Sem Dizer Adeus escrita por PinkNeonFantasy


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Into the blue
(Imerso em tristeza)
And when I lose myself I'll think of you
(E pra não perder a sanidade penso em você)
Together we'll be running somewhere new
(Juntos correremos pra algum lugar novo)
Through the monsoon
(Através da tempestade)
Just me and you
(Somente eu e você)



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No corredor estava Julie sozinha. De coração partido, olhos inchados, profunda e dolorida tristeza dentro de si, lágrimas virando grandes e volumosas cachoeiras.

- ... Eu nunca pensei.. que iria me apaixonar... E acabar desse jeito! – Ela fala para si mesma, encolhida no chão e soluçando. - ... Por .. que? – Ela sussurra, sem forças para falar.

Claro! O que eu queria me apaixonando pelo Daniel? Um fantasma! Um.. um ... bem egoísta!... Arrogante e... Fofo e.. com aquele sorriso lindo..”. Por mais que ela se sentisse ter sido deixada de lado, não conseguia ficar totalmente chateada com Daniel.

Se Julie estava muito mal, Daniel não estava diferente.

... Julie ...” Daniel ia acordando. Aos poucos ele abre seus olhos. Meio tonto, ele ainda não se situa de em que lugar está. Para piorar, não se conseguia enxergar absolutamente nada, Daniel se encontrava em meio à escuridão total, jogado num chão úmido de terra.

Mas o que..?” Daniel se levanta, ainda um tanto desorientado e com uma leve dor na cabeça. Ele força a visão tentando ver alguma referência do que era aquele lugar, alguma forma.. Porém nada viu. Não era um lugar ao ar livre, pois não sentia vento ou qualquer brisa, mesmo sendo um lugar fresco. Mas havia ausência de ar, se um humano estivesse ali, não duraria muito por falta de oxigênio.

A Julie não pode estar aqui.” Pensa Daniel. Ele quer saber onde está e algum modo de sair dali, mas sua maior preocupação é o bem de Julie.

Sem ter a capacidade de enxergar o caminho, ele começa a dar alguns passos curtos e cuidadosos, tentando não dar vazão à sua ansiedade. Andando no escuro, Daniel está de mãos ao ar, para não esbarrar em qualquer coisa que fosse. Por fim, ele sente algo à sua frente com uma mão, curioso que sentiu a mesma superfície com a outra mão, mas ela passou direto entre o objeto. Com as duas mãos ele tateia para descobrir o que é aquilo. Ele sente que são barras de ferro, como grades. Um conjunto delas agrupadas até o chão e mais alto do que seus braços podem alcançar, provavelmente sem saída. Ele as segue, logo elas terminam em uma parede. Seguindo para o outro lado elas igualmente terminam em uma parede. Daniel nem se dá o trabalho de seguir a extensão dessa parede. A probabilidade de não ter saída agora é uma certeza... Ele é um prisioneiro.

Só o que me faltava.” Pensa Daniel, encostando a cabeça na parede à sua frente e fechando os olhos. Ao encostar sua cabeça na parede, terra cai, ele desencosta estranhando. Ao menos enxergar algo seria bom agora, a escuridão era agonizante, e perturbadora, um lugar ideal para tirar alguém da calma e não deixar que se raciocine, inclusive pensar em como fugir. “Demétrios” Daniel conclui, irritado. “Droga, eu tenho que ver a Julie! Tenho que acalmar a ela, abraçar... Tenho que enxergar alguma coisa!!” Ele sente seu coração acelerado, é o que Demétrius quer. Sabendo disso, Daniel tenta se acalmar, ele não permitiria que fosse manipulado.

Daniel se senta ao chão. Ficar tranquilo não estava sendo fácil. “Julie.” É só o que passa pela mente dele, de novo e de novo, em sincronia. Para não perder a sanidade, ele esforça-se em se concentrar no lugar. É possível sentir cheio de terra molhada e, ecoando, Daniel escuta algumas gotas caindo no chão. E ao longe, pode-se ouvir suspiros ... mais como choro. Ele se levanta, segurando as grades e coloca o rosto entre elas.

