O Juiz E A Serviçal escrita por judy harrison


Capítulo 6
Romer X Thompson


Notas iniciais do capítulo

Thompson rechaça todas as defesas de Ramona. E O Juíz descobre que se apaixonou por Novella



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Interrogada por Romer, uma testemunha de Ramona dava seu depoimento.

_ Vi quando essa mulher saiu com o bebê para fora! – apontava para Novella que a conhecia bem. Era amiga de Ramona. – E quando me virei ouvi um choro de criança, mas quando olhei de novo eles haviam sumido.

_ Você os viu voltando?

_ Só ela, logo depois, uns 5 minutos depois.

_Sem mais perguntas. Obrigado, senhora.

_ Meritíssimo, quero fazer uma pergunta a ela. – disse Thompson se levantando e o Juiz concedeu – _ A senhora pode dizer a esse tribunal como são chamadas as mulheres que são encontradas na rua após as 6 da tarde?

_ Oh! Está me insultando! Eu nunca saio a essa hora na... Eu saí, mas... Não era seis horas!

O Juiz queria sorrir, pois foi hilário o modo como a mulher se embaraçou nas palavras.

_ Claro que não estou insultando uma senhora tão culta e elegante, estou reforçando que a Senhora Ramona e Novella foram vistas entrando em sua casa antes das seis. E após esse horário as mulheres decentes e de respeito estão em casa, preparando o chá das crianças, certo, senhora? – ela nada disse – Ao calar-se essa senhora concorda que não estava na rua e, por tanto não viu ninguém. Meritíssimo, peço que anule o depoimento dela.

_ Depoimento anulado. – disse o Juiz – Outra testemunha, senhor Romer?

Romer chamou outra testemunha, um médico pediatra.

– Conte-nos, por favor, senhor Johnson, o que houve com o pequeno Andy na ultima noite antes do fato.

_ Ele estava com manchas no braço esquerdo.

_ Que tipo de manchas?

_ São chamadas de hematomas, quando a pele é pressionada o sangue vem para a superfície, causando as manchas vermelhas, dor e um leve inchaço, e com o tempo essas manchas ficam roxas, o que chamamos de hematomas.

_ O senhor então diz que o braço do bebezinho foi pressionado?

_ Sim.

_ Diria que pela mão de uma pessoa?

_ Sim.

_ Sem mais perguntas.

Thompson perguntou para sua cliente se ela sabia daqueles hematomas, e ela disse que foi antes de irem ao culto naquela noite, quando ao dar banho em Andy ele escorregou na bacia e ela teve que segurar seu braço com força para que ele não caísse. Mas garantiu que ninguém havia visto, nem Ramona.

Rapidamente ele levantou-se e pediu para interrogar o médico.

_ O senhor é médico há quanto tempo, senhor Johnson?

_ Há três anos.

_ É um médico jovem! Quantas vezes visitou a casa da senhora Ramona para examinar Henry?

_ Acho que umas... Duas vezes ou três.

_ E quantas vezes o viu doente?

_ Todas! Por isso me chamaram.

_ E o que ele tinha?

_ Gripe, ou dor de barriga...

_ Quantas vezes o senhor sai de sua casa para realizar consultas a um filho de criada?

_ Eu não... faço... Só fiz um favor a Ramona.

_ De mentir, por exemplo?

_ Protesto Meritíssimo! – alardeou o advogado de Ramona.

_ Mantido. E senhor Thompson, tem sua primeira advertência! Mantenha o decoro, por favor.

_ Vamos tentar novamente senhor Johnson. Com que frequência realiza favores a senhora Ramona.

_Protesto novamente, Meritíssimo! O médico não está em julgamento.

_Negado! Senhor Thompson, seja mais objetivo, atenha-se ao caso.

_ Sim, Meritíssimo, estou criando uma linha de raciocínio. Permita que ele responda a essa pergunta, prometo que há um objetivo.

_ Está bem, responda senhor Johnson.

_ Eu... Apenas atendi ao seu chamado.

