Dois Mundos: Entre A Magia E O Poder. escrita por Tye


Capítulo 8
Minha primeira dose de semideusa


Notas iniciais do capítulo

Ok. Nem se eu escrevesse uma fic com o título "Desculpa" e escrevesse 25 capítulos (cada um deles também com o título desculpa), cada um com três mil palavras e cada uma dessas palavras fosse "desculpa" eu poderia me desculpar direito com vocês. Eu sei gente, essa demora passou dos limites e eu não vou ficar aqui tentando me explicar (podem me xingar nos reviews...). Então eu agradeço de coração os que ainda não me abandonaram, o que continuaram esperando a fic ser atualizada, eu prometo compensar vocês daqui para frente!

Espero que gostem do capítulo, fiz com carinho *-*

Até lá embaixo!



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Voar em um hipogrifo era quase tão bom quanto voar em uma vassoura. Além do mais, enquanto eu recortava as nuvens, pude pensar com mais clareza. Era a primeira vez em alguns dias, que eu estava consideravelmente sozinha, sem ter que me importar em prestar ou não atenção em algo que alguém estava falando ou coisa do tipo... e como a viagem foi longa, tive tempo de sobra para ordenar meus pensamentos.

1. Sou uma semideusa.

2. Significa que sou filha de um deus.

3. Um deus é meu pai.

4. Já mencionei a existência de deuses?

Para meu desgosto total, esses foram os meus pensamentos durante grande parte do tempo, o que não me fez chegar a nenhuma conclusão útil. Tentei refletir também sobre minha relação com Caio... era tão estranho pensar que em menos de 4 dias alguém pudesse chegar a um nivel de intimidade assim tão grande comigo... e o nosso quase beijo, só deixou ainda mais claro quão forte era nossa ligação.

A certa altura, tentei colocar meu cérebro para trabalhar em coisas mais produtivas, como o mapa e a caixa. Obviamente não cheguei a conclusão alguma, o que já era de se esperar.

Depois de longas horas de viagem – alcançando um ponto no qual minha bunda estava quadrada e dolorida – entramos nos limites do Alaska. Assim que atravessamos a fronteira, senti a mudança de clima. E eu não me refiro a temperatura... o Alaska parecia ser um lugar sinistro e sombrio, por alguma razão que eu não sei dizer qual é. Certa vez, em uma das historias da mamãe, lembro que me foi mencionado algo sobre o Alaska. Algo como “terra abandonada pelos deuses”. E isso nem de longe pode ser bom.

– Fiquem perto! – berrou Clarisse.

A garota tomou velocidade, e quando nos demos conta, estávamos nos dirigindo a uma fenda, em um grande penhasco. Pensei que Clarisse fosse desviar, tomar outro rumo ou qualquer coisa do tipo, mas ao invéz disso, ela se enfiou dentro da caverna, sumindo na escuridão. Obviamente, minha única opção foi segui-la.

A “aterrisagem” foi uma coisa confusa. Acabei me dando conta de que a caverna, era maior do que eu esperava (era quase do tamanho da sala comunal da Grifinória). Clarisse já estava acendendo uma fogueira no interior da caverna e se sentando. Como eu não fazia ideia do que estávamos fazendo ali, simplesmente coloquei-me a encara-la.

– O que foi? – ela perguntou depois de alguns segundos de contato visual.

– “O que foi”? Clarisse, por favor! Você chega, nos manda ir atrás de você e, sem contestar nós vamos, para então acamparmos em uma caverna em um penhasco? Quando você planeja começar a explicar as coisas?

– Você não olhou o mapa não? – respondeu a filha de Ares com ar de pouco interesse.

– Sim, eu olhei. Mas você não. Então como sabe dele? Como sabia que deveríamos vir para cá? O que houve na King’s Cross?

– Ugh. Estou faminta. Não poderíamos discutir isso d...

– Não! – eu e Caio respondemos em unissono.

– Okay, okay. Vou explicar tudo... Digamos que eu tive uma ajudinha...

– Ajuda de quem? – se entrometeu Caio.

– Do meu pai.

– Mas os deuses não estavam tipo em “greve”? No meu primeiro dia, me disseram que o Olimpo estava fechado, ou sei lá o que, mas em menos de três dias já tivemos a visita de dois deuses, como... – eu respondi confusa.

