Tempestade escrita por Aislyn


Capítulo 9
Memórias Dolorosas




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Todos estavam olhando para Reiko enquanto ela caminhava pelas ruas da Seiretei. Para a maioria dos shinigamis, a taichou do Kidoushuu era uma ilustre desconhecida. Ela não aparecia em eventos, nem em missões comuns a outros taichous, tampouco saia de seu posto para batalhas e sem dúvidas muitos questionavam o motivo para isso. Os cochichos eram insuportáveis, tanto que ela quase perdeu a paciência quando ouviu alguém dizendo que enquanto Aizen fugia, ela estava tomando chá. Pelo visto, o imponente manto com o símbolo do Kidoushuu não significava nada e o prestígio que um dia teve por ser uma mera oficial do Kyubantai era maior do que o que tinha desde que se tornara taichou.
Após mais cinco minutos de caminhada, chegou finalmente ao bantai de Muguruma Kensei, sem cerimônias entrou como se mais de cem anos não tivessem se passado. Foi impossível não sentir um aperto no peito e um nó na garganta naquele lugar, podia ver os rostos de seus amigos queridos, viver novamente os momentos felizes que teve com eles.

“Toudou... Kasaki... Shinobu. Que saudade. O que eu não daria para tê-los de volta aqui hoje.”

Nada havia mudado, nem mesmo a cor das paredes. Ao ver que a porta do escritório de Kensei estava aberta, ela entrou. Como ele não se encontrava lá, ela aproximou-se da mesa dele e meneou a cabeça negativamente, realmente nada havia mudado. A mesa estava uma bagunça, papéis para todos os lados e até mesmo farelos de biscoito espalhados. Era quase uma doença, ela odiava bagunça e aquilo lhe deu comichões. Assim que pegou um pano e álcool no armário, começou a livrar-se dos farelos, empilhou os papéis de qualquer jeito e deixou a mesa limpa. Precisava passar uma vassoura no chão, mesmo que aquilo significasse fazer algo que ne lembrava mais quando havia sido a última vez.
Com o chão já limpo, não conseguiria deixar os papéis daquele jeito, então, verificou do que se tratava cada um e os arrumou por ordem. Os mais importantes, ela carimbou e assinou. Sabia que o soutaichou não se importaria, afinal, Reiko conhecia melhor do que ninguém a rotina e o serviço do Kyuubantai que continuavam iguais.
Ela tinha certeza que enquanto Hisagi esteve a frente do bantai, aquilo não aconteceria.

– Eu só queria poder voltar lá atrás... Continuaria sendo uma mera oficial sem me queixar, apenas para que tudo fosse como era antes.

Reiko deixou uma lágrima escapar, realmente a aura daquele lugar havia mexido com ela. Estava para levantar-se quando ouviu vários passos vindo do corredor, parecia até uma manada de elefantes. Sem que ela pudesse acompanhar, Kuna Mashiro entrou como um furacão e pulou sobre a mesa, bagunçando tudo o que ela havia arrumado. Atrás dela, Kensei chegou em alta velocidade e gritou:

– Mashiro sua sem vergonha! Eu vou matar você!

Ele atentou-se para a sua mesa e quando seu olhar chocou-se com Reiko, a pose de durão desmanchou-se. No passado, ela teria explodido por causa daquela bagunça, mas tudo o que fez foi rir. Mashiro olhou para Reiko, estava chorando igual a uma criança.

– Rei-chan! Você voltou para ficar com a gente!

– Voltei, Mashiro – ela disse emocionada e puxou a garota para que pudesse abraça-la. – Na verdade, vocês voltaram para mim... Do jeito que era antes.

– Quanta melação – Kensei jogou a zapakutou no sofá e foi até as duas, no fundo, estava mexido com aquela cena. Ver Reiko em seu escritório era como voltar ao passado que tanto sentia falta. – Deixem disso!

– Vem cá, seu bobão!

Reiko o puxou e ele envolveu as duas em seus braços fortes, era impossível ficar alheio àquilo. Após alguns instantes, Mashiro saiu do meio dos dois e pulou a janela que estava aberta, correndo em seguida.
Muguruma Kensei sentou-se em sua cadeira, trouxe Reiko para o seu colo e apertou-a contra seu corpo. Não queria larga-la, tudo o que mais desejava naquele momento era que ela voltasse a fazer parte do seu bantai, contudo, sabia que era um desejo egoísta e praticamente impossível.

– Só pelo cheiro de limpeza, já notei que você andou se metendo no que não devia – ele tentou fingir que estava bravo, mas seu sorriso denunciava. – Pelo menos, não vou precisar limpar isso aqui por um mês.

– Um mês? - Ela balançou a cabeça. – Continua o mesmo porco imundo! – Reiko deu um tapinha no ombro dele e levantou-se. – Vem, vamos arrumar esses papéis...

Ela abaixou-se para pegar os papéis e entregava-os nas mãos de Kensei, ele estava calado, acompanhando os movimentos dela. Sua mente encontrava-se longe, precisamente no dia em que a conheceu. A cena se repetia, contudo, sentiu uma pontada no peito quando lembrou-se de Eishima Shinobu e Gizaeimon Toudou. Seus companheiros fiéis estavam presentes naquele dia e o haviam segurado como sempre faziam para que ele não castigasse Mashiro. Não se conformava com a morte deles, mesmo que mil anos se passassem. Reiko ergueu o corpo e olhou para Kensei, havia notado que ele estava distante.

