Hey There Hinata escrita por Star


Capítulo 3
Desu Desu!




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"Hey there Hinata, I've got so much left to say, but you're so pretty when you're angry and it's really hard to concentrate, if you know what I mean... Never fought one day like this I'd fall. Even without anal. Oh, please don't be mad at me, oh, I'm sorry if your family can hear... "


~~~


– Essa novela não faz o menor sentido.

– É claro que faz.

– E é muito chata.

– Só porque não tem garotas sem roupa não quer dizer que seja chata.

– Quer dizer sim. Como esperam que um homem preste atenção se todo mundo fica tão coberto de pano?

– O Naruto gosta.

– O Naruto é um babaca.

– O Naruto quer que vocês dois fiquem quietos – Naruto falou do seu sofá, sem tirar os olhos da TV, antes de enfiar outra batata enorme na boca.

O acordo entre os três tinha sido feito há algum tempo e acabou acontecendo não exatamente da forma que Sasuke esperava. Agora ele e Naruto tinham refeições quentes três vezes ao dia - o que era uma grande melhora se comparado aos legumes sem cor e o macarrão instantâneo comprados de um armazém suspeito que também funcionava como galinheiro dos meses anteriores – e Hinata passava a maior parte do tempo com eles, assistindo TV, lendo, ajudando Naruto com o dever de casa ou acumulando uma dívida enorme por jogar cartas com Sasuke. A vizinha, conforme iam conhecendo, era doce e protetora e agia como uma irmã mais velha, mesmo que a maioria dos seus gestos inconscientes fossem extremamente infantis, como a facilidade para entrar em desespero, o modo como inflava as bochechas quando estava com raiva, a inocência - ou talvez lerdeza, haviam duvidas - que a impedia de perceber a maioria das piadas pervertidas de Naruto e a forma como entrava em pane sempre que Sasuke dizia algo sugestivo. Infelizmente, ela não acreditou que banhos grupais era política da casa e aprendeu a bloquear a porta do banheiro com uma cadeira, tornando bem difícil para Sasuke forçar um encontro nu acidental.

As únicas horas do dia em que aconteciam conflitos eram entre as seis e as sete da noite, depois que Sasuke chegava do seu trabalho medíocre na locadora semifalida com a sensação maçante de que estava desperdiçando a vida pesando nas suas costas e achava um absurdo maior que o discernimento do seu chefe molestador ter de aceitar assistir a novela boboca cheia de árvores que davam doce e bichos falantes. Provocações nem tão agressivas eram feitas todos os dias e rebatidas sem criar qualquer discussão realmente grave que durasse além dos comerciais, Hinata inclusive se acostumou e já depois de duas semanas conseguia manter contato visual com a carranca raivosa de Sasuke sem chorar. Mas nesse dia em especial Sasuke teve um trabalho horrível e cansativo limpando manchas estranhas da sessão de filmes adultos e sentia que se o maldito esquilo Jerry abrisse a boca pra cantar mais uma vez ele daria um tiro na televisão.

– É sério, isso é muito imbecil. Como o esquilo pode ter ipod se todo mundo ainda anda a cavalo? – resmungou. – E qual é a desse ladrão, afinal? Se fosse de verdade já teria matado a vadia da princesa e o esquilo, estuprado o corpo dos dois e fugido com a coroa.

Hinata o encarou subitamente, as sobrancelhas erguidas, surpresa como se ele tivesse acabado de falar no dialeto perdido dos escravos de Satã.

– Você disse a palavra com v – falou, quase em choque.

Sasuke franziu o cenho enquanto varria sua ultima fala por qualquer palavrão que começasse com a letra v, apesar de não se lembrar de nenhum.

– Ela quer dizer “vadia” – Naruto falou, para ajuda-lo, e recebeu um olhar repreensivo de Hinata. – Desculpe.

– Vadia? Qual o problema de vadia?

– É-é uma palavra feia – Hinata se esforçou para falar, ofendida, o rosto indo aos poucos para um tom leve de vermelho. – É... má.

– Vadia não é palavrão – Sasuke se defendeu. - Todo mundo fala vadia.

