O Juiz E A Serviçal escrita por judy harrison


Capítulo 16
Um último recurso


Notas iniciais do capítulo

Thompson encontra um recurso na lei para salvar Novella de uma condenação, e enfrenta seu adversário no tribunal.



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Thompson se lembrou de um recurso.

 – Keller, se você ordenar que seja feita uma reconstituição do que houve naquele dia, vai dar tudo certo!

_ Reconstituição? Isso não está na legislação de Fraterna, Tom! – pensou um pouco.

_ Eu sei, mas também não está escrito que serviçais podem testemunhar!

_ Eu usei o recurso citado na lei de quando não há formas de defender uma pessoa... e levar o julgamento adiante... – enfim ele também sorriu – Conheces a lei melhor do que eu, amigo!

_ Podemos usar esse argumento: Novella não é considerada culpada, não houve provas de sua culpa, enquanto que houve uma declaração da culpa de Ramona. Na reconstituição todos os envolvidos no crime, e no tribunal participam.

_ Novella é muito emotiva, não vai se trair de novo?

_ Pelo contrário, sua emoção é que vai provar sua inocência. Em toda minha carreira eu só fiz uma reconstituição, e os réus culpados e inocentes aparecem como que por um milagre, sem margem para contestação.

_ Mas ainda existe um problema. O advogado de Ramona pode impedi-la de participar.

_ Se ela o fizer, estará se declarando culpada. Eu só preciso que você diga que concorda com meu pedido. Johnson terá que provar que ele não foi o culpado pela morte do bebê, e sim Ramona.

_ Eu ia passar minha noite nos papiros para tentar achar um meio de defender Novella. Não teria pensado, porém, nessa reconstituição.

_ Eu também não, se não tivéssemos conversado. Por que ela não é comum aqui em Fraterna. A legislação precisa ser revisada.

_ Vou providenciar isso, assim que puder. - Keller se levantou e ia embora - Preciso tomar um banho e relaxar para amanhã.

_Não vai se despedir de Novella?

Keller sorriu, seria inútil esconder dele que amava Novella.

Thompson a chamou e ficou na cozinha com Mira.

Novella voltou à sala e novamente abraçou seu Juiz, ainda chorava um pouco.

_ Me perdoe, Keller.

_ Perdoar por que!

Ele também a pressionava contra si, adorava sentir o corpo dela grudado ao seu, e o cheiro de flores que seus cabelos exalavam era embriagante.

_ Eu não tenho mais ninguém para me defender. Deixe-me à minha sorte, mas não perca seu cargo. Mesmo que Mira disse que eu estou pecando ao dizer isso.

_ Por que acha que deve entregar sua vida para mim, Novella? – ele fez com que ela o encarasse – És uma jovem menina que ainda tem muito que viver!

_ Você é meu salvador! Tem que ser juiz para sempre.

_ Que salvador e juiz eu seria se a deixasse morrer? – secou suas lágrimas com seu lenço. – Nunca faria isso com você, minha querida!

_ Você me deu paz e confiou em mim. Posso ir feliz!

_ Novella! – ele queria beijá-la, e quase o fez, mas se afastou – Você não vai morrer, vou fazer o que lhe prometi e vou protegê-la até o fim. Agora vá com Mira, eu tenho que ir.

Ele saiu logo. Não queria mais ficar próximo dela. Seu desatino por não conseguir impedir uma nova sessão, era prova de que ele estava muito envolvido.

Era o momento da sessão.

O Juiz entrou e todos, já acostumados com os gritos de ordem dele, estavam em silêncio.

Thompson havia mandado ao amigo uma nota sobre seu pedido, e dizendo quem era o novo advogado de Ramona.

Ao fitar sua protegida no auditório Keller tentou ignorar sua presença.

_ Essa corte deu ao senhor Thompson o direto de reconstituição do crime, ou o fato em questão segundo as versões dadas pelas rés.

_ Objeção, Meritíssimo! – disse Josué, novo advogado.

_ A quê, senhor Josué?

_ Vai começar! – disse Thompson, conhecia bem aquele magistrado, era um homem ganancioso e, diferente dele, gostava de tumultuar as sessões com argumentos inválidos e sem sustentação, apenas para desnortear os jurados.

_ A reconstituição de um crime não é sustentada pela legislação aqui em Fraterna. Ela não é válida como prova.

_ Assim que fizer a sua lição de casa, senhor Josué, encontrará lá na sua cartilha que é possível recorrer de outros recursos que provem um fato concreto. Não quer que eu lhe dê aulas aqui, não é? O pedido está mantido.

O público murmurou muito baixo, mas debochavam do advogado, que ficou envergonhado. Então ele começou logo sua defesa.

_ Eu gostaria de chamar uma testemunha de acusação, Meritíssimo.

Thompson estava em alerta, não sabia o que diria a testemunha.

_ Qual é o seu nome? E quantos anos você tem?

_ Alberto Cal. Eu tenho 20 anos.

_ Por quantas vezes, senhor Alberto, a senhorita Novella esteve com o senhor na casa abandonada que fica atrás da igreja?

Keller ficou admirado, e olhou para Novella, que tinha uma expressão de espanto e nojo.

_ Muitas vezes, eu não pude contar.

_ E por quantas vezes ela levou seu irmão Andy com ela?

_ Todas as vezes! Disse que era uma desculpa para poder sair de casa.

_ O que vocês faziam nessa casa?

_ Eu... me enamorava dela.

O coração de Keller estava disparado. Tinha quase 30 anos de magistrado e nunca sentiu aquilo antes, era ciúmes de Novella, em plena sessão. Queria enforcar o rapaz. 


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