O Juiz E A Serviçal escrita por judy harrison


Capítulo 8
Meu amigo Senhor Juíz


Notas iniciais do capítulo

Novella recebe uma visita poderosa, e Thompson é advertido fora do tribunal.



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Thompson decepcionado foi para a casa de Mira. Não havia nada para fazer, a não ser pensar em mais argumentos ou provas para o outro dia, às 2 da tarde.

_ Como ele pôde?

Falava com Mira, que também não entendia a atitude do irmão.

Na prisão, Novella chorava, era quem menos entendia o que estava acontecendo, e quem pagava o preço mais alto.

Uma mulher, enviada por Thompson lhe fazia companhia, mas ela não queria mais falar com ninguém.

Na casa de Mira tomavam chá, quando uma carruagem parou. Era o Juiz Keller.

Enquanto seus guardas vigiavam as ruas ele entrou sem ser visto.

Não encontrou rostos amistosos. Ainda assim Mira o abraçou, pois há tempos não o via.

_ Me convida para o chá, irmã Mira?

_ Claro, sente-se conosco.

Mas Thompson sequer levantou os olhos.

Depois de conversar um pouco com Mira, Keller pediu que ela os deixasse a sós. Depois tentou falar com o amigo.

_ Pensei que fosse para sua cidade. - então ele olhou para Keller, estava muito chateado - Entendo que esta com pena dela...

_ Não quero ouvir se vai dizer que é sua obrigação.

_ Eu vou falar e você vai ouvir! –disse em tom imperativo.

_ Não estamos no tribunal, e posso te expulsar daqui se eu quiser.

_ Se quer resolver o problema daquela moça, terá que me ouvir como Juiz.

Ele estranhou sua atitude.

_ Disse que nunca misturaria as coisas, Keller. O que mudou?

_ Não vim aqui como amigo, e sim como Juiz. Quero que entenda que não posso absolver Novella se você não apresentar provas. – Thompson só ouvia – Por hora eles venceram, ela se traiu e por isso esta presa. Mas há como reverter a situação se você usar a cabeça.

_ Vai me ensinar a fazer meu trabalho?

Thompson já não sentia raiva, pois se Keller estava lá como Juiz era por que queria ajudar.

_ Não, Tom, quero que entenda que estou do lado dela! Sei que ela é inocente, e sei que na história que ela contou há algo que não se encaixa. É preciso encontrar a resposta certa.

_ Por que permitiu que ele a pressionasse daquela forma? – disse penalizado.

_ Acha que eu queria fazer aquilo? Novella disse que desejava matar sua tutora!

_ Sabe que foi ele quem a induziu.

_  Ele fez o mesmo que você. E eu precisava ver até onde ela ia. Uma pessoa acuada pode se revelar sem se dar conta.

_ Acha que ela pode ser uma assassina sem mesmo saber? Já que afirma que não se lembra de nada...

_ Não seria a primeira vez que eu veria isso. Mas não parece ser agressiva passiva, e se fosse não teria dito que mataria. – ele pensou no rosto de Novela e falou com suavidade na voz - Ela é só uma pobre menina que foi maltratada pelo mundo. É tão humilde... E bonita...

Thompson o encarou com espanto, embora já tivesse percebido a forma como ele olhava para a sua cliente.

_Keller! Está apaixonado por ela?

_ Ora, mas é claro que não! – disse desviando o olhar.

_ Suas palavras não condizem com o seu jeito quando acabou de dizer que ela é bonita.

_ Eu não disse isso.

_ Não me subestime! Apenas me diga se existem chances de me ajudar a livrar Novella dessa acusação.

_ Seria muito fácil ser juiz se eu tivesse uma resposta dessas. Não teria que aturar advogados atrevidos que discordam de mim em pleno tribunal.

Eles apenas sorriram.

_ Sabe que faço tudo para defender um cliente quando sei que é inocente.