– P-p-pare de repetir!

Ela estava visivelmente desconfortável, mais vermelha a cada vez que a palavra com v era repetida. Sasuke mal conseguiu acreditar que em plena época de nudez no horário nobre alguém fosse capaz de se ofender com algo tão simples, mas ela era sincera demais para estar somente atuando como uma jovem donzela recatada e em parte por aliviar seu próprio estresse perturbando os outros, em parte por se irritar com a falta de liberdade para dizer o que bem quisesse dentro da sua própria casa, julgou justo continuar.

– Vamos, Hinata. Você sabe, vadia já é sinônimo pra mulher. Faz parte da cultura atual. Você deveria aceitar. – Inclinou-se para ela, dando um sorriso maldoso. – Afinal, você é uma vadia também.

O tapa que se seguiu pegou Sasuke de surpresa, marcando nitidamente cinco dedos finos em um vermelho dolorido no lado esquerdo do seu rosto. No momento seguinte Hinata estava de pé apertando os punhos, inteiramente vermelha e faiscando de raiva e uma tigela de batatas com carne estava virada no chão.

– Seu porco machista e nojento! – Ela gritou, antes de sair marchando duro e bater a porta tão forte que balançou as dobradiças.

Naruto ouviu a porta ao lado bater com a mesma força e preferiu ficar quieto vendo o colega de quarto com uma expressão transtornada levar a mão instintivamente ao rosto. Sasuke reconhecia a mandíbula dormente com a ponta dos dedos enquanto pensava como nunca antes vira Hinata tão brava – ou em qualquer outro grau de real irritação, na verdade – e ainda esperava que ela voltasse completamente envergonhada pedindo esculpas por exagerar. Ou talvez, quem sabe, quem tivesse exagerado fosse ele... Não, pff, que idiotice.

– Você deveria pedir desculpas – Naruto falou depois de algum tempo.

– É, claro. E você deveria parar de se masturbar com desenhos animados. Quem é o mais errado? – falou transbordando sarcasmo, e jogou-se em cima do sofá. – Cadê o controle remoto?

– Tô falando sério. A Hinata é uma garota legal e você tem que parar de ser um babaca com todo mundo.

– Não faz drama, ela vai acabar voltando.

– Ela levou o controle remoto.

Sasuke encarou a TV, pensativo.

– Vou pedir desculpas. Amanhã.

– Beleza. Quando?

– Amanhã.

– Que horas?

– O que, você guarda a agenda dela, por acaso? – resmungou. – Sei lá, antes do trabalho.

– De manhã ela está na escola.

– Ela ainda vai pra a escola? – Perguntou, e de repente a imagem de Hinata usando roupas colegiais brotou na sua mente. Uma blusa de botões abertos, uma saia curta, um olhar envergonhado e um “por favor, sempai~...” que o fez balançar a cabeça para manter o foco. – De tarde, então.

– Ela sai da escola meio-dia e vai direto pro trabalho, até as seis, e se você deixar pra falar com ela depois disso nós já perdemos o café da manhã o almoço e o jantar. Sem contar que ela vai continuar o dia inteiro irritada por culpa sua.

Sasuke raciocinou um pouco e lembrou que nunca realmente vira Hinata durante o dia. O almoço sempre aparecia misteriosamente pronto em cima da mesa, bem como uma pilha de tapueres vazios surgiam magicamente em cima da pia.

– Você realmente não esperava que ela trabalhasse? Como acha que ela paga as contas de casa? – Naruto perguntou, surpreso com a falta de atenção do outro. - Quer dizer, mesmo com o cara que mora com ela ajudando, ainda fica meio difícil.

– Ela divide o apartamento com alguém? – Perguntou e franziu o cenho, tentando forçar qualquer lembrança de algum homem saindo do apartamento ao lado. Tendo fracassado nisso, voltou-se para Naruto. – O que diabos é você? Um ninja?

– Todo mundo acaba sabendo esse tipo de coisa depois de três meses – falou, com ares de quem conversava com uma criança. - Você também saberia se não pensasse em outra coisa além de si mesmo e em como ser mais babaca.

