Lara’s POV

Triiiiiiiiiim Triiiim

O maldito som do despertador ecoou pelo quarto. Senti uma súbita vontade de estraçalhá-lo na parede, porém lembrei que esse seria o terceiro despertador só nesse mês.

Levantei (lê-se “rastejei para fora”) da cama, coloquei meus óculos brancos e fui direto para o banheiro. Todo meu sono esvaiu-se quando me olhei no espelho. Eu definitivamente não estava bonita. Tomei coragem e abri a gaveta, pegando uma escova de cabelo e resolvi pentear meu ninho de rato particular. Depois de longos dez minutos meu cabelo extremamente liso e castanho escuro, quase preto, já caía sobre meus ombros como sempre. Ou seja, continuava uma bosta.

Passei uma água no rosto e voltei a encarar meu reflexo. Meus olhos meio pequenos e da mesma cor de meu cabelo aparentavam cansaço e tédio. Minha boca (extremamente pequena, diga-se de passagem) estava com rachaduras nos lábios e lindas espinhas enfeitavam minha testa. Tudo estava normal.

Voltei para meu quarto e vesti o uniforme do colégio: uma camisa branca com gravata e saia xadrez azul. Até teria colocado o sapato ridículo que fazia parte do uniforme, se eu o tivesse comprado. Não obrigada, prefiro gastar esse dinheiro comprando meu All Star amarelo. E foi ele quem eu calcei.

Desci as escadas, peguei uma maçã para o lanche e atravessei a porta. No ponto de ônibus na esquina de minha casa, estava uma Laís nada feliz.

Seus cabelos castanhos claros, quase loiros, estavam caindo sobre seus ombros com leves ondulações na ponta. Seus olhos castanhos estavam quase escondidos atrás de seus óculos, que eu sabia que ela só usava na escola. Vestia o uniforme do colégio assim como eu. Quando ouviu o som de meus passos, ela me olhou com o rabo do olho e disse:

– Atrasada.

– Como sempre. Bom dia, Schisb. – Esse é o apelido dela, por causa de seu sobrenome: Schisbelgs.

– Bom dia Estrela. – Ah, esse é meu apelido/sobrenome.

– Cadê a Jé, a Preta e a Ju? – Perguntei, me referindo a nossas melhores amigas: Jéssica Delfino, Amanda Reis e Júlia Rainha.

– Devem estar chegando. Olha lá a Jéssica e a Julia. – Ambas olhamos para as figuras que atravessavam a rua.

Jéssica tinha cabelos castanhos extremamente ondulados, sempre presos em seu fiel rabo de cavalo. Seus olhos da mesma cor estavam atrás de seus óculos, e nos avistaram imediatamente. Julia vinha andando um pouco atrás, com pressa para alcançar a amiga, e isso fazia que seus cachos balançassem à medida que ela andava mais rápido. Seu cabelo era castanho claro, porém muito mais perto de ser loiro do que o de Laís. Seus olhos eram castanho escuro.

– Bom dia! – Disse Julia assim que nos alcançou.

– Hã – Jéssica balbuciou algo ininteligível que podia tanto significar “Bom dia meus amores!” como “Vão tomar no cu”

– Sua felicidade me contagia. – Provoquei Jé.

– Como se você estivesse muito mais feliz. – Respondeu Jéssica em tom de briga, porém nós duas rimos.

– Olha só quem ta chegando. Preta, seu irmão e... Harry. – Laís disse e eu senti algo estranho. Esse nome tinha poder sobre mim. Acho que é porque eu tinha uma queda (Lê-se “um precipício”) por esse menino desde que me mudei para Londres.

Amanda estava à frente. Tinha um tom de pele moreno, mas bem claro (mas é óbvio que nós tirávamos sarro disso, chamando-a de Preta). Cabelos castanhos lisos emolduravam seu rosto e seus grandes olhos da mesma cor nos demoraram a nos avistar, pois ela estava totalmente aérea com seus fones de ouvido, que eu tinha certeza que tocava Beatles. Seu irmão, Rafael, andava um pouco atrás dela e ao seu lado estava um de seus melhores amigos. O dono dos pares de olhos verdes mais lindos que eu já vi na vida. Seu cabelo cacheado e castanho estava, como sempre, bagunçado, e um sorriso brincava em seus lábios, mostrando suas adoráveis covinhas na bochecha. Uma pergunta: é ilegal ser maravilhosamente maravilhoso?