- Quem está aí? – Daniel parece ordenar uma resposta do que perguntar.

- ... Daniel..?!

- Rebecca?!

- Ai eu não tô vendo nada, tô com medo, quero sair daqui! Se eu deixar de existir ou perder a consciência já tá bom! Eu odeio aqui, que lugar é ess--

- Calma, Rebecca. – Daniel fala um pouco ríspido.

- ... Vou tentar. – Rebecca fala baixo, sabendo que Daniel não estava nada feliz com ela.

Um silêncio fica entre eles por uns minutos, silêncio constrangedor.

- ... Foi o Demétrius,.. não foi?.. – Rebecca quebra o gelo.

- Não suporto esse cara.

- .. É o que eu temia que fosse acontecer.. – Rebecca diz, pensando em Tadeu. “Ele teve razão o tempo todo.” – Eu ... tentei evitar isso .. pra nós dois..

- Se você não se importa, eu não quero saber de nós dois, mas sim da Julie. – Daniel diz, fazendo Rebecca se sentir triste. Porém ela sabia que ele tem seus motivos para tratá-la assim, mesmo ele não sabendo da história toda. Agora que acabou tudo, Rebecca pensa em contar para ele do que pretendia.

- Daniel, eu menti, tá? Eu menti, não gosto de você.

- Mudou de ideia só porque eu tô te tratando assim.

- Não é isso! – Rebecca tenta lidar com o gênio forte de seu amigo. - Daniel, a gente não pode falar com humanos, tá vendo no que dá?! ... Eu tentei separar vocês dois... Desculpa..

- Que tipo de lugar deve ser esse? Cara, aqui é escuro... - Daniel muda de assunto.

- Daniel!! - Rebecca briga.

- Devia ter pensado se eu iria te perdoar ou não antes de fazer isso.

- Eu me preocupei com você!

- Eu não pedi preocupação comigo, e eu disse que não ligava para o Demétrius!

- De qualquer forma você e eu estaríamos presos aqui por causa da sua teimosia!

- Não. Eu estaria preso. Você não estaria aqui e a Julie não estaria chateada com a gente. Chateada comigo.

##

Passa-se mais de meia hora.

Julie não queria saber de nada, de onde estava, de como seu rosto e blusa estavam molhados de lágrimas, da fome que sentia, da semana de escola que se seguiria. Da vida ... Ela queria, de alguma forma, arrancar e jogar para bem longe toda essa tristeza.

- Ai, Julie, sai dessa ... - Ela sussurra, tentando se animar. - O Daniel falou pra você não pensar que viver é ruim ... - Ela acaba falando isso automaticamente. - .... Porque você não sai da minha cabeça?!

 Ela se levanta, quase cai de volta por falta de força nas pernas. Ela queria estar em seu quarto, sozinha ... Entretanto, ela não estava totalmente certa do que queria.

"Eu quero um abraço... do Daniel." Ela admite, limpando algumas lágrimas do rosto e indo em direção à escada. Julie pensa em subir para seu quarto. "Mas e se ele estiver lá ... Eu não quero que ele me ache ... Mesmo querendo falar com ele...". É confuso, Julie sente um misto de vazio e aflição. Chegando na escada, ela se vira, hesitando subir e acabar se encontrando com Daniel. E Rebecca.

Inesperadamente, uma moça sai de um apartamento e vê Julie em seu estado, afeição muito triste, levemente descabelada e molhada de lágrimas.

- Ai eu posso te ajudar?? – A moça chega em Julie, preocupada.

- Não ... – Julie dá as costas para a moça e vai subir as escadas, uma pouco encurvada por estar fraca. Ela parecia nem ligar para a moça, mas na verdade ela nem notou muito alguém ali, só estava presa em seus pensamentos confusos. Nesse momento ela pensa o contrário de antes. “Tomara que o Daniel esteja no quarto..”