Thompson planejava encurralar o médico

_No dia em que viu o hematoma também?

Ele parou um pouco antes de responder.

_ Sim, ela me chamou...

_ E o que ele tinha? Gripe ou dor de barriga?- perguntou rapidamente.

_ Ele estava doente!

_ Que tipo de doença, doutor? – ele o encarou firmemente.

_ Eu não me lembro!

_ Tem que se lembrar! Atendeu ao chamado, num dia de geada, não havia sequer uma carroça na rua, os cavalos não caminham na neve! Mas o senhor tinha um chamado de urgência, se supõe. E não se lembra do que o pequeno Henry tinha?

_ Estava com febre!!! – disse em desespero.

_ Quem?

_ Henry, o bebê!

Thompson suspirou, e disse ao médico demonstrando desprezo.

_ Se ele estivesse com febre, não sairia com sua irmã ao culto, saudável, como todos viram. E você se lembraria de que o nome dele não é Henry, é Andy. Terminei Meritíssimo.

O Juiz não se enganava com Thompson. Em seu rosto o mesmo duro e serio homem da lei, mas em seu coração a vontade de apertar a mão de seu amigo, por ter desmascarado o médico também.

_ Senhor Romer, sua terceira testemunha, por favor.

Ele já não estava certo se permitia que outra pessoa fosse até lá, pois poderia ser desmascarado por Thompson novamente. Mas não tinha escolha. Chamou mais duas testemunhas que foram facilmente descartadas por Thompson. E desistiu.

Era a vez de Ramona.

Mas Thompson não se sentia tão à vontade com ela como com as testemunhas orientadas por Romer. Sabia que ela havia buscado conselhos e orientações de defensores experientes, os que haviam sido adversários dele em outros casos e que quase o fizeram perder. Juntando aquilo a personalidade de Ramona, era mesmo um grande desafio. Precisava encontrar um ponto fraco.

Romer não lhe fez muitas perguntas, apenas algumas que expunha seu lado supostamente caridoso. Tinha uma surpresa para todos, e estava certo de que seria revelada à traição.

Diante da mulher, agora Thompson estava apreensivo, mas prosseguiu. Queria provar que ela não era a “bondade” que pregava ser, a começar por ter deixado sua serviçal morrer.

_ Senhora Ramona, Quando o bebê de sua serviçal chegou, o que sentiu?

_ Estava feliz, era um ser novo que chegou para alegrar nossa casa.

_ E sua serviçal estava bem de saúde?

_ Não muito, houve complicações no parto e ela chegou muito fraca. Eu pedi que os médicos a atendessem sempre que ela estava mal.

_ E qual foi a causa da morte dela?

_ Não sei, eu não sou médica!

Thompson apresentou um documento para o Juiz.

_ Meritíssimo, esse é o documento que o legista assinou, referente à morte de Marilyn, mãe de Andy. – o Juiz o pegou para ler – Como vossa excelência pode ver, diz aí que ela morreu de meningite, uma doença curável...

Romer interveio.

_ Meritíssimo, isso é irrelevante! Minha cliente não tinha a obrigação de saber que sua serviçal tinha essa ou aquela doença. Ela não tem formação médica.

_ Ele está certo, senhor Thompson, o documento é válido, mas não prova nada.

_ Se me permite vossa excelência, devo discordar.

Alguns murmúrios começaram, e Romer ficou indignado.

_ Ele é um homem atrevido ao extremo!

_ Silêncio no tribunal! - o Juiz olhou para Thompson, conhecia sua petulância durante as sessões, e não era contra, pois ele sempre estava certo. Mas tinha que reagir ao insulto. Disse com firmeza - Não pode discordar de mim, advogado. Amenos que tenha uma boa explicação terá outra advertência.

_ Claro. O fato é que a doença de que morreu a mãe de Andy é a mesma que afetou alguns dos meninos da nova vila, pouco antes. Ramona não comparecia a vila, ela mandava sua serviçal, mesmo grávida. E todos nós sabemos que crianças e mulheres grávidas são suscetíveis a doenças contagiosas.

