PDV - Jacob

Ajudar ao próximo é uma boa ação que quase todos fazem ou deveriam. Já que faz bem a alma.

Mas se certas boas ações levassem ao inferno, com toda a certeza minha vaga estaria garantida.

Porque estou dizendo isso? Ah a resposta vem fácil – Ellie Black, ou melhor, Isabella Cullen – minha “esposa”.

O que tem ela a ver com tudo isso?

Ela tem TUDO a ver.

Ela me deve sua vida! Se não fosse eu...

Ok! Estou falando de mais e explicando de menos. Pois bem vou começar pelo dia em que tudo aconteceu.

Era algum dia de novembro e estava na casa da minha madrinha Sue. Já era habito eu passar alguns dias em Forks na casa dela.

Adorava as noites em que eu e meus amigos fazíamos uma fogueira para ouvirmos as estórias antigas sobre a nossa descendência quileute. Muitas delas lendas fantasiosas, mas mesmo assim me interessei tanto pelos métodos medicinais que acabei me tornando médico. Porém essa já é outra história.

Então... Voltando aquele dia de novembro.

Eu tinha ido até Forks com a intenção de relaxar e estava fazendo isso andando pela areia úmida da praia de La Push. O vento gélido agitava o mar o deixando revolto. Um mergulho estava fora de cogitação. Então continuei a andar até encontrar o tronco que usava como assento. Me sentei nele observando o horizonte distante, fechei meus olhos me concentrando. Estava tudo tão calmo, mas de repente ouvi um estrondo e a cena que presenciei mudaria minha vida para sempre – um avião caiu em alta velocidade não muito longe da praia. O impacto foi tão forte que senti a areia tremer. Com toda a certeza não haveria nem um sobrevivente. Mas quando vi já estava correndo e nadando contra as fortes ondas para me aproximar. Não sei o que deu em mim me arriscando por nada, mas quando notei uma linda mulher quase submergindo não pensei duas vezes ao puxá-la pelo braço e levá-la até a parte rasa. A deitei de costas verificando se ela tinha algum sinal de vida. Senti seu pulso que estava fraco, além de seus lábios roxos e pele muito pálida, havia hematomas e machucados em seu rosto, braços e mãos. Se eu demorasse ela sem dúvida morreria.

Antes de buscar ajuda, dei os primeiros socorros e a enrolei em meu casaco. O frio já estava começando a incomodar. Respirei fundo e andei o mais rápido que pude até meu carro. A acomodei o mais delicadamente possível e me dirigi à casa de Sue. Estava muito nervoso. Como uma coisa desses pode ter acontecido justo comigo? Só podia ser uma brincadeira de mau gosto do destino. Nós nunca nos demos bem mesmo, e parei de acreditar nele depois que minha mãe morreu por decorrência de um câncer de mama. Desde aquele dia me fechei um pouco. Sofri muito, mas nada se compara a dor que meu pai – Billy sentiu. Ele teve que se virar para cuidar de duas filhas pré-adolescentes e um garoto de 8 anos. Foi tudo muito, mais muito difícil. Não sei como ele conseguiu seguir em frente. Só sei que ele é meu exemplo e tenho orgulho por ser seu filho.

Dei um sorriso e virei o rosto olhando brevemente para a mulher que permanecia inconsciente. Sua beleza realmente era fascinante. Será que ela já pertence a alguém? Com esse pensamento mirei suas pequenas mãos e não gostei de saber que na esquerda em seu dedo anelar havia uma aliança. Quem quer que seja seu marido, o cara com toda a certeza tirou a sorte grande ao tê-la só para si. Pena que uma tragédia como essa quase o separaram.

Assim que cheguei, estacionei e chamei repetidamente por Sue que abriu a porta, vindo até mim correndo.

– Jacob, o que aconteceu? – Perguntou me olhando de cima abaixo.

– Eu estou bem Sue, já com ela não posso dizer o mesmo – Apontei para o lugar onde a mulher estava.

– Oh meu Deus! – Foi até ela. – Onde a encontrou? Porque ela está assim? Como... – Ela estava desesperada.

– Calma Sue – A interrompi para poder explicar toda a estória.