– TRÊS MESES? – Sasuke jogou a cabeça pra trás e esfregou o rosto com as mãos – Já faz três meses que eu trabalho naquele buraco? Puta merda...

A familiar locadora Jiraya, de paredes cheias de infiltração e cortinas de contas desbotadas, lhe rendia trezentos reais por mês que sempre pareciam sumir depois de duas horas, e Sasuke se perguntou como a companhia de luz ainda não tinha vindo cortar a eletricidade por falta de pagamento. Os únicos fregueses que ainda apareciam no ambiente com futum constante de desinfetante barato eram pirralhos que moravam por perto e vinham sempre furtivamente no horário de saída da escola querendo ver alguns peitos. Por bondade ou puro despeito com as regras Sasuke sempre fingia não ver que a identidade do moleque ainda trocando dentes de leite tinha sido feita no paint, e eram eles quem mantinham a locadora longe da falência.

– Eu dou um jeito de passar no trabalho dela. Você tem o endereço, não tem?

– Tenho um panfleto.

– Tá beleza.

Os dois ficaram em silêncio novamente, assistindo o esquilo Jerry cantar sobre a importância de pensar antes de fazer escolhas ou sobre como lavar as mãos, de qualquer forma, entre um verso e outro, Sasuke achou uma brecha pra perguntar, o mais casual possível.

– É muito estranho que eu tenha tido uma ereção quando ela me bateu?



“Desu Desu!”, dizia o panfleto em suas mãos, bem como o enorme letreiro cor-de-rosa à sua frente. As palavras café e doceria eram mencionadas no papel mas Sasuke achou aquilo mais parecido com um clube de strip direcionado a um só fetiche. Todas as garçonetes usavam saias curtas armadas cheias de babados por baixo, ligadas aos tops colados e reveladores por fitas cruzadas nas costas e na barriga, além das luvas até o cotovelo, meias, botas, tiara e gargantilha. O que basicamente significava que aquilo iria ser muito, muito interessante.

Já tinha tudo planejado. Seria um pouco de “sinto muito por ontem”, bla bla bla, “me desculpe mesmo”, fingir ouvir qualquer coisa que ela pudesse embromar, assentir com a cabeça o tempo inteiro, checar disfarçadamente as outras garçonetes, então fazer cara de cachorro com fome e terminar com alguma frase comovente do tipo “preciso de você” ou “você é incrível, eu sou um idiota” e bam, poderia até ganhar biscoitos pro jantar e, se desse sorte, o telefone de alguma colega de trabalho pro lanche. Depois poderia sumir pro bar na hora da novela, beber alguma coisa e assistir a maratona de Jason mais tarde.

– Bem vindo ao Desu Desu! – Uma garçonete que já o tinha visto parado em frente à doceria há algum tempo cumprimentou logo que ele passou pelas portas de vidro, animada por ver um cliente que não era careca ou tinha manchas de suor debaixo do braço, e por que não dizer atraente?, e abriu o mais convidativo dos seus sorrisos, empinando-se inteira. – Posso acompanha-lo até sua mesa, meu senhor?

– Não, obrigado – falou, dando um sorriso modesto e imaginando se deveria deixar uma nota dentro do decote dela. - Na verdade, eu estou procurando por alguém.

– Mesmo? Que coincidência, eu também estava, e agora o senhor está aqui – ela falou, risonha, pressionando o cardápio contra o peito de forma que seu busto saltasse ainda mais para fora.

– Não, de verdade – fingiu rir da forma mais amigável que podia, apesar de realmente achar graça da forma como a garota se estufava por inteiro, e se perguntou se por acaso mantivessem uma conversa como ela faria para respirar. – Procuro por Hyuuga Hinata. Ela trabalha aqui?

A animação da garçonete loira se esvaiu completamente, embora ela tenha se esforçado para manter um sorriso mediano enfeitando o rosto.

– Oh, claro. Só um minuto.

Girou nos calcanhares, balançando seu rabo-de-cavalo loiro nas costas e o deixou sozinho na entrada do grande salão.