_ Se ela é inocente, você conseguirá provar. Agora tenho uma dica para você que jamais daria a outro.

Ele se levantou para sair.

_ E o que é?

_ Antes das duas da tarde, investigue aquele médico que desmascarou. Há algo mais nele para descobrir.

Depois de se despedir de Mira Keller foi até o prédio do tribunal, na ala onde estava Novella. Pediu que a mulher se retirasse para falar com sua prisioneira.

A prisão era uma pequena cela com cama, cobertores e um pequeno banheiro ao lado. Não havia janelas, e a porta era pequena, feita de ferro, com uma janela envolta de grades.

Ele ficou de frente para a porta para avistá-la. Mas nem precisou chama-la, ela apareceu quando ouviu seus passou.

Ao ver que se tratava do juiz, ela voltou a se deitar onde estava.

_Posso falar com você?

Ele perguntou. Mas ela nada disse.

Keller gostava daquilo, não ser atendido prontamente só por ser um juiz, ser tratado como alguém normal.

No caso de Novella, ninguém era maior ou menor para ela, mas sempre respeitou a todos.

Ele insistiu.

_ Novella, quero falar com você.

_ Não! – ela respondeu.

_ Não tenha medo, só preciso saber algumas coisas sobre sua tutora, Como acha que ela conseguiu tirar seu irmão do seu colo sem que percebesse. – Novella pulou da cama e foi logo até a porta, e o encarou - Ninguém lhe perguntou... isso.

Novella estava perto demais, e ele podia sentir o cheiro de seu perfume de flores, e seus cabelos balançando sobre seus ombros a deixava tão sexy que ele não resistiu em dizer em voz baixa quase murmurando.

_ Como você é linda!

_ Eu não sei. Eu dormi muito depressa. Acordei e ele não estava lá. É tudo que sei. – lamentou.

_Por que disse que a mataria se pudesse?

_ Ela é culpada por minha mãe ter morrido, e pode ter matado meu irmão. Você não mataria? 

“Você”. Em toda sua vida apenas seus pais, sua irmã e Thompson o chamava assim. Novella fazia tudo parecer simples demais, como falar o que pensava.

_ Não pode dizer que quer matar uma pessoa se está sendo acusada de... matar.

_ Não matei meu irmão! - as lágrimas rolaram em seu rosto e ela foi sentar-se na cama.

Keller abriu a cela com sua chave original, entrou e fechou novamente. Aproximou-se dela e tirou um lenço de seu casaco. E fez o que teve vontade por várias vezes e não pôde. Secou suas lágrimas.

_ Eu não posso absolvê-la sem provas, Novella, mas sei que é inocente.

_ Andy era a única razão que eu tinha para continuar a viver. Eu não tenho nada agora!

Ele a abraçou. Tinha consciência de que estava se aproveitando de sua ingenuidade para afaga-la e sentir seus cabelos macios. Novella nunca se envolveu com alguém do sexo oposto, e não tinha a menor ideia do que Keller estava fazendo. Achava que ele só tinha pena dela. Mas se lembrou de que ele a colocou ali. Olhou em seus olhos tão próximos e perguntou:

_ Por que mandou que me pusessem aqui se sabe que não fiz o que aquele homem falou?

_ Por que queria ter você perto de mim.

Ela então imaginou que ele pudesse lhe fazer mal e recuou se afastando.

_ Para quê?

Recobrando o juízo, ele disse as palavras que não queria, mas que devia dizer, mesmo que fosse mentira.

_ Eu queria que ficasse protegida. Soube que se não a prendesse aqui, estavam planejando apedrejar você quando saísse. – se levantou - Eu vou embora, deixar que durma um pouco.

_ Meritíssimo...

Ele sorriu. Sua voz triste era ao mesmo tempo um som agradável para ele.

_ Tudo bem, pode me chamar de Keller.

_ Keller... Mira é sua irmã, não é?

Assustado ele se voltou e se sentou novamente.

_ Como soube?