– Os deuses não são bons em obedecer regras ou em contar verdades... quer dizer, pelo menos não Ares. – respondeu Clarisse. – Enfim. Ele me mandou vir para cá, disse que esse era o primeiro ponto do trajeto, do mapa que vocês receberam, disse que deviamos vir para cá e esperar.

– Esperar? – perguntei apreensiva.

– Sim. Traga o mapa aqui.

Me ajoelhei no chão e desenrolei o mapa desgastado, pousando-o na pedra fria. Clarisse colocou o dedo indicador sobre a esfera lilás ao lado do penhasco toscamente desenhado no mapa.

– Nós viemos atrás disso.

– O que? – disse Caio confuso. – Mas e o cetro?

– As esferas nos levarão até o cetro. Como um tipo de bússula, ou imã. Precisamos ir até cada um dos pontos, encontrar cada esfera e reuni-las na caixa. Para só então, tentarmos encontrar o cetro. – explicou Clarisse.

– Você só pode estar brincando. – respondi.

– De maneira alguma.

– Eles enlouqueceram? Como faremos isso tudo em tão pouco tempo? – Caio estava pensando o mesmo que eu. Era impossivel fazer isso.

– Pff. Novatos. – debochou Clarisse. – Só se sentem e me deem alguma coisa comestivel. Ares disse para esperar, não foi? Então vamos esperar.

“Esperar” não é algo que eu goste muito. A ansiedade sempre foi uma característica minha, então, aquelas horas na caverna foram mais que a eternidade para mim. Nos sentamos ao redor da fogueira, trocamos alguns comentários, comemos um pouco de pão e chocolate. Depois da primeira hora, Clarisse deixou de tentar parecer a líder perfeita e confiante e passou a se tornar impaciente e irritadiça. Talvez um pouco apreensiava também. Depois da segunda hora, a garota se concentrou em reclamar, mas não me importei. Por alguma razão, o lado “desagradavel” de Clarisse não me atingia. Quando alcançamos a terceira hora de espera, ela decidiu dormir (coisa que Caio já estava fazendo há um tempo). Pensei em dormir também, mas não sou burra a ponta de não saber que alguém precisava ficar de guarda, então me manti acordada (o que não era lá tão dificil, já que depois de outro ano em Hogwarts dormindo no máximo cinco horas por dia ou as vezes varando a noite para simplesmente não fazer nada com os amigos, tinha me acostumado a ter pouco sono). Foquei toda a concentração que eu consegui reunir em “aguardar”.

–-----------

– Argh! ME SOLTE! – o berro de Clarisse cortou a noite. Abri os olhos atordoada e minha cabeça girou.

Droga. Eu caí no sono. Será que eu sou tão imprestável, mas tão imprestável, que não sirvo nem para ficar acordada?!

Olhei ao redor e quase comecei a berrar – bom, teria feito isso se não estivesse amordaçada. Caio estava de joelhos, com cortes no rosto. Um talho aberto em seu braço deixava escorrer e pingar sangue. Duas mulheres (na verdade, não sei se “mulheres” era um termo adequado para aquilo...) terminavam de amarra-lo e amordaça-lo – exatamente como eu e Clarisse estávamos. Nossas armas estavam nos braços de uma terceira criatura.

Terminaram de nos imobilizar e nos obrigaram a levantar. Fomos escoltados por uma passagem no fundo da caverna – que eu não havia percebido antes –, que dava em um túnel.

O caminho era estreito e escuro, tochas penduradas nas paredes de pedra eram a única fonte de luz. As mulheres – que agora eu via, tinham tentaculos no lugar das pernas e pele escamosa – murmuraram durante o percurso todo, mas não consegui entender nada. Eu me sentia horrivel. Como se aquilo fosse culpa minha. E agora Caio estava ferido e eu não podia nem ao menos ver o que era. Felizmente, depois de dar alguns passos, a culpa foi deixada de lado, dando lugar a raiva.

Depois de vários minutos de caminhada, entramos em um salão – a essa altura já estávamos no coração da montanha, provavelmente – amplo e rústico. O único móvel do local era uma espécie de trono bem no centro. Prendi a respiração. Na cabeceira do trono, cintilando e tudo, estava a esfera que aparecia no mapa. Olhei para Clarisse com um olha sugestivo. “Tenha calma. Em pouco tempo estaremos chutando a bunda dessas idiotas e pegaremos a esfera”, era o que seu olhar parecia me dizer. Uma porta ao fundo do salão se abriu, revelando uma mulher alta e magra, mas aparentemente comum. A mulher se sentou no trono e abriu um sorriso.