Entrando em seu apartamento, Julie nem se preocupou em mudar sua afeição.

- Essa caneta vai ser a minha melhor invenção.. - Pedrinho estava na sala aprontando. Logo ele vê como Julie estava. - Que que houve com você..?

- Nada. – Julie vai para seu quarto.

- O papai falou pra eu te mandar ir almoçar, então.. Julie, vai almoçar. – Ele diz. Como resposta, Julie nem o deu ouvidos, entrou em seu quarto e trancou a porta.

Julie dá uma boa olhada em seu quarto. Estava tudo como antes, menos Daniel lá com ela.

Sorte dele que ele não ta aqui.” Ela tenta se convencer de seu pensamento. Julie se sentia sem forças, precisava comer alguma coisa, mas não deu atenção a isso. Ela vai para a cama e se joga lá. Logo percebe que essa cama não a pertence, era a de Daniel.

- Não vou ficar aqui ...! – Ainda tentando se convencer de que está com raiva de Daniel, ela faz uma força, se levanta e sobe para sua cama. Nela, Julie sente um vazio, mais tristeza. – Ah .. Daniel, você tem que sair da minha mente.. – Julie se rende e desde até a cama de Daniel de novo. Está calor, mas ela se cobre toda e, em vez de apoiar deitar sua cabeça no travesseiro, ela se abraça toda a ele, desejando que fosse Daniel. Com o rosto no travesseiro, ela respira fundo e acaba dando um sorriso. Ela sente o cheiro dos cabelos de Daniel.

##

De repente, ouvem-se passos. Eram passos leves, calmos, mas que não passavam qualquer energia boa. Daniel e Rebecca ficaram em silêncio, prestando atenção no que aconteceria.

Logo, vê se uma luz se reflete numa parede em forma de porta, mostrando assim que estavam no final do corredor da prisão.

- ... Enfim uma luz ... - Rebecca sussurra.

- Shh! – Daniel diz.

- Sim! -Alguém diz, assustando os dois. - Gostaram dessa luz? - Com essa pergunta, acendem-se todas as luzes do lugar. Por causa do repentino clareado, os olhos de Rebecca e Daniel doem muito, fazendo até com que eles se encolham no chão.

- Ahhh! - Rebecca grita de susto, com as mãos no rosto, tampando os olhos doloridos.

- Droga .. - Daniel sussurra para si mesmo, também com as mãos no rosto, tentando tirar para ver mais de onde se encontrava, e quem acendera a luz. Ele vai se levantando para não parecer um fraco no chão.

- Ohh eu te machuquei, linda menina? - A pessoa pergunta ironicamente, se aproximando das grades que prendiam Rebecca. Ela abre lentamente os olhos, enfrentando a luz para ver quem era. Ela consegue ver, e deseja que fosse qualquer um, menos quem ela viu. O próprio Demétrius. - Rebecca, Rebecca. Eu não pensei que logo você acabaria assim. Será que.. - Ele anda mais adiante, indo em direção onde Daniel se encontrava. - Devo culpar esse daqui por isso?

- N..não é culpa dele! - Rebecca tenta reagir.

- Você mesma não acredita em suas palavras.

- Nã--

- Cale a boca! - Demétrius a repreende, assustando-a profundamente. Ela deixa escapar algumas lágrimas. - E quanto a você, Daniel. Você não aprende, não é? O que devo fazer com você?

- Me esquecer é uma boa idéia. - Daniel enfrenta.

- Exatamente isso que eu pretendia fazer! Você é esperto, entende rápido. - Demétrius vai andando pelo corredor para chamar a atenção de Rebecca também para o que ele falaria. - Este lugar onde estão é o meu favorito. Aqui eu me livro do trabalho que dão alguns fantasminhas metidos a espertos.

- Você não vai aguentar a saudade e virá pra me ver ... O problema é que não quero lembrar da sua cara. - Daniel revida. - Me deixa inconsciente de novo, não quero te ver apartir desse momento.