– Amor... Está tudo bem? – Indagou com a voz branda.

– Eu estava lembrando do dia em que nos conhecemos – ele deixou os papéis sobre a mesa e voltou para o sofá. Ao abaixar a cabeça e olhar para o chão, continuou. – O que aconteceu agora... Foi inevitável não lembrar.

– Também pensei no mesmo – Reiko tomou o lugar de Kensei à mesa e voltou a organizar os papéis. – É impossível não pensar neles... Assim como em tudo o que passamos aqui no bantai. Infelizmente, Kensei, são tempos que não voltam mais. Tudo o que podemos fazer é viver o presente.

– Eu sei, só queria que eles estivessem vivos... O resto a gente daria um jeito! – Ele suspirou e olhou para Reiko, seus olhos estavam brilhantes, não parecia o mesmo de sempre. – Foi culpa minha! Era minha obrigação como taichou protege-los a todo o custo... Eu fui fraco, envergonhei meu time. Nem sei o que estou fazendo aqui para falar a verdade. Acho que voltei mais por causa sua, do que pela vontade de proteger este lugar novamente!

– Kensei... – Reiko o chamou seriamente, no fundo, estava se sentindo mal com tudo aquilo que ele dizia, mas não podia deixar-se levar. – Pare já com essas lamentações ridículas! Não foi culpa sua, entendeu? Você fez tudo o que podia ter feito e aquilo o que aconteceu era muito maior do que apenas a sua vontade de proteger a todos nós. A traição do Tousen foi determinante para o ocorrido... Você não podia imaginar que seu fiel oficial estava por detrás daquela sujeira toda, meu querido. Então, não pense assim... Nossos três irmãos queridos não gostariam de vê-lo falando essas coisas.

– Você sempre foi mais adulta que eu, Reiko... Admirava você por isso, mesmo sendo difícil admitir porque sou a primeiro a reprovar a infantilidade da Mashiro. – Kensei ficou olhando para ela enquanto trabalhava em sua mesa. – Isso aqui para mim nunca será a mesma coisa sem você...

– Não fale como se a gente fosse se separar outra vez, Kensei! Agora estamos juntos, mesmo que nosso trabalho seja em bantais diferentes. Você tem o Hisagi para ajuda-lo, não precisa mais de mim desse jeito.

– Okay, eu precisava ouvir tudo isso, obrigado... Agora me deixe sentar aí, preciso carimbar uns papéis e assinar.

– Já fiz isso – ela disse orgulhosa. – Espero que não se importe, eu estava apenas relembrando como era o trabalho aqui.

– Claro que não, me poupou de ler a mesma coisa de sempre...

Reiko se colocou no lugar de Kensei por alguns instantes, de fato tudo o que ele havia passado justificava aquelas palavras, nem ela sabia se teria suportado tanto... Se teria sido forte o bastante para lutar contra tudo o que ele lutou e seguir em frente. Pensando assim, ela se levantou e sentou-se ao lado dele. Um pouco incerta do que falar, preferiu apenas o abraçar, queria no mínimo confortá-lo. Não era fácil ter que assumir um time com o passado do Kyuubantai, com homens inseguros, desconfiados. Ela sabia que a maioria estava inconformada por conta de Hisagi Shuuhei não ter sido escolhido para aquele posto, contudo, o fator bankai ainda era decisivo na escolha de um líder. Pensando em animar Kensei, ela teve uma idéia, só não sabia se ele aceitaria.

– Taichou! – Sorridente, Reiko o chamou como no passado. – O que acha de um treinamento? A última vez que cruzamos as lâminas de nossas zanpakutous não teve a menor graça...

– Claro que não teve, você apelou com aquela droga de bakudou – queixou-se Kensei. Ele levantou-se rapidamente e puxou Reiko com força. – Vamos até o campo, Takeuchi!

– Sim senhor!

Ela saiu correndo na frente, ignorava os shinigamis que estavam pelos corredores e arredores do prédio, esbarrava em alguns e apenas sorria. Aquela era a cena mais estranha que estavam presenciando, nunca haviam visto uma mulher correndo daquele jeito por lá, – exceto por Mashiro – sobretudo na posição dela. Para surpreender ainda mais quem já estava boquiaberto, Kensei corria como toda a sua velocidade atrás de Reiko, gritando para que ela o esperasse.
Hisagi chegou a tempo de ver a bagunça, alguns oficiais mais antigos comentavam com ele a respeito da vida no Kyuubantai antes de Tousen assumir e ele não acreditou no que ouvia até ver com os próprios olhos. Realmente Muguruma Kensei era um homem com muitas faces, naquele momento entendeu o porquê de Reiko lembrar-se dele com tanta devoção quando pensavam que ele havia morrido. Adoraria ver o treinamento, contudo, havia muito o que fazer naquele dia.
Reiko parou ao chegar no campo de treinamento, estava vazio, como de costume.


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