Para completar ele usava um Vans, sua gravata do colégio estava totalmente desarrumada e suas calças estavam abarrotadas. Ou seja, ele estava lindo de um jeito que somente Harold Edward Styles consegue ser.

Amanda andou em nossa direção e, infelizmente, seu irmão e Harry não fizeram o mesmo e foram se juntar ao resto de seus amigos. Ela sorriu assim que nos viu, e imediatamente fomos contagiadas por sua alegria.

– Aleluia é hoje, não agüentava mais esperar! – Ela comentou, obviamente falando de sua festa de 15 anos, que seria hoje na casa dela.

– Finalmente vou poder o único vestido de festa que eu tenho. – Comentei.

– Nível de sociabilidade: Lara Estrela. – Disse Jéssica e todas acabaram rindo, inclusive eu.

O ônibus chegou bem na hora que eu deixei minha mochila cair no chão, espalhando todos meus cadernos. Não sei se eu comentei, porém eu sou extremamente desastrada. Assim, as meninas entraram primeiro e eu só entrei quando a porta estava prestes a fechar.

Assim que olhei para dentro do ônibus meu coração parou.

T-O-D-O-S os malditos lugares estavam ocupados. Exceto por um. Ao lado de ninguém mais ninguém menos que Harry Styles.

Com as bochechas ardendo de vergonha, sentei-me ao seu lado e ignorei os olhares de minhas amigas. Inalei seu perfume e PELO AMOR DE DEUS que homem cheiroso! Eu podia jurar que ele ouviria as batidas do meu coração, mas GRAÇAS À DEUS ele estava com seus fones de ouvido no máximo. Porém, do jeito que eu sou azarada, é óbvio que essa situação não durou muito.

Quando percebeu que eu me sentei ao seu lado, ele tirou ambos os fones e disse:

– Olá Lara.

MERDA! Precisa ser tão educado assim? Pra mim estaria perfeitamente bom se ele continuasse ouvindo sua música e me ignorasse enquanto eu absorvia cada detalhe de seu rosto. Mas é claro que eu teria sido anormalmente sortuda se isso tivesse acontecido. E esse tipo de coisa não acontece na minha vida.

Eu, inteligentíssima e habilidosa com as palavras como só eu consigo ser, respondi:

– Hã... Olá Harry. – Parabéns Lara. O menino mais popular, lindo, gostoso, maravilhoso, tesão da face da terra vem falar com você e você responde isso?

– Vai na festa da Amanda hoje? – E eu que tinha achado estranho ele saber meu nome. Sua vontade de continuar o assunto era mil vezes mais estranho

– Vou sim, você vai? – Consegui formar uma frase sem pausas estranhas ou sem gaguejar. Finalmente.

– Aham, vou tocar com o White Eskimo. Um favorzinho ao Rafa. – Ele sorriu e eu quase cai do meu banco.

Esqueci de comentar: além de toda sua beleza e educação, ele ainda cantava numa banda. Ok, quando é que nós casamos mesmo?

– Legal... Nunca te vi cantando. – Disse sem pensar. Chimpanzés tem mais habilidade verbal do que eu na frente de meninos bonitos sem dúvida alguma.

– Depois da minha apresentação de hoje eu vou te procurar pra saber o que você achou da minha voz. Portanto, nem pense em ficar em casa, como eu sei que você sempre faz. Espero te ver lá, Estrela. – E então ele piscou para mim, se levantou e saiu do ônibus como se nada tivesse acontecido.

Pera ai, isso foi uma cantada? Como ele sabe que eu odeio festas e que eu sempre fico em casa quando tenho uma? Por que diabos ele piscou pra mim? Esse menino quer me matar do coração? Saí do ônibus atordoada com essas perguntas e nem prestei atenção na conversa de minhas amigas. Passei o resto do dia escolar pensando na piscadinha super-hiper-mega-blaster-sexy que Harry Styles me deu.