- Ohh... Agora eu sou o vilão da história? Você é um mal agradecido, hein.. - Demétrius fala sarcasticamente. - Não fui eu que tirei sua consciência, e estou te fazendo um favor por te separar daquela humana.

- 'Aquela humana' tem nome, e favor você me faria se sumisse.

- Tão mal educado, como a tal Julie aguentou? Enfim, ela é quem te tirou a consciência, não sabia? - Demétrius parece insinuar alguma coisa. Daniel nem responde. - Eu já tinha avisado, mas alguém me escuta? Não ...  - Demétrius finge estar triste. - Se me escutasse, saberiam que fantasmas não podem conviver com humanos, pois assim deixariam de existir até como fantasma.

- Vai me dizer que os humanos chupam a mente dos fantasmas com canudinhos...? - Daniel debocha.

- Convivendo com humanos você pode ser contaminado por substâncias desconhecidas que eles produzem, substâncias que não são nada agradáveis para fantasmas, como você pôde ver... - Demétrius agora parecia falar sério. - Aliás, não pôde ver, você ficou inconsiente! - Ele começa a rir maldosamente. - E depois reclamam que o Demétrius aqui que agride nos fantasmas até deixá-los inconsciente, quando o real perigo é se envolver com humanos. Se abraçar com eles.. Trocar saliva com eles... - Demétrius dá um sorriso irritante para Daniel, o qual encara Demétrius com rancor.

- Para de historinha. - Daniel diz.

- Como eu poderia fazer historinha disso?? Pensa comigo, se você já é morto, como eu faria pra tirar sua consciência de novo, meu filho?! Interferência humana na natureza fantasma, acredite se quiser. O prazer foi todo meu de te salvar.

Daniel não queria acreditar em qualquer palavra que Demétrius soltasse, mas ele conseguiu ser um pouco convincente e deixar Daniel pensando nisso. De qualquer forma, Daniel não se deixaria mostrar ter se preocupado com o que ouviu. Ele se apóia com uma mão na parede, que novamente deixa cair terra.

- Se quiser ser um fantasma enterrado, vai em frente, se encoste nas paredes. – Demétrius continua falando.

- É incrível como estou como vontade de escutar seu discurso. - Daniel diz. - Poderia me esquecer de uma vez? Estou ansioso.

- ... Este é seu último desejo? Será um prazer realizá-lo. - Demétrios diz olhando fixamente para ele, com um sorriso irônico. - Se colocarem seu corpo humano num caixão e enterrarem não livrou o mundo de você, eu realizando seu pedido e te esquecer de baixo da terra pela eternidade vai dar um jeito. - Demétrius diz. Daniel não pôde ter controle sobre sua afeição, agora mostrando um pouco de derrota, ele pela primeira vez não sabia como lidar com o que acontecia. - Gostou?? Ah eu sabia que você ia curtir, é como os jovens falam, não é? - Ele diz rindo, e vai para falar com Rebecca. - Tchauzinho, Rebecca. "E da próxima", não deixe de seguir as regras. – Demétrius sai, deixando os dois pasmos com tudo que ouviram e levando qualquer esperança que tinham.

Daniel cai sobre seus joelhos ao chão. Lembrando-se que agora consegue ver, ele dá uma olhada em volta. O local aparenta ter sido mal estruturado, e como Demétrius os deixou saber, estavam de baixo da terra. Atrás das grades em que Daniel se encontrava, tinha um grande vão, um espaço muito grande para só um fantasma. Ele sentiu um frio ao ver a grande extensão, se sentiu sozinho.

- Oops, esqueci uma coisinha. – Demétrius diz. As luzes se apagam novamente, e então permanecem abandonados na escuridão.

##

Já de noite, Julie se manteve no quarto pelo resto do dia. Não ousou largar o travesseiro de Daniel, o único contato com ele que ela tinha.

- ... Ele devia já ter voltado. – Ela diz.

Mal sabia ela que, antes dessa situação melhorar, ainda ficaria muito pior.


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