– Você só pode estar brincando! – Me encarou quando terminei o relato.

– A Senhora acha que eu brincaria com uma coisa dessas?

– Eu sei que não. Só usei uma força de expressão. Mas essa situação não parece ser real! Como ela – só ela conseguiu sobreviver?

– Eu queria muito ter essas respostas. Mas por enquanto ela precisa ser atendida.

– Vai levá-la para o hospital?

– Pretendo. Ela ainda tem chance, e quero dar isso a ela.

(...)

“Minha desconhecida” – como resolvi chamá-la (já que nessa ultima semana me apeguei muito a ela) estava melhorando aos poucos. Pelo menos não corria mais risco de vida. Foi o que meu amigo e Doutor Paul Slater me garantiu. O diagnostico quando a trousse foi três costelas quebradas além do braço direito e a perna esquerda, hemorragia interna e por conta de uma batida forte em sua cabeça ela entrou em coma, e não se sabe por quanto tempo permanecerá assim. E esqueci de mencionar um detalhe que me deixou muito surpreso – minha desconhecida estava grávida de dois meses. Só podia ser um milagre em dobro, já que tanto a mãe como o bebê sobreviveram. Realmente para essa mulher a sorte não lhe falta.

Os dias foram passando e se transformando em semanas que viraram meses. E por fim quando “Ellie” (nome escolhido por mim e Sue) estava quase 100% recuperada, menos pelo pequeno detalhe de sua memória que foi afetada. O resto se seguia perfeitamente bem – em meu mundinho com certeza!

(...)

Quando Ellie recebeu alta a levei para minha casa. Como havia gostado tanto mais tanto dela, me dei por vencido e decidi que ela seria minha esposa (mesmo que tudo fosse mentira) e eu o pai de seu bebê. É loucura eu estar a enganando desse jeito, mas eu a quero só para mim, e depois que os noticiários deram total cobertura ao acidente e várias entrevistas e investigações foram feitas revelando que todos os 200 passageiros não sobreviveram e que nada poderia ser feito, eu me agarrei à oportunidade de recomeçar uma nova vida junto com Ellie. Já ela me aceitou e aos poucos nossa relação foi se tornando sólida e bastante feliz.

Quando Emma nasceu me apeguei muito a ela, mesmo não sendo seu verdadeiro pai. A aceitei como minha legitima filha e nesses três anos que se passaram sinto que faria tudo novamente sem alterar nenhuma ação. Nem mesmo a mentira que contei a todos – que Ellie ou Isabella (seu verdadeiro nome) havia caído do penhasco por pura diversão. De principio Sue não gostou nada da minha idéia de não buscar por seu verdadeiro marido e família. Mal sabe que eu fiz exatamente isso, mas não cheguei a revelar nada, só procurei saber tudo sobre minha amada “esposa”. Descobri que seu marido é Edward Cullen filho do Doutro Carlisle Cullen o tão renomado médico. Ele de vez em quando faz uma visita no hospital onde trabalho, gosto dele, mas não posso correr o risco de acabar falando mais do que deveria e acabar me entregando.

Me senti mal ao saber também que tirei do pequeno Thomas sua mãe. Posso parecer o maior egoísta do mundo, mas quer saber? É eu sou mesmo. Não vou perder a chance de ser feliz pelo menos dessa vez não! Já sofri pela minha mãe e pela traição de Leah com meu ex melhor amigo Sam. Essa também já outra estória que só me deu dor de cabeça além do titulo de corno. Mas quer saber? Hoje vou afogar todas as minhas magoas!

Falarei sobre meu primeiro e único relacionamento – até agora. Pois bem, tentarei ser o mais breve possível. Não gosto muito de lembrar sobre aqueles tempos. Já se passaram doze anos. Eu tinha dezoito e ela dezesseis. Nos conhecemos na reserva. De princípio não fui muito com a cara dela, mas conforme fomos nos conhecendo melhor uma amizade foi crescendo e depois se tornou amor. Lembro-me que fiquei muito excitado pelo novo sentimento. Pedi ajuda ao meu pai e irmãs. Eles me deram muitas dicas que tentei seguir a risca. Me considerava um bom namorado – fazia todas as vontades de Leah. Até cuidava de seu irmão menor – Seth. Como fui tolo! Por sorte descobri tudo.

