar uma de suas lágrimas, que corriam sem misericórdia.

- Eu também, Helena. – concordei.

E um impulso nos trouxe próximos. Senti apenas seus lábios mais uma vez contra os meus. Mas, dessa vez, eu sentira algo diferente.