Sasuke se surpreendeu, o ambiente por dentro era mais agradável do que ele esperava. As paredes eram divididas entre madeira envernizada e pintura cor de creme, as cadeiras tinham dois lugares juntos, como pequenos sofás, com estofado cor-de-rosa, arranjadas duas para cada mesa quadrada com entalhos de corações e ondinhas nas bordas, arranjos de flores eram dispostos em todos os cantos e havia uma quantidade enorme de janelas, além de um lustre gigantesco que deixava tudo muito iluminado. Não estava muito cheio e garçonetes carismáticas andavam de um lado ao outro levando sobremesas ou simplesmente conversando animadamente com os fregueses – a maioria homens de terno e de aparência imponente. Sasuke pensava como aquele lugar daria uma fotografia bonita, talvez com uma luz alaranjada, até ouvir Hinata murmurar o seu nome, espantada. Ela rapidamente cobriu a boca com as mãos, o rosto tingido de vermelho, e Sasuke concordou mentalmente com suas expectativas de que o uniforme do lugar lhe caía extremamente bem, mesmo que ela tivesse adicionado um avental ao conjunto.

– O-o q-que você está fazendo aqui? – perguntou uma muito corada Hinata.

– Eu estava passando e decidi visitar o lugar – sorriu, percorrendo com certo interesse as coxas desnudas da vizinha. – Você deveria usar essa roupa mais vezes, de verdade.

Hinata sentiu o rosto entrar em combustão de raiva e apertou os punhos para sentir alguma força própria e não sair correndo imediatamente.

– Vá embora!

– Hinata! Seja mais gentil com os clientes! – Repreendeu uma das garçonetes, dando um sorriso carismático para Sasuke ao sair para outra mesa.

– Exatamente. Um pouco mais de bom humor não iria matar, sabia? – Viu Hinata fechar ainda mais a cara, começando a inflar as bochechas vermelhas, e deu uma risada. – Vou parar com as brincadeiras, prometo. Vim em missão de paz – anunciou, fazendo uma cara inocente com uma mão erguida e outra sobre o peito.

Hinata franziu o nariz e desviou o olhar depois de algum tempo considerando a suspeita postura de pessoa arrependida e confiável que ele fazia.

– Saio em cinco minutos.

– Eu estava pensando em esperar aqui dentro, mesmo. A visão é bem mais agradável.

– Você não pode! – disse, aflita, puxando a saia do seu uniforme constrangedor mais para baixo.

– Acho que posso, sim. Tem uma mesa vaga bem ali.

– Eu faço biscoitos, se você sair!

Sasuke oscilou.

– Você não vai poder me subornar com biscoitos pro resto da vida, sabe – falou, levemente irritado com a própria fraqueza. – E não demore.



Pouco depois das seis, do seu canto encostado na mureta de ferro, Sasuke viu Hinata se despedir dos outros e descer os degraus de entrada, enfiada no seu pouco generoso blusão com uma mochila mensageiro atravessada no ombro. Deixou-se consolar pela falta do uniforme com a conclusão de que ainda tinha o endereço do café e uma boa máquina fotográfica em casa. Ela andou até ficar de frente para ele menos agitada que antes mas ainda de cara fechada.

– Você é mau.

Ninguém precisa ser muito inteligente pra chegar nessa conclusão, pensou Sasuke, sincero, mas preferiu dar um falso sorriso abatido e começar a soltar sua ladainha.

– Olha, Hinata, eu sinto m-..

– Já está ficando tarde – ela comentou, olhando distraída para o pôr-do-sol já quase no fim. – Você se importa se a gente conversar depois? Preciso fazer uma coisa.

É claro que se importava! Tinha perdido uma hora de trabalho, descontado do salário trinta reais e deixado na abstinência cerca de quatro moleques para resolver aquilo antes de chegarem em casa, fora o tempo parado na mureta vendo velhos estranhos entrarem e saírem do Desu Desu. Tinha memorizado um monólogo emotivo, preparado as melhores expressões faciais, reservado uma ENORME quantidade de paciência que não pertencia a ele! É CLARO que ele se importava!

– Não, não me importo – mordeu as bochechas por dentro, se esforçando para não sorrir de forma psicopata. – Quer que eu te acompanhe? É perigoso andar só de noite.