– Ora, vejo que Ares foi bastante generoso dessa vez. – a voz dela era aguda e ela falava lentamente, como se tivesse algum retardo mental.

– Ssssssim minha senhora! – sibilaram as mulheres-lagarto animadamente.

Clarisse estreitou o olhos ao ouvir o nome de seu pai. Parecia que iria por fogo na sala toda só com o olhar.

– Tirem as mordaças. Adoro ouvir súplicas e promessas antes de entrega-los! – disse a mulher.

Uma vez desamordaçados, nós três ficamos em silêncio. Caio porque provavelmente, estava com dores. E eu, porque estava confiante de que Clarisse iria começar a berrar e fazer um show daqueles. Porém, a filha de Ares se colocou a encarar a mulher com a maior expressão de nojo que eu já vira.

– Hm. – a mulher soltou um muxoxo. – Filha de Ares, você? – perguntou ela a Clarisse, mas sem demonstrar muito interesse.

– Sim. – a garota respondeu entre dentes.

– Hoho. Parece que Ares está cada vez menos sentimental... Sabe, não é comum ele mandar os próprios filhos para mim.

– Seria muito dificil para você ser mais clara? – perguntei – Não somos advinhos.

A mulher me olhou com desprezo.

– Menina burra. Vocês nem ao menos sabem aonde estão. Nem ao menos sabem quem eu sou! Eu disse ao meu pai que o Alaska não traria glória alguma, mas ele por acaso me escutou? É claro que não! Eu sou Ametria. Filha do Titã Atlas. Banida e desardada pelos deuses por mau comportamento... hilário, hm. E esse é o meu covil ridículo.

– E o que meu pai tem a ver com sua história, perdedora? – perguntou Clarisse debochadamente.

– Huhuhum – Ametria riu (de um jeito bastante ridiculo, por sinal) – Ares e eu temos uma longa história... muito mais antiga do que a que aquela ridicula da Afrodite pensa ter com ele... hahaha. Ares sabe aonde vir quando... precisar de alguma coisa.

Eu realmente pensei que veria Clarisse vomitar.

– Quer dizer que... você e meu pai... Ugh.

– Ele também me presta alguns favores... como mandar comida para os meus bichinhos de estimação. Só que essa é a primeira vez que ele me manda semideuses... uma grande generosidade da parte dele.

– Talvez... não estejamos aqui para ser comidos. – eu disse tentando soar convincente.

– Hmmmm... então porque estariam aqui? – rebateu a mulher com a voz arrastada.

– Pra ter dar uns tapas na cara. Pra pegar aquela coisa roxa ali na sua cadeira. E pra dizer que Ares não quer mais. – respondeu Clarisse. – Ham, Lyss, Caio? Devemos começar agora?

Ametria franziu o cenho e apertou os lábios em uma linha fina.

– Se vieram fazer coisas tão importantes, não deviam ter se deixado capturar, não é mesmo? Agora, infelizmente para vocês, meu bichinhos estão com fome.

Ametria fez um sinal para suas capangas, que aos empurrões nos levaram pela porta que havia no fundo da sala. A porta se fechou atrás de nós e nos vimos parados em frente a uma parede de gaiolas. Pequenos monstrinhos verdes e vermelhos cheios de dentes se encontravam trancados, e havia pelo menos uns cem daqueles demoniozinhos.

– Meninas... não era isso que eu queria dizer, mas essa seria uma boa hora para um plano. – Caio se manifestou pela primeira vez.

– Estou tentando pensar! – respondi apavorada, enquanto as mulheres-lagarto riam se deliciando com o momento.

– Que pensar o que! – retrucou Clarisse. – Soca a cara delas!

Dito isso, Clarisse deu uma cabeçada mais que violenta na mulher mais próxima, que caiu no chão, atordoada. Contudo, obviamente que uma cabeçada não iria matar um monstro. E assim que nos viramos para as outras duas elas já estavam em cima de nós. E vale lembrar que: estavamos sem nossas armas e com as mãos amarradas.

Mais rápido do que qualquer ideia, veio um tentáculo direto na minha cara. O peso daquele troço mole era maior do que eu imaginava. Fui arremessada com tudo contra a parede.