_ Ouvi quando Senhor Thompson falava com ela e ela disse isso.

_ Escute Novella, isso é um segredo guardado há anos. Ninguém pode saber, está bem?

_ Sim. Mas se ela não fosse, poderia testemunhar a meu favor. Thompson pediu, mas ela se negou, disse que ia expor você. Se ninguém sabe, por que ela não vem?

Ele suspirou. Dizer que não era exatamente aquilo que a impedia e sim o fato de a conhecerem como serviçal, e serviçais não podiam testemunhar, não era algo agradável de dizer logo para ela.

_ Talvez ela não te conheças o suficiente para fazê-lo.

_ Ela é a única que via Andy e eu no parque, sabe como éramos. Por favor, Keller! Deixe que ela venha amanhã?

Ela implorava e Keller se arrependeu de estar ali. Novella era mais do que uma moça bonita e humilde. Era inteligente e disposta a “ fazer a diferença” como disse Thompson, pois estava planejando sua própria defesa.

_ Eu... Eu não sei, Novella.

_ Eu não matei meu irmão, Keller! Eu faço o que você quiser, mas deixe que ela venha amanhã!

_ Não diga isso Novella! Não quero nada de você.

Aquilo era o limite do que ele podia suportar. Afastou-se dela e disse depois de fechar a porta.

_ Vou trazer Mira aqui com uma condição. Não conte a ninguém que falou comigo e nem que ela é minha irmã. Ou toda Fraterna vai querer nos sentenciar à morte.

Ela se recostou à porta e colocou as mãos sobre as dele na grade.

_ Eu juro que não direi.

Por uns instantes se flertaram, e o Juiz saiu sentindo-se tão diferente que se esqueceu para onde estava indo.

No outro dia pela manhã Keller pediu que buscassem Thompson em sigilo para sua casa.

Ao chegar, Thompson notou o semblante abatido do amigo.

_ O que houve com você?

_ Não pude dormir toda a noite. O que descobriu?

_ Bem, o médico, segundo o que me contaram, tinha uma queda por Novella, e ela o rejeitava. Por outro lado, Ramona o presenteou por duas vezes com artigos caríssimos. Preciso de tempo para saber o que ele fazia em suas visitas na casa dela.

_ Não era uma consulta de rotina. Quando cavar mais fundo saberá. – bocejou e se espreguiçou.

_ Por que não dormiu, Keller.

_ Pensando em Novella.

_ Ainda nega que se apaixonou por ela?

_ Ontem eu fui à cela dela.
_ Você o quê?- ficou pasmado.

_ Eu queria vê-la de perto. Queria... ouvir dela mesma que não era culpada.

_ Isso me preocupa! E se alguém o viu?

_ Fui ao meu gabinete. Ninguém saberia que a visitei.

_ E Novella? E se ela contar a alguém inocentemente?

_ Ela não vai falar.

_ Você a matou?- sorriu.

_ Engraçadinho. Não vai falar por que eu pedi. Ela quer que eu permita o depoimento de Mira.

_ Ela barganhou o silêncio? Onde está a menina inocente que eu defendia?

_ Não foi isso. Ela implorou. E eu impus a condição.

_ E o que fez lá de tão secreto?

_ Não fizemos nada. Eu só a abracei e a consolei. Sabe que isso já nos condenaria.

_ Mas Mira disse que não pode...

_ Ela pode, pois eu permitirei. Se ela estivesse defendendo Ramona, uma Ernie, então eu seria suspeito. Mas você vai leva-la e instruí-la. Não tenho nada com isso.

Thompson apertou a mão de Keller.

_ Obrigado, amigo. Não tinha mais recursos para a defesa de Novella...

_ Tudo bem! Faça seu trabalho e eu farei o meu.


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Notas finais do capítulo

Olá, se você acaba de ler, muito obrigada, e se deixar comentário eu agradeço ainda mais. Críticas são muito bem vindas.