– Não! Ou… n-não, obrigada… – ela se apressou em responder, e de repente o interesse dele aumentou consideravelmente.

– Você está escondendo um segredo? – perguntou, de sobrancelhas arqueadas, porque era gostoso provoca-la.

– N-n-n-não!! – as bochechas dela coraram. - Não é um segredo!

– Nesse caso, acho que vou te acompanhar de qualquer jeito.

– Mas...!!

– Anda, anda. Eu quero conhecer o seu segredo.

Hinata ainda passou algum tempo empacada, com as sobrancelhas fortemente franzidas e os lábios apertados, fazendo força pra pensar rápido em algo para se livrar, quando Sasuke começou a andar e deixa-la para trás, mesmo não sabendo qual direção ela iria.

– E-e-espere! – ela gritou, e correu alguns passos para acompanhá-lo. – Você pode ir – decretou, as bochechas coradas. – M-mas... Não conte a ninguém.

Seguiram juntos a certa distância devido aos passinhos apressados de Hinata, retorcendo a correia da mochila, por boa parte da rua, antes chegar à parte do bairro que Sasuke mal conhecia. Ele a viu sumir em um beco entre dois prédios pichados e quando conseguiu o alcançar, ela estava escalando uma cerca de metal de dois metros que bloqueava a passagem, com toda a habilidade do costume. Jogou a mochila do outro lado antes de saltar e aterrissou firme no chão de terra, virando-se para ele apenas para dizer que faltava pouco.

Andaram por mais algumas ruas até chegar a uma parte afastada onde já não tinham prédios ou casas e passaram para uma estrada pouco usada à beira de uma baía bastante poluída, separada do barranco de alguns metros para a água por uma cerca velha de madeira. Hinata parou para espera-lo perto de uma das vigas grossas e cheias de falhas, os cabelos balançando na ventania gelada que jogava o cheiro de maresia contra a cara dos dois.

Quando chegou perto o suficiente, Sasuke percebeu que aos pés dela estava uma caixa de papelão razoavelmente grande, e depois reparou que a parte de cima recortada se remexia, tentando abrir. Hinata pôs a mochila de lado e se ajoelhou, abriu a tampa roída, mostrando dois cachorros de pelo bagunçado, um deles que começou a latir vigorosamente.

– Oi, garotão. Trouxe visita hoje. – disse com a voz tenra, a o que o cachorro respondeu se afastando, rosnando e latindo mais alto. Virou-se então para a mochila e começou a desembrulhar uma sacola que havia enrolado lá dentro – Eu sei que ele parece bem agressivo, mas não acho que seja perigoso. Talvez eu consiga treiná-lo, seria bem divertido. Talvez ele consiga ser bonzinho um dia, e não fazer tanto barulho. Ah, mas cuidado, ele morde.

– Pode ser meio difícil treinar cães de rua já desse tamanho – Sasuke falou, abaixado nos calcanhares lado dela, e Hinata lhe dirigiu um olhar curioso e risonho.

– Ah, não, eu não estava falando com você.

Um pequeno pote foi aberto, com uma gororoba na maior parte feita de carne moída e ração de cachorro. Hinata separou na mão um pedaço da comida amassada e a ofereceu dentro da caixa. O pequeno cachorro agitado pulou para longe e rosnou para a sua mão por algum tempo, até arriscar-se a cheirá-la e finalmente dar uma lambida na comida, que aceitou de bom grado.

– Não é culpa dele ser tão desconfiado – ela falou, em tom defensivo. – O outro cachorro é a irmã dele e está machucada. Quase perdi o braço até descobrir isso.

Sasuke olhou em volta, não havia absolutamente nada fora as costas dos prédios que sequer estavam pichadas e uma ponte atravessando a água em um ponto muito, muito distante.

– Como encontrou esses dois aqui?

– Eu estava voltando tarde do trabalho quando vi três garotos chutando os dois. Foi realmente angustiante. – Hinata apanhou o raivoso no colo e lhe serviu mais um punhado de comida com a mão. – Eu os salvei e resolvi deixa-los aqui, pra que ninguém mais os achasse.