_Como sabe que a doença dos meninos era contagiosa? – perguntou o Juiz, curioso.

_ Os meninos eram todos de uma mesma sala de aula, e os outros eram seus irmãos e irmãs, que não frequentavam a aula, ou eram bebês... - dirigiu a palavra a Ramona – que a senhora bondosamente mandou curar. E isso prova, Meritíssimo, que ela sabia de que mal sofria sua serviçal, mas não se importou em dar a ela o mesmo tratamento. A senhora Ramona sabia que ao ter seu bebê, ela adoeceria mais depressa.

Romer interveio novamente.

_Meritíssimo, ele está fazendo acusações infundadas! A senhora Ramona não causou a morte de sua serviçal!

_ Eu não disse que ela causou sua morte. Disse que ela não se importou!

O Juiz reparou que Novella já não olhava mais para o chão, que estava atenta, e embora chorando com tantas lembranças, não tinha mais a postura de medo ou culpa como antes. Naquele momento seu olhar cruzou-se com o dela e ele sentiu o grande desejo de secar suas lágrimas, mas sabia que a tese de Thompson não provava ainda sua inocência, apesar de jogar por terra a máscara de boa samaritana que Ramona insistia em usar.

Keller sentia que pela primeira vez, estava envolvido emocionalmente em um caso. Não era só por seu amigo ter lhe falado sobre o assunto informalmente, nem só por se tratar de uma crueldade com uma criança, pois já viu crueldades iguais ou piores. A verdade era que a compaixão por Novella o deixou sensível, fazendo com que todo contato visual que tinha com ela o levava a adorá-la, a crer nela, a querer estar com ela.

Mas ele só a via de longe. Nem sequer havia passado em sua frente. Era uma mulher, com atributos físicos perfeitos e seus cabelos longos imitavam um imenso manto negro sobre suas costas, contrastado pela pele branca e seus olhos claros que se tornavam transparentes quando ela estava chorando.

Tinha uma pergunta para Ramona.

_ Senhora Ramona, quando sua serviçal adoeceu, a senhora ordenou que ela fosse tratada da mesma forma com que o fez às crianças da nova vila?

_ Não! – ela respondeu sem olhar para ele.

Thompson ressaltou:

_ Isso foi uma atitude de negligência. O que feriu o código de honra da própria instituição religiosa a que ela pertence...

Irada por ter sido acusada diante de todos, Ramona disse exaltada:

_ Ela era uma serviçal! Eu tinha muitas pessoas para salvar, não podia me preocupar com ela!

Mas Thompson não desistiu.

_ O código de honra reza que primeiro deve dar assistência aos moradores de sua casa. Marilyn estava dando à luz, e uma parteira e sua filha eram as únicas no momento do parto. A senhora nega?

_ O que é isso? – Romer se exaltou também – Meritíssimo, ele está mudando o curso do julgamento! Está colocando minha cliente como responsável pela morte de sua serviçal!

Keller já estava certo de que Thompson aos poucos queria tirar de Ramona sua moral diante dos jurados, inclusive dos representantes da população que lá estavam. Ele estava conseguindo.

_ Já chega senhor Thompson. É o suficiente. Senhora Ramona, está dispensada.

Enquanto ela saia, disse algo ao seu advogado que o colocou em uma situação embaraçosa.

_Seu idiota, as respostas que treinamos não serviram de nada!

De fato, acostumada a ser elogiada pelas suas ações de caridade, Ramona não imaginava que alguém questionaria seu falso interesse pelos necessitados. Fazia aquilo exatamente para que seus atos litigiosos fossem acobertados pela pose de “salvadora”, e para ganhar prestígio.

_ Senhor Thompson, chame suas testemunhas. – pediu o Juiz.

_ Meritíssimo, eu chamo para depor a própria senhorita Novella.

_ Mas não há testemunhas para ela?

_ Apenas uma, mas ela não pôde vir.

Sem poder tomar qualquer atitude a favor de Novella, o Juiz pediu que prosseguissem.


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