POV HERMIONE

Acordei cedo naquele dia. Sei que iria criar mais ansiedade dentro de minha alma, mas não pude evitar. Logo que acordei, direcionei-me ao banheiro, que se encontrava para minha surpresa, ALAGADO. A banheira transbordava água e espuma. E o pior: estava tudo indo pro meu quarto. Oh merda.

— Ô MÃE! — gritei eu, desesperada; cruzei meus braços e a esperei. Menos de cinco minutos depois, aquela coisinha miúda de cabelos pretos apareceu à minha porta e murmurou um “Bom dia” cheio de cansaço. — O que está acontecendo aqui? — perguntei, com um quê de indignação na voz.

Minha mãe arregalou os olhos e, em seguida, olhou para os seus pés, que se encontravam debaixo de toda aquela aguaceira.

— JOHN GRANGER, VENHA CÁ AGORA! — gritou minha mãe, chamando meu pai. Minutos depois, ele veio subindo as escadas até o terceiro andar, onde é o meu quarto. Pelo que pude ver, olheiras preenchiam as lacunas debaixo de seus olhos castanho-claros e ele carregava um jornal na mão.

— O que...

— O QUÊ É ISSO, JOHN? — perguntou minha mãe a ele, com o cenho franzido e a cara fechada.

— Eu não sei de nada, Katie; a única coisa que sei foi que depois que eu saí do banho eu...

Ele deu uma pausa; eu já sabia a resposta. Abafei um risinho.

—... Você esqueceu o ralo fechado e a torneira aberta. — continuei sua frase, apontando pra banheira e fechando a torneira. — De novo.

— Enfim, vou ligar pra empregada. — concluiu minha mãe, ao sair do banheiro com uma carranca no meio da cara. Eu e meu pai nos entreolhamos.

Por fim, quebrei o silêncio: — Vou usar o banheiro do quarto de hóspedes — declarei, correndo até o andar debaixo. Eu nunca uso o banheiro dos meus pais. Exceto uma vez; mas foi justamente por causa dela que eu parei de usá-lo. — Oh... Esqueci a escova de dente. — falei para mim mesma, subindo novamente os degraus. Meu pai ainda estava lá, tirando o ralo da banheira e pegando o rodo, que estava logo atrás da porta do banheiro. Apanhei minha escova silenciosamente, enquanto meu pai ainda estava concentrado na tarefa-de-limpar-o-banheiro-que-ele-havia-sujado.

Saí de fininho do banheiro, aproveitando que ele não havia prestado muito a atenção em mim. Fui até o banheiro debaixo tranquilamente e escovei meus dentes.

"You know that I can use somebody...", meu celular tocou. Era Luna.

Peguei o telefone na mão e apertei o botão verde para atender à chamada.

— Alô? — atendi, ainda com um pouco de espuma na boca.

— Alô, Mione? — perguntou ela, com a voz meio sonolenta. Eram cinco horas da manhã.

— Eu mesma. Luna, está tudo bem?

— É, acho que sim. Vai à faculdade hoje? — rebateu a loira, sem rodeios.

— Vou, sim.

— Seu relógio está certo, não é?

— É, eu acho... — respondi, parando por um minuto para olhar meu relógio e largar a escova, deixando o telefone entre meu ombro e meu ouvido. Eram cinco e treze. — Por quê, Lu?

— Ah, então vê se aí são 6:13.

— Ok... OPA O QUE?

— Seis-e-treze. — repetiu ela, pausadamente. Eu demorei um minuto para processar. Faltava menos de uma hora para o colégio e eu ali, igual a uma mongolona, no meio do banheiro sem nem ter tomado sequer uma xícara de café.

— Ah, ok, Luna, preciso desligar!

— Por que, Mione? O que tem de fazer? — eu não podia demorar! Não podia chegar nem um minuto sequer atrasada no primeiro dia!

— Luna, a ligação — ghrrr, ghrrr — está — crac-crec-ghrrr-ghrrr — falhando! — e desliguei o celular. Enfim, foi por uma boa causa.

Liguei o chuveiro e tirei minhas roupas ali mesmo para poder me banhar. Estava com um pouco de pressa. Resolvi tomar um banho de água quente, porque estava frio naquela manhã.

Quando saí do banho, me deparei com uma chamada perdida. Era de Gina, e eu provavelmente não ouvira por causa do barulho da água do chuveiro. Enfim.

Olhei num pequeno armário debaixo da pia se haviam toalhas. Por sorte, havia uma sim. Peguei-a e me sequei, muito rápido. Deixei meus cabelos cor de caramelo se secarem naturalmente. Acho que ficam mais bonitos quando os deixo desse jeito.

Fui até meu quarto — que já estava "normal" —, e coloquei uma calça jeans de cintura alta, com três botões, por cima de uma blusa branca de alças; onde sobrepus uma antiga blusa cinza-claro escrito "Forever Young", que ficara larga em mim na época em que a ganhei — e que eu cortei como se fosse para ser usada como um top por cima de outras roupas.

Por fim, deixei meu cabelo daquele mesmo jeito, estava bonito, e coloquei um All Star preto, básico, que combinava com toda a minha roupa; arrumei o resto de minhas coisas, peguei meus papéis da aula, as chaves do carro do papai... Espera aí, as chaves do carro do papai?!

Coloquei tudo dentro da bolsa, menos as chaves, é claro. Desci para verificar se ainda havia alguém em casa — é, não havia mesmo — e notei que havia um bilhete repousando em cima da mesa.

"Filha, lhe desejamos boa sorte. Seu pai lhe confiou as chaves do carro, e disse que espera que as use bem.

Com amor,

Mamãe e papai; desejando-lhe sorte."

Abri um sorriso de orelha a orelha, saquei meu celular de dentro da bolsa e liguei pra Gina.

— Alô, quem é? — atendeu uma voz masculina e um tanto grave. Meu coração disparou. É claro que eu já sabia quem era!

— É a... a Hermione... — respondi. — Quem fala?

— Ron. Ron Weasley.

Naquele momento meu coração começou a disparar mais rápido; e eu sabia, não podia chegar atrasada logo no primeiro dia de aulas. E, além do mais, já eram 6:28. Abri um pequenino sorriso e mordi meu lábio inferior, respondendo logo em seguida.

— Oi, Ron, pode me passar a Gina?

— Claro... — ele disse, e em segundos depois, Gina atendeu-me.

— Mione! O que quer, menina chatinha? — perguntou ela, com um quê de sarcasmo e brincadeira na voz.

— Espere na frente da sua casa; vou te dar carona.

— Carona?! O quê?! Como assim? Mione! MIONE!

— E... o Ron vai junto. — respondi, Gina dando uma curta risadinha.

— Mas... como assim "carona", Mione? NÃO DESLIGA!

— Tchau, tchau, te vejo aí Gi! Beijinhos! — disse eu, desligando o telefone e ligando o carro, pronta pro meu primeiro ano na faculdade.