– Por que não os leva de uma vez pro apartamento?

– Neji-kun nunca iria deixar – disse, com um sorriso tristonho, com seus dedos sendo lambidos avidamente. – Ele acha que são muito sujos, barulhentos e desordeiros.

Sasuke imediatamente ligou o nome ao homem com quem ela dividia a casa, e sua aversão natural por ele aumentou.

– Você poderia escondê-los lá em casa – ofereceu, meio incerto – pelo menos quando ele aparecesse. Quer dizer, vocês não moram juntos o tempo todo… Não é?

– É uma oferta muito generosa, Sasuke-kun, mas eu não quero perturbar ainda mais vocês dois.

– Você não perturba – falou automaticamente, e percebeu que Hinata provavelmente se referia ao dia anterior. – Sobre ontem...

– Peço que aceite minhas desculpas por ontem, por favor – disse, e desviou o olhar dele para o cachorro que brincava com seus dedos, embalado no seu braço. – Eu não deveria criar tanto desconforto para vocês dois, considerando o quanto foram gentis comigo desde o inicio. Desculpe. Não agi de forma própria, e juro que vou entender se não quiser que eu volte à sua casa. Acho que fiquei assustada, na verdade. Na minha antiga casa ninguém se tratava com tanta liberdade quanto você e Naruto. Era tudo coberto por disciplina e regras. Ninguém costumava dizer palavras feias. Ou dizer qualquer coisa, na verdade – for a baixando o olhar e o tom de voz conforme falava, até que sua última frase saiu em apenas um murmúrio. –

As palavras dela fizeram com que ele se lembrasse da própria vida antes de desistir da faculdade e sair de casa. O pai extremamente exigente e moralista, os desconfortáveis jantares emudecidos, com uma versão menor dele choramingando o mais silenciosamente que podia, porque sentia falta demais da mãe e ninguém lhe dizia aonde ela tinha ido. Por compaixão e pelo desejo ainda maior de voltar a esquecer tais lembranças, Sasuke deu um tapa leve na cabeça dela, fingindo irritação.

– Idiota. Não roube as minhas desculpas – ela levantou os estranhos olhos acizentados para ele. - Sinto muito se te magoei ontem. Não há nada de errado em você ser inocente. A culpa é minha por ser um babaca, e espero que você consiga se acostumar logo com isso. E não precisa agir como se tivesse algum comportamento certo ou errado. Afinal, somo amigos, não somos?

Ela sorriu.

– Acho que sim.

– Amigos se suportam, independente do que façam. Você já faz parte daquele apartamento, pode voltar lá quando quiser. Na verdade, temo que Naruto vá se suicidar se você não voltar. De verdade.

Hinata deu uma risada tímida e agradável, ofereceu o pequeno raivoso para Sasuke segurar e os dois ficaram sentados na areia tentando fazer o raivoso parar de morder e puxar os cadarços de Sasuke e ajudando a pequena irmãzinha sonolenta que sempre capotava para um dos lados mesmo quando sentada a andar até o céu escurecer por completo e voltaram para casa, Hinata correndo com o pequeno raivoso em seu encalço e Sasuke a observando com certo apreço, carregando a caixa de papelão e a recente constatação de que havia esquecido completamente as suas desculpas ensaiadas.

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"A thousand miles seems pretty far, I'm broke, proud, easy to get lost, but I'd even walk to you if I don't find other way."


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Notas finais do capítulo

Vocês já conhecem a política da casa, não é mesmo? 8D
Quaisquer erros achados, indignações violentas de porque o Sasuke parece estar constantemente no cio ou simplesmente reviews amigáveis são bem vindos a qualquer hora do dia.
E eu tô começando a achar que vai ter história demais pra letra de menos. E pensar que isso começou como songfic. Ô, minha habilidade de organização.... 8D
Ah, e pequena enquente: Qual vocês acham que devem ser os nomes dos cachorrinhos? Até agora só consegui pensar em "Raivoso" e "Sarnento" para o menino, e "Patinha" pra menina. Pséééé, criatividade tá voando alto. Por favor, deixem suas sugestões! E até o próximo capitulo! ♥