Meus pés doiam mais do que nunca, então parei de dançar um pouco, fui no banheiro, fiz o que era necessário, lavei as mãos e o rosto, saí direto pra cozinha onde consegui um copo de água bem gelada e depois fui passear um pouco pela casa. Encontrei uma porta de vidro que surpreendentemente me levou a um lindo jardim de inverno, que definitivamente não combinava muito com a casa, mas fui um lugar onde havia a possibilidade de eu me sentir confortável, então passei pela porta, achei um banquinho de madeira branco e simpático, onde sentei para relaxar.

Não demorou muito para que ele aparecesse e me encarasse com aqueles seus lindos olhos verdes.

– Por que você está aqui? Ainda mais sozinha. – Disse sentando-se ao meu lado.

Fiquei por um tempo perdida em seus olhos, até que minha ficha caiu e eu respondi sua pergunta:

– Descansando, só isso.

Ele me encarou por um instante, até que fiquei sem jeito e virei o rosto para o outro lado, como se estivesse vendo a paisagem.

– Seus olhos são lindos. – Ele soltou assim, sem mais nem menos, mas como uma voz sedosa.

– Oi? – Me assustei com o fato de ele ter reparado em mim.

– Seus olhos, são lindos. – Ele repetiu um pouco sem graça.

– Anh, obrigada, eu acho.

Ficamos em silêncio por alguns momentos, eu brincando com o copo em minhas mãos e ele olhando o jardim.

– Você estuda há muito tempo no Instituto?

– Desde sempre. Coisas de tia Sabrina, sabe? Ela paga pra mim e pra Lu. – Isso era um fato conhecido por todos então não me importei em dizer.

– Seus país não se importam com um presente tão caro assim?

– Meus pais morreram. Os da Lu também. Nós moramos com nossa avó. – Respondi friamente, sem querer continuar o assunto.

– Desculpa, eu não sabia. – Ele gaguejou.

– Tudo bem. Já faz muito tempo. – Disse, esperando que isso fosse o suficiente para ele me deixar em paz.

Mais um momento de silêncio. Depois de alguns instantes eu me levantei, pronta para ir embora, mas ele levantou junto e aí as coisas ficaram estranhas:

Arthur me abraçou e disse que entendia, ou pelo menos quase, já que seus pais viviam longe, sempre trabalhando e se mudando, e por isso ele mora com a tia e o primo. Depois ele me deu um beijo no alto da testa e foi embora.

Na porta ele esbarrou com Christina que o olhou de cima a baixo, comendo-o com os olhos.

Fiquei parada ali, embasbacada, sem reação, e pude ver um pequeno polígono amoroso se formando: Christina conversando sedutoramente – ou pelo menos tentando ser – com Arthur, ao mesmo tempo em que Nicolas olhava avidamente para ela enquanto conversava com Maria, que sabe-se lá porque estava menos perceptiva desses detalhes essa noite. Um poligono aberto, devo dizer, já que aparentemente Arthur não liga nem para Maria nem para Christina, com quem educadamente conversava.

Saí do meu rápido catatonismo e voltei para a companhia de João, que olhava preocupado para nossa amiga.

– Será que ela já seu deu conta? – Ele me perguntou, claramente falando da atenção que Nicolas dava para Christina.

– Não sei, acho que não, espero que não.

– Espero que ela não faça nenhum escândalo essa noite.

Mas não precisamos nos preocupar, pois logo depois disso ela se juntou a nós sacudindo o celular e dizendo sorridentemente que tinha pego o número do Nicolas. Olhei na direção do menino e o vi indo até o primo e Christina, que logo se despediu graciosamente de Arthur e foi ficar com as amigas. Vi Nicolas suspirar enquanto ela andava e então voltei a me concentrar nos meus amigos.