Um filete de sangue começou a escorrer pelo meu pulso. Me virei, em direção a parede, em busca do que havia me cortado. Na parede irregular do penhasco, uma pedra pontiaguda se precipitava. Quase vibrei. Mas me controlei e comecei a cortas as amarras que prendiam minhas mãos. Tentei ser o mais rápida que pude, apesar de estar entrando em desespero, já que tinha total consciência da mulher-lagarto que deslizava em minha direção, e de Clarisse e Caio que haviam sido contidos pelas outras duas e já estavam sendo levados para as gaiolas.

Graças aos deuses aquela pedra era realmente afiada! As amarras caíram ao chão bem a tempo de eu me virar e ficar cara a cara com a coisa feia que queria me matar. “E agora?”, pensei. Não estava com Mousití em mãos, e sinceramente, não era a melhor lutadora do mundo.

– Sua varinha Lyss! Use-a! – berrou Caio.

O momento de indecisão entre ser expulsa de Hogwarts e ficar viva, só durou até que a mulher levantou seu primeiro tentáculo. Peguei a varinha que estava por dentro da calça rapidamente – ao mesmo tempo em que desviava do tentáculo frenético – e mirei bem em seu peito.

– ESTUPEFAÇA! – berrei e a mulher que estava pertíssimo de mim quando recebeu o feitiço, caiu no chão desacordada (se fosse uma pessoa normal, ela teria morrido com toda a certeza).

As outras duas monstrengas me olharam apreensivamente – o mesmo fez Clarisse. O momento de confusão e incredulidade, me permitiu estuporar as outras duas também.

Corri até Caio e Clarisse e desamarrei as cordas em seus pulsos – enquanto Clarisse me xingava, exigindo explicações.

Voltamos pelo caminho pelo qual entramos, descobrindo que – para nossa alegria – nossas armas estavam logo ao lado da porta.

Ametria que estava sentada em seu trono virou-se, incrédula.

– M-mas... o que?

Levantei minha varinha, mas Clarisse abaixou minha mão.

– Essa é por minha conta, Miss Coragem! – berrou ela enquanto corria na direção de Ametria.

A mulher se levantou rapidamente e tocou na esfera roxa na cabeceira de seu trono. Como que absorvendo poder da esfera, a mulher sorriu, a mão brilhando em um tom de púrpura escuro.

– Tsc, tsc. Acha que sou o que, La Rue? Do tipo da minha irmãzinha, Calypso, que fica presa em uma ilha, calada, sem fazer nada...? Ah não. Eu tenho meu valor também...

Ametria levantou a mão e eu podia jurar que algo muito, mas muito ruim iria acontecer. Quando de repente escutamos um guincho. Um não, vários – três, especificamente. Igual ao que ouvimos na King’s Cross. Sorri.

Ametria olhou ao redor, intrigada, quando os três hipogrifos adentraram o salão quebrando tudo.

– Haaaaaa eu adoro essas galinhas! – disse Clarisse.

O momento de distração foi perfeito. Logo, Clarisse estava em cima de Ametria.

Clarisse não desperdiçou palavras, apenas fraziu o cenho e sem escrúpulos, desceu sua lança no peito da mulher. Fechei os olhos, horrorizada. Inspirei, expirei. Abri os olhos.

– Ora Lyss, deixe disso. Se eu não fizesse isso com ela, ela faria comigo. E com vocês também.

Clarisse se aproximou do trono e esticou a mão em direção a esfera. No último segundo, recuou.

– Será que é seguro eu relar nesse troço? – perguntou ela.

– Deixa que eu faço isso. – disse Caio. – Tenho a benção de Hécate, lembra? E isso aí é coisa dela. Além do mais, eu não fiz nada de útil ainda...

– Você nunca faz nada de útil, Ranbin. – brincou Clarisse. – Vamos logo com isso.

Caio pegou a esfera sem problemas. Montamos nos hipogrifos – cara, você não tem noção de quão incrivel eu me sinto quando digo isso – e voltamos por onde viemos.

Saímos da caverna e mergulhamos na noite, que estava fria, sombria e deprimente, afinal aquela era a terra que os deuses esqueceram. Mas apesar disso e das dores, tudo estava bem, pois agora só faltavam mais duas esferas e dezenas de monstros, antes de podermos finalmente, começar a procurar pelo cetro...


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?
Gostaram? Odiaram? Qualquer crítica (construtiva) é bem vinda!
Mais uma vez obrigada por tudo gente!
E a partir de agora, todo domingo tem capítulo okay? (E caso eu consiga escrever no meio da semana, eu posto também)

Amo vocês o/

beijinhos *-*



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