Tinha aceitado passar mais uma tarde com meu pequeno cunhado, mas ai me lembrei que ia sair com meu pai. Então fui correndo até a casa dos Clearwater para avisar Leah e também namorar um pouco. Bati na porta várias vezes e nada. Pensei em ir embora, mas algo me disse para entrar. Segui meus instintos e me deparei com a típica cena de filme – minha namorada agarrada a ninguém menos do que Sam, que se dizia ser meu irmão. Pisquei incontáveis vezes para poder acreditar no que os meus olhos viam. Quando cai na real avancei nele começando uma briga para tentar manter minha honra que já estava manchada, assim como ficou minha camiseta depois dos socos que levei.

Sai dali transtornado. Não dei sequer a chance dos dois se defenderem. Também não havia como – uma imagem vale mais do que mil palavras. E presenciar aquilo me afetara de tal maneira que tudo o que aprendi de integro com meus pais e familiares se modificou. Não queria mais saber de nada. Por um tempo me fechei como uma lagarta em seu casulo, só esperando o momento certo para a transição. Que para mim não veio. Mas se veio foi para pior. O Jacob bonzinho ficou para trás. Jurei nunca mais me entregar totalmente. Se sofrer fosse à recompensa para o amor, me privaria desse amargo sentimento.

E assim o fiz por anos. Me afoguei na faculdade e na residência. Estava mais que focado e não deixaria nada me abalar. Pelos menos foi o que pensei até encontrar com Sam acompanhando uma mulher que reconheci sendo Emily Young a prima de Leah. Não tive alternativa a não ser atendê-los. Ao me apresentar Sam ficou pálido e logo veio me encher de pedidos de desculpas que para mim foram sinceras, mas que não valeram de nada. Engoli meu orgulho e exerci meu papel como bom profissional. Ao final daquela consulta me surpreendi com as revelações de Sam. Ele me contou que o relacionamento com Leah não durou mais que cinco meses, e que logo em seguida engatou um namoro com Emily, que sempre foi seu amor – como ele admitiu.

Acabei aceitando seu pedido de desculpa e desejei felicidades pelo bebê que esperavam. Depois que saíram do meu consultório, fechei a porta contando até dez para não socar ou quebrar a primeira coisa que visse.

Após aquele dia não vi mais Sam nem Emily, muito menos Leah que pelo que pareceu sumiu da face da Terra. Até eu chegar um dia em casa cansado e de deparar com ela sentada no sofá da sala conversando animadamente com Ellie. Tive que me recompor do susto em poucos segundo e colocar a mascará de indiferença total a sua presença. Como Ellie não tinha conhecimento sobre mim e “sua nova amiga” fez as apresentações e agi com falso interesse durante o jantar. Às vezes pegava Leah me olhando e desviava fazendo caricias em Ellie que estava absorta do clima tenso ao seu redor.

Pois é... Minha vida não foi fácil e acho que nunca será. Mas também não posso ficar chorando pelos cantos. Tenho que correr atrás dos meus objetivos e alcançá-los de qualquer maneira. Custe o que custar. E não importa quem eu encontre no caminho, se estiver me atrapalhando passo por cima sem receio. É a minha felicidade que está em jogo e por ela aposto alto. Muito alto!

São por esses motivos que menti e continuo mentindo para Ellie. Ela foi meu segundo amor e não quero ter que entrar novamente no fim do poço por causa de mulher. Dessa vez sou eu que controlo a situação. EU mando! E continuarei assim por muito tempo. Terei o meu final feliz junto a Ellie como sempre quis.

É isso! Contei meu drama e não quero julgamentos ao meu respeito. Cada um faz o que quer e lida com as conseqüências como pode.

Ah e com certeza você quer saber muito mais sobre mim e minha vida. Infelizmente por enquanto é só. Mas continuem acompanhando que muito em breve darei as caras novamente para contar as novidades. Agora só posso dizer que desde aquele dia fatídico na praia de La Push o destino finalmente resolveu sorrir para mim.